quarta-feira, abril 29, 2020

A biblioteca, as leituras de afeto e a oportunidade de escolha

Bruna e Sophia são crianças que por cerca de dois anos visitaram a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, onde trabalhei. Levadas por suas mães aos sábados, em geral mensalmente, essas meninas faziam questão que eu acompanhasse suas escolhas e que lesse para elas. 

Durante esse período, fizemos várias descobertas de bons livros. Alguns eu oferecia para ler, mas elas logo rejeitavam. Outros, pediam para que eu interrompesse a leitura pela metade. Havia aqueles, porém, que as encantavam a ponto de pedirem que fossem lidos novamente. 

Tanto a mãe de Sophia quanto a de Bruna são leitoras. Elas trocavam comigo suas experiências de leitura, o que tornava mais rica a mediação com as crianças. Além disso, ambas levavam muitos livros para casa, depois de longa exploração do acervo.

Sophia costumava exigir total dedicação. Já Bruna aceitava dividir minha atenção com outras crianças. Havia momentos em que elas participavam de oficinas literárias ou narrações de histórias. Contudo, a maior parte de nossas interações acontecia em leituras que eu fazia para elas, a partir de livros que escolhiam entre os exemplares disponíveis no acervo.

Foi fundamental o compromisso que as mães de Bruna e Sophia assumiram com a leitura e com a visitação à biblioteca. Mais ainda, elas deram às filhas, na mais tenra idade, o direito de escolher suas leituras. Esse protagonismo foi assumido pelas crianças com muita propriedade e consciência.

Existem muitas outras crianças, bem como suas mães e seus pais, que dão vida aos sábados da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Assim como há inúmeras crianças e suas famílias que frequentam as 22 bibliotecas culturais de Belo Horizonte e tantas outras bibliotecas, espalhadas pelo país. Porém, decidi registrar aqui essas experiências com as duas meninas e suas mães pelo exemplo que elas são, de afetividade, de compromisso, de busca pelo prazer da literatura e pela silenciosa mensagem de que a Biblioteca é um lugar de muitos encontros.

segunda-feira, abril 27, 2020

O objeto de nosso desejo

Muito se pode dizer sobre o livro. Existem conceituações práticas e outras mais românticas. Os mais pragmáticos podem apenas afirmar que o livro é um objeto que serve para armazenar informações. Já os românticos vão chamá-lo de "janela para outros mundos", "objeto que nos faz viajar sem sair do lugar", entre outras definições ufanistas. 

Nenhuma delas, porém, vai abarcar todas as dimensões do livro. Sim, trata-se de um objeto de múltiplas dimensões. O livro é, antes de tudo, um lugar de muitos lugares. Um espaço de muitos espaços. Não foi à toa que o escritor Jorge Luis passou sua vida inteira perseguindo a ideia do livro e da biblioteca, explorando suas infindáveis facetas, buscando ultrapassar seus limiares.

O livro é um objeto de aprendizado. Ao afirmar isso, não quero dizer que ele deva servir para o aprendizado, ou que ele deva servir para algo. Como um objeto sólido, ele pode servir para muita coisa: pode impedir que um monte de papéis sejam levados pelo vento. Pode segurar uma porta. Pode até servir como projétil a ser arremessado contra uma testa incauta. E pode, inclusive, servir para nada.

Como disse anteriormente, o livro tem múltiplas dimensões. Trata-se de um artefato cultural. Em si ele encerra milênios de história humana. Ele evoluiu, mudou ao longo dos séculos. Não é à toa que os objetos mais importantes das duas maiores religiões do mundo sejam justamente livros.

Portanto, o livro atrai para si um fascínio único. Posso arriscar sem errar muito que ele é um dos poucos artefatos que reúnem em si o espírito da memória humana. É um objeto interativo, feito para ser manuseado, explorado, descoberto. Sendo assim,  ele estimula a sensibilidade de seus leitores. Basta dar um livro a uma criança para observar como ela se ocupará por um bom tempo apenas em manuseá-lo de várias maneiras, experimentando qual seria a forma correta de lidar com esse objeto misterioso. 

