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quarta-feira, janeiro 17, 2024

Todas as histórias que já contei


Faz algum tempo que eu desejava fazer aqui no blog um registro de todas as histórias que já contei. Algumas delas eu esqueci, confesso. Outras, estão tão vívidas como sempre estiveram, de tanto que eu continuo a contá-las.

O exercício de contar histórias, para mim, é também um movimento de guarda e preservação das mesmas. Ao contar histórias, eu as estou "guardando" pois, como diz Antonio Cicero, "Em cofre não se guarda coisa alguma / Em cofre perde-se a coisa à vista". Sendo assim, ao transmitir essas narrativas e também ao registrá-las aqui, eu contribuo para que elas permaneçam.

Esta será uma lista dinâmica. Ela irá crescer à medida que eu for expandindo meu repertório. Além disso, quero produzir versões em escrito das histórias de tradição oral. A partir desses registros, contando com minhas palavras, pretendo fazer o link do título de cada história com a postagem do registro. 

Conto com as contribuições e comentários de todas as pessoas, para que esta postagem esteja cada vez mais rica, e que este tesouro possa enriquecer também seus repertórios e pesquisas.

1. A mulher sábia;

2. O jovem rei;

3. Uma questão de interpretação;

4. O mordomo fiel;

5. O conto do vigário;

6. Os 3 soldados e a princesa nariguda;

7. Anansi e a busca impossível;

8. As penas do dragão;

9. Chapeuzinho Amarelo;

10. Que bicho será que fez a coisa?

11. O caso do bolinho;

12. Um herói bem diferente;

13. Uma visita inesperada;

14. O carvalho;

15. A Fada Feia e a Bruxa Bela;

16. A viúva piedosa e o ateu impiedoso;

17. O filho mudo do fazendeiro;

18. A quase morte de Zé Malandro;

19. Nasrudin e a Morte;

20. O pássaro, o rato e a linguiça;

21. Nasrudin e o viajante;

22. Nasrudin no poste;

23. Nasrudin e o cavalo;

24. O cavalo de madeira;

25. Uma ideia toda azul;

26. A língua (quem te matou, caveira?);

27. Carne de língua; 

28. O homem sem sorte;

29. O nabo gigante (Grimm);

30. A flauta de osso? (Grimm);

31. Os 3 jacarezinhos;

32. O causo do caçador;

33. O causo da garrucha;

34. O causo da dentadura;

35. O Quibungo;

36. Miserinha;

37. O cheiro do pão;

38. O Bichão;

39. O cameleiro de Bagdá;

40. A última folha verde;

41. A Bruxa Salomé;

42. Lucum a la pistache;

43. Os 3 desejos e a linguiça;

44. O único desejo;

45. Lolô;

46. O pássaro da verdade;

47. A história da coca;

48. A procissão das almas;

49. O lobisomem;

50. O peixe luminoso;

51. Raposa;

52. A promessa do girino;

53. As trapalhadas de Zé Bocoió.

segunda-feira, dezembro 25, 2023

SAN - Detetive Folclórico - Uma emocionante jornada mística




Eles estão entre nós. Os seres mitológicos de nossa tradição oral. Saci, Curupira, Caipora, Boto... e a temível Cuca. E ela não está satisfeita. Irritada com a destruição da natureza, perpetrada por humanos, a bruxa reptiliana decide nada mais nada menos que aniquilar toda a humanidade. Ainda bem que temos Sandro, o detetive folclórico, para nos proteger e descobrir os planos da maligna cuca antes que seja tarde demais.

Assim tem início um dos livros mais divertidos que li. SAN - Detetive Folclórico, de Henrique Zimmerer, é uma narrativa leve e fluida, cheia de ação, humor e romance. Sandro - ou San, para os íntimos - é na verdade uma entidade folclórica e usará todo o seu poder para salvar a humanidade da extinção.

Como braço direito do detetive está o professor de biologia Custódio, outra entidade da nossa tradição oral brasileira. Custódio é ruivo, usa dreadlocks e tem o corpo coberto de tatuagens. É um exímio caçador e suas habilidades serão usadas para rastrear os inimigos que desejam tanto o fim da humanidade. 

