sexta-feira, dezembro 20, 2013

Nossa literatura em duas oficinas

Quem acompanha o blog há tempos deve ter lido as postagens falando sobre os lançamentos coletivos que participei pela editora Andross. A primeira foi Entrelinhas II, em 2012. Estava ainda engatinhando no universo da publicação impressa e por conta disso cometi muitos erros de principiantes. Todos válidos, acredito. Além disso, essa primeira jornada empreendida foi como um rito de passagem, um importante momento de gestação de minha carreira de escritor. 
Além disso, tive a felicidade de ter um texto selecionado pelo Concurso Nacional Sul Info de Minicontos. Essa foi uma surpresa. Acostumado a enviar textos para concursos, já não criava grandes expectativas de ser selecionado. Contudo, aconteceu e eu pude ver o resultado.
Nos projetos seguintes, consolidados ao longo de 2013, pude participar de outras três publicações: Névoa: contos sobrenaturais, de suspense e de terror, Quimera: contos fantásticos e o mais recente: Mentes Inquietas. Todos estes foram lançados também pela Andross. Conheci muita gente legal, pessoas especiais mesmo. Gente apaixonada pela literatura, que busca se aprimorar a cada palavra escrita e não tem preconceitos. Pessoas com sorrisos francos, leves e com muita energia para escrever.
Realizamos uma incrível sessão de autógrafos do Névoa na biblioteca onde trabalho. Foi uma manhã mágica, quando tive o privilégio de sentar do lado de quatro talentosos autores de Belo Horizonte. Fizemos um bate papo sobre nossos processos de escrita, demos autógrafos, mencionamos nossos "mestres literários". Esse foi mais um grande episódio na minha caminhada literária.
Porém, enquanto os dias passavam, eu me perguntava como poderia contribuir mais ainda com tudo o que recebi. As antologias são formas poderosas de divulgar nossos trabalhos e eu de fato sinto-me muito bem em poder dr essa força aos meus companheiros literários, divulgando seus textos junto com os meus. Assim, como trabalho com mediação literária, decidi oferecer duas oficinas que abordem a leitura de contos das antologias Névoa e Quimera. Aproveito para compartilhar com vocês um pouco dessas oficinas. E convido a todos que são de Belo Horizonte que acompanhem a programação das bibliotecas da Fundação Municipal de Cultura. Quem sabe a gente faz uma oficina junto? ^_^

Oficina Mergulhando na Névoa
Leitura compartilhada de trechos da antologia Névoa: contos sobrenaturais, de suspense e de terror, de organização de Cristiana Gimenez, seguida de bate-papo sobre possiblidades literárias para um roteiro de história de terror. Com Samuel Medina.
Público: juvenil e adulto
Vagas: 20


Oficina Um universo chamado Palavra
Leitura compartilhada de trechos da antologia Quimera: contos fantásticos, de organização de Alex Mir, seguida de bate-papo sobre possibilidades literárias para o roteiro de uma narrativa de fantasia. Com Samuel Medina.
Público: juvenil e adulto
Vagas: 20

O melhor é que cada biblioteca que receber uma dessas oficinas ganhará um exemplar do livro abordado. Assim, os leitores poderão conferir todos os contos dos livros, quando quiserem.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Um tesouro de histórias

O ano acaba e os projetos se iniciam. Sim, faz quase um mês que não apareço por aqui. Estive envolvido em questões ligadas à Pós-Graduação que faço e também a alguns sérios compromissos profissionais. Graças a Deus, todos ligados à literatura. O ano de 2013 foi proveitoso, e muito. Alcancei muitas realizações, interna e externamente. Pude presenciar a Biblioteca cheia para o lançamento do meu livro, tive pessoas muito legais me falando que gostaram da narrativa, que desejam uma continuação. Conheci muitos autores fantásticos e leitores sensacionais. Viajei, participei de lançamentos coletivos, mediei conversas literárias. E agora 2013 chega ao fim e eu penso: "ufa!", enquanto uma sensação gostosa de dever cumprido toma o meu peito.

Só que ainda há muito a se fazer. Nossos sonhos têm esse poder. Nunca estamos totalmente satisfeitos. Queremos fazer mais pois descobrimos que podemos. Isso acaba soando meio Obama, só que é verdade. Sim, nós podemos.

Este ano foi importante não somente pelas conquistas, mas também pelas descobertas. Descobri muito de mim mesmo, muito do que sou e de quem sou. Isso foi muito importante para motivar os projetos futuros. Um deles, que ainda faz parte da safra de 2014, é a publicação da narrativa "A Cidade Suspensa" em formato e-book. É um sonho antigo, mas que durante muito tempo senti-me inibido para realizar. Hoje, contudo, estou trabalhando na versão final do texto e acredito que muito em breve ele estará pronto. Será disponibilizado em PDF para download através deste site, mas também farei questão de distribuí-lo por e-mail e em outros formatos. Gosto muito dessa narrativa e acho que os leitores também. O mínimo que posso fazer é buscar ganhar mais leitores para a causa de Kain.

Outra grande conquista foi ser escolhido pela Editora RHJ para fazer parte de seu rol de autores. Uma narrativa inédita, também de fantasia, será em breve publicada. É uma grande alegria ter um título publicado por uma editora de Belo Horizonte, minha cidade do coração, a capital onde eu vivo e onde construí minha história. Onde as pessoas que amo vivem. Então, essa vitória também é dedicada a todas essas pessoas. 

Por fim, meu maior compromisso literário em 2014 é buscar ser um leitor melhor. Literatura sempre foi minha paixão, arrebatando-me inúmeras vezes, tolhendo-me o sono, incomodando-me. A Literatura é minha forma de interagir com o mundo e por isso continuo lendo e escrevendo. Talvez não continuarei com as resenhas, ou pelo menos elas serão mais escassas. De qualquer forma, meu desejo é que eu possa contribuir ainda mais na Biblioteca onde trabalho, aproximando leitores de textos e leitores de leitores. Acredito que o leitor é a principal estrela do espetáculo chamado Literatura. E por isso, meu grande compromisso em 2014, meu grande projeto, é estimular ainda mais o encontro entre os leitores e seu deleite na leitura.

Ainda não sei o que o novo ano me reserva. Há muito o que fazer. Tenho que pensar na divulgação de O Medalhão e a Adaga, na continuação das aventuras de Bildan, Sheril e seus amigos. Mas antes de tudo, tenho que ler. E muito. Por isso, espero poder contar com vocês aqui, ajudando-me a ser um leitor melhor. Compartilhando suas opiniões, críticas e sugestões literárias. Fazendo deste espaço, ainda que virtual, um verdadeiro tesouro de histórias.

sexta-feira, novembro 15, 2013

Anardeus - No calor da destruição: um épico pós-moderno

Isabel e Anardeus são irmãos gêmeos. À proporção que Isabel é bela, querida e desejada, seu irmão é feio, rejeitado e desprezado. Enquanto Isabel sofre com o calor, Anardeus precisa se cobrir com vários agasalhos. Não bastasse o desprezo alheio, Anardeus também é acometido por estranhas visões, que antecedem acontecimentos terríveis e inacreditáveis. 
Assim, o leitor testemunha o desenrolar deste épico fantástico de Walter Tierno. Construindo um texto sóbrio, econômico e equilibrado, Tierno guia nossa leitura através de um universo calcado no desequilíbrio. Sarcástico e niilista, o narrador, na figura do próprio protagonista, tece uma trama em que o total desprezo pelo mundo e pelas coisas está presente com toda a força. O mais interessante é que o desprezo de Anardeus não é resposta ao desprezo que todos lhe atiraram. Ele tem nojo do mundo e o despreza desde seu nascimento, quando descobriu-se com o dom de analisar o mundo ao seu redor e captar sua malícia.
Anardeus, porém, não é o único narrador. Os capítulos intercalam as vozes de outras personagens, conferindo um maior dinamismo à leitura e garantindo uma veracidade ainda maior e mais chocante ao mundo desenhado por Tierno.
Por fim, a primorosa ilustração reforça ainda mais a carga dramática do ambiente caótico que habita o interior dos personagens e que, gradativamente, irá expandir para além dos mesmos, invadindo todo o cenário ao redor.
Com um texto dinâmico, repleto dr ironia e personagens fascinantes, Anardeus - No calor da destruição é um épico angustiante, perturbador e certamente fascinante.

