terça-feira, março 20, 2018

Semana do Contador de Histórias

A Arte de Narrar Histórias é uma das mais antigas no mundo. Talvez antes mesmo do teatro, as pessoas já se reuniam ao redor de fogueiras, para falar sobre deusas e deuses, criaturas encantadas e maravilhas.

Desde que me entendo por gente, identifico-me com essa tradição. Eu contava histórias para irmãos e primos mais novos. Antes mesmo de chegar à adolescência, narrava episódios da bíblia para outras crianças, todo domingo. Fiz isso por quase dois anos. 

Sentia um desejo premente de compartilhar com as pessoas os filmes e desenhos animados que me encantavam. Por vezes, a empolgação era tanta que o objeto narrado ficava ofuscado. As pessoas acabavam se impacientando diante de tantos detalhes.

Ainda assim, a afinidade não se perdeu. Nasceu em mim o sonho de ser escritor, estimulado pelo desejo de contar histórias, fossem estas um pouco de mim, fossem um pouco das pessoas que encontrei em meu caminho.

Este relato tem duas intenções. A primeira foi homenagear todas e todos as(os) Contadoras(es) de histórias. Através de suas vozes sou ensinado, pouco a pouco, a ser mais gente. A segunda foi anunciar que hoje, Dia Internacional do Contador de Histórias, abre a Semana do Contador de Histórias, que acontecerá na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte e tem como objetivo a celebração da Palavra Narrada e sua potência. Fica o convite para todo mundo de BH para que venha celebrar com a gente!




SEMANA DO CONTADOR DE HISTÓRIAS :: DE 20 A 24 DE MARÇO
Seminário, apresentações, oficinas e rodas de leitura.

VISITAS GUIADAS COM NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS
Dia 20 de março, terça-feira, às 9h30 e às 14h30
Dia 23 de março, sexta-feira, às 14h30

Oficina CONTA PRA GENTE
Leitura compartilhada do livro O alvo, de Ilan Brenman e Renato Moriconi, seguida de conversas e reconto de histórias pelos participantes.
Mediação: Wander Ferreira
Público: livre
Dia 20 de março, terça-feira, às 14h30

RODA DE LEITURA ESPECIAL
Leitura de textos sobre a narração de histórias.
Mediação: Wander Ferreira e Samuel Medina
Dia 21 de março, quarta-feira, às 10h

ERA UMA VEZ... JOVEM
Apresentação do espetáculo "Mulheres de outrora, mulheres de agora".
Mediação: Grupo Prosa Mineira
Público: jovens e adultos
Dia 22 de março, quinta-feira, às 19h

ERA UMA VEZ...
Leitura e narração de histórias da literatura e da tradição oral.
Mediação: Narradoras de histórias voluntárias da BPIJ.
Público: livre
Dia 23 de março, sexta-feira, às 9h30

SEMINÁRIO: OS LUGARES DOS NARRADORES DE HISTÓRIAS
Com Juliana Anselmo e Carlos Roberto Barbosa
Dia 24 de março, sábado, às 9h30

Oficina ASPECTOS CÊNICOS DA NARRAÇÃO ARTÍSTICA DE HISTÓRIAS
A oficina chama a atenção para os aspectos cênicos do ato do narrador de histórias, seus recursos, técnicas e possibilidades, abordando, dentre outros temas, a presença física, voz, entonação, domínio de certas habilidades e jogo com a plateia.
Mediação: Érica Lima
Público: contadores de histórias, mediadores de leitura, bibliotecários, educadores, professores e demais interessados.
Vagas: 20
Dia 24 de março, sábado, às 13h às 14h30

Oficina (DES)CONSTRUINDO HISTÓRIAS
A partir da explicação dos elementos e símbolos comuns aos contos tradicionais, os participantes serão convidados a experimentar dois exercícios narrativos de improviso: no primeiro, inserir num conto símbolos oriundos de outro e verificar como esses elementos alteram o enredo; no segundo, deverão criar, espontânea e coletivamente, um conto com início, meio e fim, que possua os símbolos dos contos orais.
Mediação: Rodrigo Teixeira e Samuel Medina
Público: contadores de histórias, mediadores de leitura, bibliotecários, educadores, professores e demais interessados.
Vagas: 20
Dia 24 de março, sábado, às 14h30 às 16h

Local: Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte
Centro de Referência da Juventude
Praça da Estação, sem número – Centro
3277-8658 / bpij.fmc@pbh.gov.br