E por fim, temos dois humanos: Alice e Daniel. Ela é uma jovem intempestiva e destemida. Dotada com um misterioso poder e a capacidade de ver o que os demais humanos não conseguem, a jovem entrará na luta para salvar os seres humanos, auxiliada pelo seu melhor amigo. Daniel perdeu o namorado André em um ataque realizado por espíritos de fogo, que destruíram uma boate em que Alice, André e Daniel estavam.

A narrativa se passa em Belo Horizonte. Sim, a capital mineira se torna o palco de uma luta épica entre entidades folclóricas, com alguns seres humanos dando força na batalha. A solução que o autor dá é genial. As pessoas comuns estão impedidas de ver fenômenos sobrenaturais. É como se elas não conseguissem prestar atenção nesses fenômenos. Com isso, as batalhas acontecem em plena luz do dia, com as mentes dos espectadores "adaptando" as partes espirituais de forma a poderem aceitar melhor o ocorrido. É uma solução interessante. E inclusive a narrativa sustenta que tudo o que acontece nos livros tem um "pezinho" na realidade. Ou seja, as narrativas de fantasia podem ter de fato acontecido.

Sandro, Custódio, Alice e Daniel são cativantes e possuem uma dinâmica própria. Sentem medo, insegurança, raiva e alegria. Suas reações são verossímeis e factíveis. Ainda que Sandro e Custódio sejam entidades mágicas, eles apresentam atributos tão humanos quanto você e eu.

Com cenas de ação de tirar o fôlego e um desenvolvimento de personagens cativante, SAN - Detetive Folclórico é uma jornada maravilhosa por um mundo que muitas vezes está escondido logo ali, para além do véu que encoberta nossos olhos.


Ficha Técnica

SAN - Detetive Folclórico

Zimmerer

ISBN: B09FZXVBDR

Ano: 2021 

Páginas: 209

Idioma: português

Editora: independente


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/san-detetive-folclorico-12058021ed12043887.html

quarta-feira, dezembro 13, 2023

O pássaro da verdade

https://pixabay.com/pt/users/kriemer-932379/

Esta história é contada entre o povo San, que vive no deserto do Kalahari, ao sul da África. Quem a contou para mim foi a Emilie Andrade, na abertura da Sexta Candeia - Mostra Internacional de Narração Artística. Ela por sua vez teve contato com essa narrativa por intermédio de um pesquisador estadunidense chamado Michael Meade.

Dizem que certa vez um caçador, cansado de suas caçadas, sedento e esbaforido, parou às margens de um lago para beber àgua. Enquanto saciava sua sede, viu nos reflexos das águas a figura de um enorme pássaro branco. Ao levantar a cabeça, porém, não viu sinal do pássaro. Apenas o céu azul.

O caçador permaneceu no mesmo lugar o dia inteiro, esquecido de retomar a caçada, olhando para cima, na esperança de novamente ver o pássaro branco. Ao fim do dia, retornou para sua casa.

Uma mudança, porém, se operou no caçador. Ele parecia triste e desanimado. Vivia com os olhos no céu. Não saía mais para caçar. As pessoas perguntavam o que ele teria, ao que nada respondia. Até o dia em que um amigo o interpelou. Ele compartilhou que desde que vira de relance o pássaro branco, nada mais queria a não ser vê-lo novamente. O amigo retrucou que ele provavelmente não havia visto pássaro algum, que tudo não havia passado de um lampejo de raio de sol refletido na superfície do lago. Mas caçador tinha certeza do que havia visto.

Depois de alguns dias, o caçador então tomou uma decisão. Largou definitivamente seu ofício, abandonou o local que nasceu e decidiu partir em busca do pássaro. Por onde ele passava, perguntava se as pessoas tinham avistado a ave. A maioria dizia que nunca a tinha visto. Uns poucos dizia ter ouvido falar.

O tempo passou caçador agora estava velho. Até que chegou em um pequeno vilarejo situado no fundo de um vale. Lá ele ouviu pela primeira vez que sim, esse pássaro existia. Era o grande Pássaro da Verdade e vivia na montanha mais alta, do outro lado do vale. 

Imbuído de uma nova energia, o caçador se dirigiu à montanha e começou a escalá-la. Usou toda a sua força para transpor esse obstáculo. Até que sentiu uma emoção nunca antes sentida. Seu corpo todo se comovia. Era um cansaço impossível. O caçador teve então a certeza de que iria morrer.

