Os seres hediondos aproximavam-se
de Balgata e seus homens, lutando com selvageria. Um desses inimigos
fez brotar um braço impossível de suas costas e
estrangulou o guerreiro que o enfrentava. Outra das criaturas
deformou seu rosto até que ele mostrasse a face de seu
oponente. Aquilo era por demais perturbador. Muitos homens de Balgata
preferiram entregar-se à morte que à loucura. Um terço
de seus guerreiros foi destruído dessa forma. Uma das
criaturas aproximou-se do capitão, com o rosto deformado
mostrando uma única boca vertical, que partia do meio da testa
e ia até a nuca. E foi naquela boca que Balgata golpeou,
partindo a cabeça da criatura até o meio dos ombros. O
monstro tombou imediatamente, soltando espasmos irregulares antes de
morrer.
– Eles
morrem, homens! – gritou o capitão, com fúria. –
Esses malditos morrem com nossas lâminas. Avante, guerreiros da
Companhia!
Aquele brado do capitão,
contudo, não havia sido suficiente para infundir coragem aos
homens desesperados. Alguns deles mantinham a mesma postura que seu
capitão, mas a maioria não estava tão confiante.
Os guerreiros foram caindo com rapidez, selando a derrota de Balgata
e seus homens. Junto às criaturas deformadas, zumbis começaram
a entrar em grande número pelas brechas na paliçada. O
capitão ordenou que formassem uma linha compacta, unindo os
escudos. No início da escaramuça, Balgata podia contar
com quase cem homens, mas agora o número havia sido reduzido a
pouco mais da metade.
Os seres horrorosos lançaram-se
contra os escudos, soltando gritos histéricos. Os zumbis e as
criaturas fizeram uma pressão formidável sobre os
homens da Companhia, que fraquejavam e perdiam mais terreno. A
fileira formada por eles era frágil, mas os sobreviventes
ofereciam obstinada resistência, lutando por suas vidas. Logo
mais homens surgiram do interior de Keraz e começaram a
engrossar a fileira de Balgata. Surpreso, o capitão olhou para
o lado e avistou Seridath, aquele rapazote arrogante, que havia dado
vexame com aquela estranha espada negra. E era esse mesmo rapazote
quem trazia auxílio. Balgata sentiu um gosto amargo na boca,
enquanto um palavrão tomava forma na sua cabeça.
Seridath avistou os homens de
Balgata e viu que eles estavam em sérios problemas,
praticamente cercados pelos mortos-vivos. Entregou seu escudo para
Aldreth e bradou:
– Fique
comigo! Você vai ter que usar isto se não quiser morrer.
Ponha-se de costas para mim e defenda-se como puder.
Os homens que o seguiam haviam
triplicado. Eram agora pouco mais de vinte que chegavam com o jovem
cavaleiro e seu pajem. Correram em auxílio do restante de
homens que enfrentavam aquelas criaturas medonhas e os zumbis que as
seguiam. Seridath investiu contra o morto-vivo mais próximo. A
espada negra atingiu em cheio o braço putrefato do inimigo e
deveria tê-lo decepado, mas não houve resultado.
– Saia
daqui idiota! – bradou o capitão. – Não vê
que essa espada maldita é inútil?
Ignorando a ordem,
Seridath uniu toda a sua vontade e bradou, dentro de sua mente,
falando diretamente com a espada. "Você é minha,
Lorguth. Minha vontade é soberana, pois venceu a Montanha e
obteve o prêmio: você. E agora, como minha propriedade,
como meu prêmio, você fará a vontade de seu
senhor!" A lâmina negra emitiu um som agudo, enquanto
vibrava com força. O guerreiro girou sua arma contra o pescoço
do zumbi, com rapidez e agilidade. A cabeça do inimigo voou ao
ar, enquanto o corpo, já inanimado, tombava lentamente.
Seridath sentiu seus braços fraquejarem. Era a espada pedindo
alimento. O guerreiro apertou mais as mãos em volta do punho e
sentiu uma estranha euforia tomando conta dele, enquanto sua lâmina
encantada rebatia os ataques inimigos e rechaçava seus corpos
podres. A escuridão tomou o lugar enquanto a espada negra
executava sua dança maligna.
Continua...
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