Ficha Técnica
Edição: 1
Editora: Giz Editorial
ISBN: 9788578552053
Ano: 2013
Páginas: 181


sexta-feira, novembro 08, 2013

Cira e o Velho: Onde mito e verdade se encontram

Conheci Walter Tierno no evento Livros em Pauta, ocorrido dia 19 de outubro de 2013. Fiquei impressionado com a postura sóbria, jovial e humilde desse escritor que tem muitos anos de experiência na área editorial e da publicidade. Fiquei também muito interessado quando soube que esse autor aborda o folclore brasileiro, pois eu também o abordo como matéria para meus textos, em especial no livro O Medalhão e a Adaga

Deixei o evento com dois livros de Tierno: Cira e o Velho e Anardeus. Comecei então a leitura do primeiro e já fiquei absorvido pelo narrador, por seu tom intimista de quem está nos contando um "causo". Outro elemento que me cativou foi a referência ao jogo do bafo, que brinquei na minha infância. Já completamente seduzido pelo texto, ingressei em um universo situado no Brasil Colônia do século 17, mundo povoado por criaturas mágicas, homens inescrupulosos e poderes ocultos. E habitado, principalmente, por Cira.

O texto é dividido em três grandes blocos narrativos. A primeira, mais fragmentada, é assumida pelo narrador do romance, em primeira pessoa. Acompanhamos os relatos desse narrador em sua tentativa de descobrir cada vez mais sobre a personagem Cira, filha de Cobra Norato com uma poderosa feiticeira chamada Guaracy. Assim, o narrador vai gradativamente nos introduzindo a um mundo fantástico, onde as pessoas vivem mais do que o normal, por mero capricho da Morte e entidades sobrenaturais existem, escondidas no submundo de nossa sociedade urbanizada. 

O segundo bloco narrativo narra a missão de Domingos Jorge Velho, o mesmo personagem histórico por trás da destruição do Quilombo de Palmares, para matar os filhos de Cobra Norato, a mando de Maria Caninana. Neste bloco conhecemos toda a ganância e mesquinhez do Velho.

Já o terceiro bloco narra o tema central do romance, que é a vingança de Cira contra o Velho. Essa vingança que concede ao livro o seu título. Descobrimos que Cira é uma personagem relativamente simples, embora viva em um mundo denso e complexo. Representando a inocência natural, Cira é feroz com os inimigos e benigna com os amigos. Seus sentimentos são francos, diretos. Talvez seja por isso que a protagonista do romance se aproxime tanto com o ideal heroico grego. Sem entregar demais o enredo, acredito que a missão de Cira, ou sua vingança, se aproxime também do heroísmo grego.

Aí se encontra toda a genialidade de Walter Tierno, que mescla com maestria elementos clássicos com a nosso folclore rico, dando forma a uma narrativa épica. Seus personagens são inesquecíveis, em especial Maria Caninana e Cobra Norato, com sua dualidade fáustica. A forma que Tierno utiliza para atualizar os elementos folclóricos lembra um pouco o que Neil Gaiman faz com o excelente Lugar Nenhum. Ainda assim, não devemos comparar os dois autores, pois a gravidade que Tierno concede ao seu romance, com seu tom épico, se afasta em muito da abordagem de Gaiman.

Novamente, sem querer entregar o enredo, digo apenas que o desfecho do romance é sem dúvida uma surpresa que passeia do agradável ao terrível e confirma todo o poder da criatividade desse autor.

Com um texto atual, cheio de ritmo e com muita dose de ação, Cira e o Velho mostra a força da nossa literatura de fantasia que, sem elfos, gnomos ou dragões, tem um rico universo a oferecer.

Ficha Técnica
Edição: 2
Editora: Giz Editorial
ISBN: 9788578550851
Ano: 2010
Páginas: 232

Página do livro no site do autor: http://www.waltertierno.com/p/cira-e-o-velho.html

terça-feira, novembro 05, 2013

Caminho da Sombra

Esgueirava pelos cantos. Arrastava-se por descaminhos. Era um reflexo de existência, a ruína de um "eu". Uma alma morta. Seguindo por trilhas dúbias, apenas dava prosseguimento a sua existência. Não sabia, porém. Apenas prosseguia.

Havia uma certa urgência em seu caminhar. Um certo motor secreto, como uma energia feita do puro breu, dos sentimentos mais nefastos. A decomposição gerando algo. Um cenário, no mínimo.

Aquela era apenas uma sombra. Disforme e órfã, essa massa escura deslizava por vãos esquecidos. Alimentava-se de pedaços de sonhos quebrados. Cada fragmento fortalecia seu interior, tornava-a mais escura e poderosa, inchava suas entranhas, inflava seus contornos. 

Ignorava o tempo de sua própria existência. Sim, eram quase séculos que essa coisa, aborto de vida, vagava pelos cantos escuros do mundo. A frustração personificada, que falhava até mesmo no desejo de ser.

Lentamente, tomou força e fôlego. Singelamente, sentiu-se. Percebeu-se. Era, afinal. Estilhaços de desejos devorados se recombinavam e borbulhavam em seu âmago. Aqueciam suas entranhas. E tal calor convulsionava o núcleo da Sombra. Criava rastros fumegantes em seu caminho, queimando o solo já escuro e crestado, soltando tímidas faíscas, revelando ocultos poderes.

E quando se deu conta, já surgia em si uma fagulha. Duas, várias. Uma profusão de desejos frustrados eram agora um furioso turbilhão de fagulhas que se ajuntavam em labaredas, queimando as entranhas da Sombra, que já não podia mais conter o calor que a consumia. 

E a Sombra, imersa em um profuso emaranhado de labaredas, morreu, consumida pelos sonhos que lhe concederam a existência. Dessa poderosa explosão brotaram asas douradas, que se abriram para além dos cantos do mundo. Brilhantes como a Aurora, as asas alçaram voo e revelaram uma ave feita de luz. Uma Fênix. E aquela ave, nascida da convulsão de diversos sonhos, galgou os ares, rumo a outros mundos.

quinta-feira, outubro 31, 2013

O Aprendiz: O começo de uma jornada tenebrosa

O mundo está escurecendo. As trevas parecem ter cada vez mais força. Se não fosse pelo Caça-feitiço, o Condado talvez já estaria perdido. É neste clima sombrio que acompanhamos o início do livro O Aprendiz, de Joseph Delaney. Este é também o primeiro de uma longa saga.

De início, o leitor é apresentado a Thomas Ward, sétimo filho de um sétimo filho. Por sua posição na família, o rapaz, já no início de sua adolescência, é enviado para ser aprendiz do Caça-feitiço. Esta é uma profissão sombria e perigosa, além de ser muito mal-vista pela sociedade, o que garante uma vida solitária. Thomas, embora inseguro e assustado, passa no primeiro teste. Por sua condição de nascimento, o rapaz tem algumas características especiais, que o tornam apto ao cargo. Além disso, Thomas também se mostra um rapaz decidido, buscando decisões rápidas, sem fugir de suas consequências.