E num relance ele sentiu o lufar de asas sobre a sua cabeça. Olhou para cima e nada viu além do céu azul, tão azul quanto naquele dia em que ele vira de relance o vulto do Pássaro da Verdade na superfície das águas do lago, tantos anos atrás. Fraco e cansado, o caçador estendeu a mão. 

Então, lá do alto, planando, cálida e pequena, uma pena branca veio descendo lentamente, uma leve pluma, que pousou na mão estendida do caçador. Ele segurou a pena junto de si e, com um sorriso nos lábios, morreu.

Hoje, após transcrever essa história, eu me sinto um pouco como esse caçador. Sinto-me como alguém que encontrou um dia a Beleza e foi por ela transformado de tal maneira que deseja investir a vida inteira em sua busca. E sem se importar se a busca terá sucesso, estando feliz e realizado apenas com o mínimo sinal de que ela, a Beleza, a Verdade, o Sonho, o Ideal, existe.

segunda-feira, novembro 20, 2023

103 Contos de fadas de Angela Carter - Viajando pelo mundo através das histórias


O termo "Contos de fadas" é curioso, pois engloba diversas narrativas que não contam com fada nenhuma. Angela Carter faz um comentário assim no seu livro 103 contos de fadas, publicado pela Companhia das Letras e traduzido por Luciano Vieira Machado. O livro é uma viagem pelas mentes fantasiosas de vários povos, da Rússia ao Sudão. Somos apresentados a narrativas ora absurdas, ora exemplares. Contos morais e anedotas também aparecem no livro.

Fato é que Angela Carter faz um intenso e exaustivo trabalho de pesquisa, cuidando de ler, recolher, organizar e comentar os contos. Por falar nisso, recomendo muito a parte em que estão reunidos os comentários sobre as narrativas, suas fontes, seus aspectos sociais e psicológicos, entre outros elementos que os cercam e compõem.

São narrativas fascinantes. Temos, por exemplo, contos inuítes, em que as questões de gênero são problematizadas. Contos russos, com toda a sua magia. Há também piadas que vieram das regiões montanhosas e agrestes dos Estados Unidos.

Outro ponto que me chamou a atenção é que em muitos contos se mantiveram elementos coloquiais, interjeições presentes na fala, além de frases que entrecortavam a narrativa, como "foi assim" ou "muito bem". Com isso, muitos dos contos não tiveram um certo tratamento textual de cunho literário e se apresentaram o mais próximos o possível de como eram narrados oralmente.

103 contos de fadas me propiciou uma jornada gratificante por várias culturas diferentes. Pude experimentar outras versões de contos mais conhecidos, observar como sociedades muito distantes entre si podem ter narrativas semelhantes.

Por fim, me cativou a profusão de protagonistas mulheres. Poucas foram as vezes que os homens se destacaram. Toda a esperteza, inteligência e graça das mulheres foi demonstrada nesses contos.

Com elementos mágicos e maravilhosos, ora humorísticos e galhofeiros, numa verdadeira jornada pelos 4 cantos do mundo, 103 contos de fadas é um conjunto de narrativas imperdíveis para quem quer se aprofundar nos estudos dos contos tradicionais.


Ficha Técnica

103 contos de fadas

Coleção Listrada

Angela Carter

Tradução de Luciano Vieira Machado

ISBN-13: 9788535910896

ISBN-10: 8535910891

Ano: 2007 

Páginas: 499

Idioma: português

Editora: Companhia das Letras


sexta-feira, fevereiro 10, 2023

sexta-feira, fevereiro 11, 2022

Divertistórias pelos Centros Culturais




O que acha de visitar os Centros Culturais Municipais e aproveitar encontros de contação de histórias para todas as idades? 


Então, vem conferir a agenda do DIVERTISTÓRIAS! Um momento divertido e emocionante com narração de histórias diversas da tradição oral. Medo, humor, aventura e muito mais estarão na apresentação de Samuel Medina, composta por momentos lúdicos e poéticos de promoção da leitura.  