www.bhfazcultura.pbh.gov.br

segunda-feira, março 19, 2018

Lançamento da Campanha de Gravação do CD do Coletivo Narradores

 A vida é cheia de encontros. Alguns são efêmeros. Outros, consistentes e duradouros. Desde meados de 2017 comecei a caminhar junto de uma moçada bem bacana. Uma galera que conta histórias e ama o que faz. A maioria eu já conhecia pelos caminhos da Palavra Oral e cultivava uma grande admiração. Teve gente nova, é claro, tão admirável quanto as pessoas que eu já conhecia. 
Os encontros foram gerando afetos e deram assim início a um trabalho em conjunto, uma caminhada partilhada. Um grupo que gosta de sonhar junto e muito bem acordado. Dessa sinergia eu vi nascer o Coletivo Narradores. 
Tenho um enorme orgulho por fazer parte desse grupo. Somos doze pessoas, que sentem uma grande afinidade e transmitem energia umas para as outras. Durante o ano de 2017 realizamos apresentações maravilhosas. Uma delas eu relatei aqui no post Noite para renascer. Essa foi uma de outras noites mágicas que tivemos no espaço Santo Chá.
A partir de 2018 decidimos alçar voos maiores. E assim demos início ao projeto de gravação de nosso primeiro CD. Estamos na fase de captação de recursos e a campanha entrou no ar no dia 14 de março, na plataforma de croudfunding benfeitoria.com. O CD consistirá em faixas com algumas de nossas vozes. Assim, quem quiser acompanhar, conhecer um pouco mais e apoiar esse projeto, pode dar uma passadinha lá no endereço http://benfeitoria.com/coletivonarradores. O valor mínimo para apoio é de R$ 20,00, mas existem outras modalidades, com prêmios para contribuições mais generosas.
Estamos muito animados com o sucesso dessa campanha e por isso contamos com a participação de todo mundo. Convido os leitores deste blog a conhecerem um pouco mais nosso Coletivo através de nossa Página no Facebook.
Para ajudar um pouco mais vocês a conhecerem o Coletivo e entenderem o projeto, eis o vídeo que gravamos para o lançamento da Campanha:

Esperamos você lá no perfil do site da Benfeitoria! Seja nosso apoiador e faça parte da nossa história!

quinta-feira, março 08, 2018

Sobre o Dia Internacional da Mulher

Temor

[Pâmela Bastos Machado]


Desce a ladeira

a mulher
que nada teria a temer
não fosse a sombra
na escuridão
perto da árvore.

Desce a ladeira
a mulher
a tremer
tamanho o frio
que lhe causa o temor.

fixa seu olhar na sombra
como quem se impõe
(a despeito do temor)

reconhece-o
e desce a ladeira
em passos mais apressados
a mulher
a temer
um homem.

http://cadernodapam.blogspot.com.br/2016/10/temor.html?m=1



projetéis

[norma de souza lopes]

dirão
não, às pedras na mão
mais doçura mulher

violência
só as dos rituais de beleza
ou uma pistola apontada
para a própria testa



eu e minhas irmãs
carregamos entre os dedos
palavras napalm
poemas pedra
em honra às tantas
abatidas


http://normadaeducacao.blogspot.com.br/2018/02/projeteis.html?m=1



Queda

[Val Armanelli]


Ícaro, orgulhoso

Afunda sozinho
No mar

Nem pense,
Não tente me levar junto
Se suas asas são de cera,
Azar
Por que eu,
Eu não me apoio em próteses.

Voo sozinha
Livre
Com asas que nasceram das minhas costas
Nos buracos
Que você abriu
A facada

https://valarmanelli.wordpress.com/2018/02/08/queda/




quinta-feira, março 01, 2018

A parte que falta - Uma ode ao que não está lá

Falta uma parte. Ele percebe essa falta. Mais que percebe: ele a vive. Uma ausência que tolhe seus movimentos, que define sua existência, que impulsiona seus atos, que influencia seus planos. Por causa dessa falta, ele empreende uma longa e incerta busca, sem ao menos ter certeza se alcançará êxito e encontrará aquilo que preencherá esse grande vazio, essa falta que molda sua identidade. Mas ele não está triste. Sente uma esperança inabalável, uma fé profunda de que a parte que lhe falta está lá, em algum lugar, a sua espera.

Assim começa o maravilhoso livro A parte que falta, do escritor norteamericano Shel Silverstein. Um personagem sem nome, redondo, que rola quase sem parar, pois precisa alcançar o seu objetivo. O protagonista dessa narrativa, quase como um Pac-Man, prossegue em uma incansável e ávida busca. Precisa estar completo, precisa preencher justamente aquela parte que falta, para que ele se torne um círculo e possa rodar livremente. 

Sua esperança move dentro dele uma canção, que ele entoa enquanto atravessa os mais diversos obstáculos e enfrenta inúmeros desafios.

Um dos elementos mais fortes no traço de Silverstein é a simplicidade e, ao mesmo tempo, a incrível fluidez de seus desenhos. Não é preciso um cenário complexo ou um personagem rebuscado. A roda incompleta que é o herói dessa história pode ser qualquer um, eu ou você, o que torna a identificação do leitor com o protagonista algo quase certo. Além disso, o texto é carregado de um humor leve e descompromissado, apesar da profundidade com que Shel Silverstein aborda esse tema. Dessa forma, o autor cria uma obra singela, única, em que imagem e texto produzem um ambiente que nos arranca risos e, ao mesmo tempo, pode nos fazer chorar a qualquer momento.

É impressionante como Silverstein consegue, com o mínimo de palavras e imagens, criar uma narrativa tão densa e, em contrapartida, leve como o voo de uma borboleta. Tal fato vem apenas comprovar a genialidade do mesmo autor de A árvore generosa.

Com uma poética simples e poderosa, traços mínimos e ao mesmo tempo incrivelmente expressivos, A parte que falta é um livro que se abre para dentro, convidando o leitor a experimentar a ambígua beleza que pode haver na incompletude.

Ficha Técnica:
A parte que falta
Shel Silverstein
Tradução de Alípio Correia de Franca Neto
Editora Companhia das Letrinhas