terça-feira, dezembro 28, 2021

O Imundo - Parte IV de IV

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Minutos se passaram. Seridath, coberto de suor avermelhado, já estava sem escudo e o punho de algum gigante tominaro havia arrancado seu capacete, quase esfacelando seu crânio. Apesar de tudo, exceto alguns cortes leves, ele estava inteiro. Mas sentia-se estranho. Um punhado de kowas jazia aos seus pés e ele continuava disposto. Na verdade, tinha mais energia do que quando começara a batalha, uma disposição que beirava a excitação. Até estranhou quando, com um jogo de corpo, lançou um dos homens-porco a uma considerável distância. Estava também mais rápido, agia por reflexo, sem pensar, atingindo um pescoço ou uma virilha, perfurando pelas juntas da armadura de algum inimigo ao seu lado, lançando o corpo para trás enquanto desviava-se do poderoso ataque de um punho enorme.
Era o tominaro novamente, um gigante de cinco a seis metros, pele extremamente rígida, que repelia cortes e estocadas. Seridath era constantemente assaltado pelo pensamento de que deveria matar aquele gigante, mas ainda não havia conseguido uma oportunidade de bater-se com ele de maneira adequada. Aquele monstro era forte e resistente, um golpe de reflexo não iria perfurá-lo facilmente.
Mas algo dizia a ele para esquecer os "porcos" e concentrar-se no gigante. Com uma careta, fez Lorguth ser lançada para frente, como um bote de serpente, abrindo a garganta do kowa que o atacava. O oponente tentou segurar o sangramento, mas suas pernas fraquejaram e ele ajoelhou-se, obstinado. Por trás dele, Seridath viu que o gigante o espreitava para um novo ataque. O rapaz correu rumo ao titânico oponente. Escalou o kowa, que já estava morto, mas havia permanecido de joelhos. Antes que o corpanzil tombasse com o seu peso, Seridath apertou o punho da espada com as duas mãos e de um salto lançou-se sobre o peito do gigante. O tominaro olhou com surpresa ante a audácia do jovem. O potente soco errou Seridath por um triz. O rapaz continuou seu trajeto e, empregando toda a sua força em ambas as mãos, enterrou a lâmina bem no olho direito de seu inimigo.
Então aconteceu. Era como sentir seus braços sendo moídos por tanto poder. A dor passou para todo seu corpo, como se o mesmo fosse explodir, ou ser esmagado, ou ambas as coisas no mesmo segundo. Então a dor aliviou, mas permaneceu de forma tênue. Mesmo morrendo, o gigante tentou permanecer de pé, até ceder e tombar pesadamente no chão já coberto de inimigos abatidos.
Com Lorguth ainda presa ao olho do inimigo, Seridath quase não percebeu a oscilação e lenta queda. Deixou-se ficar por algum tempo deitado sobre o tronco do gigante. Estava tão atordoado que também não notou que os inimigos permaneciam ao seu redor, fustigando-o com machados e clavas. Mas sua pele estava rígida demais, os danos eram insignificantes. O rapaz se ergueu lentamente, recuando as lâminas inimigas, chegando a quebrar as hastes de alguns machados. Com um leve movimento de braços, ele atirou para o ar aqueles que o importunavam, fazendo-os voar sobre as cabeças dos outros tominaros, que atropelavam seus próprios aliados para vingar a morte de um de sua raça. "Agora, o povo exilado, o povo do poder" pensou ele. Não sabia quem eram esses, mas seu corpo moveu-se como que por instinto, atravessando o campo de batalha como se estivesse correndo livre na campina. Os inimigos sendo destruídos como se fossem incômodas moitas de mato.
Subitamente, ele deparou-se com uma daquelas criaturas vestidas com seus mantos brancos. "Ah, então esse é um do povo exilado." O ser rapidamente emitiu um "HAH", enquanto um forte feixe de luz partia rumo a Seridath, que bloqueou o ataque com Lorguth. A lâmina chorou, emitindo um forte som agudo e melancólico. Em meio ao espanto e à discreta satisfação de ver a espada sofrer, o rapaz ergueu-se e, fazendo sua tradicional finta para a esquerda, decepou os dois braços do ser antes que ele fizesse um segundo ataque. O seirane gemeu e fez uma hedionda cara de sofrimento. Sua última expressão, pois logo em seguida Seridath enterrou Lorguth na junta de suas costelas. A espada bebeu com satisfação aquela poderosa alma. A criatura explodiu em uma descarga de luz, enquanto mais dor penetrou no corpo de Seridath, desacostumado em receber tanto poder.
Agora, porém, ele sentia algo grandioso permeando seus membros. Os inimigos o rodeavam, mas somente os zumbis insensíveis ainda tentavam, sem sucesso, atingi-lo. Os vivos hesitavam, até mesmo os orgulhosos tominaros mantinham uma temerosa distância. O cavaleiro estendeu a mão esquerda. O poderoso relâmpago surgiu de seus dedos e destroçou os oponentes em seu caminho. Seridath deixou um sorriso leve brotar de seus lábios. "Agora estou pronto. Devo ir em busca daquela alma, Lorguth. Daquela alma que você tanto quer."