📚 Espia só e vem se divertir com a gente: ⬇ 

Centro Cultural São Geraldo: 12 de fevereiro, sábado, às 15h

Centro Cultural Jardim Guanabara: 17 de fevereiro, quinta-feira, às 15h 

Centro Cultural Vila Fátima: 19 de fevereiro, sábado, às 10h  

Centro Cultural São Bernardo: 24 de fevereiro, quinta-feira, às 15h  


💻 Informações no Portal Belo Horizonte: https://bit.ly/34f1TUk 


↔️ Mantenha o distanciamento⁣

🧼 Lave bem as mãos⁣

😷 Use máscara⁣

🖼️ Mantenha os ambientes arejados ⁣

@prefeiturabh

@portalbelohorizonte ⁣

#prefeiturabh #culturabh #belohorizonte #bhsurpreendente #visitebelohorizonte #livros #literatura #historias #contacaodehistorias #promocaodaleitura 

quinta-feira, julho 15, 2021

Grupo Afeto - Conta Comigo


No próximo sábado, terei o privilégio de participar da laive Conta Comigo, do Grupo Afeto. Será um momento maravilhoso de histórias, brincadeiras e muito Afeto. Venha assistir e prestigiar! Conto com a presença de todes!

Sábado 17/07/2021 às 16h, no Instagram do Grupo Afeto!

sexta-feira, julho 09, 2021

Os 77 Melhores Contos de Grimm - Um voo pela fantasia


É inegável a contribuição que os irmãos Wilhelm e Jacob Grimm deram para o universo da literatura infantil. Com sua obra da extensão de toda uma vida, os dois pesquisadores da tradição oral recolheram diversas preciosidades da oralidade. O resultado de seu trabalho reverbera até hoje. Estando em domínio público, as narrativas contam com inúmeros recontos e adaptações, além de seleções e coleções diversas. Um desses projetos de seleção de contos é a bela obra em dois volumes Os 77 Melhores Contos de Grimm

Trata-se de uma seleção interessante e bem diversificada. São narrativas que falam de sorte, pureza e reviravoltas aventureiras. As abordagens e enredos variam, em algumas, temos a heroína injustiçada que ao final encontra o seu par no príncipe do reino. Outras mostram heróis que partem em busca do destino. Há inclusive aquelas dedicadas aos heróis simples mas bondosos, que acabam sendo agraciados pela sorte. 

Atravessar esse panorama tão diverso de narrativas foi uma jornada prazerosa. Senti falta, porém, de "A Madrinha Morte". Reconheci, contudo, diversos contos, que já havia lido. O reconhecimento é sempre bem-vindo, pois nele há um quê de pertencimento. Quando reconhecemos um conto, é como se reencontrássemos uma migo querido.

Sendo assim, a seleção de Os 77 Melhores Contos de Grimm acaba por trazer uma questão fundamental no universo da leitura e da literatura: a subjetividade. A qualidade de "melhor" para cada um desses 77 contos foi concedida por uma pessoa. Sendo assim, cada uma e cada um de nós pode também decidir e criar sua lista das "melhores histórias". Com isso, a pessoa terá consigo seus contos favoritos, aqueles que elegeu, contribuindo também para o legado dos Grimm com um olhar pessoal e muito próprio.

Esta minha reflexão, contudo, não expressa um incômodo, mas um fato. Sempre temos a liberdade de escolhermos as narrativas que mais nos tocam, que mais conversam conosco. Isso sem, contudo, deixar de aproveitar as escolhas de repertório que as outras pessoas tiveram. Conhecer Os 77 Melhores Contos de Grimm foi uma forma de entender essa maravilhosa obra dos irmãos Grimm por uma lente específica, o que me fez perceber narrativas que talvez ficariam perdidas, não fosse o trabalho dessa primorosa edição da Nova Fronteira.

Com histórias maravilhosas, narrativas humorísticas e contos de exemplo, Os 77 Melhores Contos de Grimm é um rasante maravilhoso por através do trabalho magnífico dos Grimm. É antes de tudo uma homenagem aos dois pesquisadores e um presente a nós, leitores.


Ps: um agradecimento eterno à Áurea Lana Leite, que compartilhou comigo este magnífico trabalho. 