Através dessa interação, o leitor tem como refletir sobre o tempo, a memória, os sentidos. O livro é um objeto navegável, pois nele podemos ir para frente e para trás, podemos pular páginas, retornar em algum trecho que nos tenha chamado atenção. 

Esse aspecto interativo do objeto livro foi evocado por mim anteriormente. Porém, sou tão fascinado com tal poder de interação que não me canso de evocá-lo. Perder-me em páginas de um livro, apenas para folheá-lo, ainda é algo muito recorrente para mim.

Alegoria do próprio conceito humano de tempo, cada livro nos permite construir uma relação pessoal e específica com ele. Assim como cada pessoa é única, sua relação com cada livro também o será, seja de forma consciente ou não. Esta relação pode então se expandir, crescer, transformando no livro em uma ideia que ultrapassa suas dimensões físicas. 

E assim o livro se torna um outro lugar. Um jardim secreto, um esconderijo para além do tempo, o lugar onde se revela e se esconde o nosso desejo.

domingo, abril 26, 2020

Vídeo: Xarope de cores - Anna Göbel

Um xarope de cores para aqueles dias jururus. Um remédio para a alma, para o coração, buscado no próprio arco-íris. Essa é a história deste livro, que também é uma receita.

Ficha Técnica 
XAROPE DE CORES
Anna Gobel
ISBN-13: 9788586740893
ISBN-10: 8586740896
Ano: 2012 
Páginas: 32
Idioma: português
Editora: Compor

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/587801ED588568

sexta-feira, abril 24, 2020

As aventuras de Ana Clara - O encanto que se revela na saudade

Esta é uma resenha de afeto. Uma homenagem, um relato de um precioso achado. Uma declaração de amor.

Conheci As aventuras de Ana Clara há cerca de 9 anos, durante o Salão do Livro Infantil e Juvenil. Estava a trabalho no estande da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, montado como um ponto de leitura. Nos expositores havia algumas centenas de livros novos, comprados pelo projeto Belo Horizonte Cidade Leitora. 

Eu dividia o estande com o Rodrigo Teixeira. Com o objetivo de tornar meu turno mais proveitoso, comecei a explorar os livros. Eram todos recém-comprados e muitos eu não conhecia. Rodrigo se aproximou com um exemplar de As aventuras de Ana Clara. Senti um interesse imediato. Adoro aventuras.

Assim que comecei a ler, já fui tomado por uma forte emoção. Comecei a chorar no meio do estande, em pleno evento, enquanto conhecia a história de um amor que se esvai até desaparecer. 

Descobri que o livro escrito por Luísa Nóbrega e desenhado por Deyson Gilbert é uma ode à simplicidade da vida e da grande sabedoria escondida nas pequenas coisas.

O texto de Luísa Nóbrega carrega um ar de despretensiosa simplicidade. Em tom de confissão, a narradora vai nos relatando com uma linguagem direta três episódios que carregam em seus silêncios muito de poesia. E o traço de Deyson Gilbert reforça esse tom, com cores suaves que lembram fotografias antigas e linhas tênues, evocando memórias evanescentes.

Mesmo depois de tantos anos, ainda sou tomado pela emoção quando meus dedos passam as páginas desse livro. A voz sai embargada, quase sumida, como se fosse quase impossível oralizar algo que se segreda no silêncio. Como se fosse tomado por uma profunda e irreparável saudade por tudo o que não vivi e, ao mesmo tempo, todos experimentamos juntos.

* Serei eternamente grato ao Rodrigo Teixeira por ter me apresentado esse livro. E também por ter me dado um exemplar de presente. Amo você, cara!