Aldreth observava atônito seu amo causar um enorme caos no exército de mortos. Naquela batalha, a confusão imperava. Não havia palavras de comando ou toques de trombeta. O exército de Dhar e a legião maligna engalfinhavam-se como uma só turba convulsa. Gritos de pânico e desespero eram sobrepostos pelos brados de horrendas criaturas. Muitos homens valorosos morriam naquele dia. Homens aleijados arrastavam-se para fora da luta, chorando, pedindo por suas mães, amaldiçoando os deuses. A Companhia ainda conseguia manter sua formação, uma linha cerrada com três camadas de escudos sobrepostos. O exército de Dhar, porém, havia sido reduzido quase à metade e o próprio estandarte do rei oscilava. Mesmo uma vitória seria cara demais para aquele reino. A batalha em frente às campinas de Arnoll seria uma lembrança amarga ao longo dos anos.
Enquanto isso, Seridath acabava de penetrar nos limiares do pavilhão central. Já havia bebido as almas de outros gigantes e meio-gênios. O jovem corrigiu o pensamento. Fora Lorguth quem bebera. Ele somente estava lutando por sua vida, enfrentando seus inimigos, só isso. Enquanto pensava, o jovem agia de forma contrária, estraçalhando quem estivesse à sua frente, fosse através da lâmina amaldiçoada, fosse pelos raios ou pela força bruta. Seus servos permaneciam ao seu lado, enquanto os sessenta bandidos já haviam sido destruídos. Os kowas e tominaros mortos levantaram-se, de forma que as forças de Seridath já tornavam-se uma horda que destruía as entranhas do exército maligno. A cada segundo, o cavaleiro ficava mais surpreso em como os servos eram úteis em batalha. Ágeis, fortes, obstinados, fiéis. Bem, fiéis nem tanto, assim como Lorguth. Mas para tudo há seu jeito.
Seus pensamentos pararam quando ele percebeu algo em sua mente. Olhou ao redor e viu-se em uma nuvem brilhante, de cor carmesim. Era a aura daquela alma que despertava os desejos de Lorguth. Era a própria mente do inimigo, expandida, envolvendo o jovem e sua espada. Seridath sentiu a hostilidade daquele ser. Sim, ele era considerado um incômodo, um inconveniente obstáculo. Mas o rapaz então percebeu outra coisa. Um temor, misto de surpresa e incredulidade. Então era isso. Sentiu satisfação ao saber que começava a ser temido.
De súbito, os mortos-vivos ao seu redor afastaram-se. À sua frente, kowas, tominaros e outros seres também foram recuando, abrindo espaço e formando um corredor. Através dele surgiu um outro ser. Um poder opressivo apertou o coração de Seridath, a ponto dele sentir que iria morrer. Olhou para frente, a forte luz carmesim quase o cegava. O rapaz decidiu voltar à sua visão normal e foi tomado de surpresa. Lá estava ele. Era um homem vestido com uma espécie de toga bem leve. Sua pele era enrugada, como se ele fosse incrivelmente velho, e tinha cabelos bem escassos. Mas não era somente isso. Ele se aproximava com os pés esticados, como se estivesse na ponta dos dedos, mas sem tocar o chão. Segurava uma pesada espada, de lâmina larga e espessa, à altura do peito, deixando-a pousar no ombro direito. Mas o detalhe mais marcante o fato de que aquele ser não tinha olhos, nem pálpebras. Dois redondos buracos escuros ocupavam o lugar dos globos oculares, o rosto de uma caveira ainda coberta com sua pele.
Um pensamento veio forte à mente do cavaleiro, distinto e urgente, como uma súplica infantil. "É ele! O Urd!" Mas não era somente Lorguth que o queria. Seridath desejava a glória de ter destruído o líder daquele exército. O ser olhou do alto, sua boca com uma expressão que beirava o desprezo.
– Desloquei-me do centro de meu pavilhão para dar-te as boas vindas – começou a dizer a criatura – mas então descubro que o ser poderoso a atrasar meu exercício é um simples humano. Tens sorte por carregares essa lâmina, garoto.
– Não sou um garoto, imundo. Não sabes o que eu sou de fato. Mas eu sei quem tu és, Cormorant!
– Ah, que agradável surpresa – o Urd, o Imundo, falou em tom de gracejo –, de fato tens sido por ela informado. De fato, é um privilégio usá-la. Mas saber meu nome não muda a situação, de fato. Tu és fraco para os poderes de Lorguth, larvinha. Não me dirige esse olhar espantado, garoto, pois sabes que é impossível que um ente antigo e poderoso como eu não saiba de Lorguth.
– Sabes então que chegou o dia de teu fim – bradou Seridath, ameaçador, mas em seu peito algo o alertava que havia informações omitidas por Lorguth. O ser soltou uma gargalhada altiva.
– Meu fim? Não sabes o que dizes, menino. Nós não temos fim! Já fomos erguidos para lutar outras épocas, e o seremos, sempre que necessário. Se fosse possível a ti matar-me, apenas estaria submetido a outro senhor, pois minha alma há séculos está amaldiçoada. Ora, não creio que tu sejas capaz de sequer cortar minha pele. Enfrenta o teu inexorável fim!
O ente mergulhou com uma rapidez incrível rumo a Seridath, a lâmina pesada de sua espada apontada para o peito do rapaz. Em meio à surpresa do ataque, foi impossível ao jovem esboçar reação alguma. Apenas sentiu em seu peito como era afiada aquela rústica lâmina. 
E o último pensamento do altivo guerreiro foi a certeza do definitivo desfecho daquela batalha.