Ficha Técnica:

Os 77 Melhores Contos de Grimm

Irmãos Grimm

Tradução de Íside M. Bonini

Ilustrações de Ramirez

Introdução e organização de Luciana Sandroni

ISBN-13: 9786556400815

ISBN-10: 6556400815

Ano: 2018 

Páginas: 640

Idioma: português

Editora: Nova Fronteira

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/os-77-melhores-contos-de-grimm-793913ed11682267.html

domingo, junho 27, 2021

Era Uma Voz, Salão do Livro e FLI Lagoa

Neste mês de junho, tivemos uma grande riqueza em eventos literários. Aconteceu o Era Uma Voz, realizado pelo Instituto Abrapalavra. O Era Uma Voz teve sua abertura no dia 15 de junho e seguiu até o dia 26 com diversas atividades. Foram oficinas, apresentações e saraus que enriqueceram a rede e tornaram vivas importantes reflexões. A vantagem é que o Era Uma Voz continua vivo, a partir do canal do Abrapalavra, que realizou cada atividade como transmissão ao vivo.



Para quem perdeu essa programação maravilhosa, basta conferir no canal do Abrapalavra no YouTube

Na quinta-feira, dia 24 de junho, teve início o Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais. Realizado pela Câmara Mineira do Livro, o evento traz atividades voltadas ao livro e à leitura literária.



Hoje é o último dia do Salão, mas as transmissões podem ser também conferidas no YouTube da Câmara Mineira do Livro.

Por fim, mas não menos importante, temos um festival acontecendo na cidade vizinha à BH: o Primeiro Festival Literário de Lagoa Santa - FLI LAGOA.


Sei que é muita coisa para assimilar e acompanhar. Como alguém que atua na área do livro e da leitura, senti muito por não ter acompanhado ao vivo muitas dessas transmissões. Porém, ainda dá pra assistir muita coisa. Fica então o convite para todas as pessoas interessadas. Afinal, estes eventos ultrapassam as fronteiras geográficas, por seu caráter virtual. E também contribuem para a memória dos eventos de mediação de leitura, pois estarão presentes na plataforma de vídeos pelo tempo que os realizadores desejarem.

Fica então o meu convite para todes conferirem esses conteúdos maravilhosos em riqueza artística e reflexiva. 

segunda-feira, maio 10, 2021

Duas de Nasrudin que o amigo Mário Alves me contou

Imagem de LoggaWiggler por Pixabay 


O Mário Alves é um contador de histórias incrível. Tem uma fala ponderada, equilibrada e carinhosa. Quando ouvimos o Mário, é como se ele nos desse um presente enquanto nos lança um olhar de gratidão.

Há alguns dias, dividi a tela com Pâmela Bastos Machado, minha companheira, e também com o Mário . Fizemos uma oficina dentro da programação do III ECONTHI - Terceiro Encontro de Contadores de Histórias, da Universidade Federal de Lavras.

Enquanto a gente estava nos encontros preparatórios, começamos a trocar histórias sobre o mulá Nasrudin. Mário então contou a seguinte história:

Nasrudin carregava a fama de ter prodigiosa memória. Querendo pregar uma peça no mulá, um certo conhecido, ao encontrá-lo, perguntou:

- Nasrudin, você gosta de ovo?

- Sim - respondeu o mulá.

O conhecido assentiu e seguiu seu caminho. Um ano depois, o sujeito foi à casa de Nasrudin e bateu à porta. Quando o mulá abriu, o homem lançou de chofre a pergunta:

- Como?

- Cozido - respondeu Nasrudin.

Outra história foi contada alguns dias depois da oficina, ao telefone. 

Nasrudin procurou um médico, reclamando que estava sofrendo de um sério problema de memória.

- E quando foi que você começou a perceber esse problema? - perguntou o médico.

- Que problema, doutor?

Adorei ouvir essas deliciosas anedotas. 

sábado, maio 08, 2021

Leitura Semente - Transmissão de histórias


 Vamos participar desse momento sensacional de leituras e contação de histórias. Algumas colegas da oficina Leitura Semente, ministrada pela Ana Selma Cunha. Será hoje, às 18h. Vamos?

O link da transmissão é este: https://www.youtube.com/watch?v=EuEPwHoUq4o

quinta-feira, maio 06, 2021

Manhã Encantada e a celebração dos 30 anos da BPIJ


A Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH está com 30 anos. Três décadas de histórias, fantasia, livros, atividades, oficinas. Celebrando esse momento tão marcante, uma série de eventos online vão ocorrer. E eu estarei no próximo sábado, dia 8 de maio, em um desses eventos: Manhã Encantada. Estaremos no mesmo quadrado o Wander Ferreira e o Rodrigo Teixeira. Quem vai abrir a transmissão ao vivo será a Ana Paula Cantagalli, gerente da BPIJ.