Assim, o leitor acompanha o aprendizado de Thomas junto ao Caça-feitiço, em uma casa misteriosa e com jardins repletos de perigos. Dentre estes estão as sepulturas de bruxas, que foram enterradas em condições especiais para que não se libertassem e aterrorizassem o Condado. Uma delas, inclusive, ainda viva. E o Caça-feitiço adverte a Thomas que morta esta feiticeira seria ainda mais perigosa.

Outra importante advertência feita ao jovem é que ele nunca deveria confiar em mulheres, principalmente aquelas com sapatos pontudos. E justamente uma garota de sapatos pontudos surge na vida de Thomas. Seu nome é Alice, ela tem praticamente a mesma idade que o rapaz e além disso é muito bonita. E por dever um favor a Alice que Thomas provoca terríveis consequências, com as quais deverá lidar sem vacilação.

O Aprendiz é um livro com um texto enxuto e dinâmico. A narrativa é ligeira, com uma excelente ambientação. Seu clima gótico e obscuro conferem à leitura uma tensão especial. Além disso, tendo Thomas como narrador em primeira pessoa, o texto garante uma forte empatia entre leitor e protagonista.

Apesar de ser uma trama relativamente simples, esta obra de estreia da série As Aventuras do Caça-Feitiço já demonstra que o universo imaginado por Joseph Delaney é incrivelmente rico e factível, repleto de bruxas, assombrações e ogros, com personagens fortes e sobretudo carismáticos.

Portanto, nada melhor para começar uma boa aventura do que conferir este livro. Se o leitor não tomar alguns bons sustos, pelo menos terá a garantia de uma boa dose de diversão.

Aproveito para indicar também a leitura da resenha da Fê, do blog Na Trilha dos Livros.

Ficha Técnica
Edição: 1
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528613155
Ano: 2008
Páginas: 224
Tradutor: Lia Wyler

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/1092-o-aprendiz

Primeiras Provas

Há momentos em que você é posto à prova. A expectativa se casa com o desafio. Ou seja, a oportunidade que você esperava para falar do seu trabalho diante de um grande número de pessoas coincide justamente com o desafio de não cometer alguma "gafe", ou simplesmente soar pedante, convencido e tedioso ao público.

Esse era meu sentimento na semana passada, quando me deparei pela primeira vez com um grande número de pessoas desconhecidas para falar sobre meu livro O Medalhão e a Adaga, na Escola Estadual Afonsino Altivo Diniz, no bairro Asteca, em Santa Luzia. Foi sem sombra de dúvidas um momento mágico. Estava ansioso ante a expectativa. E mais ainda por saber que se tratava de uma turma de jovens. Sabemos como uma plateia de jovens pode fazer a gente ir do céu ao inferno em questão de segundos. 



O lançamento do livro na Biblioteca foi um sucesso, é claro. Tivemos um público de sessenta pessoas. Contudo, a grande maioria dessas pessoas eu já conheço de longa data. Foram inúmeros rostos amigos que me apoiaram nesse momento especial. Já na Escola Estadual Afonsino, estiava diante de uma plateia totalmente nova.

Minha ansiedade, porém, deu lugar a uma grande satisfação ao ver como fui bem recebido, com tanto carinho e consideração. Primeiramente por parte da professora, Fernanda Rodrigues de Figueiredo, minha grande amiga, que fez de tudo para que eu me sentisse em casa. Os alunos fizeram o mesmo. Durante a palestra, que foi mais um bate-papo, pude falar da realização do meu sonho de trabalhar com literatura, em um ambiente tão maravilhoso que é a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil, e de ser escritor. Um sonho que não acaba, pois a cada lançamento eu vejo mais um capítulo acontecer.

E hoje outro capítulo desse sonho se desenrolou, pois estive no Campus I do CEFET-MG, no auditório, falando sobre as aventuras de Bildan, Sheril e Datini. Li vários trechos do livro, dei autógrafos e distribuí marcadores. Mais uma vez, confirmei meu prazer de falar sobre literatura, de ler para as pessoas, de viver o livro.

Enfim, encerro este relato agradecendo a todos aqueles que estiveram me escutando, com tanta atenção e interesse, tanto na Escola Estadual Afonsino Altivo Diniz quanto no CEFET. Vocês não fazem ideia de como esses momentos foram importantes para mim. Obrigado!

sexta-feira, outubro 25, 2013

Que bicho será que fez a coisa?

Um negócio enorme e fedorento surge no meio do mato. Os bichos, então, se unem para descobrir quem seria o autor da catástrofe. Começa assim uma engraçada e inusitada investigação.

Que bicho será que fez a coisa, de Ângelo Machado, brinca com o cocô. De uma forma lúdica e muito bem-humorada, o texto vai apresentando cada um dos animais, que partem em defesa própria, descrevendo cor, forma e consistência de suas fezes.

Este livro integra uma série que brinca com o mistério e usa do formato do gênero policial para apresentar à criança uma informação no mínimo curiosa: como será o cocô de cada bicho?

Com um texto gostoso e a arrojada ilustração de Roger Mello, Que bicho será que fez a coisa certamente garante uma leitura gostosa e divertida a toda a família.

Ficha Técnica
Autor: Ângelo Machado
Ilustrador: Roger Mello
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2009
Páginas: 24

quarta-feira, outubro 23, 2013

Livros em Pauta: mais um evento inesquecível

Créditos: Lina Stefanie


Cheguei em São Paulo ainda de manhã para o lançamento do livro Mentes Inquietas, que aconteceria às 15h dentro do evento Livros em Pauta, organizado pela Editora Andross, na pessoa do Edson Rossato. Conforme a experiência anterior, tencionava permanecer o dia inteiro no evento, participando dos debates e palestras. E mais uma vez minha expectativa não foi frustrada.
Era cedo ainda quando cheguei à Faculdade Estácio. A equipe do evento corria como louca para deixar o espaço pronto. Enquanto isso, meio deslocado, eu pagava pelo pátio. Essa sensação durou pouco, pois logo avistei a colega escritora Lara Luft, que tratou de me deixar à vontade, com seu jeito simples e cativante. Foi por isso que me senti mais à vontade para posar nas inúmeras fotos, junto a colegas autores que acabara de conhecer.
Depois de conversar com algumas pessoas, conhecendo colegas, fazendo amizades, compareci ao credenciamento e fui para o debate sobre networking editorial, onde pude trocar contatos e apresentar meu livro. Levava comigo os marcadores.
Antes de tudo, levava comigo os pães de queijo para o Davi Paiva.
À tarde, participei de um debate sobre etiqueta para blogueiros literários. Foi assim que conheci o incrível escritor Walter Tierno e pude levar os seus dois livros. Já estou completamente absorvido pela leitura de Cira e o Velho.
Durante o lançamento, encontrei-me com minha amiga Fê, do blog Na trilha dos livros. Ficamos a tarde inteira conversando sobre literatura e dando boas risadas. 
Quando já estava com as pernas bambas de cansaço, despedi-me da Fê e parti para a rodoviária. Tive que esperar duas horas e meia até o horário do ônibus que me levaria de volta para BH. Durante a espera, uma agradável surpresa: curti a música que um rapaz tocava em um piano de cauda.
A viagem foi cansativa mas muito proveitosa, principalmente pelos colegas que conheci. Pretendo manter em meu calendário o compromisso permanente de sempre comparecer ao Livros em Pauta. Não somente pelos contatos, pelas oportunidades e pela experiência adquirida. O que mais valeu nessa viagem toda foi a alegria contagiante que senti junto a tantas pessoas que jamais esquecerei.

Aqui cabe uma atualização. Ao reler este post, senti falta de ter mencionado os demais colegas, tanto aqueles com quem troquei muitas palavras quanto os que partilharam comigo o momento da fotografia. E especialmente, gostaria de mencionar a Thais Pampado, que muito carinhosamente demonstrou interesse em adquirir meu livro. Também saúdo o Maurício Campos, que acreditou em minha narrativa, levando um exemplar.