Fim...? 

segunda-feira, dezembro 27, 2021

O Imundo - Parte III de IV

Ir para O Imundo - Parte II de IV


Um baque forte lançou-o longe e seu corpo rolou sobre o escudo, trombando e derrubando o que deveriam ser corpos de inimigos. A primeira coisa que fez foi verificar se estava ferido. A armadura invisível parecia fornecer alguma proteção, pois a cota de malha havia resistido bem e o escudo estava somente arranhado. Apesar disso, a dor era aguda no ombro direito. Ao menos, não estava ferido. Tentou localizar seu poderoso agressor, mas as bordas do elmo limitavam sua visão. Seu esforço foi desnecessário, pois uma enorme criatura de quase dois metros de altura, corpo humano e cabeça de porco, abria caminho entre os zumbis para enfrentá-lo, com uma clava nas mãos. Seridath entendeu que fora aquela coisa enorme que o havia atingido com tanta força. "Mate-o! Enterre a lâmina bem fundo em sua carne!" pensou o rapaz para si mesmo, enquanto via pelos olhos da espada como era forte o sangue daquele ser vivo. Jogou-se contra o peito do brutamontes, enquanto Lorguth penetrava fundo naquela carne esbranquiçada. O monstro era um kowa, homem-porco das terras do Oeste longínquo. Logo o gigante caiu, Seridath viu-se cercado por vários outros. Estava cercado por um pelotão inteiro.
Com a respiração suspensa, Aldreth observava toda a movimentação da batalha, que se tornara uma confusa e hedionda mistura de corpos, sons de carne e ossos sendo rechaçados, gritos de ódio e desespero. Percebeu então um grande bando de umas quinze ou vinte criaturas mutantes, com suas cimitarras, correndo na direção dele e de seus companheiros. O jovem não hesitou. Entesou seu arco e deixou as flechas subirem com rapidez. Já havia derrubado três deles quando viu que já estavam próximos demais. O rapaz voltou a desembainhar a espada, embora tivesse plena certeza de que não escapariam. Ignorava os talentos de Thin, mas não considerava-se bom o bastante para enfrentar tantos inimigos. Lucan estava muito ferido e dentre eles o arqueiro acreditava que somente Uri era bom em combates corpo-a-corpo.
Mas antes que os inimigos os alcançassem, um punhado dos servos de Lorguth surgiram em seu encalço. Eram mais rápidos que as aberrações sem rosto. Aldreth suspirou aliviado quando viu as criaturas destruindo os inimigos com uma rapidez silenciosa e eficiente. Sentiu também uma discreta gratidão. Seridath não se esquecera deles.

***

Continua...