Assim, fica o convite para quem quiser celebrar com a gente esse momento. Será às 10h, no canal do YouTube da Fundação Municipal de Cultura.



quarta-feira, abril 21, 2021

Participação na Semana do Livro Infantil da Rede Cuca

 

Na próxima quinta-feira, dia 22 de abril de 2021, estarei na Semana do Livro Infantil da Rede Cuca.

às 10h - Apresentação - Uns Heróis Bem Diferentes

às 18h - Oficina Livro-minuto.

Para conferir, basta acessar o canal do YouTube da Rede Cuca (http://youtube.com/JuvTv) ou no perfil do Instagram (https://www.instagram.com/redecucaoficial/)

Vejo vocês lá! 

sexta-feira, abril 09, 2021

A Tartaruga e o Coelho: uma outra história - Quando as diferenças aproximam


Nossa tradição oral é recheada de narrativas de exemplo. Bem no estilo das fábulas, temos histórias que exaltam valores como a paciência, a persistência e a astúcia, em contraponto à força, ao tamanho e à agilidade. Nessas narrativas, o macaco vence a onça, o rato supera o leão, a tartaruga ultrapassa o coelho. É possível perceber nessas histórias sempre uma constante: a concorrência. Os animais sempre aparecem como adversários, concorrentes, inimigos. 

Como uma forma de homenagear o conto popular e ao mesmo convidar leitoras e leitores para a reflexão, a escritora, contadora de histórias e musicista Beatriz Myrrha nos brinda com uma obra de rara beleza, sem abrir mão do humor.

A Tartaruga e o Coelho: uma outra história apresenta uma versão bem diferente daquela tradicionalmente contada. Beatriz Myrrha se vale de toda a criatividade e talento que possui para tecer uma narrativa de solidariedade, empatia e afeto. Ambientada no período em que o Criador fez o mundo, a história fala sobre a busca por identidade e aceitação, de solidariedade e amor. 

Com o objetivo de entender melhor sua função no mundo, o Coelho decide partir em busca da moradia do Criador, de forma a pedir seu manual de instrução e seu certificado. No caminho, encontrará a Tartaruga e com ela empreenderá uma penosa jornada de autoconhecimento.

A história que Beatriz Myrrha conta é profunda, bem-humorada e cheia de leveza. Seu texto, enriquecido pelos anos de experiência como contadora de histórias e musicista, é aconchegante, atrativo e belo. Tem o estilo certo de alguém que trata a Palavra com muita seriedade. 

Destaco também o traço belo e marcante de Suryara Bernardi, que torna o livro uma obra visual de profunda beleza. É possível observar o estilo de um desenho que cativa, com o mesmo aconchego que perpassa o texto. As imagens também contam a história e apresentam uma evolução em cada um dos dois viajantes.

Este é mais um dos maravilhosos trabalhos de Beatriz Myrrha, uma artista múltipla, que mostra no seu texto o cuidado e a generosidade de alguém que trata a Arte da Palavra com todo o cuidado que esta merece.



Ficha Técnica

A Tartaruga e o Coelho: uma outra história

Beatriz Myrrha

Ilustrações de Suryara 

ISBN-13: 9788562805615

ISBN-10: 8562805610

Ano: 2016 

Páginas: 40

Idioma: português

Editora: Rona


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-tartaruga-e-o-coelho-uma-outra-historia-11870677ed11868277.html

quarta-feira, março 17, 2021

Um encontro com o Capeta do Vilarinho


Era um rapaz muito bonito. Seu cabelo crespo era bem curtinho, cortado à máquina. Sua pele negra tinha uma textura fascinante. Ele tinha uma voz ainda em transição, que variava do barítono ao tenor. Tinha um porte físico já proeminente. Um pouco baixo para a idade, reconheço. Mesmo com 15 anos, tinha a minha altura, embora eu fosse 3 anos mais novo.

Naquela noite, ele tinha uma confissão a fazer. Estava no baile em que o Capeta do Vilarinho apareceu. 

Contou que todo mundo parou de dançar quando ele chegou. Ninguém desconfiava que era um ser sobrenatural, é claro, mas atraiu os olhares com sua presença marcante. Até a música parecia ter parado. Ele foi para o centro da pista e começou a dançar.