Ficha Técnica

As Aventuras De Ana Clara
Série girassol
Luísa Nóbrega
Deyson Gilbert
ISBN-13: 9788516066499
ISBN-10: 8516066495
Ano: 2010
Páginas: 48
Idioma: português
Editora: Moderna

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/176505ED196669

quarta-feira, abril 22, 2020

Sobre os lugares da palavra e do corpo na mediação da leitura com crianças pequenas

Já mencionei aqui que participei do curso Infâncias e Leituras. Foi um momento de rico aprendizado, de reflexão sobre o meu fazer e os ideais que o impulsionam. Assim, um dos desafios propostos pelo curso foi pensar sobre a relação entre palavra e corpo na mediação de leitura, seus atravessamentos e transversalidades. Sendo assim, fomos convidados a pensar nesse encontro a partir do conceito de lugar. Reuni aqui as reflexões que foram estimuladas a partir do questionamento do curso.

Lugar é uma palavra interessante. Diferente de espaço ou mesmo território, ela atrai para si um sentido de subjetividade. No caso desta reflexão, não estamos falando de lugar físico, mas simbólico. Sendo assim, quando falo de palavra e de corpo, quais sentidos eles evocam quando penso especificamente da mediação de leitura?

Na minha experiência como mediador, a palavra e os livros são elemento fundamental para serem inseridos no cotidiano das crianças. E quando falo palavra, refiro-me também à oralidade, com as brincadeiras com os sons, com o silêncio, com o ritmo entre eles. Sempre fui um brincante com as palavras, invertendo-as, mudando as sílabas de lugar, inventando novas, explorando suas possibilidades cômicas a partir de trocadilhos e piadas. Assim, busco sempre uma conexão com as crianças pequenas a partir das possibilidades lúdicas que a palavra traz.

O corpo, para mim, já é um desafio. Mais recentemente, tenho descoberto a importância da memória corporal e da exploração sensorial para a construção de sentidos. Assim, trata-se de um desafio trazer o corpo para minha prática como mediador de leitura.

Sabemos que as crianças aprendem com todo o corpo. O desenvolvimento da criança se dá de forma sinestésica, a partir da exploração sensorial do mundo. Ainda mais quando estamos falando de crianças pequenas. Ao ter contato com um objeto, o primeiro impulso da criança é levá-lo à boca. E não apenas isso. Ela irá sacudi-lo, para tentar extrair do objeto algum som. Irá manuseá-lo de várias formas. A criança pequena é acima de tudo uma exploradora.

Em 2019, tive dois momentos que me fizeram refletir profundamente sobre o papel do corpo na construção da memória e dos sentidos. Em minha trajetória, busquei sempre privilegiar a palavra, escrita e falada. Porém, pouca ou nenhuma importância dava para o corpo em meu trabalho como mediador. O primeiro encontro que me fez repensar minha posição foi com a pesquisadora Lydia Hortélio, no dia 23 de setembro, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Outro encontro foi no dia 2 de outubro, com a artista Lenna Bahule, na Terceira Candeia: Mostra Internacional de Narração Artística. Em uma noite poderosa e transformadora, aprendi o poder da memória corporal como expressão da ancestralidade.

Assim, de encontro em encontro, vou inaugurando novos lugares para o corpo e para a voz. Vou reaprendendo a ser criança, a observar e conhecer meu próprio corpo, minha própria memória. E desta forma vou me redescobrindo mediador. Muitos são os desafios, ainda. Porém, desafios que mais me estimulam que amedrontam. É maravilhosoUm mundo inteiro para aprender.

segunda-feira, abril 20, 2020

As bebetecas

No final de 2019 e início de 2020, estive participando do curso à distância de curta duração Infâncias e Leituras, promovido pela parceria entre o  Polo Itaú Social e o Laboratório Emília de Formação. Durante o curso, fomos instigados a refletir sobre diversos temas afins. Dentre eles, as bebetecas. Confesso que me senti especialmente desafiado, apesar de minha experiência de 10 anos de atuação como mediador de leitura para a infância. Afinal, o que seria uma bebeteca? Como ela se constitui? Quais são suas premissas e valores?