domingo, dezembro 26, 2021

O Imundo - Parte II de IV

Ir para O Imundo - Parte I de IV

A lâmina escura pareceu mudar de forma, contorcendo-se cada vez mais rápido, até tornar-se uma labareda nas mãos de Seridath. Uma forte chama negra e maldita agora crepitava nas mãos do guerreiro. De repente, a labareda inclinou-se levemente para o lado e bifurcou-se, até que uma forma feita de chama desmembrou-se da espada e partiu para longe. Enquanto afastava-se, essa língua de fogo assumia uma forma quase humana. Seridath entendeu. Era uma das almas que a espada havia roubado quando Seridath fizera sua vítima. Uma alma que agora partia em busca de seu corpo. Várias outras labaredas de almas mutiladas surgiram da da espada e partiram para ocupar os corpos apodrecidos mais próximos. Conectado com Lorguth, Seridath descobriu que aqueles quatro servos destruídos em Arnoll não foram efetivamente mortos. Eles ocupariam os corpos mais próximos para continuarem a servir seu senhor.
Enquanto Seridath mantinha-se naquele êxtase de descobertas, Aldreth observava perplexo, com os demais companheiros. Ele e os outros não podiam ver as chamas negras brotando da espada de seu senhor e as labaredas amaldiçoadas buscando corpos sem vida. Seridath era o único que experimentava aquele segredo.
E Lorguth acabava de transmitir uma informação valiosa. Os corpos dos bandidos que haviam sido lançados pelos muros de Arnoll jaziam próximos dali. Um acréscimo de mais ou menos sessenta homens seria interessante. Não teriam a força e agilidade dos servos mortos diretamente pela lâmina negra, nem poderiam retornar depois de destruídos, mas teriam alguma utilidade. Seridath, com um sorriso cheio de malícia e ambição, invocou esse poder. "Sim, minha querida, reanime esses corpos também."
Subitamente, Aldreth e os outros foram surpreendidos com o tropel de um enorme grupo que se aproximava por trás atrás deles. "Emboscados!" pensou ele, em pânico. Desembainhou a espada, enquanto Thin sacava sua adaga. Lucan ainda vacilava, mas Uri o havia largado para empunhar seu machado. Mas ao olhar para trás os dois rapazes e o anão viram uma enorme turba de bandidos ultrapassando-os e correndo rumo ao exército inimigo. Todos tinham o olhar vazio daqueles que já foram abandonados pela vida. Alguns corriam com as vísceras pendendo de suas barrigas ou se arrastavam, como animais quadrúpedes, enquanto outros estavam em bom estado, podendo até enganar alguém à distância, passando-se por vivos. Mas estavam todos bem mortos. O líder Berak, com a cabeça pendendo grotescamente para o lado, cruzou com o grupo dos guerreiros de Seridath. Thin bateu no ombro de Aldreth, enquanto observava Berak afastar-se com uma rapidez desengonçada.
– E pensar que eu poderia ser um desses, né? – disse o ladrãozinho, com um sorriso matreiro.
Aldreth suspirou, sentindo um misto de medo e alívio. Seridath mais uma vez o surpreendia. 
Em frente ao exército inimigo, o cavaleiro ergueu a flamejante lâmina. Não precisou gritar uma ordem de ataque. As criaturas agora o entendiam. O rapaz sentia-se ligado à mente dos "seus" mortos, como se fossem a sua própria. Flexionou os joelhos e partiu com velocidade rumo à ponta da formação de vanguarda inimiga. Aldreth observava, cheio de assombro. "Ele é louco!" pensou, "Vai morrer!"
Mas Seridath estava a poucos passos da linha de frente. Os [ragrans] não puderam disparar seus dardos antes que o jovem estivesse cara a cara com os primeiros inimigos. As criaturas de Lorguth já o alcançavam e com saltos medonhos lançavam-se sobre seus oponentes. Ossos e pedaços de carne apodrecida eram espalhados pela campina. Seridath jogou o corpo para a direita, enquanto fazia seu braço direito acompanhar o movimento e traçar um percurso horizontal, decapitando o zumbi à sua frente. Estava alegre, eufórico. Havia descoberto para que nascera. Era um Destruidor.
Seridath viu-se então cercado por criaturas com espadas de lâminas recurvadas e rostos disformes, aqueles mesmos que quase o mataram em Keraz. Então ele já fora localizado, oponentes mais fortes já haviam sido enviados para liqüidá-lo. Arrancou com a espada a perna direita de uma das criaturas, que perdeu o equilíbrio e tentou apoiar-se com uma das mãos, enquanto um braço desconjuntado sacudia-se, nascendo da perna ferida. O jovem pôs o pé esquerdo sobre o ombro do monstro e, com um forte impulso, lançou-se sobre as cabeças dos inimigos, para dentro daquela turba enlouquecida.

Continua...

terça-feira, dezembro 14, 2021

Lançamento: Uma visita inesperada - Samuel Medina e Luiz Henrique Evaristo




Finalmente saiu a divulgação do lançamento do meu mais novo livro: Uma visita inesperada. O texto de minha autoria traz o primoroso traço de Luiz Henrique Evaristo. O trabalho editorial d'a mascote, editora independente, foi imprescindível para que a obra ficasse tão linda. 

O livro está em pré-venda no site da editora a mascote até o dia 21 de dezembro.

As compras podem ser diretamente comigo (medina.samuel@gmail.com) ou pelo site da editora a mascote.

Conheça um pouco mais sobre o livro:










Mafalda, uma bruxa de idade avançada, é celebridade entre os bruxos. Ninguém sabe o segredo de sua juventude e ela, se sabe, não o revela. Quando uma visita inusitada bate à sua porta, será o momento de uma revelação que mudará o curso da vida da bruxa e também de sua enigmática visitante.

Lançamento:

Dia 21 de dezembro, terça-feira, às 19h.

Local: Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais - Praça da Liberdade, 21 - Funcionários, Belo Horizonte, MG.