Ninguém dançou o break como ele. Alguns, mais ousados, arriscaram acompanhar, mas logo desistiram, diante das manobras que ele fazia. O povo tinha voltado a dançar, tentando se distrair, mas logo tiveram que parar, fascinados com o movimento.

Em instantes, a roda estava formada. Todo mundo batia palmas. Era uma festa maior que a festa. Parecia que agora o baile tinha realmente começado. Ele dançou de tudo o que tocava. Mulheres e homens o desejavam. Queriam ser como ele, ser dele.

Nisso, a música parou por uns segundos. Era meia-noite. O dançarino sem querer deixou o boné cair. Ele se abaixou para pegá-lo. Foi quando todo mundo, até quem estava bem longe, viu o par de chifres despontando na cabeça dele. Ergueu-se com um sorriso zombeteiro, dentes pontudos e olhos vermelhos.

Um estouro de fumaça e um fedor de enxofre. Correria, gritos, gente se empurrando. Ninguém queria ficar na quadra coberta, nem mesmo o DJ.

Meu amigo encerrou o relato dizendo que, na noite em que encontrou o Capeta do Vilarinho, decidiu virar evangélico. 

Vinte e cinco anos depois de ouvir essa história, eu me pergunto por onde andará aquele rapaz bonito e reservado que, em um culto em minha casa, revelou ter sido testemunha ocular de uma das maiores lendas urbanas de Belo Horizonte. 


sexta-feira, fevereiro 19, 2021

As Mil e Uma Noites - Uma jornada de escuta e afeto



O afeto é algo poderoso. Desde o início desse distanciamento forçado, em que não nos foi possível realizar atividades presenciais, estivemos cultivando nossas relações através das conexões eletrônicas. Encerrados em nossas residências, por dias a fio sem colocar o pé fora de casa, passamos a usar as mídias sociais como forma de manter muitas de nossas relações interpessoais. 

Uma dessas iniciativas foi o grupo da Roda de Leitura da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH. Iniciativa do amigo Wander Ferreira, bibliotecário na BPIJ, os encontros virtuais começaram a acontecer semanalmente. Foi em um desses encontros que soube de uma preciosidade. Em um gesto de grande carinho e compromisso, minha amiga Áurea Lana Leite começou a ler As Mil e Uma Noites, na versão de Antoine Galland, para algumas pessoas, entre elas o próprio Wander e outra amiga, a Kátia Mourão. Ao ficar sabendo dessa notícia, pedi para participar.

Foi assim que teve início minha jornada por essa visão ocidentalizada de uma saga oriental. Digo isso porque Galland, renomado orientalista, fez uma tradução adaptada da obra islâmica, fazendo várias interferências no texto, que considerou violento e de moralidade questionável. Contudo, muito da beleza presente na obra original permaneceu na versão de Galland e foi por esses textos que eu viajei, através da voz da amiga Áurea.

Antes de tudo, preciso comentar da qualidade da voz da leitora. A cadência, o tom, o ar tranquilo, esses elementos auxiliaram na imersão da narrativa. Áurea foi uma narradora ímpar, como excelente contadora de histórias que é. Foi fundamental que a serenidade de sua voz fosse transmitida a nós, ouvintes. Senti-me acolhido por essa leitura. E não apenas isso. A cada novo dia, recebendo um novo áudio, percebia nesse gesto um enorme cuidado. 

E pela voz da Áurea pude literalmente viajar para longe do meu apartamento. Estive em vários pontos do oriente, desde a Bagdá de Haroun Al-Rachid, até os confins do mundo, em lugares mágicos e oníricos. Nessas histórias, pessoas comuns se misturavam a princesas e príncipes. A partir da narrativa de traição da antiga esposa de Shariar, Sherazade foi tecendo relatos de injustiças, jornadas de redenção, buscas pela riqueza e revezes do destino. 

Em um curso que fiz com a mestra Gislayne Matos, aprendi que Sherazade atua como uma grande mentora de Shariar, usando os contos como alegorias para que ele perceba a própria impiedade. E com esses olhos fui observando que de fato muitas mulheres são injustiçadas ao longo de tantas narrativas. E muitas delas reagem a essa injustiça com inteligência e habilidade. Assim, vamos aprendendo com as inúmeras personagens, com seus erros e acertos, sua humanidade.

