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sexta-feira, outubro 18, 2024

Értom - Convivendo com a morte



Ângela tem premonições de gente morrendo. E não são apenas visões, mas experiências vívidas de morte. Ela sente como se morresse junto com a pessoa. Isso causa um profundo estresse na mulher, que desenvolve uma forte fobia social e busca, de todas as formas, isolar-se. Quando ela testemunha um atropelamento, o policial Rafael entrará na sua vida e a transformará para sempre, mesmo contra a sua vontade.

Assim tem início o romance Értom, de Bianca Pontes. O enredo nos leva a testemunhar os problemas de Ângela Értom, seus desafios diários, seu refúgio em um prédio em que mais ninguém mora, a companhia da avó morta, que a assombra. E Rafael. O policial é insistente em fazer de tudo para ajudar a mulher. O que antes parece ser um forte senso de dever se transforma em paixão, que é rapidamente correspondida.

Rafael é o modelo de galã. Bonito, forte, charmoso, lutador de artes marciais e policial exemplar. Ele não consegue esconder o interesse por Ângela. A estratégia para romper as defesas da moça será o cão policial idoso Zeus, um pastor alemão carismático capaz de derreter qualquer gelo.

Ao longo da narrativa, o foco passeia entre Ângela e Rafael, de forma por vezes até abrupta. O leitor tem que se manter atento para perceber com quem está o foco narrativo. Trata-se de uma narradora onisciente neutra, que revela a nós, leitoras e leitores, o que Ângela ou Rafael pensam, suas inseguranças, seus medos e os questionamentos que pipocam em suas mentes nesse complicado jogo de conquista.

Trata-se de uma conquista, sim. É uma história de amor, afinal. Porém, é possível perceber que tanto Ângela quanto Rafael buscam se entender, antes de tudo. A química amorosa é consequência. Intrigado com a mulher que vive isolada de tudo e todos, resistente até a pedir ajuda médica com um braço quebrado, Rafael sente-se no dever de ajudá-la, de entendê-la. Ela se torna um enigma a ser decifrado. 

A avó de Ângela surge como um grilo falante incômodo. Um cacoete de consciência, misturado com pensamento intrusivo, o que torna a vida de Ângela um inferno, ao mesmo tempo que nos diverte na leitura. Os diálogos com esse fantasma são uma forma de humor sombrio, ao mesmo tempo um alívio cômico, uma vez que os comentários da idosa são espirituosos. 

As relações humanas são o grande foco de Értom. Não é o sobrenatural ou mesmo as investigações do diligente policial. Bianca Pontes reflete sobre sofrimento mental, (des)crença, empatia e paixão. Rafael e Ângela sentem um magnetismo forte entre eles. Não sem acidentes, é claro, pois todo relacionamento é feito deles. Rafael luta para entender o problema de Ângela e quer ajudá-la. A questão maior é justamente a abordagem equivocada do policial.

Só que esta é uma história de amor, antes de tudo. Com mortes, visões sombrias, sofrimento, pânico e um fantasma incômodo, mas não deixa de ser uma história romântica. Uma narrativa que aposta no amor acima do sofrimento e dos desencontros. E que acredita que almas que se amam são capazes de vencer tudo, até mesmo a morte.


Ficha Técnica

Értom

Bianca Pontes

ISBN: B0DDK149FJ

Ano: 2024 

Páginas: 184

Idioma: português

Editora: Bianca Pontes


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/ertom-122490552ed122490967.html

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Dorohedoro - 1a Temporada

Fonte: Netflix

Um homem com cabeça de lagarto não tem memória e busca de todas as formas recuperar o que perdeu, tanto sua forma original quanto a memória perdida. Vivendo em um mundo sujo e sombrio, ele enfrenta perigos com suas duas facas afiadas e sua força descomunal.

Dorohedoro  é um anime de ação e aventura, com motivos de terror. Ele conta a história de Caiman, um homem com cabeça de lagarto, que caça feiticeiros, sem busca daquele que o tornou daquele jeito. Caiman conta com a ajuda de Nikaido, uma cozinheira e lutadora. Há outras pessoas que o ajudam, como o médico do hosptial que cuida de pessoas vítimas de magia.

Eles moram no Buraco, um lugar feio e sujo, caótico e distópico. Os feiticeiros saem de seus mundos por portas mágicas para usar seus feitiçõs nos humanos, moradores do Buraco. Muitas são suas vítimas, que costumam ficar desfiguradas.

É um anime bem caótico e disruptivo. O mundo dos feiticeiros é repleto de demônios e referências infernais. Há cruzes de cabeça para baixo em igrejas onde demônios são cultuados. É uma forte carga de ironia na animação.

Cada feiticeiro é especializado em um tipo de feitiço. En, o figurão do mundo dos feiticeiros, transforma seres vivos em cogumelos. Ele é dono de várias empresas e dispõe de muita fama. Tem como inimigos a gangue dos olhos cruzados, que vende um pó preto que pode aumentar temporariamente o poder dos feiticeiros. 

Para eliminar os membros da gangue, En conta com Shin e Noi, dois "faxineiros", ou matadores profissionais que atuam de forma implacável e brutal. Cada um deles tem sua história e suas motivações pessoais. Shin e Noi são incrivelmente fortes, dando grande trabalho para Caiman e Nikaido.

Por último, temos a dupla Fujita e Ebisu. Fujita é um feiticeiro pé-de-chinelo que busca vingança contra Caiman, por este ter matado seu melhor amigo, Matsumura. Já Ebisu tem o poder de transformar seres vivos em répteis. Ela foi atacada por Caiman e saiu gravemente ferida, com um trauma que afetou sua memória e intelecto.

Dorohedoro tem outras personagens, que vão surgindo e tornando a trama ainda mais caótica. O mundo dos feiticeiros é rico e complexo, sendo um contraponto ao Buraco, com sua feiura e decadência. E muita coisa fica sugerida, muitas são as perguntas. Quem é o cara que aparece dentro da boca de Caiman, sempre que ele abocanha um feiticeiro? Qual a verdadeira identidade do homem-lagarto? E Nikaido, quais são suas reais motivações?

Esta é uma adaptação do mangá homônimo da autora Q Hayashida

Com uma animação primorosa e muita ação, Dorohedoro é um anime interessante e imersivo. Uma excelente escolha para quem quer se divertir e não tem medo de uns diabinhos e um monte de sangue.

segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Aprendiz da imperfeição - Alcançando o inalcançável



O menino busca em um velho pintor o mestre que precisa. O pintor reluta em aceitá-lo como aprendiz e, mesmo após fazê-lo, não lhe dá aulas, deixa apenas que o garoto cumpra tarefas domésticas e lixe as telas até ficarem lisas o bastante. Mas nunca é o bastante.

Um dia, o pintor ordena ao aprendiz que se ausente por um  certo tempo. Quando retorna, o garoto vê que o mestre terminou a obra da sua vida, uma tela perfeita, que atrai muitos admiradores. Mas a perfeição é insuportável para o velho mestre. Nem vendê-la ele consegue. Como seguir com sua vida, agora?

