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domingo, maio 09, 2021

Para Marília



Marília, queria que você estivesse viva para celebrar este dia das mães. Sinto que o mundo precisava desse seu jeito de olhar tudo com inocência. Sinto saudade do brilho infantil dos seus olhos sempre que eu contava histórias para você.

Sabe, amiga, o mundo está muito diferente daquele que você viu. Parece que não, mas está. Ou talvez simplesmente o mundo tenha tirado a máscara, declarando abertamente que CPFs podem ser cancelados. Que números financeiros valem mais que números humanos.

Que falta faz aquele seu jeito doce, de sorriso aberto. Seu hábito de compartilhar até o pouco que você tinha. No dia desta foto, você ganhou uma rosa sintética como homenagem pelo dia das mães. E fez questão que eu ficasse com a rosa.

Ainda tenho comigo essa rosa, Marília, entre minhas coisas. Sou acumulador, o contrário de você, que fazia questão de ter o mínimo. Enquanto isso, as pessoas continuam dispensando as outras. Assassinos sobem os morros. Sobem as rampas dos palácios, usam faixas presidenciais.

Sei que se você ainda estivesse aqui, a vida estaria mais difícil. Sinto-me egoísta por desejar que você estivesse viva. Quantas vezes eu pensei em levar você pra minha casa, ter como filha uma avozinha doce como você era.

Sei que em minha memória, Marília, você continua guardada. E viva. Levarei sempre comigo o seu jeito doce, como inspiração para distribuir sorrisos pelo mundo.

Feliz dia das mães, minha amiga. 

Milagre


Mãe é uma potência. 

Um ideal encarnado. 

Mãe é um milagre. 

Um princípio vivo 

de amor e cuidado. 

Mãe é a prova viva

de que nascemos

para o Amor.

Quando todas as pessoas

tiverem as mães 

como exemplo

uma revolução silenciosa

Trará um novo tempo.

sexta-feira, maio 29, 2020

Um amor incomodo - O mergulho em uma busca delirante

Delia é a mais velha de três irmãs. Carrega em si as complicações do relacionamento que tem com a mãe, Amália que já é idosa e vive sozinha em Nápoles. Quando Delia recebe a notícia de que Amália foi encontrada morta, ela se lança em uma angustiante caçada, na tentativa de entender as circunstâncias da morte de sua mãe.

Assim tem início o conturbado romance  de estreia de Elena Ferrante, Um amor incômodo. A narrativa acontece em Nápoles, cidade populosa e obscura, repleta de vielas torpes e homens perversos. Delia busca entender as circunstâncias da morte da mãe, que foi encontrada em uma praia da costa italiana. A única peça de roupa que Amália usava era um sutiã de um grife cara de Nápoles. Não havia sinais de violência, o que dava a entender que se tratava de um acidente, ou um suicídio. 

O passado de Amália, porém, é conturbado e repleto de mistérios. Esse passado se relaciona às memórias mais submersas de Delia, que se vê obrigada a revisitá-las incessantemente. E a cada mergulho no passado, novas revelações vão surgindo e como um palimpsesto, os traços das recordações vão sendo reescritos, reconstruídos e remontados. 

Não é fácil seguir o fio narrativo de Delia. Como testemunha não confiável de suas próprias memórias, a protagonista nos arrasta como vítimas desse passado que ganha cores e formas múltiplas. Repletas de desejo e violência.

Outro elemento a ser observado no romance é o tom de angustiada denúncia. A todo momento somos levados a presenciar alguma cena de violência de um homem contra uma mulher. Cenas que muitas vezes se desenrolam em plena luz do dia, em maio a diversas pessoas. Essa banalização da violência vai além do incômodo e chega a ser quase insuportável. 

Com um enredo repleto de sombras e mistérios, num jogo fabuloso de contrastes, o romance Um amor incômodo certamente será um percurso selvagem e delirante, um mergulho na loucura e na perversidade, uma experiência literária de fôlego e estômago.

