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quarta-feira, março 11, 2020

Tinha um tombo no meio do caminho

Imagem: Pixabay 
Por vezes a gente cai de um jeito que parece que a vida deu uma rasteira.

Foi assim que me senti na última quarta-feira. Atravessava a Avenida Afonso Pena na esquina com a Rua da Bahia. Estava tranquilo, sossegado. Vestia uma camisa branca. Não era nova, mas eu a usava pela primeira vez. Camisa de coleção. 

O dia estava bonito. O tempo chuvoso havia dado uma trégua e o céu azul parecia mais limpo que o normal. As nuvens brancas bordavam o firmamento. Em meu campo de visão, as árvores do Parque Municipal deixavam o dia ainda mais belo.

Eu cantava. Distraído, olhava para as copas das árvores. Antes, porém, eu havia conferido o sinal para pedestres. Esperei que ele estivesse verde para mim. Atravessei na faixa.

Ainda assim, seguia distraído. Ter observado os parâmetros de segurança no trânsito me deixou ainda mais sossegado, despreocupado. Já alcançava a calçada, entre uma nota e outra de uma música popular brasileira. 

Então, pisei em falso. Mergulhei com tudo na calçada de pedras portuguesas. Senti a superfície pontiaguda e irregular esfregar minhas costas, enquanto tudo girava. A dor no lado direito foi quase instantânea.

Meio segundo depois, já estava de pé. Bati nas roupas para afastar a poeira e praticamente não parei, como se nada tivesse acontecido. Um pouco à frente, um rapaz me olhava como se tentasse entender o que eu tinha feito.

Só um tombo, daqueles quase inofensivos. O orgulho estava arranhado e a música, desafinada. Foi impossível transformar aquele tombo em passo de dança. Mas deu pra fazer uma cambalhota.

quarta-feira, julho 03, 2019

Caldos, Causos e Violas - A força e o sabor da Palavra


Ninguém que me conhece duvida que eu valorize a Palavra. Dela eu tiro meu pão. Dela eu me acerco quando preciso de sentido para minha vida. Ela me alimenta em todos os aspectos. E não apenas a palavra escrita, mas também aquela que vive solta, nos ouvidos e bocas de pessoas que muitas vezes são ignoradas em suas escutas. Ainda assim, elas resistem e continuam a inventar sentidos e temperos para nossa fala e, muitas vezes, também para nossa escrita.

Nos dias 14 e 15 de junho Belo Horizonte foi o centro de uma roda de palavras e sabores. Idealizado pelo Instituto Abrapalavra, foi um evento intimista e singelo. Ocorrido em uma biblioteca e em um espaço cultural, tinha o aconchego e a acolhida como principais ingredientes.

Na manhã da sexta-feira, dia 14, a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH recebeu o grande Sebastião Farinhada. Com sua viola, ele cantou melodias de congado e compartilhou um pouco de sua vivência. Também falou sobre a importância da memória popular, da cultura do campo. Relatou os desafios na luta pela agroecologia. A roda de conversa aconteceu em conjunto do Encontro Semanal de Contadoras de Histórias.

Nós ouvimos, conversamos e comemos broa de fubá com café. Havia também água aromatizada com alecrim. Cada pessoa foi convidada a compartilhar uma memória afetiva de sabores de sua infância. Falamos de canjica, tropeiro, cuscuz, pé-de-moleque, doce de leite, fubá suado, canjiquinha e muitas outras delícias. Eu aproveitei para fazer menção a uma gostosura que conheci na época que morava em Teófilo Otoni.
As pessoas não costumam conhecer o chá de amendoim. Apesar do nome, ele não é feito com água, mas com amendoim cozido no leite. Ouvimos sobre gratidão, reverência à terra e à natureza. Cantamos e fizemos roda. Foi delicioso.

No sábado, à noite, a festa continuou no Espaço Suricato. Uma roda de causos aquecia nossos ouvidos e corações. Os caldos aqueciam o paladar da gente. Com o sal dos caldos, o adocicado das narrativas bem-humoradas contrabalançava esse momento tão saboroso. O mestre de cerimônias era ninguém mais que o próprio Sebastião Farinhada, que encerrou a festa com sua viola e a melodia Calix Bento. Caí na dança.

Mais uma vez saúdo a equipe do Instituto Abrapalavra, nas pessoas de Aline Cântia, Chicó do Céu, Fernando Chagas, Paula Libéria e Sheila Oliva. E também a interpretação em LIBRAS de Dinalva Andrade.

As palavras, canções e causos ainda embalam minha mente e meus ouvidos. Esses dias de junho estarão gravados em minha memória com esse espetáculo de cores, sabores e vozes. Que essas vozes continuem ecoando e nós sejamos sempre atentos a elas. Que as palavras continuem a alimentar nossas almas nesses tempos em que a fome parece querer tragar até mesmo a esperança.

domingo, agosto 19, 2018

Vídeo: Causo de caçador

Boa noite! Segue hoje um vídeo que fiz para um concurso de causos. Evidentemente, não fui selecionado, pois sequer tive resposta da minha classificação. Contudo, tenho esse causo bem guardado no coração, pois foi através do amigo Evando Pessoa, grande narrador, que o ouvi. Espero que apreciem!