As bebetecas ainda são um conceito novo. Afinal, existe um senso comum que pressupõe que um bebê, por não saber ler, não seria um potencial leitor. Ainda que no meio acadêmico que pesquisa a infância e seus atravessamentos já exista uma fortuna crítica sobre o tema, a sociedade como um todo ainda carrega diversos preconceitos sobre os bebês e suas necessidades.

Uma das maiores referências no incentivo à leitura na primeira infância, Yolanda Reyes destaca, com muita propriedade, a necessidade de apresentarmos a palavra aos bebês quando estes ainda estão no ventre materno. Conversar com o bebê ou ler para ele durante a gestação não é um gesto vazio de sentido. O pequeno ser em formação dentro da barriga da mãe já se relaciona com o mundo externo através do corpo dentro do qual ele se desenvolve.

É importante observar também que o bebê é uma pessoa em franco desenvolvimento. Reyes, em seu livro A Casa Imaginária: leitura e literatura na primeira infância, aponta pesquisas que indicam que na primeira infância, as crianças apresentam um enorme potencial cognitivo, devido à enorme neuroplasticidade. Ou seja, o cérebro da criança, até seus seis anos de idade, está construindo sua rede sináptica e por isso sua capacidade de adaptação é enorme. E basta apenas observarmos uma criança para perceber o enorme avanço que é crescer. Até os 5 anos, a criança aprende uma enorme quantidade de habilidades, sejam elas motoras, cognitivas ou linguísticas. Não é à toa que uma criança tem muito mais facilidade de aprender um novo idioma que um adulto.

Portanto, nada mais natural que oferecer livros para os bebês, para que os mesmos possam adquirir maior familiaridade com esse objeto. Yolanda Reyes inclusive defende que não devemos temer que a criança rasgue ou morda o livro. Sua relação com o mundo é extremamente sensorial. Aprendendo com os sentidos, a criança se integra ao universo ao seu redor. Por ser extremamente explorador, o bebê irá manusear o livro à vontade, até se familiarizar com o mesmo.

Nesse ponto, acredito que é importante destacarmos o caráter interativo que o livro tem. É um objeto altamente manuseável, encerrando em si mesmo a metáfora do tempo. Com um livro em mãos, a criança observa o passar das páginas e vai percebendo naturalmente que existe uma sequência e que esta pode inclusive ser subvertida. Ao ler, avançamos as páginas, mas podemos muito bem retornar, ou seja, simbolicamente nós voltamos no tempo ao voltarmos as páginas.

Outro ponto importante a ser destacado é que os bebês aprendem pela imitação. Ao observar os adultos e crianças mais velhas lendo, eles também demonstrarão vontade de segurar um livro, passar as páginas e "ler", mesmo quando ainda não estão alfabetizados. E tal brincadeira irá se repetir inúmeras vezes. 

Assim sendo, é fundamental inserir os bebês no universo letrado. E não estou falando de uma alfabetização precoce. Apenas estou apontando que os livros não devem ser poupados aos bebês, bem como as leituras em voz alta, seja de narrativas, seja de poemas. A poesia, por ter musicalidade e ritmo, é uma fonte rica de aprendizado para os bebês. E livros, muitos livros.

A criação de bebetecas ainda é um grande desafio. Trabalhei por anos na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Nela, pude constatar como atendemos ainda de forma muito precária os bebês e suas famílias. Por exemplo, além de acervo e mediadores, precisamos ter estrutura física para melhor atender esse público, como fraldários, espaço família, mobiliário adequado, entre outros elementos fundamentais.

Além disso, a produção literária para bebês ainda é escassa, se compararmos a outros segmentos literários. Carecemos de mais livros, fora do aspecto paradidático. Precisamos de livros que busquem explorar de forma criativa, sensível e inteligente o universo da primeira infância.