Foram mais de 300 noites ouvindo com Áurea sobre tantas vidas e mortes. Alguém pode perguntar por que não foram 1001, como o título da obra anuncia. Em determinado momento, as noites pararam de ser contadas no texto. Assim, Áurea continuou a ler, contando as noites da leitura, desvinculadas das noites da narrativa. 

Algo que me incomodou bastante foi a visão pejorativa que o texto carrega contra África e o povo negro. São comentários que sempre colocam as pessoas negras em lugar de vilãs ou escravizadas. Ainda que seja reflexo de uma época e cultura, é importante problematizarmos essa faceta grave de um texto tão seminal.

Com diversas e maravilhosas histórias, As Mil e Uma Noites foi uma narrativa que me fez muito bem em um momento em que eu me sentia assustado e temeroso. A incerteza do mundo, as perversidades do presidente, as mortes sem sentido, tudo isso foi mitigado. Através da voz da Áurea, sentia-me acolhido e fui capaz de sonhar.


Ficha Técnica

As Mil e Uma Noites

Antoine Galland

ISBN-13: 9788520936870

ISBN-10: 8520936873

Ano: 2015 

Páginas: 1120

Idioma: português

Editora: Nova Fronteira


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/as-mil-e-uma-noites-445456ed504724.html

sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Histórias com Café - Aroma e sabor ao pé do ouvido


Quem é mineiro não dispensa um bom café. Aqui, nas terras de Minas, uma visita é sempre recebida com um cafezinho e, de preferência, acompanhado de um pão de queijo ou uma broa de fubá. Evidentemente, a combinação é mais que propícia para estimular uma boa prosa.

Foi nesse espírito que as contadoras de histórias Aline Cântia e Bárbara Amaral criaram o podcast "Histórias com Café". Surgido em 2020, no contexto adverso de distanciamentos forçados, isolamentos físicos e muito medo, veio como um respiro em meio a tanta angústia. As duas amigas se uniram para cultivar a Arte da Palavra com o que ela pode trazer de melhor: fazer sonhar e, ao mesmo tempo, refletir. A concepção contou também com a contribuição de Isabel Miranda. A produção é por conta do Chicó do Céu. 

Confesso que fui cativado por esse projeto mesmo antes de sua estreia. Em conversas com Aline e Bárbara, ao ser informado da iniciativa, fiquei logo ansioso para escutar. Afinal, há anos acompanho o trabalho delas. Tenho, inclusive, o privilégio de participar, com elas, do Coletivo Narradores. 

Muito se engana quem imaginar que apenas pela via do afeto e da familiaridade me tornei ouvinte desse podcast. Realmente, sou fã incondicional tanto da Aline quanto da Bárbara. Porém, ao acompanhar cada episódio que ia ao ar às terças-feiras, fiz um percurso pessoal de aprendizado e reflexão. Temas como o tempo, a solidão, o sagrado, o sonho, entre outros igualmente relevantes, são desfiados e analisados com muita sensibilidade. Cada episódio traz uma história que se liga ao tema de forma íntima, profunda e saborosa. O repertório atravessa diversas tradições e culturas, tendo como fonte figuras ilustres como Clarissa Pinkola Estés e Malba Tahan.

É importante ressaltar que em diversos episódios foram convidadas pessoas que enriqueceram ainda mais cada episódio, compartilhando histórias envolventes e refletindo sobre as mesmas. Também ressalto que a equipe de apoio desse projeto realiza um trabalho primoroso no aspecto técnico, com trilha sonora, identidade visual e divulgação nas mídias sociais.

Em 2020 foram 17 episódios. Se contarmos uma transmissão ao vivo pelo Instagram, chegaremos a 18 episódios repletos de sabedoria, afetos e muito, muito café. Nesta semana, dia 9 de fevereiro, tivemos o primeiro episódio de 2021, com o título Sobre Receber. A equipe cresceu, agora contando com as presenças de Ana Fonseca e Paula Libéria. E ao abordar esse tema tão importante, nossas amigas fazem questão de que as ouvintes a receber o que há de melhor em matéria de sensibilidade, cuidado e escuta.

Para escutar no Spotify:

https://open.spotify.com/show/3XyW13FNgxv5k8XEPxz0R7

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