Ficha Técnica
Um amor incômodo
Elena Ferrante
ISBN-13: 9788551001370
ISBN-10: 855100137X
Ano: 2017 
Páginas: 176
Idioma: português
Editora: Intrínseca

domingo, maio 10, 2020

Vídeo: Minha Mãe Não é Legal - Loreto Corvalán

Olá! Para comemorar o Dia das Mães, compartilho com vocês a leitura do livro Minha Mãe Não é Legal, de Loreto Corvalán, traduzido por Andréia Nascimento. Vamos assistir?





Feliz Dia Das Mães para todas as mamães do mundo!

Ficha Técnica 
Selo: Rota Imaginária
Dimensões: 21 x 21
Autora: Loreto Corvalán
Ilustradora: Loreto Corvalán
Tradutora: Andréia Nascimento

sexta-feira, maio 08, 2020

Mamãe & Eu & Mamãe - A maternidade reconquistada

Maya Angelou é uma mulher incrível. Digo isso no presente porque, apesar de Maya já ter falecido, sua figura se mantém viva através de seu trabalho artístico, de seu ativismo, da força de suas palavras.
Autora de uma poesia potente e dona de uma mente incansável, Maya foi uma mulher forte e corajosa, uma desbravadora. Sua vida foi inaugurada por tragédias ainda muito cedo. Ainda assim, ela teve A força de superá-las, por intransponíveis que parecessem.

Um dos livros de Maya Angelou que retrata suas superações é Mamãe & Eu & Mamãe. Autobiográfico, o livro fala um pouco sobre essas tragédias, mas se foca principaente no resgate da relação entre mãe e filha e no quanto essa relação foi importante para Maya Angelou como artista, mulher e mãe. 

É interessante observar na narrativa a profunda e incontestável admiração que Maya sempre nutriu pela mãe. Inicialmente, tratava-se de uma admiração distante. Ela conta que sua mãe parecia uma artista de cinema, uma madame. 

O distanciamento se dava também pelo ressentimento. Quando era bem pequena, Maya foi enviada, junto com o irmão, para morar com a avó paterna. Eles só voltariam a morar com a mãe anos depois, quando Maya já estava no final da infância. Essa ausência teria causado em Maya e em seu irmão um distanciamento que parecia impossível de transpor. Tanto que ela não conseguia chamar Vivian de mãe, mas de "Lady".

A distância entre as duas, porém, vai sendo vencida pela franqueza, respeito e, sobretudo, pelo amor. Em nenhum momento, Vivian tentou se desculpar por ter mandado seus filhos para longe. Porém, ela se esforçou ao máximo para estar presente em suas vidas.

Foi impossível não me apaixonar pela pessoa de Vivian Baxter. Uma mulher altiva mas compassiva. Sempre disposta a ajudar, a tratar a filha como igual, sem deixar de oferecer a ela seu regaço de mãe. Repleto de fotos com Maya e Vivian juntas, trata-se de uma obra cálida e terna. Mamãe & Eu & Mamãe é uma homenagem e uma declaração de amor, além da mensagem forte de que com amor e dedicação, as relações de mãe e filha antes distantes entre si podem se transformar em laços impossíveis de serem rompidos. 

Ficha Técnica 
Mamãe & Eu & Mamãe
Maya Angelou
ISBN-13: 9788501114136
ISBN-10: 8501114138
Ano: 2018 
Páginas: 176
Idioma: português
Editora: Rosa dos Tempos

Perfil do livro no Skoob:

quarta-feira, abril 29, 2020

A biblioteca, as leituras de afeto e a oportunidade de escolha

Bruna e Sophia são crianças que por cerca de dois anos visitaram a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, onde trabalhei. Levadas por suas mães aos sábados, em geral mensalmente, essas meninas faziam questão que eu acompanhasse suas escolhas e que lesse para elas. 

Durante esse período, fizemos várias descobertas de bons livros. Alguns eu oferecia para ler, mas elas logo rejeitavam. Outros, pediam para que eu interrompesse a leitura pela metade. Havia aqueles, porém, que as encantavam a ponto de pedirem que fossem lidos novamente. 