O livro Aprendiz da imperfeição, de Pieter van Oudheusden e Stefanie De Graef, carrega uma narrativa profunda que se constitui numa fábula sobre a enganosa busca pela perfeição, que é intangível. Não que essa busca não seja importante, mas o fundamental é o processo e não o resultado; o caminho e não o fim. 

É curioso que quando vai executar a obra-prima, o ancião manda o aprendiz se ausentar, como se fosse necessário que cada um buscasse seu próprio caminho de perfeição. Esse caminho não pode ser copiado, é íntimo e secreto. Sem questionar, o menino obedece. Outra questão interessante é o aprendizado pela observação. As lições tomadas pelo aprendiz foram longas e silenciosas caminhadas. Nelas, o mestre parava para contemplar e era também contemplado pelo aprendiz, que buscava capturar o olhar do velho pintor.

Por fim, ressalto que produzir a obra prima poderia ter causado um efeito no mestre de forma a concluyir que não haveria mais nada a ser feito. Po´rem, não é isso que o velho pintor quer. Ele não quer se aposentar, não quer descansar, não quer viver no luxo e na riqueza. Ele quer continuar procurando. E creio que sua conclusão foi que a busca pela imperfeição calculada, deliberada, é tão desafiadora quanto a busca pela tão alardeada perfeição.

Observei que foi escolhida a ilustração digital como técnica para os desenhos. Essa escolha a princípio me incomodou, mas então percebi que os desenhos dialogam como essa idiea de perfeição, com um elemento figurativo quase perfeito, mas cores brutas, marcantes. Não são desenhos com texturas suaves, mas cores chapadas, o que a proxima a ilustração da ideia de imperfeição. Há um certo diálogo estético com as ilustrações orientais antigas, mas como uma sutil referência.

Quanto à linguagem, o texto é leve, poético e repleto de pausas. É um texto maduro, difícil mas igualmente compensador. Senti-me comovido por vários momentos enquanto eu lia.

Talvez, entender a imperfeição como seu novo e verdadeiro ideal, o velho pintor tenha alcançado uma certa paz; uma paz que o fez ver para além da aparência. Ou não. Talvez o tenha percebido que a perfeição é mesmo insuportável e que escapar dela também pode ser uma dádiva.


Ficha Técnica

Aprendiz da imperfeição

Pieter van Oudheusden, Stefanie De Graef

Tradução de Cristiano Swiesele do Amaral

ISBN-13: 9788564974630

ISBN-10: 8564974630

Ano:2015 

Páginas:32 

Idioma: português

Editora: Pulo do Gato


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/aprendiz-da-imperfeicao-575210ed576125.html

segunda-feira, fevereiro 05, 2024

Via Ápia - Cinco vidas, uma invasão


Washington e Wesley são irmãos. Ambos trabalham em uma casa de festas. Enquanto Washington é movido pela força do ódio, Wesley segue suave, juntando seu dinheiro e planejando o futuro. Os dois moram na Cachopa, com sua mãe, Dona Marli. Douglas é entregador em uma farmácia. Murilo é militar e Biel levanta algum dinheiro ocasionalmente vendendo drogas. Os três moram em um apartamento na Via Ápia, principal rua comercial e residencial da Favela da Rocinha.

A vida desses cinco jovens muda para sempre quando a UPP - Unidade de Polícia Pacificadora - invade a Rocinha, instalando um ambiente de horror para os moradores.

Via Ápia, primeiro romance de Geovani Martins, é um visceral relato de denúncia da violência policial na guerra às drogas. O romance não procura idealizar o uso de drogas ilícitas, algo largamente consumido na favela, mas busca traçar uma trajetória contrária à criminalização. O que está em voga é a exclusão social, que potencializa a violência, e a desigualdade.

É impossível não torcer por esses cinco jovens, todos usuários de maconha, para que seu destino não seja como de tantos outros: estatísticas da violência policial e social.

Geovani Martins escreve um livro controverso e ousado, usando do registro linguístico da favela, sem no entanto soar hermético ou forçado. Sua habilidade traz naturalidade à narração e às falas.

Os personagens passam por profundas transformações, tanto para o bem quanto para o mal. Cada um deles é movido por um sonho, um anseio. Douglas quer ser tatuador. Washington deseja um trabalho com carteira assinada. Murilo anseia sair do exército. Wesley sonha ser mototáxi. E Biel? Biel, antes de tudo, quer pertencer a algum lugar. 

Outras personagens se destacam na narrativa. Uma delas é Gleyce Kelly, que divide os corações dos amigos Washington e Douglas. Gleyce tem o desejo de fazer faculdade, de cursar cinema. Sua luta por um futuro é pautada pela educação. Dona Marli, mãe de Washington e Wesley, também se destaca, por sua força e resiliência, por ter criado sozinha dois homens, incutindo neles o senso de honestidade e de trabalho.

Cada personagem tem sua profundidade e seus conflitos. A revolta pela violência que sofrem da polícia é uma constante. Eles não querem se adequar, se acostumar. São inconformados com o sistema. E com razão.

Vivem uma realidade dura, de falta de água e de energia, da ameaça constante da polícia. Sim, aqui a polícia é duramente criticada. Corrupta e despreparada, ela entra na favela para esculachar o cidadão. Portanto, o texto é direto em suas duras críticas à força policial do Rio de Janeiro.

Com uma narrativa aguda e controversa, uma visão diferenciada e crítica sobre a guerra às drogas, Via Ápia é um romance forte, profundo e contundente. É também um manifesto à vida é a cultura da paz, que deve ser buscada onde quer que estivermos.


Ficha Técnica

Via Ápia

Geovani Martins

ISBN-13: 9786559211180

ISBN-10: 6559211185

Ano: 2022 

Páginas: 344

Idioma: português

Editora: Companhia das Letras


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/via-apia-12222387ed12203488.html

segunda-feira, janeiro 22, 2024

O Lobo da Estepe - As existências e transformações de Harry Haller



Harry Haller é alguém dividido. Em seu interior, homem e fera combatem entre si. Os ideais civilizatórios e burgueses vivem em conflito com a imagem de um lobo, selvagem e feroz. É o Lobo da Estepe, que ao mesmo tempo que orienta a personalidade de Harry, também o assombra e aterroriza. 

Romance escrito por Hermann Hesse, esta é uma obra profunda e enigmática. Conta sobre esse indivíduo inteligente e culto, em crise consigo e com o meio em que vive, a burguesia. Harry sente angústias atrozes, a ponto de querer acabar com a própria vida. 

Por conta dessa agonia e da insistente vontade de se matar, Harry sai à rua para caminhadas longas e angustiadas. Em uma delas, o protagonista se vê diante de um letreiro onde está escrito "O Teatro Mágico" e tem contato com um livreto que misteriosamente fala de sua vida, "Tratado do Lobo da Estepe". É um texto que não apenas traça um perfil dele mesmo, mas também procura desconstruir a dicotomia em que este se encontra. 

Harry costuma falar de si mesmo como o Lobo da Estepe. E ao ler o livreto, ele vê o quanto essa divisão interna é enganosa. O texto defende que dentro de cada homem vivem vários, inúmeros. E essas existências várias vão moldando o ser na sua suposta individualidade.