Sei que muitos outros deveriam ser nomeados e conto com a compreensão. Priscila, Maurício Kanno, o organizador Alfer Medeiros, a L.E. Haubert (narniana como eu!) e tantos outros. Sinto-me em débito eterno com vocês e espero sempre poder me lembrar de todos!

quinta-feira, outubro 17, 2013

Angellore: Um Thriller Espiritual

Uma série de crimes inexplicáveis aterrorizam os moradores de Belo Horizonte (MG) e deixam perplexos os experientes policiais do Departamento de Inteligência da Polícia Civil, em especial a agente Olívia Giacomelli, famosa por sua competência. Os corpos das vítimas apresentam características muito perturbadoras, embora para os legistas seja impossível definir a causa da morte. Enquanto isso, Sophie, uma moça marcada por uma tragédia familiar, começa a vivenciar estranhos e perigosos fenômenos ao seu redor. Tais fenômenos têm seu início tão logo a moça conheceu Nicolae, um jovem misterioso e sedutor. Em linhas gerais, é assim que Angellore - A Divina Conspiração, de autoria de Gabrielle Venâncio Ruas, tem o seu início.

Há algum tempo, este livro foi lançado na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, onde trabalho. Infelizmente, não havia tido tempo para iniciar sua leitura. Aproveitei uma viagem e pude enfim dedicar-me a este livro. E não me arrependi.

Um dos pontos fortes, que gerou forte empatia à narrativa, é o perfil de Sophie e suas experiências no campus da Universidade Federal de Minas Gerais. Estudante de História, a moça circula pelos mesmos espaços em que circulei durante meu curso de Letras. E as descrições de cenários, prédios e aulas foram tão verossímeis que pareceu de fato que eu estava passeando pelo campus de minha antiga universidade. E tais referências não são enfadonhas ou forçadas. Tudo é apresentado com muita naturalidade, o que dá força tanto à narrativa quanto aos personagens.

E de fato os personagens são joias a parte. Bem construídos, empáticos e dinâmicos (com exceção de Nicolae), a interação entre eles é sem dúvida o grande acerto da autora. A japonesinha Kat destaca-se, com seus traços bem específicos, seu jeito despojado, despreocupado, embora bastante agitado. Sem dúvida, Gabrielle Ruas cria uma teia de personagens ricos em personalidades e expressões, o que faz com que o livro funcione muito bem internamente, com fluidez, leveza e muito humor. A piada interna ACDC é um dos grandes exemplos disso.

Já os personagens que circundam Olívia acabam sendo mais presos em seus papeis. E de certa forma acaba sobrando para a policial a obrigação de sustentar sua parte do enredo. Para isso, Gabrielle concede a Olívia uma personalidade forte e implacável, o que funciona, mas acredito que essa carência de personagens expressivos ao redor da narradora acabe por fazer com que a tensão entre as duas narrações, de Olívia e de Sophie, fiquem desiguais. 

E por falar em narrativas, destaco que o livro é constituído na verdade por três narradores: Olívia, Sophie e um narrador desconhecido. A decisão de construir esse terceiro narrador acaba equilibrando a tensão Olívia/Sophie, criando o que eu chamaria de uma "terceira margem". É interessante também observar que, enquanto a narração de Sophie é radiante, geralmente banhada de cores e luz, Olívia apresenta-se em um ambiente mais sombrio, com toques noir, enquanto o terceiro narrador encerra-se no signo da noite e da sombra. Essa gradação de tons enriquece o romance, fortalece seus contornos e seu ambiente, transformando-o num Thriller de primeira, e capturando o leitor.

Além do humor, há também doses de romantismo ao longo do livro, em trechos que inevitavelmente me remeteram a Crepúsculo. Esses elementos românticos são carregados de inocência e menos melodramáticos que o romance vampiresco, o que considero um bom sinal. Ainda assim, não posso dizer que o elemento romântico seria descartável, mas careceu de um maior desenvolvimento, que talvez virá nas continuações.

Não posso deixar de falar também nas cenas de ação. Gabrielle não nega as influências de animes/mangás em sua obra, inclusive as exalta. E de fato a narrativa não fica confusa ou enfadonha durante as cenas de luta. De forma muito competente, a autora demonstra um grande domínio sobre o ritmo do texto, conferindo às lutas, perseguições e perigos um peso dramático excelente.

Repleto de suspense, humor, romance e ação, com um texto leve e cativante, Angellore: A Divina Conspiração sem dúvida é o fruto do trabalho de uma escritora que veio para ficar. 

Ficha Técnica
Edição: 1
Editora: Modo Editora
ISBN: 9788565588126
Ano: 2012
Páginas: 264

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/229627/

quarta-feira, outubro 16, 2013

Book Tour: O Medalhão e a Adaga

Depois do lançamento, sabemos que o trabalho árduo apenas começou. Nós autores lutamos com unhas e dentes por cada leitor e muitas vezes ficamos sem saber como fazer com que as pessoas conheçam nosso livro. A Tamires, do blog De Tudo Um Pouco da Thá, tem me dado a maior força e organizou um Book Tour para divulgação do livro. Este é um projeto voltado a todos os blogueiro(a) usuários do Skoob.

Aproveito para me apresentar novamente!

Foto -Samuel Medina


Minha minibiografia: Samuel Medina nasceu no Rio de Janeiro, Capital, em 1981, mas passou sua infância no interior de Minas Gerais. Graduado em Letras, trabalha como servidor público municipal na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte.






O Medalhão e a Adaga:
O Medalhão e a Adaga

Bildan é um jovem que perdeu seus pais ainda na infância, tendo crescido sem saber muita coisa sobre suas origens. Porém, tudo muda quando ele encontra uma misteriosa garota e um livro mágico, com uma mensagem secreta. Assim, o rapaz deverá atravessar uma terra repleta de magia e perigos, numa jornada desafiadora, rumo a grandes revelações sobre seu passado e sobre o sentido de sua existência.
 

 

O Book Tour funcionará da seguinte forma:
  • Serão escolhidos 10 blogs ou pessoas que tem conta no skoob para o book tour, se houver mais de 10 inscritos, estenderemos para um número maior de pessoas;
  • Todos terão de 15 a 25 dias para ler e passar para outro(contando o dia de envio);
  • Os participantes se comprometem a resenhar o livro no blog/skoob e passar o link para a Tamires (http://de-tudo-e-um-pouco.blogspot.com.br/2013/10/participe-book-tour.html) e também para mim (como comentário neste post);
  • O livro vai ser enviado para o primeiro blog e este terá o compromisso de repassá-lo ao próximo da lista;
  • Peço que me envie o código de rastreamento do livro para que possamos enviá-lo ao próximo leitor;
  • Preencher o formulário abaixo, se o mesmo não carregou, clique AQUI;
  • As inscrições serão feitas até completarem 10 blogs;
  • Por favor cuidem bem do livro, tenham compromisso com para o prazo de leitura reenvio aos coleguinhas. No mais, boa leitura.
Somente isto, todos podem enviar pelo registro módico que sai bem mais barato. Saiba mais como funciona o registro módico AQUI ou então veja um post bem mais explicativo no blog Leitora Viciada.

Qualquer dúvida entre em contato com a Tamires ou comigo, tanto no blog como através de uma mensagem na Fã page.
Faça Inscrição:


Muito obrigado a todos. Até mais!

quarta-feira, outubro 09, 2013

Bem maior que o mundo

Cheguei em casa moído. O cansaço me envolvia como uma velha roupa. Meus olhos, desbotados, pousavam sobre um ponto qualquer da parede do quarto. Sentado em minha cama, eu era visitado pelas lembranças.

