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segunda-feira, setembro 25, 2023

A grande arte - Uma jornada de ação, erotismo e suspense



Mandrake é um advogado incomum. Ao invés de se ocupar em defender a as causas que assume, ele passa o tempo envolvido em conspirações, metendo o nariz onde não é chamado e se envolvendo com diversas mulheres.

O caso mais pitoresco que o advogado assumiu é a busca de uma fita de vídeo cassete, que parece matar todos aqueles que se envolvem com ela. Tudo começa com a narração da morte de uma prostituta. Seu assassino, após matá-la apertando-lhe o pescoço, escreve em seu rosto com uma faca a letra "P". Em seguida, um misterioso homem chamado Roberto Mitry comparece ao escritório de Mandrake e de seu parceiro, Wexler, solicitando que eles intermediassem a recuperação da fatídica fita cassete.

Curioso com a pessoa de seu cliente e com as circunstâncias envolvendo as mortes das supostas detentoras da fita, Mandrake se lança numa espiral de violência, loucura e vingança. Além de muito sexo.

A grande arte, livro de Rubem Fonseca, nos leva a uma narrativa estilo romance policial, em que os culpados são muitos, talvez até mesmo você, leitora ou leitor. A violência é crua, a linguagem direta e o estilo repleto de referências refinadas, embora bruto na linguagem.

Mandrake é um verdadeiro canastrão. Seja com seus charutos, seus vinhos ou suas paqueras, ele parece passar por todos os perigos incólume, ou quase. A morte parece amá-lo tanto quanto as mulheres, bem como o perigo.

Outra personagem importante é Camilo Fuentes, o boliviano indígena, grande e forte, dotado de um ódio frio contra o mundo, sobretudo contra brasileiros. Fuentes entra na narrativa como antagonista de Mandrake e alvo de sua vingança, até alçar-se ao grau de (anti)herói e improvável aliado.

Além de Camilo Fuentes, há um tritagonista nessa narrativa. Este é Thales de Lima Prado, um financista que também é chefe do crime organizado. É através dos supostos cadernos de Lima Prado que Mandrake completará a intrincada e enigmática narrativa, onde todos são suspeitos e ninguém é inocente.

Não posso me esquecer de mencionar também de José Zakkai, o Nariz de Ferro, que entra em guerra contra Lima Prado e vem a ser um improvável mas valioso aliado de Mandrake.

Há um problema de datação no texto, levando-se sem consideração que o mesmo foi publicado no início da década de 1980. Ainda assim, é muito incômodo ler Mandrake chamar pessoas pretas de crioulos ou menosprezar e caricaturizar a homossexualidade.

Apesar dessas questões delicadas, A grande arte foi uma jornada interessante. Uma leitura ágil e revigorante, uma narrativa repleta de ação, erotismo e suspense, onde no final suspeitamos de todos, até de nós mesmos.


Ficha Técnica

A Grande Arte

Rubem Fonseca

Ano: 1983 

Páginas: 296

Idioma: português

Editora: Francisco Alves


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-grande-arte-2401ed105755.html

segunda-feira, julho 19, 2021

A moça na janela

Imagem de Frank Winkler por Pixabay 

Ele morava sozinho. Uma das janelas do seu apartamento dava para uma casa abandonada.

Uma noite, ele acordou e não conseguiu mais dormir. Foi beber uma água. Enquanto virava o copo na boca, olhava distraidamente pela janela.

Havia uma luz na casa abandonada. Era uma luz fraca, de lamparina, candeeiro. Ele não deu muita importância. Até que a imagem de uma bela moça surgiu na janela. A moça era jovem e tinha uma beleza melancólica. 

No dia seguinte, ao ir para o trabalho, passou em frente à casa. Ela tinha a mesma imagem de decrépito abandono. Achou que havia sonhado.

A insônia continuou. Era sempre no mesmo horário que ele despertava e perdia o sono. Da cozinha, via a moça melancólica. Uma noite, ele percebeu que a moça se despia sob luz da lamparina. Excitado, ele não conseguia tirar os olhos dela.

