As palavras chegam
aos borbotões
Tento controlá-las.
Conter sua fúria
Mas não posso
Eu mesmo
estou furioso
Dormi demais
e ainda durmo
em meu
casulo
Enquanto o mundo
lá fora
se
des-
in-
te-
gra.
As palavras chegam
aos borbotões
Tento controlá-las.
Conter sua fúria
Mas não posso
Eu mesmo
estou furioso
Dormi demais
e ainda durmo
em meu
casulo
Enquanto o mundo
lá fora
se
des-
in-
te-
gra.
FICA ESPERTO, POVO BRASILEIRO,
SENÃO SOMEM COM O SEU DINHEIRO
SE A COISA APERTA
É O POBRE, NA CERTA,
QUEM PAGA A CONTA PRIMEIRO!
Para os que esperam
o fim do mundo,
digo apenas que esqueçam.
Já passou
e você foi o único
a não ser convidado
para a festa.
Lá na Biblioteca, eu estava conversando com o Rodrigo, quando nos deparamos com o Carlos, vulgo “Minério”. Ele comentou um pouco sobre a saúde e a vez em que havia vomitado sangue misturado com uma pasta amarelada.
Então o questionei, apontando que ele deveria parar de beber álcool de posto. Carlos deu um riso torto e explicou que fazia esse álcool render, misturando-o com água. Era a única forma de manter o vício. Ainda falei umas duas ou três vezes de que ele precisava maneirar, ficar na 51, quando ele retrucou: “E com que dinheiro”?
Diante de minha expressão dúbia, que misturava uma hipócrita incredulidade com uma vazia empatia, ele deu as costas, num sorriso que cambaleava entre a culpa e a resignação.
10 de novembro de 2017
Samuel: Organizar quadrinhos é como descascar cebolas.
Rodrigo: É mesmo...
Samuel: Você descobre camadas atrás de camadas.
Rodrigo: Ah, tá. Pensei que você quis dizer que era um negócio que a gente faz chorando...
Samuel: É... também...
Do que pode
ser desejado
Lugar-comum
que de comum
nada tem
Onde nos vemos
deixa de ser espelho
para ser espalho
ou
espantalho
11 de novembro de 2020
Há livros em que o texto nos guia por contos que apresentam personagens infames e pérfidos. Um exemplo é justamente História universal da infâmia, de Jorge Luis Borges. Os contos são quase crônicas, quase perfis literários dessas personalidades odiosas, todas tendo feitos memoráveis nos diversos continentes da terra.
Borges é um mestre do texto e nos envolve com seu discurso pretensamente neutro. Nessa neutralidade ele apresenta os feitos pavorosos de uma escória que sofre e faz sofrer. Na edição que eu li há um longo ensaio, assinado por regina L Zilberman e Ana Mariza R. Filipouski, e que aborda a questão da origem da infâmia ocorrer por conta da opressão de classes. Ao mesmo tempo, aborda a fascinação que Borges tem pelo romance policial e assim ele aproveitaria o mote do gênero para escrever esses contos. Esse mote seria justamente da origem dos males ser condicionada à opressão das classes mais pobres. Ou seja, haveria um falso engajamento político nessa obra de Borges.
O livro tem ainda dois prefácios redigidos pelo autor, onde ele apresenta seus contos e alega que o motivo de tê-los escrito ser a simples e pura diversão.
Os últimos textos do livro são pequenos excertos redigidos a partir de livros orientais, onde Borges relata casos de magia com reviravoltas surpreendentes. Antes dele há ainda o conto enigmático "O homem da equina rosada", que narra um caso de desafio e morte ocorridos nos pampas argentinos.
O livro é curto e dinâmico, com uma linguagem altamente imagética, visual, a qual bebe claramente no cinema. A ação e a rapidez ditam o tom.
Com uma linguagem hipnótica e cativante, o domínio da literariedade e da ação cênica, Borges nos concede uma experiência ímpar com o livro História universal da infâmia. Um livro que é aula de cinema e literatura.
Ficha técnica
História Universal da Infâmia
Jorge Luis Borges
Tradução de Flávio José Cardoso
ISBN-13: 9788525004956
ISBN-10: 8525004952
Ano: 1989
Páginas: 77
Idioma: português
Editora: Editora Globo
Saberes da palavra
Sentido
do que se lavra
Faca
a talhar nossa alma
Quantos pedaços
formam
Um só conceito?
Na pergunta
uma outra
Larva
11 de novembro de 2020
Chora não que é pior, bem.
Os lobos estão à solta.
O buraco sempre é
mais embaixo.
Cuidado, senão cê cai.
Birita não é saída, bem,
mas é bom pra divergir.
Coisa dura é dia em fila.
Pó e suor têm seus lugares.
Juntos, podem fazer milagres.