Fazia um ano que ele partira. Meu gigante, minha montanha negra, o senhor de todas as minhas palavras. Fazia um ano que eu não escutava a sua voz, grave e potente, dando conselhos quase nunca pedidos. Um ano sem olhar sua face austera, sempre grave, mas sempre tão cheia de amor. A face de um homem que não se envergonhava de chorar qual criança quando sensibilizado por alguma melodia. Homem sempre sério, mas que sabia sorrir nos momentos mais singelos, para a minha constante surpresa infantil.

Lembro-me da véspera de sua partida. Um dos últimos a vê-lo no hospital, ainda não conseguia assimilar a ideia que eu não o teria mais comigo. Não mais poderia receber suas lições de inglês, nunca mais seria testemunha de seu caminhar claudicante, fruto de toda uma vida de árduas andanças.

Então uma lembrança ainda mais antiga e intima me assaltou. Vou à escola e ele me acompanha, mesmo sem conseguir manter meu ritmo de impossível criança de cinco anos. Entre a ousadia e o temor, eu me adiantava, mas logo em sobressalto me virava para conferir se ele ainda estaria lá, observando à distância minha ousadia. E eu o avistava logo atrás, velando por mim, tão grande que parecia ser maior que o mundo.

E agora lá estava ele, o meu gigante, deitado em uma cama de hospital, perdido em meio a lençóis e travesseiros, tão frágil, mas ainda assim tão belo. Eu sabia que não o teria para sempre. Ainda assim, continuava mentindo para mim mesmo, silenciosamente repetindo "tá tudo bem, vai ficar tudo bem" enquanto conversava com ele, sem saber aquela seria a última vez que eu ouviria sua voz.

Tomei suas mãos nas minhas. Sim, parte de mim sabia que aquela era uma despedida. Talvez minha parte mais secreta. Segurando suas mãos, levei um susto. Eram enormes, muito maiores que as minhas. E então desejei ter mãos como aquelas, para que, ao olhar para elas, pudesse ver um pouco dele em mim.

E segurando aquelas enormes mãos, descobri que sempre estivera certo. Ele era mesmo um gigante. Um colosso. Mesmo frágil, enfraquecido, deitado naquela cama de hospital, ele ainda era maior que o mundo.

De volta ao meu quarto, um ano depois, percebi que realmente nunca mais poderia segurar aquelas mãos. Não mais poderia passear em suas lembranças, ou escutar seus conselhos. E as lágrimas correram soltas, livres, depois de um ano represadas.

Naquele momento, a parte de mim que nunca aceitou sua partida finalmente se encontrava com aquela outra parte, a mesma que sempre soube do poder das despedidas. E que elas nunca são definitivas. Nesses ecos do luto, descobri também que ele, meu gigante, havia crescido ainda mais. Não era apenas maior que o mundo. Ele era o mundo inteiro.

Em memória a Nestor Antônio Medina.

segunda-feira, outubro 07, 2013

Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte - Programação de outubro/2013

Decidi aproveitar este espaço para também divulgar as atividades que realizamos na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH. Espero que gostem!

Literatura

Oficina Salada de Bruxa
Criação de novas possibilidades narrativas a partir da leitura do livro Branca de Neve e as Sete Versões, de Marcus Aurelius Pimenta e José Roberto Torero. Com Samuel Medina.
Público: infantil
Vagas: 20
Dias 8 e 15, terças, às 14h30

Oficina Campeonato Nacional de Monstros
A partir da leitura do livro Pé de cobra, asa de sapo: quadrinhas monstruosas, de Rafael Soares de Oliveira e ilustração de Jean Galvão, produzir perfis de personagens com base nos monstros do folclore, promovendo sua ressignificação. Com Samuel Medina.
Público: infantil e juvenil
Vagas: 20
Dia 10, quinta, às 14h30


Oficina Dicionário da Imaginação
Leitura do livro Girafa não serve pra nada, de José Carlos Aragão e criação de um dicionário onde a criança será estimulada a dar novas definições para uma ou mais palavras. Com Kamila Ribeiro.
Público: infantil (a partir de 6 anos)
Vagas: 20
Dias 11 e 18, sextas, às 9h30


Oficina Boi tato tá
Leitura compartilhada do conto folclórico Boitatá, do livro Viagem pelo Brasil em 52 histórias, de Silvana Salerno e produção de narrativas curtas, utilizando algumas palavras escritas em Braille. Com Wander Ferreira.
Público: geral
Vagas: 20
Dia 17, quinta, às 14h30




Oficina Que história é essa?
Leitura compartilhada do livro Bruxinha Zuzu e Gato Miú, de Eva Furnari, seguida da desconstrução e reconstrução da sequência lógica de narrativas visuais encontradas em outros livros da autora. Com Amanda Dias Leite.
Público: infantil
Vagas: 20
Dias 22 e 29, terças, às 14h30

Oficina Traduções Possíveis
Leitura da seção "Intraduções", que integra o livro Despoesia, de
Augusto de Campos, seguida de exercícios de transcriação a partir de
poemas concretos em língua estrangeira. Com Amanda Dias Leite.
Público: juvenil e adulto
Vagas: 20
Dia 31, quinta, às 14h30
(Duração: 2 horas)



Era uma vez jovem
Narração de histórias para jovens. Com Lícia Soares, Marilu Zanasi e Maria Tereza Andrade.
Público: juvenil
Vagas: 60
Dia 31, quinta, às 19h

III Encontro de Literatura afro-brasileira

Dia 24, quinta, às 19 horas
Abertura oficial
Performance com a poeta Cristiane Sobral
Palestra, com a Profa. Dra. Constância Duarte - UFMG
Mediadora: Mara Evaristo - Coordenadora do Núcleo de Relações Étnico-Raciais


Dia 25, sexta, 9h
Mesa de debate.
Cristiane Sobral - escritora e atriz
Simone Teodoro - Gerente da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil
Rosália Diogo - Núcleo de Relações Étnico-raciais

Dia 25, sexta, 14h
Palestra de encerramento, com a escritora Conceição Evaristo
Mediadora: Érica Lima – Doutora em Literatura Brasileira


FORMAÇÃO PERMANENTE

Roda de Leitura
Encontro para estudos sobre leitura e literatura infantil e juvenil, bem como prática de leitura em voz alta. Com Wander Ferreira e Samuel Medina.
Aberto a novos interessados.
Públicos: juvenil e adulto (mediadores de leitura, educadores e interessados em geral)
Dias 2, 9, 16 e 23 e 30, quartas, às 9h30


Encontro semanal de contadores de histórias
Reunião para seleção e pesquisa de textos literários, exercícios de narração e trocas de vivências. Com Samuel Medina e Érica Lima.
Aberto a novos interessados.
Dias 4, 11, 18 e 25, sextas, às 9h45

Conheça a BIBLIOTECA

Visitas monitoradas
Para conhecimento dos espaços, acervos (literário, informativo e quadrinhos) e participação nas atividades da biblioteca.
Públicos: infantil, juvenil, universitário e demais interessados
Agendamento pelo telefone 3277-8672, de terça a sexta, das 9 às 17h
Visitação: terças e quintas, às 9h30; quartas e sextas, às 14h30
Mais informações: bpij.fmc@pbh.gov.br

SERVIÇOS

Empréstimo de livros e quadrinhos. Acervo disponível para consulta local com obras informativas e literárias voltadas, sobretudo, para os públicos infantil e juvenil.
Acesso à internet (Telecentro). Wi-Fi disponível. De terça a sexta, das 9 às 17h30; sábados, das 9h30 às 13h.