A carência, porém, esconde também uma enorme potencialidade. Há todo um universo a ser explorado, na escrita, na ilustração, no projeto gráfico, na pesquisa de novos materiais que sejam amigáveis aos bebês. A materialidade na primeira infância é fundamental. Nada de telas e suas barreiras de vidros. Os diversos materiais que podem compor um livro, as texturas, as superfícies, os cheiros e sabores são verdadeiros parques sinestésicos. E não é só isso. A primeira infância nos convida à criatividade, a romper os parâmetros da linguagem. E nos convida também a dialogar com o passado, com a tradição oral e suas cantigas, parlendas, trava-línguas e quadrinhas.

Que nós, mediadoras e mediadores possamos entender a enorme responsabilidade que temos. Que possamos entender que somos convidadas e convidados a oferecer o que há de melhor para a primeira infância. O desafio é também uma chamada à aventura, à experimentação. As bebetecas devem oferecer o que há de melhor. E com as pessoas mais bem preparadas profissionalmente, além dos melhores e mais seguros móveis. Sem nos esquecermos dos melhores livros. Os bebês merecem isso.


Para conhecer mais sobre o Polo Itaú Social, basta clicar em http://www.polo.org.br.

Recomendo também acessar o site da Revista Emília (https://revistaemilia.com.br/).

domingo, abril 19, 2020

Vídeo: A Pirilampéia e os dois meninos de Tatipurum - Joel Rufino dos Santos e Walter Ono


Quem está pra cima? E quem está pra baixo? Essa é a grande discussão entre dois garotos, cada um morando de um lado do planeta de Tatipurum. Para resolver a desavença e encerrar a questão, só com a Pirilampéia. Mas como? Veja e descubra!

Ficha Técnica 
A Pirilampéia e os dois meninos de Tatipurum 
Joel Rufino dos Santos 
Ilustrações de Walter Ono
Ano: 1992
Páginas: 32
Editora Ática

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-pirilampeia-e-os-dois-meninos-de-tatipurum-221987ed248463.html

sexta-feira, abril 17, 2020

Crespim - Quando os anjos também sabem batucar

Crespim é um anjinho muito diferente. Ele não curte ficar de bobeira, tocando harpa ou trombeta. Seus talentos são mais voltados para os instrumentos de percussão. Além disso, seu visual difere dos anjos europeus - ele é um anjo com um cabelo volumoso, sarará. E sua alegria combina totalmente com as raízes africanas que compõem o povo brasileiro. Sua madrinha, que é meio anjo meio fada, passa aperto com o anjinho mas também se diverte.

Esse é apenas o começo de Crespim, de Jussara Santos. Escrita com leveza, humor e muito ritmo, a história desse anjinho é também uma história de amor, do encontro entre Amélia e João, um casal de jovens apaixonados. Para além de seu papel de anjo da guarda, Crespim faz vezes de cupido, selando assim um amor que também é abençoado pelos céus.

O texto de Jussara Santos é repleto de poesia. Suas rimas saem do lugar-comum e por vezes lançam mão do nonsense como recurso de humor. A alegria e a jovialidade estão presentes a todo momento, seja no jeito espevitado e bagunceiro de Crespim, seja no amor atrapalhado de João, que mistura olhares e cores ao se encontrar com Amélia.

Os desenhos de Vivien Gonzaga apresentam formas e cores que dialogam muito bem com o texto. As imagens de Crespim transmitem graça. Carlota, sua madrinha, transmite uma mistura de autoridade e afeto. Já o casal Amélia e João é retratado com o típico ar que passeia entre a inocência e a vontade.

Assim, o livro Crespim, com seu humor e seu romantismo juvenil, com sua alegria e os batuques do protagonista, mostra logo a que vem, destinando-se a crianças de todas as idades. E mostra que o Amor é a força que impulsiona todos nós.