Quando então a moça virou-se para a janela e fitou o rapaz. Ele estremeceu, enquanto ouviu alguém sussurrar em seu ouvido esquerdo:

- Tá olhando o quê?

sexta-feira, maio 06, 2016

Quero meu chapéu de volta - Um thriller para pequenos leitores



Uma história de suspense com doses certas de humor e ação. Está é a fórmula do incrível livro Quero meu chapéu de volta, do escritor e ilustrador Jon Klassen.
O urso está muito angustiado. Ele perdeu o seu chapéu e ninguém o viu. Começa, então uma jornada em busca de seu precioso chapéu, numa espécie de atrapalhada investigação. Dialogando com o gênero policial, onde muitas vezes o culpado está diante do leitor o tempo todo, há um jogo que brinca com o protagonista, tornando o leitor o detetive. E assim, a narrativa ganha um gracioso tom de humor, o que torna leve tanto o suspense quanto o inusitado desenlace.
Outro ponto forte do livro é a expressiva ilustração. Enquanto o urso conduz sua busca pelo bem perdido, vários animais são interrogados. Os desenhos dialogam com o universo infantil, por seus traços redondos e por sua simplicidade estética. Essa simplicidade, porém, não compromete a beleza do desenho. E isso torna a ilustração de Klassen, a meu ver, fenomenal. E vale destacar que, por ser um álbum ilustrado, desenho e texto estão integrados no processo de narração, sendo impossível separá-los.
Por fim, vale destacar a brilhante escolha de Klassen de isentar sua obra de moralismos limitadores. Não há lição edificante a ser aprendida. Há simplesmente a observação de fenômenos de causa e efeito. Assim, acredito que o trabalho do autor ganha uma força ainda maior, por sua escolha de afastar-se desse moralismos falsamente "edificante" que contamina muitos dos livros infantis.
Com seu tom de humor e seu suspense atrapalhado, além da primorosa ilustração, Quero meu chapéu de volta certamente conquistou seu lugar entre os melhores livros para pequenos leitores. Uma história que vale a pena contar e recontar.

Ficha técnica:
Título: Quero meu chapéu de volta
Autor: Jon Klassen


sexta-feira, novembro 15, 2013

Anardeus - No calor da destruição: um épico pós-moderno

Isabel e Anardeus são irmãos gêmeos. À proporção que Isabel é bela, querida e desejada, seu irmão é feio, rejeitado e desprezado. Enquanto Isabel sofre com o calor, Anardeus precisa se cobrir com vários agasalhos. Não bastasse o desprezo alheio, Anardeus também é acometido por estranhas visões, que antecedem acontecimentos terríveis e inacreditáveis. 
Assim, o leitor testemunha o desenrolar deste épico fantástico de Walter Tierno. Construindo um texto sóbrio, econômico e equilibrado, Tierno guia nossa leitura através de um universo calcado no desequilíbrio. Sarcástico e niilista, o narrador, na figura do próprio protagonista, tece uma trama em que o total desprezo pelo mundo e pelas coisas está presente com toda a força. O mais interessante é que o desprezo de Anardeus não é resposta ao desprezo que todos lhe atiraram. Ele tem nojo do mundo e o despreza desde seu nascimento, quando descobriu-se com o dom de analisar o mundo ao seu redor e captar sua malícia.
Anardeus, porém, não é o único narrador. Os capítulos intercalam as vozes de outras personagens, conferindo um maior dinamismo à leitura e garantindo uma veracidade ainda maior e mais chocante ao mundo desenhado por Tierno.
Por fim, a primorosa ilustração reforça ainda mais a carga dramática do ambiente caótico que habita o interior dos personagens e que, gradativamente, irá expandir para além dos mesmos, invadindo todo o cenário ao redor.
Com um texto dinâmico, repleto dr ironia e personagens fascinantes, Anardeus - No calor da destruição é um épico angustiante, perturbador e certamente fascinante.