AOS SÁBADOS

Dias 5, 19 e 26
Oficina A(u)tor: experiências em dramaturgia
Construção de textos para cenas de curta duração a partir de fragmentos de obras literárias não dramáticas. Os participantes serão convidados a exercitar as possibilidades dramatúrgicas provenientes da relação entre a perspectiva do autor e a sua própria. Com Amanda Dias Leite.
Público: adulto
Vagas: 15
Às 10h30
(Duração: 12 horas, divididas em seis encontros de duas horas)


Dia 5
Lançamento e sessão de autógrafos do livro A galinha e outros bichos inteligentes, de Ronald Polito.
Às 11h

Dia 19

Oficina No Fio da História
Leitura de trechos do livro Haroun e o Mar de Histórias, de Salman Rushdie, bate-papo sobre contos de fadas e criação de novas versões das histórias tradicionais a partir de trechos que precisarão ser remontados. Com Samuel Medina.
Público: infantil e juvenil
Vagas: 20
Às 10h30

Dia 26

Leituras em quadrinhos
Clube de leitura que se reúne quinzenalmente para ler e discutir temas relacionados aos quadrinhos, sua linguagem e relação com outras mídias. Com Afonso Andrade.
Públicos: juvenil e adulto
Às 10h

Conversa em quadrinhos
Encontro com quadrinistas atuantes no mercado nacional e/ou internacional. Com Afonso Andrade.
Públicos: juvenil e adulto
Às 11h30

Era uma vez...
Hora do conto: leitura e narração de histórias da literatura e da tradição oral. Maria Tereza Andrade e Lícia Soares.
Público: infantil
Às 10h30

sexta-feira, outubro 04, 2013

Um universo fantástico inspirado na cultura da nossa gente

Fruto de quinze anos de escrita e reescrita, o romance é ambientado em um universo repleto de seres fantásticos e busca como principal referência o folclore e a mitologia que permeiam o imaginário de Minas Gerais. Nas páginas de O Medalhão e a Adaga o leitor poderá encontrar contadores de histórias, tropeiros, sacis, mulas-sem-cabeça, animais falantes, versos de cordel, profecias, além de muita aventura e magia.
Gorgórdia é um reino idílico. Não há muitos luxos, nem mesmo para os mais ricos, mas ainda assim ninguém passa fome. O maior problema dessa terra é justamente a magia que a permeia. Tão poderosa quanto qualquer força da natureza, a magia permite que deuses andem pela terra e que criaturas fantásticas sejam algo comum. Entidades benéficas ou não, essas criaturas habitam o interior das florestas. Há animais falantes, cucas, sacis e gigantes, além de muitos outros seres.
Felizmente, há também os Arqueiros Sagrados. Humanos que nasceram com a capacidade inata ao manuseio da magia, a eles cabe manter a paz e a ordem, seja impedindo que homens cacem os animais falantes, seja na prevenção do ataque de alguma criatura maligna e poderosa.
Muitos nunca viram um Arqueiro Sagrado, mas todos sabem que é melhor que isso nunca aconteça. Afinal, a presença deles só significa uma coisa: problema. Ainda assim, esses poderosos guerreiros são prestigiados e temidos entre o povo.
Em Teran, pequeno povoado do interior de Gorgórdia, vive Bildan, um jovem e solitário pastor que desconhece suas origens. Marcado por uma tragédia pessoal e considerado um menino amaldiçoado, ele é obrigado a crescer sem amigos, enfrentando o desprezo de quase todos ao seu redor.
Cansado dessa hostilidade e impelido por um desejo interior e misterioso, Bildan decide viajar rumo à Bosque Assombrado, sem imaginar que lá se encontra o segredo sobre suas origens e seu destino. E nesse lugar encantado Bildan encontra uma misteriosa garota e um livro mágico, com uma mensagem secreta. Assim, o rapaz deverá atravessar uma terra repleta de magia e perigos, numa jornada desafiadora, rumo a grandes revelações sobre seu passado e sobre o sentido de sua existência.
O Medalhão e a Adaga buscará levar o leitor através de um mundo rico em detalhes, livremente inspirado no folclore nacional, onde uma saga sobre amizade, coragem e descoberta terá seu início.


Ficha Técnica:
Título: O Medalhão e a Adaga
Autor: Samuel Medina
Editora: Multifoco
Formato: 21 x 14 cm
Páginas: 196
ISBN-13: 9788582733448

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/341451-o-medalhao-e-a-adaga

Fanpage no Facebook: https://www.facebook.com/OMedalhaoeaAdaga

Entrevista na Rádio Inconfidência sobre o livro: http://www.inconfidencia.com.br/modules/debaser/player.php?id=7275

Resenhas:

segunda-feira, setembro 30, 2013

A Cidadela - Parte II de IV


O último capitão exibia uma expressão que passeava entre a desagradável surpresa e o completo repúdio. Seridath imaginou também ter vislumbrado um lampejo de medo nos olhos do ruivo.
– Se você tá falando de usar essa coisa maldita aí, pode esquecer – disse Balgata, apontando para a espada.
– Não sei o que Aldreth te falou a respeito de Lorguth, mas é disso mesmo que eu estou falando – retrucou Seridath, friamente.
– Não quero saber, garoto. Se dependesse de mim, você já estava com essa espada no fundo de um poço, preso ou morto.
– Vamos ver então se essa é a vontade dos outros. Vamos expôr a situação a todos e as opções envolvidas. Vejamos se eles concordam com você.
– Pro inferno com eles! - rugiu Balgata. - Eu sou o capitão! Eu comando aqui!
Seridath ergueu as mãos, como em rendição, dando seu conhecido sorriso irônico, que tanto irritava Balgata. Os dois eram altos, embora Balgata fosse quase um gigante. Aos outros, que testemunhavam aquela discussão, parecia que dois titãs disputavam com suas forças catastróficas. Mas Seridath brincava. Sentia uma vontade mórbida de saber o quanto Balgata agüentaria as provocações antes de partir para cima do cavaleiro. Qual seria o último sentimento do capitão quando fosse atravessado por Lorguth? Contudo, ainda não era o momento. Tinha que controlar-se, minar a autoridade do outro e tomar seu lugar. Logo, aqueles homens veriam a fraqueza de seu líder e a única escolha para eles seria buscar refúgio junto ao guerreiro da espada negra.
Enquanto Seridath maquinava sua traição, Balgata já estava longe. Havia agradecido Lucan pelas informações e ordenado ao arauto que repousasse. Partiriam logo após o nascer do sol. Com sorte, levariam pouco mais que três horas para chegar a Arnoll, embora o plano fosse passar de largo pela cidadela. Era uma decisão difícil, mas teria que deixar os outros à própria sorte.
Aguardando as horas passarem, Balgata caminhou em silêncio até um grupo de árvores próximas. Não tivera tempo para respirar durante aquela fuga. Precisava de um pouco de ar. Aldreth aproximou-se do capitão, que apenas virou seu rosto para o arqueiro, fitando nele seus olhos cansados. O rosto abatido de Balgata, banhado pelo luar, parecia cadavérico. Ao longe, Seridath observava a cena, mas não estava a uma distância suficiente para que pudesse ouvir o que conversavam. Aldreth parecia o de sempre: com aquele patético olhar de desespero. Balgata, apesar de resistente, começava a mostrar sinais de estar cedendo à fadiga. O cavaleiro negro assentiu, enquanto suspirava. Isso mesmo, esperava que todos chegassem ao seu limite. "Testados," pensou ele, "estamos sendo todos testados, como antes da Montanha. Como ele falou, um teste antes e um depois. E vou vencer em ambos."
Nesse instante, o rapaz sentiu um tremor quase imperceptível abaixo de seus pés. Embora insignificante, essa sensação deixou-o alerta. Seridath fechou os olhos e foi imediatamente tomado pela estranha impressão de estar se expandido, estendendo-se pelo solo. Era como se estivesse correndo metros e metros sob o chão, para todos os lados. A cada momento, o tremor ficava mais forte. O rapaz pôde perceber que esse tremor repetia-se em um ritmo constante. Continuou a percorrer o solo até sentir o tremor retumbar, como se ele fosse esmagado de uma vez por dez mil pés.
Seridath abriu os olhos, assustado. Todo seu corpo era sacudido diante da tensão. O tremor ainda estava lá, tênue. Mas em breve ele retumbaria sobre todos, pois aproximava-se, tornando-se mais intenso a cada segundo. O rapaz partiu com rapidez na direção de Balgata.
– Capitão! – chamou ele – Capitão Balgata!
Balgata virou-se para Seridath, furioso, enquanto Aldreth alternava seu olhar assustado entre ambos. Parecia uma criança surpreendida fazendo em grande travessura e esperava um castigo severo. O cavaleiro percebeu e lançou, por um instante, seus olhos frios para o seu pajem. Em seguida passou a ignorar a presença do rapaz, enquanto pensava em uma forma de ser convincente.
– Capitão, temos problemas – disse o cavaleiro.
– Você é um sério problema, tenho certeza – reagiu Balgata. – E se não tiver uma justificativa, minha espada também será problema seu!
– Calma, capitão – Seridath ergueu novamente os braços, em tom apaziguador -, peço que venha comigo por um instante. Algo muito sério está acontecendo aqui perto e preciso que você mesmo o veja.
Balgata pôs a mão no cabo da espada, enquanto via Seridath afastar-se rumo à orla do bosque. Olhou para Aldreth, que parecia totalmente amedrontado.
– Não tenha medo, garoto – murmurou o capitão. – Eu cuido daquele traste. Se quiser vir conosco, não irei proibir.
– Tu-tudo bem, senhor – respondeu Aldreth. – Eu também vou.
Seguiram Seridath, que margeou a orla do bosque, na direção da campina. O cavaleiro quase corria, de forma que precisaram apertar o passo. Logo os três estavam juntos, usando como cobertura um capim alto, totalmente ressequido, que crescera naquelas matas. Passaram um córrego insignificante, infestado de juncos. Andaram por quase uma hora. Algo iluminava de forma lúgubre as colinas à frente. Seridath logo mudou o rumo, para o interior do bosque, corrigindo-o em seguida na direção original. Agora os três corriam por entre as árvores, rumo ao local de onde brotava a estranha luminosidade. O cavaleiro parecia ter um bom olho para ambientes escuros, pois traçava seu caminho evitando qualquer obstáculo. Os outros dois seguiam à risca o caminho por ele escolhido.
Balgata então começou a escutar um som ritmado que retumbava na noite. Rapidamente reconheceu o som de tambores de guerra. Sem dúvida guiavam a marcha de um exército que se aproximava. Venceram a colina, conquistando uma visão panorâmica. Do lado direito, a campina se estendia, banhada pela luz da lua cheia. Contaminando a campina, como um câncer, estava uma enorme e escura massa que se movia de forma disciplinada, avançando de acordo com o ritmo dos tambores. O exército quase não possuía tochas, pois seus soldados não precisavam de alguma iluminação para seus olhos sem vida. Eram sombras humanas que se moviam, embora fosse possível identificar os contornos do que pareciam ser homens gigantescos, carregando os tambores que marcavam a velocidade da marcha.
O capitão sentiu seu corpo estremecer, enquanto observava. A palavra "Tominaro" veio à sua mente. Uma lenda infantil; uma brincadeira comum entre as crianças pobres. Os mais velhos procuravam assustar os mais novos com histórias assim. Gigantes comedores de gente. Então eles existiam de verdade e estavam auxiliando os inimigos. Com um olhar resignado, Balgata comentou para Seridath:

– É, garoto, acho que vamos precisar usar mesmo essa coisa aí.

Continua...

sábado, setembro 21, 2013

Manhã Inesquecível



Agradeço a todo mundo que esteve hoje pela manhã lá no meu lançamento... Foi um momento maravilhoso e inesquecível. Estive muito ansioso nos últimos dias. As mãos suavam, o coração batia acelerado, a cabeça girava. Não conseguia dormir, a alergia me alarmou, a gastrite atacou, o refluxo voltou... 

Quando faltava uma hora para começar, levantei-me para andar pela Biblioteca e senti tudo girar. Tomei água, respirei fundo. A ansiedade estava a mil. Afinal, os personagens que tratei com tanto carinho durante estes últimos anos finalmente sairiam de meu controle e habitariam outras mentes, inspirariam outros sonhos. 


E no final, quando vi o auditório cheio de rostos amigos, uns de longa data e outros mais recentes, senti-me realmente recompensado. Minhas mãos tremiam, a boca estava seca e o peito parecia querer inflar até não mais poder. Dei autógrafos, tirei fotos, recebi tantas palavras de carinho! E pude ver meu livro nas mãos de tantas pessoas...

Recebi mensagens de carinho daqueles que foram impossibilitados de comparecer. Senti-me igualmente reconfortado. 

E por isso novamente agradeço a todos que estiveram comigo nesta manhã maravilhosa, dia 21 de setembro de 2013. Este dia ficará para sempre em minha memória!