Ficha Técnica
Crespim
Jussara Santos
Vivien Gonzaga (desenhos)
ISBN-13: 9788563612106
ISBN-10: 8563612107
Ano: 2013 
Páginas: 36
Idioma: português
Editora: Impressões de Minas


 Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/1159411ED1160200

quarta-feira, abril 15, 2020

Reflexões sobre leitores e leituras

Trabalho ativamente como mediador de leitura há quase dez anos. Existem duas dimensões quando falamos dessa mediação. A primeira, é a dimensão prática, o trabalho diário com os leitores. Já a segunda é a dimensão reflexiva. Pensar nossa atuação como mediadores é fundamental para o desenvolvimento de estratégias cada vez mais eficazes. 

Dessa forma, é importante refletir sobre o objeto de nossa atuação. O que a leitura representa para nós? Existe a conceituação acadêmica, mas para mim, a leitura também atravessa aspectos afetivos e identitários. Pensar a leitura também significa pensar em quem sou como pessoa.

Leitura vai muito além de decifrar um texto escrito. Há uma extensa discussão conceitual sobre isso. A meu ver, a leitura é a produção de sentido através da inferência e da interpretação de um texto, relacionando seus sentidos com a bagagem de conhecimento do leitor. 

Sendo assim, cada leitura é única, pois cada leitor também o é. Além disso, um texto pode ser uma sequência de sinais gráficos ou uma tela de cinema, ou uma melodia. Desta maneira, quanto maior nossa bagagem de conhecimento, maior a variedade de ferramentas para enriquecer os sentidos que produzimos ao ler.

É importante que cada leitor valorize e respeite sua trajetória pessoal. O pertencimento e a familiaridade são muito importantes para a construção de um ambiente rico de possibilidades. Acredito que cada experiência e trajetória são valiosas na composição de cada sujeito leitor. As memórias de infância e sua relação com a fabulação propiciam uma disposição para a leitura e para a experimentação de novas narrativas.

Como dito anteriormente, cada leitura é única. Ler um texto novamente se torna uma experiência diferente da leitura acontecida em sua primeira vez. A diversidade de leitores também proporciona a diversidade de leituras. Diante disso, cada mediador precisa manter uma postura de escuta ativa e acolhimento.

Como disse Antônio Cândido, todo ser humano necessita de fabulação. A leitura literária permite esse fenômeno, assim como outras linguagens artísticas. Na literatura, porém, o foro é mais íntimo. A imaginação é estimulada ao máximo. Na leitura literária, o leitor não apenas adquire vocabulário e conhecimento. Ele adquire experiência sinestésica e cultiva a empatia pela diferença.

Ainda parafraseando Antônio Cândido, se a literatura é uma necessidade básica, ela também é um direito inerente ao ser humano. Garantir a cada pessoa o acesso ao universo literário é garantir um mundo um pouco mais justo.

Por fim, o mediador precisa se apresentar como alguém acessível, empático, disposto a aprender com seu público, a construir junto uma trajetória de leitura. Ao mesmo tempo, ele precisa se comprometer com a pesquisa, com a busca por novos horizontes literários, de forma a apresentar ainda mais possibilidades a cada um de seus leitores.

Atualização de 25/04/2020 - Caso alguém tenha ficado em dúvida quanto ao termo "leitura literária", esclareço que se trata da leitura para além de seu aspecto puramente pragmático, não se resumindo apenas à decodificação de sinais linguísticos, mas também  um exercício estético de apreciação da literatura, devaneio da imaginação e da fruição poética.

segunda-feira, abril 13, 2020

Os melhores japoneses do Brasil

Fonte: Mangá Gantz, de Oku Hiroya
Nunca imaginei que um dia concordaria com o Reinaldo Azevedo. Usando de ironia, o cronista publicou um texto em que rotula Jair Bolsonaro e Alexandre Garcia "pais e maridos e japoneses exemplares".