Ficha Técnica
Edição: 1
Editora: Giz Editorial
ISBN: 9788578552053
Ano: 2013
Páginas: 181


quinta-feira, outubro 17, 2013

Angellore: Um Thriller Espiritual

Uma série de crimes inexplicáveis aterrorizam os moradores de Belo Horizonte (MG) e deixam perplexos os experientes policiais do Departamento de Inteligência da Polícia Civil, em especial a agente Olívia Giacomelli, famosa por sua competência. Os corpos das vítimas apresentam características muito perturbadoras, embora para os legistas seja impossível definir a causa da morte. Enquanto isso, Sophie, uma moça marcada por uma tragédia familiar, começa a vivenciar estranhos e perigosos fenômenos ao seu redor. Tais fenômenos têm seu início tão logo a moça conheceu Nicolae, um jovem misterioso e sedutor. Em linhas gerais, é assim que Angellore - A Divina Conspiração, de autoria de Gabrielle Venâncio Ruas, tem o seu início.

Há algum tempo, este livro foi lançado na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, onde trabalho. Infelizmente, não havia tido tempo para iniciar sua leitura. Aproveitei uma viagem e pude enfim dedicar-me a este livro. E não me arrependi.

Um dos pontos fortes, que gerou forte empatia à narrativa, é o perfil de Sophie e suas experiências no campus da Universidade Federal de Minas Gerais. Estudante de História, a moça circula pelos mesmos espaços em que circulei durante meu curso de Letras. E as descrições de cenários, prédios e aulas foram tão verossímeis que pareceu de fato que eu estava passeando pelo campus de minha antiga universidade. E tais referências não são enfadonhas ou forçadas. Tudo é apresentado com muita naturalidade, o que dá força tanto à narrativa quanto aos personagens.

E de fato os personagens são joias a parte. Bem construídos, empáticos e dinâmicos (com exceção de Nicolae), a interação entre eles é sem dúvida o grande acerto da autora. A japonesinha Kat destaca-se, com seus traços bem específicos, seu jeito despojado, despreocupado, embora bastante agitado. Sem dúvida, Gabrielle Ruas cria uma teia de personagens ricos em personalidades e expressões, o que faz com que o livro funcione muito bem internamente, com fluidez, leveza e muito humor. A piada interna ACDC é um dos grandes exemplos disso.

Já os personagens que circundam Olívia acabam sendo mais presos em seus papeis. E de certa forma acaba sobrando para a policial a obrigação de sustentar sua parte do enredo. Para isso, Gabrielle concede a Olívia uma personalidade forte e implacável, o que funciona, mas acredito que essa carência de personagens expressivos ao redor da narradora acabe por fazer com que a tensão entre as duas narrações, de Olívia e de Sophie, fiquem desiguais. 

E por falar em narrativas, destaco que o livro é constituído na verdade por três narradores: Olívia, Sophie e um narrador desconhecido. A decisão de construir esse terceiro narrador acaba equilibrando a tensão Olívia/Sophie, criando o que eu chamaria de uma "terceira margem". É interessante também observar que, enquanto a narração de Sophie é radiante, geralmente banhada de cores e luz, Olívia apresenta-se em um ambiente mais sombrio, com toques noir, enquanto o terceiro narrador encerra-se no signo da noite e da sombra. Essa gradação de tons enriquece o romance, fortalece seus contornos e seu ambiente, transformando-o num Thriller de primeira, e capturando o leitor.

Além do humor, há também doses de romantismo ao longo do livro, em trechos que inevitavelmente me remeteram a Crepúsculo. Esses elementos românticos são carregados de inocência e menos melodramáticos que o romance vampiresco, o que considero um bom sinal. Ainda assim, não posso dizer que o elemento romântico seria descartável, mas careceu de um maior desenvolvimento, que talvez virá nas continuações.

Não posso deixar de falar também nas cenas de ação. Gabrielle não nega as influências de animes/mangás em sua obra, inclusive as exalta. E de fato a narrativa não fica confusa ou enfadonha durante as cenas de luta. De forma muito competente, a autora demonstra um grande domínio sobre o ritmo do texto, conferindo às lutas, perseguições e perigos um peso dramático excelente.

Repleto de suspense, humor, romance e ação, com um texto leve e cativante, Angellore: A Divina Conspiração sem dúvida é o fruto do trabalho de uma escritora que veio para ficar. 

Ficha Técnica
Edição: 1
Editora: Modo Editora
ISBN: 9788565588126
Ano: 2012
Páginas: 264

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/229627/