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domingo, dezembro 12, 2021

Fa(r)to

Existimos 

no 

tempo. 

Por isso 

estamos 

sempre 

que-

brados.

Inspirado no poema "que não vem", de Norma De Souza Lopes.


quarta-feira, abril 14, 2021

Somos como uma ampulheta

Anncapictures

Somos como uma ampulheta 

Nossa passagem aqui é única

Acima de nós, a multidão de ancestrais 

Abaixo, descendentes sem fim

Sim?

A não ser que o tempo e o destino

Esses dois fanfarrões 

Encerre nossa passagem

Antes dos próximos grãos

Passarem.

domingo, maio 17, 2020

Vídeo: Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano - Ana Martins Marques



Hoje declamo o poema de Ana Martins Marques presente em "O livro das semelhanças":

Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano
quantas cidades para chegarmos a esta cidade
e quantas mães, todas mortas, até tua mãe
quantas línguas até que a língua fosse esta
e quantos verões até precisamente este verão
este em que nos encontramos neste sítio
exato
à beira de um mar rigorosamente igual
a única coisa que não muda porque muda sempre
quantas tardes e praias vazias foram necessárias para chegarmos ao vazio
desta praia nesta tarde
quantas palavras até esta palavra, esta


Mais histórias e poesias em: http://www.oguardiaodehistorias.com.br/

segunda-feira, abril 27, 2020

O objeto de nosso desejo

Muito se pode dizer sobre o livro. Existem conceituações práticas e outras mais românticas. Os mais pragmáticos podem apenas afirmar que o livro é um objeto que serve para armazenar informações. Já os românticos vão chamá-lo de "janela para outros mundos", "objeto que nos faz viajar sem sair do lugar", entre outras definições ufanistas. 

Nenhuma delas, porém, vai abarcar todas as dimensões do livro. Sim, trata-se de um objeto de múltiplas dimensões. O livro é, antes de tudo, um lugar de muitos lugares. Um espaço de muitos espaços. Não foi à toa que o escritor Jorge Luis passou sua vida inteira perseguindo a ideia do livro e da biblioteca, explorando suas infindáveis facetas, buscando ultrapassar seus limiares.

O livro é um objeto de aprendizado. Ao afirmar isso, não quero dizer que ele deva servir para o aprendizado, ou que ele deva servir para algo. Como um objeto sólido, ele pode servir para muita coisa: pode impedir que um monte de papéis sejam levados pelo vento. Pode segurar uma porta. Pode até servir como projétil a ser arremessado contra uma testa incauta. E pode, inclusive, servir para nada.

Como disse anteriormente, o livro tem múltiplas dimensões. Trata-se de um artefato cultural. Em si ele encerra milênios de história humana. Ele evoluiu, mudou ao longo dos séculos. Não é à toa que os objetos mais importantes das duas maiores religiões do mundo sejam justamente livros.

Portanto, o livro atrai para si um fascínio único. Posso arriscar sem errar muito que ele é um dos poucos artefatos que reúnem em si o espírito da memória humana. É um objeto interativo, feito para ser manuseado, explorado, descoberto. Sendo assim,  ele estimula a sensibilidade de seus leitores. Basta dar um livro a uma criança para observar como ela se ocupará por um bom tempo apenas em manuseá-lo de várias maneiras, experimentando qual seria a forma correta de lidar com esse objeto misterioso. 

Através dessa interação, o leitor tem como refletir sobre o tempo, a memória, os sentidos. O livro é um objeto navegável, pois nele podemos ir para frente e para trás, podemos pular páginas, retornar em algum trecho que nos tenha chamado atenção. 

Esse aspecto interativo do objeto livro foi evocado por mim anteriormente. Porém, sou tão fascinado com tal poder de interação que não me canso de evocá-lo. Perder-me em páginas de um livro, apenas para folheá-lo, ainda é algo muito recorrente para mim.

Alegoria do próprio conceito humano de tempo, cada livro nos permite construir uma relação pessoal e específica com ele. Assim como cada pessoa é única, sua relação com cada livro também o será, seja de forma consciente ou não. Esta relação pode então se expandir, crescer, transformando no livro em uma ideia que ultrapassa suas dimensões físicas. 

E assim o livro se torna um outro lugar. Um jardim secreto, um esconderijo para além do tempo, o lugar onde se revela e se esconde o nosso desejo.

quarta-feira, maio 15, 2019

Reflexões sobre um tempo póstumo

Para Felipe Diógenes e Rodrigo Teixeira

Pego o celular. Enquanto tento desbloquear a tela, vejo uma notificação para que eu relembre por fotos o mesmo dia um ano atrás. Cancelo a notificação e logo pulo para o editor de texto. Quero escrever, não lembrar. Ou melhor, quero lembrar, não me enganar com um conjunto de imagens digitais.

E logo me vem à mente um conjunto de imagens, nenhuma delas relacionada ao dia 23/01/2017. Não quero datas, são tão enganosas quanto nossa falsa noção de verdade, apoiada em conjuntos de cores e traços, geometria subliminar. Distrações compostas por fótons originados de telas eletrônicas, ou refletidos nas marcas queimadas em um papel quimicamente preparado.

Até mesmo as pegadas são um engano. Carcaças de um tempo que, de tão cruel, matou-se e nos deixou órfãos. Somos como um Zeus sem um Chronos para vencer, pois ele heroicamente já cumpriu a sua tarefa de se destruir.

Verdade apenas no esquecimento. Sejam símbolos, traços, entalhes, borrões, gravuras, tipos, todas essas marcas, pálidas tentativas de escapar ao Tempo e à Morte, todos apenas nos lembram como somos reféns desse mesmo tempo suicida.

Estamos todos mortos, apenas o momento ainda não se realizou em nós. E por isso eu não quero mergulhar em imagens. Quero testemunhar o meu passado evocando-o dentro de mim pela memória.

Por engano, pressiono a tecla errada e grande parte do que escrevi se perde. Incrível como o próprio ato de escrever que realizo agora reproduz o que estava tentando ilustrar. Apenas tentando. O pior de tudo é que tenho certeza que o melhor trecho deste texto estava na parte que se perdeu.

Assim, encerro apenas fazendo um pequeno epitáfio: 

Foi como um sopro 
que as palavras, 
destinadas para serem 
eternas, 
quebraram as pernas, 
tornando-se 
éter.


Oficina de Prosa Poética - 23/01/2018

quarta-feira, maio 01, 2019

Trabalho

Enquanto se diz
Que dignifica
O que fazemos
A cada dia
É empurrar
Aquela mesma
Pedra.
A nossa dignidade
Em leilão
Por uma reforma.
Despojados estamos
De um tempo que
Nem sabemos se
Teremos.
Não adianta
Contar com a
Previdência
O homem comum
Lançado às bestas
Acaba tendo
Inutilmente que
Recorrer à
Providência