A piada surgiu a partir de um trecho de uma palestra de Alexandre Garcia, onde ele propunha a "troca" da população do Brasil pela do Japão. Segundo a "teoria" do jornalista, nosso país levaria no máximo dez anos para se tornar uma potência. Tal vídeo foi compartilhado pelo presidente e causou mal estar mas redes sociais.

Não foi a primeira vez (e talvez não seja a última) que Garcia usou sua posição privilegiada para espalhar seu preconceito como se o mesmo fosse uma lei universal. Como muitos "pensadores" do Brasil, Alexandre Garcia representa a voz de uma parcela conservadora da sociedade. Um grupo que sempre dispôs de poder e hegemonia, que desde o período colonial usa de violência física e simbólica para silenciar qualquer tipo de pensamento contrário, qualquer tentativa de questionar o status quo.

Tal declaração de Garcia, inclusive, vai de encontro a uma pérola de Jair Bolsonaro. O político teria dito que nunca viu japonês pedir esmola, em uma declaração que despreza a realidade de um país que desconhece, bem como reforça um preconceito profundo contra o próprio brasileiro, em especial aquele em situação de rua.

Por vezes eu me pergunto por que pessoas como Bolsonaro e Garcia desprezam tanto o provo brasileiro. Porém, creio que todos sabemos a resposta e ela é por demais hedionda, abjeta, nojenta, para ser verbalizada.

Para alguém como eu, que há mais de vinte anos assiste animes e lê mangás, expoentes da cultura pop japonesa, Bolsonaro facilmente se assemelha à figura do valentão enorme e malvado, aquele vilão primário, que não tem um pingo de profundidade ou misericórdia, usando sua força para intimidar por prazer. Já Garcia corresponde à figura do típico bajulador, que anda às voltas desse vilão, para ganhar vantagens.

Pouco sabem os dois que nas narrativas dos mangás, os heróis existem para proteger os mais fracos, para cuidar de quem precisa, para estender a mão e buscar o entendimento. Os mais icônicos heróis de mangás são órfãos, vivem na pobreza e lutam contra o preconceito. 

Encerro este texto me lembrando de Gantz, um mangá que foi adaptado para anime no início dos anos 2000. A narrativa tem início quando o herói e seu amigo de infância saltam em uma linha de metrô para salvar um mendigo que, bêbado, acabou caindo e corre perigo de ser atropelado pelo trem. Enquanto os dois jovens se colocam nessa situação perigosa, várias pessoas apenas assistem, algumas até mesmo com celulares, para filmar o atropelamento iminente.

Acredito que Jair Bolsonaro e Alexandre Garcia, em uma situação como essa, ficariam só assistindo, como bons japoneses que acreditam ser.

domingo, abril 12, 2020

Vídeo: Crespim - Jussara Santos e Vivien Gonzaga

Crespim é um anjo diferente. Não quer tocar harpa ou trombeta. Quer tocar percussão. Assim, ele apronta a maior confusão. Seu desafio é unir um amor meio atrapalhado. Ele conseguirá? Vamos descobrir!



Ficha Técnica 
Crespim
Jussara Santos  
Desenhos de Vivien Gonzaga 
Editora Impressões de Minas

sexta-feira, abril 10, 2020

Tatu-balão - Uma amizade que transforma

Um sonho inalcançável. Ou era o que parecia. Afinal, como poderia um tatu-bola voar, virar pássaro, ou nuvem, ou folha ao vento? Tornar-se um ser diáfano, leve, qual pluma? 

Todo o dia a história era a mesma: O pequeno Tatu-bola subia um alto morro e pulava, para alcançar o azul. Porém, como era de se esperar, o teimoso animal descia a ribanceira rolando, a despeito de suas tentativas de alçar voo.

Assim começa a narrativa poética e bem-humorada de Tatu-balão. Escrito por Sônia Barros e ilustrado por Simone Matias, este livro da editora Aletria conta uma história um tanto incomum. A exemplo do sapo e da tartaruga que desejam ir à festa no Céu, o sonhador Tatu-bola tenta, obstinadamente, alcançar o que lhe parece inalcançável. Apesar das quedas, o protagonista não desiste. E essa persistência o fará encontrar alguém que mudará para sempre sua vida.