Além disso, Harry deseja conhecer "O Teatro Mágico". Interessado em adentrar nesse recinto, ele tem seu acesso impedido, uma vez que a entrada é garantida "apenas para raros". Ou seja, apenas indivíduos excepcionais poderiam adentrar o misterioso recinto. Ou seriam loucos? Essa ideia chega a flertar com Harry.

E então sua vida passa por uma reviravolta quando ele conhece Hermínia. Inteligente, perspicaz, bonita e talentosa, ela se torna uma espécie de tutora de Harry e o ensinará a "viver", a partir das aulas de dança que irá ministrar-lhe. Ela o introduzirá na vida dos bailes e festas. Além disso, através de Hermínia, Harry conhecerá Maria, com quem terá um romance ardente e transformador.

Outro indivíduo importante no percurso de Harry será Pablo, um músico de jazz. A princípio, ele surge como uma pessoa superficial e inócua. Contudo, Pablo assumirá em certo momento o papel de mentor de Harry, através da experimentação de drogas psicodélicas e experiências sinestésicas, dentro do enigmático Teatro Mágico.

O Lobo da Estepe é antes de tudo uma obra densa. Um texto repleto de digressões e especulações filosóficas do narrador-protagonista, o livro conta também com um longo prefácio, o qual procura apresentar esse mesmo protagonista como alguém real, que teria sido inquilino da casa em que Hermann Hesse morava. Assim, temos dessa forma um perfil psicológico do narrador-protagonista, numa introdução que busca preparar o leitor para a longa e enigmática de autodescoberta de Harry Haller.

Com um texto profundo, repleto de referências culturais e que busca apresentar camadas filosóficas ao enredo, O Lobo da Estepe é uma obra instigante, incômoda e, sobretudo, transformadora. Um livro para ser visitado pelo leitor de tempos em tempos, com a certeza de que, a cada leitura, um novo ser humano surgirá dessa experiência.


Ficha Técnica

O Lobo da Estepe

Hermann Hesse

ISBN-13: 9788577991075

ISBN-10: 8577991075

Ano: 2009 

Páginas: 252

Idioma: português

Tradutor: Ivo Barroso

Editora: BestBolso


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-lobo-da-estepe-1338ed406172.html

segunda-feira, janeiro 15, 2024

Balada de amor ao vento - Uma vida inteira de amor



A linda Sarnau está apaixonada. Seu coração foi capturado pelo belo Mwando. Há, porém, muitas dificuldades esperando esse possível romance. Mwando está estudando para ser padre. O amor dos dois será mais forte que a suposta vocação do rapaz? Este é um dos muitos percalços que Sarnau irá enfrentar para viver este amor.

Balada de amor ao vento, romance de estreia de Paulina Chiziane, é uma narrativa poética e melancólica, repleta de saudade e tristeza. No primeiro capítulo, Sarnau já se aproxima do fim de sua vida e começa a se lembrar dos encontros e desencontros que teve com Mwando. Como narradora, ela vai desfiando essas memórias. O amor se realiza, com Mwando correspondendo aos sentimentos de Sarnau e sendo por isso expulso da escola de padres. Os dois se entregam a esse amor, mas logo Mwando é prometido a outra mulher.

Sarnau pouco tempo tem para sofrer essa desilusão amorosa, pois ela é logo escolhida para ser a primeira esposa do príncipe herdeiro de Mambone. O casamento, porém, não será dos mais perfeitos. Nguila, o herdeiro do trono, além de mulherengo é violento e isso tornará a vida de Sarnau terrível.

A narrativa então se desdobra em duas, contando para nós, leitoras e leitores, a vida tanto de Sarnau quanto de Mwando, de forma intercalada.

A narrativa de Paulina Chiziane é maravilhosamente profunda e repleta de reflexões. As descrições resultam em imagens poéticas lindas, com elementos pitorescos e naturais. Nas digressões que Sarnau faz como narradora, ela denuncia todo o machismo da sociedade em que está incluída, em especial os efeitos funestos da poligamia. O sofrimento da mulher é evidenciado nesse processo.

Mwando também tem sua cota de tristezas. Em seus encontros e desencontros com o amor, ele também sofrerá e não será pouco. Porém, diferentemente de Sarnau, Mwando será o maior responsável por seus próprios sofrimentos. Ele não deixa, porém, de ser também uma vítima do sistema em que vive, sendo assim um homem de contradições.

Com uma prosa poética e de certa forma idílica, além das denúncias que carrega e o enredo repleto de percalços, Balada de amor ao vento é um livro belo e triste. Mas daquelas tristezas que não podemos deixar de evitar. Um livro que, como a vida, é feita de encontros e despedidas.


Ficha Técnica

Balada de amor ao vento

Paulina Chiziane

ISBN-13: 9789722115575

ISBN-10: 972211557X

Ano: 2003 

Páginas: 149

Idioma: português de Portugal 

Editora: Editorial Caminho


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/balada-de-amor-ao-vento-67544ed74571.html

segunda-feira, janeiro 08, 2024

Sidarta - O longo caminho para a iluminação



Sidarta, de Hermann Hesse, é uma leitura profunda, reflexiva, interessante e repleta de sabedoria. Hesse cria um personagem que faz um percurso acidentado e sinuoso para chegar ao tão buscado Brama, ao aconchego do Om, ao Nirvana.

Sidarta é um jovem bonito e inteligente. Essa inteligência o afasta dos seres humanos comuns a ponto de desprezá-los. Seu talento permite que aprenda com espantosa rapidez e facilidade conceitos complexos e técnicas de meditação desafiadoras. Além disso, ele tem uma beleza ímpar e um físico invejável, de forma a sempre atrair a atenção de todas as pessoas ao redor.

"Infelizmente", esse mesmo talento o lança em uma longa e tortuosa jornada em busca da santidade, da iluminação. O caminho não é fácil, é cheio de percalços e o jovem, inicialmente acompanhado por um fiel amigo de infância, logo descobre que deverá trilhar sozinho essa senda.

Ele irá buscar até mesmo junto ao comércio e à vida material essa tão desejada iluminação. Será iniciado nas artes do amor e aprenderá o valor do corpo físico, além da vida espiritual. E seu caminho não se encerrará nisso. É de fato uma senda muito tortuosa, uma jornada solitária e muitas vezes inglória. 

Hermann Hesse cria com Sidarta uma primorosa obra que funciona como alegoria para nossa própria busca espiritual. Sidarta é um e vários ao mesmo tempo. Afastando-se do caminho religioso e se lançando no mundo, o protagonista é cada um de nós. Assim, Hesse nos convida a vestir a pele de Sidarta e degustar as delícias e dores que ele atravessa.

Muito se poderia dizer desse romance relativamente. Porém, quanto mais eu escrevo, sinto que mais me afasto do enredo em si. Portanto, cabe a você, leitora ou leitor, vocês leitores, trilhar o caminho e tomar Sidarta pela mão.