Tanto a mãe de Sophia quanto a de Bruna são leitoras. Elas trocavam comigo suas experiências de leitura, o que tornava mais rica a mediação com as crianças. Além disso, ambas levavam muitos livros para casa, depois de longa exploração do acervo.

Sophia costumava exigir total dedicação. Já Bruna aceitava dividir minha atenção com outras crianças. Havia momentos em que elas participavam de oficinas literárias ou narrações de histórias. Contudo, a maior parte de nossas interações acontecia em leituras que eu fazia para elas, a partir de livros que escolhiam entre os exemplares disponíveis no acervo.

Foi fundamental o compromisso que as mães de Bruna e Sophia assumiram com a leitura e com a visitação à biblioteca. Mais ainda, elas deram às filhas, na mais tenra idade, o direito de escolher suas leituras. Esse protagonismo foi assumido pelas crianças com muita propriedade e consciência.

Existem muitas outras crianças, bem como suas mães e seus pais, que dão vida aos sábados da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Assim como há inúmeras crianças e suas famílias que frequentam as 22 bibliotecas culturais de Belo Horizonte e tantas outras bibliotecas, espalhadas pelo país. Porém, decidi registrar aqui essas experiências com as duas meninas e suas mães pelo exemplo que elas são, de afetividade, de compromisso, de busca pelo prazer da literatura e pela silenciosa mensagem de que a Biblioteca é um lugar de muitos encontros.

segunda-feira, março 02, 2020

MATER

CANSADO ESTOU
DOS DIREITOS
PATERNOS
O PATER
QUE TOMA
USA E DEPOIS
DESCARTA
EVOCO
O PODER
DO VENTRE
DO SEIO
DO FEMININO
QUE SEJA
O TEMPO
DAS DEUSAS
QUE VENHA
ABAIXO O
MASCULINO
QUERO
O DIREITO
A UMA
MÁTRIA

sexta-feira, julho 12, 2019

O peso do pássaro morto - O peso de uma vida quebrada

Quanto pesa um pássaro em pleno voo? Qual a diferença desse mesmo pássaro, depois de morto? Quanto pesa uma vida? Como medir a memória que se tem, mesmo aquela que se tem, a despeito de não desejá-la?

Assim como essas perguntas podem gerar inúmeras outras, há livros que nos lançam em torvelinos de questionamento. Da mesma forma que revisitamos nossas lembranças com a fórmula "e se?", muitas narrativas nos tocam a ponto de tomá-las como nossas. Assim, começamos a usar essa mesma fórmula no enredo. "E se ela não tivesse feito aquela viagem? E se ele tivesse agido diferente?"

O peso do pássaro morto foi um livro que me arrebatou de tal maneira que ao seu término eu me senti em suspenso. Era como se minha memória não existisse mais, como se minhas palavras estivessem fadadas ao silêncio, tal era a força das palavras desse livro.

Romance de estreia de Aline Bei, este é um livro pungente. O enredo segue um trecho da vida de uma mulher, sendo ela a narradora. Esse é o primeiro grande impacto do livro. Narrado em tom intimista, o texto faz do leitor um voyeur, alguém que inadvertidamente penetra na mente de outra pessoa e a observa em silêncio. 

Ao mesmo tempo, o tom da narrativa soa confessional. Assim, somos também cúmplices da narradora, ao darmos escuta a essa menina-mulher em sua jornada de amadurecimento e descoberta. 

Esse, também a meu ver, é o segundo grande impacto que o livro tem. Nesse pêndulo, o leitor é intruso e convidado. A narradora é perspicaz, espirituosa e cativante. Creio ser impossível não se apaixonar por ela. E não se comover com os impasses que ela sofre em sua trajetória.

Por fim, esse é o terceiro impacto que o livro causou sobre mim. Já nas palavras da menina que era levada pela mãe para ser benzida por um curandeiro, podemos ver a sensibilidade poética da narradora. E a poesia é evidente também no ritmo do texto, construído em verso livre. 