EU LEIO PARA ESCREVER E ESCREVO PARA EXISTIR

segunda-feira, dezembro 13, 2021

O Imundo - Parte I de IV

Ir para O Embate - Parte V de V

Os cinco desceram com rapidez a encosta da colina, rumo ao campo aberto. Seridath dispunha de uma velocidade incrível, e já ganhava distância dos outros, correndo com rapidez mesmo com o pesado escudo pendendo em seu braço esquerdo e com a longa cota de malha cobrindo seu corpo.  O escudo era largo e comprido, de bordas na parte de cima anguloso em baixo. A cota de malha, formada por vários anéis de ferro sobrepostos, não era das melhores mas estava bem conservada. O rapaz parou de chofre de costas para Arnoll e diante do exército de mortos, que havia voltado a se mover rumo à cidadela. Num movimento brusco, Seridath desembainhou Lorguth e fincou a lâmina maligna no chão da campina. Emitiu sua vontade, enquanto sentia a espada vibrar. Estava para começar a batalha de sombras dentro de sua alma.
"Lorguth, quero que preste atenção. Hoje satisfarei sua vontade e enfrentar esse exército diante de nós. Caçarei a alma que você quer provar. Mas é a última vez que sua vontade se sobrepõe à minha."
A espada emitiu uma vibração tão forte que um som agudo e irregular tocou os tímpanos do rapaz, como se Lorguth imitasse uma forte gargalhada, zombando da ingenuidade do guerreiro, embora fosse impossível dizer se aquele som havia soado realmente ou se a lâmina amaldiçoada estava pregando mais uma peça na mente do jovem.
"Você pode rir. Mas se está sintonizada à minha alma, sabe que minha vontade é forte. Você irá se arrepender caso me contrarie novamente."
Lorguth parou de vibrar. Seridath acreditou que ela havia levado aquelas palavras a sério, embora fosse impossível saber. Tinha a consciência de que havia um longo caminho até dominar a espada, mas agora não dispunha do tempo necessário. Ordenou que a espada entrasse em ação. A lâmina vibrou novamente, excitada, fazendo Seridath sentir a palma da mão direita, que segurava a espada, formigar. O Viajante Cinzento viu um círculo se expandir a partir da escura lâmina e tomar todas as direções. Onde as bordas desse círculo tocavam, a paisagem mudava. O chão ficou negro, o céu vermelho qual sangue. Penetrando no plano espectral da espada, o rapaz passou a ver com outros olhos, com grande intensidade e nitidez.
Olhou para a esquerda, para o pequeno exército de Serpente Flamejante, que estava mais próximo a ele. Os corpos estavam transparentes, ele podia ver ossos, veias, corações com suas batidas regulares. E foi com grande surpresa que descobriu também a alma, um corpo dourado e brilhante, que permeava os limites de cada corpo físico. Assim também estavam seus quatro homens às suas costas e o exército do Senhor de Dhar.
Olhou para si mesmo e, para sua surpresa, sua alma não estava à mostra. Curiosamente, o rapaz permanecia coberto por uma armadura negra, sólida, com placas, manoplas e peitoral. Não era a velha cota de malha, mas uma armadura luxuosa pesada, destinada aos grandes senhores e cavaleiros de alto nascimento. Aquela armadura ilusória, visível apenas para ele, era a forma espiritual que o poder de Lorguth conferia ao seu portador. E ao ver-se vestido assim, Seridath sentiu-se um verdadeiro senhor.
Voltou sua atenção para o exército inimigo, cujo flanco direito já se envolvia em encarniçada luta contra os homens de Dhar, enquanto o flanco esquerdo era alvejado por flechas da Companhia. Os corpos reanimados dos mortos-vivos não tinham uma entidade corpórea e brilhante permeando-os, mas uma espécie de massa luminosa de cor azulada ou arroxeada, sem forma definida. Em alguns lugares, espalhados ou agrupados, havia pontos brilhantes, indicando almas vivas, como argros, os gigantes tominaros, kowas ou qualquer outra criatura viva que fosse integrante daquele exército.
Mas havia um outro ponto brilhante. Um corpo completo, luminoso, mas incrivelmente maior que qualquer outro em toda aquela horda. Sua cor era carmesim, forte, de forma que Seridath percebeu-a de bem longe. Estava situada no pavilhão central do exército inimigo e não dava indicações de mover-se. Sua aura expandia-se em ondas, indicando que o poderoso ser deveria estar, naquele momento, emitindo poderosos encantamentos. Seridath riu. "Então é essa a alma que você tanto anseia, Lorguth?" A espada vibrou de satisfação, confirmando as suspeitas do jovem. "Então vamos começar. Chame-os."

domingo, dezembro 12, 2021

Fa(r)to

Existimos 

no 

tempo. 

Por isso 

estamos 

sempre 

que-

brados.