Ficha Técnica

Sidarta

Hermann Hesse

ISBN-13: 9788501118295

ISBN-10: 850111829X

Ano: 2019 

Páginas: 176

Idioma: português

Editora: Editora Record

Tradutor: Herbert Caro

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/sidarta-1814ed1008204.html

segunda-feira, janeiro 01, 2024

Batidas da Máquina Escarlate - Ação e romance em dose certa

 


Em um mundo distópico, duas pessoas se encontram. A ilha? Destra, um lugar que sustenta uma sociedade sexista onde mulheres são proibidas de lutar. Nessa ilha vive Scarlet Myr, uma mecânica e inventora excepcional, cujo sonho é se tornar a maior lutadora de todas. Ela então encontra Noah Yasha, um lutador talentoso mas um tanto ingênuo, que está com problemas com a máfia. Juntos, eles irão formar uma improvável parceria para que Scarlet por fim alcance o seu sonho.

Batidas da Máquina Escarlate é uma narrativa online presente na plataforma WattPad. Com um enredo envolvente e cativante, cheio de ação e com uma dose de romance, esta obra é uma boa pedida para quem gosta de ação mas também não dispensa um pouquinho de chamego.

Scarlet é uma personagem que nos seduz. Com seus sonhos e seu passado, ela irá fazer de tudo para alcançar seu objetivo, não poupando esforços ou energia. Ela trabalha como mecânica para uma ordem religiosa chamada Ordem Rubra e não deixa de ser um pouco rebelde. Sua beleza, inteligência e talento são claramente subutilizados nessa oficina para essa ordem religiosa.

Noah é bonito, forte mas um tanto ingênuo. O lutador tem problemas com a máfia e precisa ganhar a próxima luta contra o campeão Teech para pagar sua dívida e não dormir com os peixes. O líder da máfia tem um interessante epíteto: o Mâe.

O mundo em que a narrativa se passa é repleto de referências religiosas. Há o deus sumido, uma catástrofe chamada "a Catarse" e os anjos em conflito com a humanidade. Há muito a se entender e descobrir. Por exemplo, qual o papel dos anjos nesse mundo triste e decadente? E qual o papel da Ordem Rubra nesse mundo hipertecnológico?

Com muita ação e uma pitada de romance, Batidas da Máquina Escarlate foi uma grata leitura, divertida e interessante. Uma obra que me fez vibrar e torcer por Scarlet e Noah e que também me surpreendeu com suas reviravoltas.


Ficha Técnica

Batidas da Máquina Escarlate

Autor Tiago F. Ribeiro

Link para o Wattpad: https://www.wattpad.com/story/351476853-%F0%9D%99%B1%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9D%F0%9D%9A%92%F0%9D%9A%8D%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9C-%F0%9D%9A%8D%F0%9D%9A%8A-%F0%9D%99%BC%C3%A1%F0%9D%9A%9A%F0%9D%9A%9E%F0%9D%9A%92%F0%9D%9A%97%F0%9D%9A%8A-%F0%9D%99%B4%F0%9D%9A%9C%F0%9D%9A%8C%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9B%F0%9D%9A%95%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9D%F0%9D%9A%8E

segunda-feira, dezembro 25, 2023

SAN - Detetive Folclórico - Uma emocionante jornada mística




Eles estão entre nós. Os seres mitológicos de nossa tradição oral. Saci, Curupira, Caipora, Boto... e a temível Cuca. E ela não está satisfeita. Irritada com a destruição da natureza, perpetrada por humanos, a bruxa reptiliana decide nada mais nada menos que aniquilar toda a humanidade. Ainda bem que temos Sandro, o detetive folclórico, para nos proteger e descobrir os planos da maligna cuca antes que seja tarde demais.

Assim tem início um dos livros mais divertidos que li. SAN - Detetive Folclórico, de Henrique Zimmerer, é uma narrativa leve e fluida, cheia de ação, humor e romance. Sandro - ou San, para os íntimos - é na verdade uma entidade folclórica e usará todo o seu poder para salvar a humanidade da extinção.

Como braço direito do detetive está o professor de biologia Custódio, outra entidade da nossa tradição oral brasileira. Custódio é ruivo, usa dreadlocks e tem o corpo coberto de tatuagens. É um exímio caçador e suas habilidades serão usadas para rastrear os inimigos que desejam tanto o fim da humanidade. 

E por fim, temos dois humanos: Alice e Daniel. Ela é uma jovem intempestiva e destemida. Dotada com um misterioso poder e a capacidade de ver o que os demais humanos não conseguem, a jovem entrará na luta para salvar os seres humanos, auxiliada pelo seu melhor amigo. Daniel perdeu o namorado André em um ataque realizado por espíritos de fogo, que destruíram uma boate em que Alice, André e Daniel estavam.

A narrativa se passa em Belo Horizonte. Sim, a capital mineira se torna o palco de uma luta épica entre entidades folclóricas, com alguns seres humanos dando força na batalha. A solução que o autor dá é genial. As pessoas comuns estão impedidas de ver fenômenos sobrenaturais. É como se elas não conseguissem prestar atenção nesses fenômenos. Com isso, as batalhas acontecem em plena luz do dia, com as mentes dos espectadores "adaptando" as partes espirituais de forma a poderem aceitar melhor o ocorrido. É uma solução interessante. E inclusive a narrativa sustenta que tudo o que acontece nos livros tem um "pezinho" na realidade. Ou seja, as narrativas de fantasia podem ter de fato acontecido.

Sandro, Custódio, Alice e Daniel são cativantes e possuem uma dinâmica própria. Sentem medo, insegurança, raiva e alegria. Suas reações são verossímeis e factíveis. Ainda que Sandro e Custódio sejam entidades mágicas, eles apresentam atributos tão humanos quanto você e eu.

Com cenas de ação de tirar o fôlego e um desenvolvimento de personagens cativante, SAN - Detetive Folclórico é uma jornada maravilhosa por um mundo que muitas vezes está escondido logo ali, para além do véu que encoberta nossos olhos.


Ficha Técnica

SAN - Detetive Folclórico

Zimmerer

ISBN: B09FZXVBDR

Ano: 2021 

Páginas: 209

Idioma: português

Editora: independente


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/san-detetive-folclorico-12058021ed12043887.html

segunda-feira, dezembro 18, 2023

Clara e o homem na janela - Quando a luz invade



Este é um livro lindo. Seu nome é Clara e o homem na janela. Clara é a protagonista, uma menina que vive num interior desses de algum país da América Latina.

Clara tem que levar um cesto de roupas lavadas. Deve entregá-las na Casa Grande. O homem que lá vive nunca sai, vive recluso. Apesar das recomendações, Clara se distrai com tudo, inclusive com os livros que recheiam as estantes do homem.

Vendo o interesse da menina, o homem pergunta se ela sabe ler. Clara diz que sim. Ele então passa a lhe emprestar livros. Das leituras e dos encontros, nasce uma amizade. Clara descobre que o homem nem sempre foi recluso, que teve um grande amor, o jardineiro. Mas esse amor se perdeu no tempo e na vida.