Este não é um livro fácil. Ou feliz. É um texto forte e poderoso. Uma narrativa profunda e visceral. De um impacto semelhante a uma pedra que derruba um pássaro em pleno voo.

Ficha Técnica 
O peso do pássaro morto 
Aline Bei 
Editora NOS
Ano: 2017
Páginas: 167

segunda-feira, março 06, 2017

Segundo livro do ano!

Originalmente publicado no Instagram dia 2 de janeiro de 2017.



João é um jovem pé de feijão que deseja muito crescer e ficar bem forte. E para isso ele precisa de água. Mas o que fazer quando a terra está tão seca que chega a rachar? Como João conseguirá a água de que tanto precisa?

João Feijão
Sylvia Orthof
Ilustrações de Walter Ono
Editora Ática
#livros2017 #UmLivroPorDia #Biblioteca #planta #natureza

quarta-feira, abril 03, 2013

A seiva encantada do sonho

Quando cheguei ao quarto, lá estava ela, pequena e franzina, quase se perdendo em meio aos lençóis. E ao vê-la assim, tão frágil, uma única palavra veio à minha mente: carinho. Era como se ela fosse a própria imagem do carinho. 

Ajoelhei-me ao seu lado, minhas mãos envolveram a sua, enquanto eu recitava o costumeiro pedido de bênção. Suspirando, ela me abençoava em silêncio. Inclinando-me sobre ela, cobri seu rosto de beijos.

Contemplei o seu silêncio, mais uma vez buscando retornar com ela aos tempos idos, seus momentos cotidianos que ao presente se impunham como imagens sonhadas. Impossibilitado, oferecia a ela minha presença, como principal prova do meu amor.

Subitamente, ela sussurra, fala de meninas sonhadas invadindo a realidade. Sôfrego, eu sorvo suas palavras, enquanto sinto seu hálito banhar meu rosto. É um cheiro bom, cheiro de memória e infância. Enquanto ela desfia suas vivências sonhadas com as meninas-mulheres, almas de sonho, eu também sonho com ela, adentro em seu mundo e me encanto com sua voz tão fraquinha e tão pungente.

Enquanto sou embalado pela voz dela, meus olhos passeiam pelas veias roxas que envolvem sua mão. Eu as sigo com os dedos, fascinado, como alguém que se percebe venturoso ao descobrir as raízes onde corre a seiva encantada do sonho.

terça-feira, abril 10, 2012

Paixão

Teu filho morre hoje, Senhora. E não adianta; não há mortal (ou imortal) que se compadeça de teu sofrer. Escuta: esse é o som das tropas. Vêm levá-lo de ti. Ele, tua eterna criança.
Calma! Cessa o fragor de teu peito. A madrugada está longe do fim, o galo ainda não canta. Qual o sentido das lágrimas, Senhora? Guarda-as para um momento mais público.
Afinal, o grão de trigo deve morrer. Olhos ávidos, repletos de dentes, aguardam ansiosamente o fim. Olhos que jamais se fecharam continuam sempre atentos. O espetáculo é necessário, pois traz em si a fascinação do fogo.
Em momento propício, luta. Rasga tuas vestes já negras de antecipado luto. Teu choro não será conformado, lânguido. Será um brado de horror contra a injustiça dos homens. Tua angústia será fúria marítima, rugido da fera a proteger sua cria. Não és mais humana, Senhora; és Ideal. Tua mão ergue a bandeira em prol do futuro dos homens, teus seios estão fartos do leite que será alimento dos povos.
O escuro é preciso, grávido de possibilidades. O escuro de fora, que adensa a noite, logo se fundirá a teu escuro de mãe abortada. Esta noite prenuncia a noite a abraçar teu filho. Em breve, será outra a mãe de teu menino.
Súplicas são inúteis, bem o sabes. Pelo menos para salvar teu filho. Através dele, porém, muitos serão salvos. Teus gemidos vencerão o tempo e tuas lágrimas, os séculos. Teu clamor não será apenas por um, mas por todos os filhos do mundo.