segunda-feira, setembro 09, 2013

A Cidadela - Parte I de IV

Ir para A retirada - Parte V de V

O arauto ainda respirava. Havia alguns cortes em seu lado esquerdo, um deles bastante profundo, e hematomas no rosto e pescoço. A haste escura de um virote partido estava cravada logo abaixo da omoplata direita. Era um milagre que ele estivesse vivo. Os ferimentos indicavam que havia escapado de um combate atroz.
Deram água ao jovem, embora Balgata olhasse desconfiado. Todos os feridos pelos inimigos já estavam mortos... duas vezes. Talvez fosse melhor acabar logo com seu sofrimento. O rapaz pareceu adivinhar as desconfianças de seus companheiros.
Foram bandidos, senhor – disse ele, olhando para Seridath. – Eles tomaram Arnoll.
O jovem tinha mais respeito por Seridath, e Balgata tentava dissimular sua irritação diante desse fato. Havia coisas mais urgentes, como a informação que o rapazinho acabava de fornecer.
Quer dizer, então, que Arnoll foi tomada!? – grunhiu o capitão, furioso.
Exatamente, senhor – respondeu Lucan.
Diga, rapaz, como conseguiu sobreviver? – perguntou Balgata, propositalmente mantendo um tom de desconfiança em voz.
Lucan suspirou, deixando escapar um gemido e um sorriso resignado de alguém que não entende a hostilidade de seus próprios aliados. Balgata cedeu e ordenou que tivessem uma pausa até que Lucan recebesse os primeiros socorros. Também convocou dois ajudantes para carregar o arauto até uma das carroças onde ele poderia ser tratado devidamente por duas senhoras de Keraz. Os últimos feridos pelos zumbis haviam morrido na noite anterior. As duas senhoras, que arriscaram suas vidas oferecendo-se para cuidar dos feridos, ficaram animadas ao verem um paciente que não definharia diante de seus olhos, se fosse tratado devidamente. Não havia clérigos ou cirurgiões entre eles, mas as duas senhoras eram capazes de fazer uma sutura no corte profundo tratar adequadamente as outras feridas. Balgata pediu para ser chamado logo que os cuidados com Lucan fossem concluídos. O capitão também distribuiu ordens para manter seguro o acampamento.
Após cerca de uma hora e meia, um dos camponeses aproximou-se do capitão, comunicando que Lucan já não corria risco. Balgata aproximou-se dele, apreensivo.
E então? perguntou. – Ainda está inteiro ou as velhas arrancaram algum pedaço do seu fígado?
Estou bem, capitão – respondeu Lucan. – Obrigado por perguntar.
Mas você nos disse que Arnoll foi tomada – inquiriu Balgata, já completamente esquecido da frase que Lucan havia dito. – Dominada por bandidos.
Sim. Homens bem vivos. Os malditos estavam rondando a cidade faz um tempo, mas agiram quando as pessoas começaram a aparecer, fugindo dos mortos. O senhor feudal havia decretado alerta e não deixava ninguém entrar ou sair. Parece que alguém escalou o muro e abriu o portão após matar os guardas.
Quer dizer que eles possuem homens de qualidade murmurou Balgata. Talvez um assassino rastejante. Mas como você sabe disso tudo, garoto?
Eu topei com um grupo montando guarda nesta noite. Lucan deu um sorriso maroto Pude ouvir muito do que eles conversavam. Parece que as coisas deste lado estão piores do que pensávamos.
Como assim, piores?
Aquele exército que enfrentamos em Keraz era só uma parte de uma grande força que está marchando desde o mar, a nordeste daqui. Isso significa...
Quiriath-Mon! murmurou Balgata, rangendo os dentes.
Isso mesmo, capitão. Essa força gigantesca engoliu os vilarejos ao redor, mas muitos deles já estavam tomados. Os camponeses mortos só engrossaram as fileiras dos amaldiçoados.
Por Nibala e suas cabeças! – blasfemou Balgata.
Todos ao redor estremeceram. A madrugada ia pelo meio, e a lua cheia ainda brilhava forte no céu, concedendo às árvores um aspecto surreal. Seridath aproximou-se, parecendo interessado no relato do arauto. Balgata tentou manter o controle.
E os nossos homens? – inquiriu o capitão, evitando alimentar o assunto dos mortos. – Riderth e os outros, que escoltavam os camponeses?
Acho que foram levados para Arnoll. Eu ouvi eles comentando sobre um grande número de pessoas no calabouço. Falaram de um bando que era guiado por um sacerdote.
Culliach... – comentou o capitão.
Isso. Também penso assim. Parece que eles vão querer usar os homens para lutar se os mortos chegarem até aqui.
Me conte como ganhou essas feridas perguntou o capitão, embora fosse impossível dizer se ele ainda desconfiava da habilidade de sobrevivência do rapaz.
Eu os estava espreitando. Ouvi muita coisa mesmo, já que eles não imaginavam que eu estava por perto. Eram três e dois deles já estavam meio bêbados. Mas eu não previ que poderia haver um quarto, que tentou me pegar pelas costas. Nós brigamos, chamando a atenção dos outros. Lutei com todas as minhas forças e acho que matei um deles, o que estava mais bêbado. O bandido que me atacou primeiro era muito bom com sua adaga e conseguiu fazer em mim este corte aqui. Percebi que iria morrer. Ele nem estava lutando a sério, mas os outros dois partiram pra cima com suas espadas. Na confusão, consegui tomar distância e correr, mas fui na direção oposta à nossa. Um deles devia ter uma besta, mas só senti a fisgada do virote quando já estava longe. Tive que fazer uma volta enorme para retomar o caminho que vocês tomaram. Perdi as forças quando percebi que estava novamente na rota e acabei relaxando...
Acha que eles seguiram você?
Não creio. Na verdade, duvido que acreditem que eu esteja vivo. Se é que eles achavam que eu não era um zumbi.
E você faz idéia de quantos são? – inquiriu Seridath, evitando o olhar irritado de Balgata.
Não tenho certeza, mas acho que ouvi eles falando sobre isso, dizendo que era difícil manter uma cidadela do tamanho de Arnoll com pouco mais que sessenta homens.
Se tivéssemos mais homens, pelo menos mais vinte, não hesitaria em atacá-los – suspirou Balgata.

Creio que nós temos esses homens, capitão – respondeu Seridath, fitando Balgata com seu sorriso sombrio. – Talvez até mais.

Continua...

segunda-feira, setembro 02, 2013

A retirada - Parte V de V

Ir para A retirada - Parte IV de V


Logo pela manhã, Balgata acordou os demais energicamente. Seridath já estava de pé, pronto, do lado de fora da gruta. Não dormira de tanta euforia. Era primeira vez que ele meditara sobre os acontecimentos em Keraz. Pelo que acontecera na noite da batalha, ele era senhor de forças mais sombrias do que imaginava.
Nesse instante, Aldreth despontou da entrada da gruta. Os olhares de ambos se cruzaram e o arqueiro desviou rapidamente o seu, baixando a cabeça. Havia sido mandado por Balgata para buscar água. Seridath seguiu o outro com o olhar. Havia percebido algo naquele rosto amedrontado. Não sabia dizer ao certo, mas era um olhar diferente, quase desafiador. Seridath então lembrou-se de que somente o arqueiro sabia seu segredo. Seria seguro manter Aldreth vivo? Essa pergunta tornava-se uma sutil interrogação na mente do cavaleiro. Afinal, uma morte a mais não faria tanta diferença.
Com todas as bestas de Nibala! Vamos, bando de molengas! – gritava Balgata com os camponeses – Parecem mais lerdos que os zumbis que enfrentamos! Andando! Andando!
Seridath mantinha-se de costas para a entrada da gruta, enquanto sentia aquela estranha euforia permear seu corpo. Estava mais disposto do que nunca. Olhava as árvores e pedras ao redor, sentindo quase como se pudesse tocá-las, pegá-las, mesmo à distância. Desembainhou Lorguth e olhou para sua lâmina negra. Alguma coisa também havia acontecido com a espada. A bainha não comportava mais a lâmina que parecia ter crescido. A parte serrilhada também estava mais comprida e o gume, mais afiado. As duas esporas pareciam maiores e mais agudas. Lorguth mais uma vez provava o seu poder. Ela estava evoluindo e Seridath não percebera isso antes. Aquela arma magnífica desenvolvia-se lentamente, acompanhando o crescimento do seu senhor. O cavaleiro sentiu o orgulho inundar seu peito.
Quando teriam começado essas mudanças? O rapaz ponderou que, de alguma forma, a espada havia despertado na noite de batalha, quando o cavaleiro tomara a decisão de subjugar a lâmina negra.
Eu estou falando com você, seu idiota! – gritou Balgata, tentando chamar a atenção de Seridath.
O sombrio rapaz encarou o capitão, que manteve seu tom de desafio. Estava claro que Balgata já chegava a seu limite. Lorguth começou a vibrar nas mãos do cavaleiro, como se implorasse pelo sangue daquele homem insolente. Mas Seridath não queria pôr tudo a perder. Embainhou novamente sua maligna companheira, enquanto encarava Balgata.
O que quer? – perguntou.
Não tá vendo que estamos partindo?! Vá para a vanguarda, já que você gosta tanto de aparecer!
Seridath quase se arrependeu em ter embainhado sua espada. Mas seu sangue frio impediu que ele retrucasse e começasse uma nova disputa com o capitão. Os nervos afloravam naquele momento crítico. Uma briga com certeza iria selar o destino de todos, e Seridath ainda acreditava que poderia usá-los. Sem lançar outro olhar para Balgata, o rapaz cumpriu suas ordens, enquanto comandava os demais para abrirem caminho pelo interior do bosque. Lucan continuava desaparecido, talvez em algum lugar à frente, ninguém saberia ao certo. O capitão comandava a retaguarda. Seridath teve um mau pressentimento e observou-o, furtivamente. Viu num relance Balgata marchar ao lado de Aldreth.

No final do dia, o grupo já alcançava os limiares do bosque. A rota prosseguia em campo aberto, oferecendo mais perigo para os fugitivos. Balgata afirmava que mais uma noite de viagem e eles chegariam à cidadela fortificada de Arnoll. Bastava resistirem mais um pouco. Marcharam durante toda a noite. No início da madrugada, os guerreiros que formavam a vanguarda encontraram o corpo de Lucan estendido na campina. 

Continua...