O texto de María Teresa Andruetto é enxuto, econômico, mas rico em discurso. Fala muito pois diz do que é eterno e, ao mesmo tempo efêmero: vida, amor, amizade. O desenho de Marina Trach é um convite a buscar as mais diversas referências, imagens polissêmicas que enchem o silêncio de dizeres.

As cores são leves, suaves, como que contrastando a força do sentimento que permeia as páginas. Há muito sentimento represado nesse livro, muita emoção contida.

Em certo momento, vemos a referência aos contos de fadas, com a menina andando pela floresta com o cesto. Por vezes, vemos o jogo de cores a criar um tom harmonioso, como que para apaziguar o conflito que se estabelece na figura daquele homem que praticamente desistiu de viver.

Com desenhos lindos e um texto conciso e potente, Clara e o homem na janela é uma narrativa sobre amizade, sobre amor e, também, sobre cumplicidade que a paixão pelos livros pode ajudar a construir. 


Ficha Técnica

Clara e o homem na janela

Coleção da Cigarra

María Teresa Andruetto

Marina Trach

ISBN-13: 9788585166083

ISBN-10: 8585166088

Ano: 2020 

Páginas: 48

Idioma: português

Editora: Amelì Editora


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/clara-e-o-homem-na-janela-11733459ed11744270.html

segunda-feira, dezembro 11, 2023

A Esposa do Rei - Filha do mundo azul



Everlin, ou simplesmente Lin, é uma jovem comum que tem um segredo. Na adolescência, ela se apaixonou por um misterioso garoto. Essa paixão a marcou para sempre, de tal forma que a moça se considera incapaz de se apaixonar novamente.

A vida comum de Lin vira de pernas pro ar quando, em um acidente de avião, a moça vai parar em uma ponte de Einstein-Rosen, que a transporta para um mundo sem tecnologia, onde as mulheres são proibidas de estudar e as pessoas diferentes, com traços incomuns, são vistas como especiais.

Lin é salva por um nômade, mas acaba sendo levada pelos soldados do rei, como pagamento da dívida de seu salvador. Assim, ela vai parar no harém do monarca. Por ter traços orientais, a jovem é considerada uma verdadeira raridade. O rei do país quer que ela aceite a condição de esposa mas, por mais belo e sedutor que ele seja, Lin se sente incapaz de se apaixonar e esquecer seu amor do passado.

O texto de M. Okuno é atraente, cativante. Repleto dos elementos da cultura pop, como referências a filmes e músicas, o enredo atrai e captura nossa leitura. O maior conflito é justamente a reiterada e exaustiva investida de Sete, o Rei, para conquistar Lin. Ela se sente fisicamente atraída, mas suas emoções continuam cativas de seu amor da adolescência.

Enquanto resiste às investidas de Sete, Lin busca aprender tudo sobre o mundo em que está, enquanto tenta encontrar uma forma de voltar para o seu mundo - o mundo azul, que é a forma como nosso planeta é conhecido naquela terra.

Com elementos românticos e algumas reviravoltas, A Esposa do Rei é o livro ideal para quem gosta de histórias de amor, mesmo aquelas em que o amor parece perdido no passado.


Ficha Técnica

A esposa do rei

Grupo Editorial The Books

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ISBN-13: 9788554906672

ISBN-10: 8554906675

Ano: 2019 / Páginas: 273

Idioma: português

Editora: The Books



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segunda-feira, dezembro 04, 2023

Sagatrissuinorana - Crônica de uma tragédia anunciada



O clima está ameno. O campo aberto é um convite ao cultivo. Aquele vale verde e fértil é habitado por três simpáticos porquinhos. A princípio, lobo nenhum espreita, mas isso está para mudar.

Assim começa Sagatrissuinorana, livro de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz. Na verdade, a "Saga" começa com uma inusitada mas famosa palavra: Nonada. Refazendo os passos e estilo roseanos, João Luiz Guimarães nos presenteia com um espetáculo de linguagem que nos remete não apenas aos clássicos dos contos de fadas, mas aos textos de Rosa que dialogam com esses clássicos, como Fita verde no cabelo.

E ao falarmos de espetáculo, o que dizer do traço de Nelson Cruz? O primor nas cores e formas fundam um universo de sentidos e transforma o texto de João Luiz Guimarães em uma experiência sinestésica vívida.

E enquanto o idílico vale se desdobra aos olhos de quem lê, a anunciada tragédia acontece. O lobo arrebenta os limites da tela e invade a imagem, causando destruição e medo. O lobo de Nelson Cruz é espetacular em toda a sua monstruosidade. Os porquinhos, porém, contam com um último refúgio, que é a casa de pedra. Até acontecer a verdadeira e real tragédia.

O trabalho conjunto de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz resulta em uma obra-prima. Uma narrativa múltipla, que dialoga com o nosso tempo, enquanto homenageia os clássicos de ontem e de sempre. Um texto rico e profundo, mesclado a desenhos poderosos. Trata-se de um livro para ler várias vezes, uma obra que valoriza a memória, que nos pede para não esquecermos. E também é um livro que diz que não há lobo feroz o bastante que se equipare à maldade humana. Livro vencedor do Jabuti 2021. 


Ficha Técnica

Sagatrissuinorana

João Luiz Guimarães e Nelson Cruz

ISBN-13: 9786599010743

ISBN-10: 6599010741

Ano: 2020 

Páginas: 32

Idioma: português

Editora: ÔZé


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/sagatrissuinorana-11831776ed11831450.html

segunda-feira, novembro 27, 2023

O Pequeno Nicolau - Uma homenagem à infância antiga



Imagine um menino que o que tem de inocente, tem de travesso. Pois assim é Nicolau. Agitado, ingênuo e um pouco inconsequente, o menino se envolve em diversas confusões com seus amigos, principalmente o Alceu. Esse é o enredo de O Pequeno Nicolau, de Sempé e Goscinny, com tradução de Luís Lorenzo Rivera e publicação pela Editora Martins Fontes.

O livro trata de pequenos episódios da vida do menino Nicolau. Uma criança como qualquer outra, que não se priva de chorar quando deseja e tem como maior vontade a diversão. São episódios cotidianos sem relação cronológica entre si, podendo ser lidos separadamente. Tanto que as crianças são apresentadas novamente a cada capítulo.

São muitas as confusões aprontadas por Nicolau e seus amigos. Cada um tem características bem marcadas pelo menino, que é também o narrador. Alceu come o tempo todo. Maximiliano tem as pernas compridas e é bom na corrida. Godofredo tem o pai muito rico e por isso aparece sempre com as melhores fantasias. Agnaldo é o primeiro da classe e o queridinho da professora. Por isso, todos querem bater nele, mas não podem, pois ele usa óculos. Rufino vive com um apito, pois seu pai é policial Clotário é sempre o último da classe. Eudes é grande e forte e adora distribuir socos nos narizes dos colegas.

O livro é muito gostoso de ler e também engraçado, com ótimas tiradas de humor, sempre contrapondo o mundo adulto com o mundo da infância. Trata-se de uma infância alegre e inocente, extremamente idealizada, mas que não deixa de ter o seu charme. 