Inspirado no poema "que não vem", de Norma De Souza Lopes.


sábado, dezembro 11, 2021

Dia do fogo

As chamas 

contornam nossa

Realidade

A mata morre

em labaredas e fuligem

É o trabalho

para mostrar que nem a 

Vida

Importa

O juízo final

Escurece o céu

Enquanto a justiça

Desmorona

Em nossa bandeira agora 

cinza


sexta-feira, dezembro 10, 2021

Convertido

Para Pâmela Bastos Machado

Ela sorri 

com uma graça 

desaforada. 

Percebo atrás 

de seus 

olhos 

algo de divino. 

Sou 

um eterno 

incrédulo, 

mas ela 

desperta em mim 

uma fé 

no impossível

quinta-feira, dezembro 09, 2021

SalmOdiando

Fui moço

Agora sou velho 

E quando o justo 

Foi desamparado

E sua descendência 

Mendigou o pão

Não hesitei

Resoluto

Eu olhei para

O outro lado.

quarta-feira, dezembro 08, 2021

Para a Loba do Norte

Para Norma de Souza Lopes

Vim aqui pra escrever um poema 

como quem escreve 

uma homenagem. 

Mas como 

fazer isso se a distância 

queima as palavras?

Tenho você como um Norte.

Uma Norma

que me desvia do comum.

Você não é comum.

É uma Loba.

E ainda 

que o tempo seja 

de fome e de escassez 

ainda que o fogo 

queime nas encostas 

suas palavras 

continuam 

todo dia 

a me alimentar.

25 de abril de 2020

terça-feira, dezembro 07, 2021

Preparado

"Quando estiver pronto, pode abrir os olhos" - instruiu a voz na meditação guiada.

Foi assim que nunca mais sentiu-se capaz de abrir os olhos.

segunda-feira, dezembro 06, 2021

O Embate - Parte V de V

Ir para O Embate - Parte IV de V

As explosões ecoaram junto com os brados de júbilo dos moradores de Arnoll. Mais da metade do flanco esquerdo e parte da vanguarda foram destruídos nessa investida dos magos. Os gigantes e os meio-gênios, mais uma vez, não fizeram caso do ataque. Mas era uma cena perturbadora, ver argros e kowas em chamas, correndo e ganindo em desespero. No centro do exército sombrio, um ser maligno sorriu. O único que pôde perceber quantidade de pulsante energia liberada foi Seridath, pois Lorguth transmitiu-lhe um sentimento quase esmagador de poder emanado do exército dos mortos-vivos.
Subitamente, a alegria fez-se espanto, e logo medo aterrador. Começou com os gritos de um mago, que ergueu os braços, largando seu bastão, como se o mesmo o tivesse queimado. Os demais magos o olharam assustados, enquanto o homem que gritava aumentava seus berros, que se tornaram gorgolejos de sangue. Os olhos saíram das órbitas, uma fumaça fina emanou de sua boca, junto com sangue escuro. O homem parecia queimar por dentro e logo as chamas brotaram de sua pele, incendiando seu manto, enquanto ele desabava ao chão. Seus companheiros se afastaram, mas logo os berros recomeçaram e foram multiplicando-se.
Os fenômenos eram diversos. Um mago arranhou-se em loucura, enquanto outro parecia desmanchar-se como se derretesse. Na confusão que se tornara o esquadrão de magos, a única certeza era o sofrimento. Em segundos, praticamente todo o esquadrão se transformou em pedaços de corpos humanos espalhados pelo chão. Os poucos sobreviventes, cobertos de sangue, observavam atônitos a cena bizarra.
Todos pararam, inclusive os homens da própria Companhia. As cornetas voltaram a tocar. Os andarilhos de Serpente Flamejante dobraram seus corpos ao chão e emitiram uma série de cantos antigos, suplicando piedade aos deuses esquecidos de eras remotas. Uma névoa luminosa passou a envolver lentamente os guerreiros que compunham a Companhia. Por ordem das trombetas de Dhar, os lanceiros foram à frente, com rapidez, enquanto a divisão de clérigos, fortemente protegidos por pesadas armaduras, os seguiam carregando suas armas de quebrar cabeças.
As orações para dispersar mortos ecoadas pelos clérigos teriam poder para reverter a maldição, desorientando ou até mesmo destruindo os zumbis. Enquanto os homens de Dhar se aproximavam, alguns mortos-vivos começaram a sentir o efeito da aura dos clérigos, ficando desnorteados e saindo de suas formações. Lançadores de dardos disparavam setas a esmo, alvejando integrantes de seu próprio exército. A linha de frente dos mortos embaralhava-se. Alguns dos espinhentos ainda tentaram atingir os clérigos com seus dardos, mas os escudos da infantaria, somados à pesada armadura dos religiosos, ofereciam uma proteção quase perfeita.
Nisso, os meio-gênios, aqueles vestidos de branco, entraram em ação, tomando a frente dos poucos soldados zumbis que restaram no pavilhão que compunha a vanguarda. Estendendo para frente suas mãos finas e pontiagudas, dobrando os joelhos, eles abriram suas bocas e emitiram um longo "HAH", que veio acompanhado por um poderoso feixe de luz brotado de seus dedos. O raio luminoso pegou em cheio soldados e clérigos de Dhar, destroçando-os. A vitória tão lógica para o rei começava a tornar-se uma enorme derrocada.
Seridath desceu rapidamente, seguido de perto por Thin e Aldreth. Ao pé da árvore ele parou por alguns segundos. Uri e Lucan, que antes conversavam em voz baixa, cessaram sua conversa, aguardando ordens.
– Vamos, – disse o Viajante Cinzento a todos – temos uma batalha para enfrentar.