Por falar em charme, essa é principal característica de Nicolau. Ele é de fato um narrador encantador. Talvez este encanto esteja justamente na sua falta de malícia, o que nos aproxima dele e nos faz apreciá-lo. Nicolau é simples, apesar das ambições de, ao crescer, ser rico, ter um carro, um avião e deixar todos impressionados.

Os desenhos são de Sempé, o mesmo criador de Marcelino Pedregulho, com traços cartunescos bem característicos, de formas angulosas marcantes e bem definidas, mostrando o cotidiano de uma época francesa em que as escolas de meninas e meninos eram separadas, fotografias eram tiradas por câmeras gigantescas e o futebol era jogado em terrenos abandonados, com sucatas de carros espalhados por todo lado.

Existe um aspecto que me desagradou no livro, que é a marcação exagerada em relação á obesidade de Alceu e sua compulsão por comer. Essa estrutura narrativa é utilizada como elemento cômico muito datado. Apesar desse estereótipo, Alceu aparece como uma criança comum e até um pouco mais travessa que as outras.

Outro personagem que merece destaque é o Agnaldo, por sua caricaturização. Trata-se de um garoto precoce tanto em livros quanto no conhecimento. Porém, ele é como uma miniatura de vilão, sempre entregando os colegas em com isso sendo constantemente chamado de "traidor sujo".

Apesar desses elementos que considerei controversos, pude me divertir bastante com o livro. Acompanhar as aventuras do pequeno Nicolau foi também um nostálgico mergulho na minha infância. Eu me senti rejuvenescido e como que revivendo os episódios pitorescos e memoráveis da época em que eu era criança.

Com desenhos de muita personalidade e narrativas muito divertidas, O pequeno Nicolau é uma leitura imperdível, uma deliciosa jornada recomendada para crianças de todas as idades.


Ficha Técnica

O Pequeno Nicolau

René Goscinny

Sempé

Tradução de Luís Lorenzo Rivera

ISBN-13: 9788533601833

ISBN-10: 8533601832

Ano: 1996 

Páginas: 120

Idioma: português

Editora: Martins Fontes

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-pequeno-nicolau-1854ed122257397.html

segunda-feira, novembro 20, 2023

103 Contos de fadas de Angela Carter - Viajando pelo mundo através das histórias


O termo "Contos de fadas" é curioso, pois engloba diversas narrativas que não contam com fada nenhuma. Angela Carter faz um comentário assim no seu livro 103 contos de fadas, publicado pela Companhia das Letras e traduzido por Luciano Vieira Machado. O livro é uma viagem pelas mentes fantasiosas de vários povos, da Rússia ao Sudão. Somos apresentados a narrativas ora absurdas, ora exemplares. Contos morais e anedotas também aparecem no livro.

Fato é que Angela Carter faz um intenso e exaustivo trabalho de pesquisa, cuidando de ler, recolher, organizar e comentar os contos. Por falar nisso, recomendo muito a parte em que estão reunidos os comentários sobre as narrativas, suas fontes, seus aspectos sociais e psicológicos, entre outros elementos que os cercam e compõem.

São narrativas fascinantes. Temos, por exemplo, contos inuítes, em que as questões de gênero são problematizadas. Contos russos, com toda a sua magia. Há também piadas que vieram das regiões montanhosas e agrestes dos Estados Unidos.

Outro ponto que me chamou a atenção é que em muitos contos se mantiveram elementos coloquiais, interjeições presentes na fala, além de frases que entrecortavam a narrativa, como "foi assim" ou "muito bem". Com isso, muitos dos contos não tiveram um certo tratamento textual de cunho literário e se apresentaram o mais próximos o possível de como eram narrados oralmente.

103 contos de fadas me propiciou uma jornada gratificante por várias culturas diferentes. Pude experimentar outras versões de contos mais conhecidos, observar como sociedades muito distantes entre si podem ter narrativas semelhantes.

Por fim, me cativou a profusão de protagonistas mulheres. Poucas foram as vezes que os homens se destacaram. Toda a esperteza, inteligência e graça das mulheres foi demonstrada nesses contos.

Com elementos mágicos e maravilhosos, ora humorísticos e galhofeiros, numa verdadeira jornada pelos 4 cantos do mundo, 103 contos de fadas é um conjunto de narrativas imperdíveis para quem quer se aprofundar nos estudos dos contos tradicionais.


Ficha Técnica

103 contos de fadas

Coleção Listrada

Angela Carter

Tradução de Luciano Vieira Machado

ISBN-13: 9788535910896

ISBN-10: 8535910891

Ano: 2007 

Páginas: 499

Idioma: português

Editora: Companhia das Letras


segunda-feira, novembro 13, 2023

Canção para ninar menino grande - Uma balada de romance e amizade


As obras de Conceição Evaristo são sempre magníficas. Falam de pessoas comuns que são heroicas em suas pequenas batalhas. Conta sobre suas consciências e seus desejos de romperem as barreiras do racismo. 

Canção para ninar menino grande é a mais recente obra de Conceição Evaristo e conta as aventuras amorosas de Fio Jasmim ao longo de sua vida, desde sua posição de jovem aprendiz de maquinista até sua idade mais avançada.

Porém, diferente do que se possa imaginar, Fio Jasmim não é o protagonista dessa narrativa, ou melhor dessas narrativas. Protagonistas são todas as mulheres com que ele se enamora, e são muitas. Desde Pérola Maria, sua fiel e legítima esposa, até Juventina Maria, sua derradeira amante. Ou Eleonora Distinta, sua confidente e amiga, com quem não se relacionou romanticamente mas teve uma relação totalmente íntima.

Fio Jasmim é como o nome dele indica: um fio condutor que alinhava as vidas dessas tantas mulheres. A escrita de Conceição Evaristo nos abraça e acalanta. É uma escrita carinhosa, que nos guia pelas vidas das protagonistas e suas vivências, suas escrevivências, pois numa pegada de auto-ficção, Conceição também se insere entre essas que se propõem a contar a história de Fio Jasmim. Ou melhor, a história de seus amores.

Outro ponto interessante na narrativa é o nome das cidades. Todas elas fictícias, as cidades são como as mulheres que Fio Jasmim encontra. Cidades pequenas, singelas e acolhedoras. Cada uma dessas cidades são ligadas pela linha férrea, que Fio Jasmim percorre com sua sanha namoradeira. 

Com uma narrativa forte e amorosa, com uma Poética única e repleta de encanto, Canção para ninar menino grande é uma obra maravilhosa sobre amor, entrega e amizade.


Ficha Técnica

Canção para ninar menino grande

Conceição Evaristo

ISBN-13: 9786556020884

ISBN-10: 6556020885

Ano: 2022 

Páginas: 136

Idioma: português

Editora: Pallas

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/cancao-para-ninar-menino-grande-1005519ed122237359.html

segunda-feira, novembro 06, 2023

A pelada peluda no largo da bola - Abordando o racismo com coragem


Dia desses li um ótimo livro do Cuti. A Pelada Peluda no Largo da Bola. Um livro incômodo mas divertido sobre questão social e a miscigenação de parte da classe média baixa no Brasil. As questões raciais, socieis e de gênero abordadas no livro são complexas, mas Cuti as aborda com coragem e inteligência.

O livro conta de um grupo de crianças que organiza uma pelada polêmica que chega a ser peluda: pretos contra brancos. E logo de cara já surge uma fala racista de uma personagem e a outra reage, dando-lhe um soco na cara. Uma reação à altura da violência sofrida.

Cada capítulo apresenta um novo personagem, com seus dilemas, sua individualidade e questionamentos. Seja João Pena, filho de uma viúva, seja Henrique, criado pela vó e já trabalhando tão cedo, ou até mesmo Baiano, o de cor mais escura e vítima da estigmatização.

A escrita de Cuti é sublime e não há um só protagonista. A vivência da questão racial é complexa para se representar num só herói. Os lugares e não-lugares são muitos e incomodam; são espinhosos e doloridos.

Os desenhos já datados de Edu Andrade mostram uma estética que ficou no tempo, numa época em que a ilustração não era vista com a riqueza e complexidade que se vê hoje. Isso acaba interferindo de forma negativa a leitura do livro.

Confesso que é difícil falar desse livro, apesar do diálogo apaziguador que vem através da sabedoria africana. Cuti não poupa ninguém, embora honre as representantes dos orixás. Até mesmo o preconceito cristão evangélico é denunciado através da hipocrisia de um certo finado.

Apesar dos desenhos não tão primorosos, o texto de Cuti nos embala e mostra que o racismo na literatura, por mais espinhoso que seja, é um tema que precisa ser abordado com coragem e responsabilidade.


Ficha Técnica

A pelada peluda no largo da bola

Cuti

Ano: 1988 

Páginas: 40

Idioma: português

Editora: Editora do Brasil S/A

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-pelada-peluda-no-largo-da-bola-75096ed82787.html

segunda-feira, outubro 30, 2023

Fahrenheit 451 - A vontade que vence o fogo


Guy Montag é um bombeiro que ama o que faz. Se você acha que isso significa amor por apagar incêndios, eu já adianto que não. Montag ama causá-los. Sim, ele é um bombeiro e sua função é queimar. Em uma era em que as casas não mais se incendeiam, a missão dos bombeiros agora é queimar livros.

Seu amor pelo trabalho é então posto à prova quando ele conhece Clarisse McLellan, uma jovem diferente, que ama pensar e dar longas caminhadas por sua vizinhança. Os poucos mas significativos encontros com Clarisse aceleram uma mudança que Montag já sofria, fazendo com que ele questione sua vida, seu trabalho e toda a sociedade à sua volta.

Assim, vamos conhecendo a história do protagonista de Fahrenheit 451, obra-prima de Ray Bradbury, mestre da ficção especulativa. Nesse livro, situado em um futuro não tão distante, ter livros é crime e o papel dos bombeiros é incinerá-los. Nessa sociedade, as universidades e escolas foram fechadas e as mídias assumiram proporções assustadoras, com telões interativos que ocupam paredes inteiras, além de atrizes e atores sendo chamadas de "família".

Havia lido esse livro pela primeira vez há mais de dez anos e confesso que senti certa dificuldade nessa primeira leitura. A de agora foi muito mais fluida e prazerosa. Parecia até que eu lia outro livro, completamente novo. Foi maravilhoso e ao mesmo tempo assustador ver pelos olhos de Guy Montag esse mundo distópico e perturbador em que a busca pelo conhecimento é desencorajada e até mesmo punida.

Montag de início me pareceu um homem raso e ingênuo. Porém, com o desenvolvimento da narrativa, sua ingenuidade foi ficando menos evidente. Não que ele a tenha deixado de lado. Trata-se de um homem de sua "época", com suas características e peculiaridades. Porém, ele entra em contradição com essa dita época. Seu contraponto é o capitão Beatty, sempre cheio de argumentos e com uma carga de leitura assombrosa. O capitão é um homem amargo e cínico, disposto a demover Montag de sua jornada de autodescoberta. Fato é que, quando Guy começa a acreditar nos livros, Beatty usa os próprios para rebater e ridicularizar Montag. E as atitudes do capitão acabam trazendo consequências irreversíveis.

Outra coisa que gostaria de dizer sobre o livro é sua literariedade. O trabalho com a linguagem é fenomenal e nos proporciona uma leitura deliciosa.

A edição que li trazia uma série de textos suplementares, entre eles, a introdução escrita por Neil Gaiman para a edição de 2013. Sempre é bom ler palavras tecidas por Gaiman, um feiticeiro literário. Ao final do livro, há também uma coleção de capas, desde aquela feita para a revista "Galaxy Science Fiction", a qual traz o conto "O bombeiro", narrativa que originou Fahrenheit 451, até capas de traduções do romance para outros países. São as capas mais célebres. Há outros textos como o excerto do diário de bordo de Truffaut para a adaptação cinematográfica. Há, também, um delicioso relato feito por Margaret Atwood.

Trata-se, portanto, de uma edição maravilhosa, que vale muito a pena colecionar.

É interessante como Montag começa a questionar tudo à sua volta, a ponto de sentir nascer em si um desejo de descobrir o que os livros possuem que fazem mulheres e homens morrerem por eles. Mas como Faber, outra personagem emblemática, disse, não são os livros, mas aquilo que eles guardam.

Com um apuro literário e profundas reflexões, Fahrenheit 451 é um livro incrível, um clássico imortal e uma declaração de amor aos livros mas, principalmente, às ideias, que fogo nenhum pode queimar.

Você pode conferir a primeira resenha que fiz sobre este livro aqui.


Ficha Técnica

Fahrenheit 451

Ray Bradbury

Tradução de Cid Knipel

ISBN-13: 9786558300151

ISBN-10: 655830015X

Ano: 2020 

Páginas: 272

Idioma: português

Editora: Biblioteca Azul


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/fahrenheit-451-136ed11679666.html

segunda-feira, outubro 23, 2023

Toda cicatriz desaparece - Pequenos pecados e grandes tragédias



Há pessoas que, desde que nasceram, enfrentam as mais diversas dificuldades. Fome, pobreza, doença. E tais dificuldades parecem moldar, definir as vidas dessas pessoas. Principalmente se essas tragédias aconteceram durante a juventude.

Toda cicatriz desaparece, livro de crônicas autobiográficas de Rogério Pereira, nos apresenta alguém marcado pela vida. Fome, miséria, alcoolismo, trabalho infantil, essas são algumas das tragédias que acompanham o cronista, que carrega o ar de quem foi marcado profundamente por elas. Melancolia é pouco para tentar definir o tom do livro.

As crônicas são pungentes, agudas, doem aos olhos e nos comovem. Rogério aparece como um náufrago, arrastando consigo seus fantasmas e memórias de pequenos pecados inconfessos. Destes pecados o mais destacado talvez seja o de furto. Um ladrão de comida. O de matador de passarinhos vem em segundo lugar. Em seguida, outros pecados aparecem, sempre apresentados num tom que passeia entre o desafio e a resignação.