Continua...

domingo, dezembro 05, 2021

Os príncipes sapos

Um exército de guerreiros sapos que lutam por um beijo para se tornarem novamente humanos. Infiltram-se em casas de bruxas, enfrentam feras mágicas e dragões, cavalgam lagartos que correm graciosos sobre as águas. O líder é Rabert, o mais galante, garboso e destemido sapo que qualquer brejo já viu!


Adivinhação 3

 O que mais pesa no mundo?

r: a balança

sábado, dezembro 04, 2021

Coluna Literária lança foco sobre literaturas africanas



Por ser um continente, África possui uma infinitude de culturas, idiomas, modos de ver e se relacionar com o mundo. Por isso, tudo o que carrega o adjetivo "africano" acaba por sofrer um reducionismo cruel. Falar de literatura africana, então, é um grande desafio, posto que em África as literaturas podem ser muitas, plurais e divergentes.

Tendo em vista esse desafio, a Coluna Literária trata o tema com muito respeito e reverência. Em primeiro lugar, há que se falar do perfil literário, que ovaciona a escritora Paulina Chiziane, mais recente vencedora do Prêmio Camões 2021.

No campo das resenhas, foram apresentadas duas obras bem destintas. Sem gentileza, da sul-africana Fuuthi Ntsingila, e Reclusos do tempo, do moçambicano Alex Dau.

Para acessar a Coluna Literária, basta clicar aqui.

Espero que leitoras e leitores possam se deleitar com os textos primorosamente escritos da Coluna Literária, a qual sempre busca ótimas dicas de literatura para aproximar "pessoas, livros e bibliotecas"!

sexta-feira, dezembro 03, 2021

O mistério da sala secreta - Aventura e humor na dose certa



Júlia e Gabriel são amigos inseparáveis. Ela é corajosa e extrovertida. Ele é bem humorado e estudioso. Esses dois jovens de 12 anos estudam na Escola Municipal Maria Quitéria de Jesus, que está em vias de ser fechada. Júlia está inconformada, principalmente porque a escola em que estuda tem excelente qualidade no ensino e isso pode impactar seu futuro. Ela não teria condições financeiras para pagar passagem para uma escola no centro da cidade. Por isso, tudo indica que será transferida para a mal afamada "escola da pracinha".

Enquanto Júlia parece fadada a estudar em uma escola que não quer, Gabriel, aluno brilhante, tem chance e condições de estudar em uma instituição melhor. Por isso, não se sente tão afetado pelo fechamento do Maria Quitéria. Mas com isso ele será separado de sua grande amiga.

A aventura de ambos começa quando, numa feira da escola, Júlia e Gabriel ficam conhecendo quem foi Maria Quitéria de Jesus, a mulher que emprestou seu nome à escola. Ficam também sabendo da lenda de que a escola teria uma sala secreta, acessível apenas aos corajosos e merecedores.

Curiosa, Júlia arrasta Gabriel para uma busca pela verdade. Sem que saibam, essa aventura poderá mudar a vida não apenas deles, mas de todas as pessoas que estudam e trabalham na Escola Municipal Maria Quitéria de Jesus.

Esse romance juvenil de mistério foi uma leitura agradável e gostosa. Júlia e Gabriel dividem o papel de narrar a trama em capítulos alternados. São jovens com suas personalidades distintas que influenciam suas atitudes na trama. Enquanto Júlia é mais assertiva, Gabriel é mais contido. Ela é leitora voraz, mas não muito estudiosa. Já ele é o primeiro da classe.

Outro ponto que me agradou muito foi a descrição das personagens. A cor da pele e os cabelos de Júlia e Gabriel ganham destaque, com os volumosos cachos dela e o black power dele. Suas características físicas são bem marcadas e evidenciadas, o que fortalece a questão da representatividade negra na literatura. Os desenhos de Rubem Filho são primorosos e fortalecem ainda mais essa representatividade. 

Com uma trama cativante e um segredo a ser desvendado, O mistério da sala secreta é uma aventura gostosa e divertida, voltada para jovens leitores de todas as idades.



Ficha Técnica

O mistério da Sala Secreta

Lavínia Rocha

Ilustrações de Rubem Filho

Ano: 2021 

Páginas: 176

Idioma: português

Editora: Yellowfante

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-misterio-da-sala-secreta-11717759ed11729822.html

quinta-feira, dezembro 02, 2021

Uma publicação muito esperada

Há alguns anos, comecei a rabiscar uma narrativa em que uma bruxa de idade avançada e a morte se encontram. Desse encontro, nasce uma amizade onde preciosidades são descobertas. Assim nascia o conto que se tornaria, anos depois, o livro Uma visita inesperada, da editora A Mascote.

Um longo caminho foi percorrido antes que o livro estivesse impresso. O primeiro grande desafio foi encontrar um ilustrador que tivesse a sensibilidade e o talento que eu queria para essa história. Além disso, era preciso que eu e o ilustrador estivéssemos em constante contato, para irmos acertando os detalhes do desenho, criando assim uma obra conjunta.

Foi maravilhoso ter conhecido o Luiz Henrique Evaristo, que concedeu seu traço para dar vida à bruxa Mafalda, bem como à Morte, personificada em uma figura gentil e simpática. Assim, Luiz Henrique foi primoroso em seus desenhos, dando à narrativa um tom mágico que a enriqueceu profundamente.

O trabalho da editora A Mascote, na pessoa da Beatriz Mom, foi fundamental para unir texto e ilustração, concedendo-lhe organicidade e elegância. O projeto gráfico ficou incrível, num trabalho artístico ímpar.

É preciso destacar também o trabalho de Pâmela Bastos Machado, minha companheira para a vida, que assina a coedição do livro. Seu olhar sempre cuidadoso e meticuloso auxiliou nas várias versões para que o resultado final ficasse primoroso.

Tenho que registrar aqui que a quarta capa é assinada pelo grande Rodrigo Teixeira, que cedeu um pouco de suas palavras fortes e belas para deixar o livro ainda mais bonito.

É com alegria, portanto, que anuncio a pré-venda do livro Uma visita inesperada. O lançamento presencial será anunciado em breve!


Para comprar: https://www.amascote.etc.br/pd-8683ca-uma-visita-inesperada.html?ct=&p=1&s=1

quarta-feira, dezembro 01, 2021

Meu pé de milho


Encontrei aquele grão enquanto catava feijões para o almoço. Surpreso, segurei aquele pequeno e amarelo grão de milho no meio de minha palma. Não o juntei com os feijões rejeitados. Deixei-o à parte, um pouco afastado, para não esquecê-lo.

Desci com ele quando fui molhar as plantas lá fora. Eram algumas mudas que havia conseguido com pessoas queridas. Manjericão, Melissa, Capim Cidreira. Parei no centro do canteiro, em um ponto em que a terra nua era visível.

Enfiei o indicador na terra, que cedeu com facilidade. A chuva recente facilitou o processo. Depositei o grão de milho no pequeno furo e o cobri com terra.

Deixei de pensar nele. Fui lembrar de sua existência quase uma semana depois, quando vi umas folhas largas, longas e bem verdes. Tinham despontado justamente onde eu deixei repousando aquele grão de milho. Parecia um capim, mas diferenciava-se por serem folhas largas e compridas, com caule roxo.

Reconheci meu pé de milho. Orgulhoso, passei a diariamente dedicar-lhe atenção, um pouco de água e uma pequena parcela de meus sonhos. Comecei a me sentir como o Rubem Braga, quando ele contou em sua crônica a descoberta de um pé de milho em seu jardim e o encantamento de ver a planta crescer.

Já imaginava o futuro desse grão que o acaso protegera, escondendo-o em um pacote de feijões de supermercado, para ser encontrado, escapando da obliteração de água, fogo e dentes vorazes. Eu imaginava minhas mãos debulhando a espiga, preparando a terra para a prole desse pequeno grão de milho que agora já era outra coisa. Era um pequenino pé. Meu pé de milho.

Havia, porém, o medo. Como meus vizinhos receberiam a visão de um pé de milho crescendo no jardim? Temia que achassem isso um disparate. Eu ficava me perguntando se algum vizinho reclamaria, ou até mesmo poderia, na surdina, cortar a planta. O perigo, porém, surgiu de um lugar totalmente inusitado para mim.

Ontem, a empresa de jardinagem veio ao condomínio em que moro. Cortaram meu pé de milho. Não adiantou eu ter falado com o jardineiro chefe. Nem ter sinalizado o meu pé de milho, o manjericão, o salsão, o capim cidreira, a melissa. A máquina voraz cortou, esmagou, triturou essas vidas ainda tão tenras, tão tímidas. 

Agora, meu Pé de Milho existe apenas aqui, na galeria de tudo o que era para ser, mas não foi.