Apesar das crônicas abarcarem o tempo cronológico da infância e da juventude, com uns lampejos da fase madura, não há uma sequência temporal. Ao invés de uma linha reta, nós nos deparamos com uma espiral, onde memórias dolorosas são revisitadas à exaustão. Assim, somos convidados a conhecer o inferno particular de Rogério Pereira, com suas dores e fugidias delícias.

De todas as tragédias pessoais abordadas no livro, talvez a mais referenciada seja a súbita morte da irmã, aos 27 anos. Uma morte abrupta e sem sentido. A forme que acossava a família é outra tragédia dissecada pela pena do autor. Há outras mais, como o vício do pai no álcool, que seguiu o autor como um atavismo, bem como as ameaças e surras que o pai dava na mãe e nos filhos.

Ninguém escapa da crueldade do pai. Nem a cachorra Princesa, que foi levada para ser abandonada em um bairro distante. Os dois meninos, levados para acompanhar a operação, podiam, inclusive, imaginar o perigo de sofrerem fim semelhante.

Nesse livro, toda a beleza é desconstruída, seja pela fome que se torna uma urgência, seja pelo piolho passeando livremente pela orelha da amada. As fealdades, porém, são destacadas, também pela fome, pela situação indigna dos personagens, na doença personificada pelo câncer, que tudo corrói.

Não há lugar para otimismos. Mesmo momentos de vitória, como a leitura de uma crônica em Frankfurt, se torna episódio de melancolia e da constatação de uma derrota pessoal, íntima e intransferível.

Todos os mortos são vasculhados, dissecados e expostos. Seja a mãe, com sua boca sem dentes e o furo da traqueostomia, seja a irmã, com seu silêncio, seu corpo franzino e as surras que levava. Até  alguns colegas mortos são evocados, através das travessuras provocadas pela forme e escassez, ou também pelos sonhos compartilhados em comum, de alcançar o estrelato em algum campo de futebol.

E por falar em sonhos, eles aparecem justamente para serem destroçados. Numa escrita poética e profundamente visceral, as crônicas nos falam desses sonhos frustrados numa narrativa que nos envolve e comove.

Com um emaranhado de memórias, uma narrativa de uma escrita primorosa, Toda cicatriz desaparece é um mergulho em lembranças dolorosas, escritas com apuro, uma jornada íntima ao passado de um homem que, a despeito de suas conquistas, nunca deixou de sentir cada uma de suas dores. 


Ficha Técnica

Toda cicatriz desaparece

Rogério Pereira

ISBN-13: 9786557982549

ISBN-10: 6557982540

Ano: 2022 

Páginas: 208

Idioma: português

Editora: Maralto


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/toda-cicatriz-desaparece-122245025ed122251461.html

segunda-feira, outubro 09, 2023

CONFINADA - Por trás das máscaras



A Pandemia de Covid-19 foi um divisor de águas em nossas vidas. Um período em que o mundo parou e muitas pessoas se sentiram forçadas a fazer o isolamento. Porém, aquelas que eram pobres continuaram se expondo e morrendo, fazendo os serviços que os ricos se recusavam a fazer. 

CONFINADA é um romance gráfico de Triscila Oliveira e Leandro Assis e conta sobre Fran, uma rica influenciadora digital que convive em isolamento com sua empregada doméstica Ju. Fran é a típica branca alienada e a pandemia irá escancarar ainda mais seus preconceitos.

A HQ de Triscila e Leandro mostra uma parcela significativa da população que explora a maioria preta deste país e não se envergonha disso. Pessoas que sustentam um discurso hipócrita, de meritocracia e moralização, mas vive na esbórnia, no desperdício e na libertinagem. Apesar de publicamente ser uma pessoa de discurso positivo e consciente, e apesar de não compactuar com algumas das atitudes de sua classe social, Fran logo mostra que não quer abrir mão de seus privilégios.

O roteiro é ágil e as imagens são marcantes. Trata-se de uma obra rica como registro crítico dessa época de pandemia. Um olhar aguçado para o interior dessas vidas de ricos decadentes (alguns, nem tanto) que pousam de boas pessoas mas não passam de bandidos exploradores, racistas e misóginos. 

Ju aparece então como a figura da razão, como aquela que irá, por uma ética pessoal, apoiar as amigas e companheiras de trabalho. Aquela que irá abalar as estruturas. Infelizmente, esse abalo não é suficiente para destruí-las, mas não deixa de fazer usas rachaduras.

Com um texto inteligente e imagens de impacto CONFINADA nos entrega uma obra mordaz sobre a Pandemia e todos os podres que esta escancarou.


Ficha Técnica

Confinada

Triscila Oliveira e Leandro 

ISBN-13: 9786556922133

ISBN-10: 6556922137

Ano: 2021 / Páginas: 128

Idioma: português

Editora: Todavia

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/confinada-12029125ed12017223.html

segunda-feira, outubro 02, 2023

Inhamuns - Uma pungente narrativa no sertão do Ceará



Por vezes nos deparamos com leituras que nos atravessam qual navalha e fazem sangrar nosso peito, nos compungindo e maravilhando. Foi o que aconteceu comigo ao terminar Inhamuns, romance da escritora cearense Kah Dantas.

No livro, a protagonista e narradora conta a história de seu retorno a Tauá, cidade localizada nos Inhamuns, Sertão do Ceará. Ela não volta por acaso, mas a trabalho, por conta de uma descoberta de um novo sítio arqueológico próximo a Tauá. Ao chegar, ela encontrará logo seu amigo de infância, e uma antiga paixão renascerá, trazendo consequências irreversíveis.

Pungente e melancólico, o livro de Kah Dantas é também altamente erótico, contando para nós, leitores, uma história de amor salpicada de tragédia.

A narradora, cujo nome não é informado, tem um passado conturbado, com a morte da mãe ainda jovem e o abuso físico de uma tia, em contraste com o amor da avó. Mas esta também está morta; morreu quando a narradora já não morava em Tauá, mas em Porto Alegre, onde fez carreira como jornalista. A cidade tem um enorme preconceito para com a mãe morta, chamando-a de prostituta. Fato é que a protagonista cresceu sem mãe ou pai, aos cuidados de uma avó zelosa, mas ameaçada por uma tia má. E agora ela retorna e revive antigos fantasmas, o amor clandestino do amigo de infância, enquanto enfrenta seus próprios demônios.

Inhamuns é cadenciado e poético. A protagonista não tem uma boa imagem sobre si mesma e ainda acontecem tragédias que pioram essa autoimagem. Há uma tênue tentativa de reconciliar-se consigo, mas não há muito jeito.

A prosa de Kah Dantas é linda e nos afoga em pleno sertão, compondo um romance cheio de águas, apesar da secura da própria narradora.

Com sua prosa pungente e profunda, Kah Dantas cria uma narradora que nos toma pela mão e nos guia por uma jornada a um sertão cearense mítico e erótico.

 

Ficha Técnica

Inhamuns

Kah Dantas

ISBN-13: 9786556810607

ISBN-10: 6556810606

Ano: 2021 

Páginas: 128

Editora: Moinhos


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/inhamuns-11976973ed11968477.html