Narrado em versos, num ritmo cadenciado e bem estruturado, o texto convida ao encantamento e ao jogo através das rimas. A obra apresenta desenhos de uma delicadeza e sensibilidade, com cores suaves que lembram um céu claro, com nuvens ao entardecer. Desta forma, os desenhos vão de encontro com a beleza do texto poético.

É importante ressaltar que Sônia Barros recebeu Prêmio Paraná de Literatura nos anos de 2014 e 2017. Seu apuro com as palavras e com a linguagem é reconhecido e sua contribuição à literatura alcança todas as idades.

Com graça e balanço, repleto de traços harmoniosos, de uma beleza suave, Tatu-balão é uma obra que ressalta o poder do sonhe e da amizade para transformar o mundo.

Ficha Técnica:
Tatu-balão
Sônia Barros
Simone Matias
ISBN-13: 9788561167783
ISBN-10: 8561167785
Ano: 2015 
Páginas: 36
Idioma: português
Editora: Aletria


quarta-feira, abril 08, 2020

Quando as trevas fazem vez de luz

Imagem: Mikhail Timofeev
Sempre evito fazer referências bíblicas. Coisa do meu passado, de experiências ruins com o horror que sentia quando eu via uma pessoa falar de amor ao próximo e declarar, logo em seguida, que deus deveria "pesar a mão" contra alguém que não fosse cristão evangélico.

Evito referências bíblicas porque sei como elas podem ser usadas para oprimir, discriminar, massacrar, justificar o injustificável. Porém, algumas vezes sou surpreendido com absurdos tão grandes que acabo recorrendo à própria bíblia para tentar refletir um pouco.

O atual presidente se diz cristão. Declara que o Brasil é um país cristão. Costuma falar de deus a cada pronunciamento que faz. E assim continua a vender sua imagem de representante do povo cristão no Brasil.

Então, paro sou levado a refletir sobre as palavras e ações de Bolsonaro e concluo que as coisas estão no mínimo deslocadas. Para não dizer o pior.

No evangelho de Mateus, no capítulo 6, Jesus começa o famoso Sermão da Montanha. E em dado momento ele declara: "se a luz que há em ti forem trevas, quão grandes serão essas trevas!"

Não sou um estudioso da Bíblia. Fazem anos que não a consulto, mas fiquei inculcado com esse trecho, que me veio depois de ouvir um presidente falar que uma pandemia que já matou milhares de pessoas ser "uma gripezinha" e que o cuidado que as pessoas estão tendo não passa de "histeria".

E me recordo de outras coisas que o sujeito disse ao longo de sua carreira política. Uma de suas primeiras polêmicas foi colocar na mesma frase as palavras "estupro" e "merece". Uma frase claramente ofensiva, sobre a qual nem vale discutir aqui. Só vou argumentar que a frase dele faz tanto sentido quanto dizer: "só não como cocô porque não é doce."

Essa não foi a única frase cruel e criminosa de tantas. Nem vale elencar todas aqui. Destaco apenas aquelas que me causaram profundo nojo. Ele disse, por exemplo, que o crime de extermínio era bem-vindo no Rio de Janeiro. Sua fala está nos anais da assembleia legislativa do Rio. Todo mundo lembra de sua abjeta homenagem a um torturador durante a votação do impeachment.

Uma de suas mais recentes declarações foi reclamar sobre um comprovante. "Querem comprovante de tudo." Afinal, ele se declara acima de qualquer suspeita, não tem que dar satisfação a ninguém. Ao que parece, nem aos seus eleitores.

E assim continua sua trajetória em perverter as coisas. Com Bolsonaro, crime é defendido, não é preciso ter comprovante, estupro está ligado a merecimento, pandemia é gripezinha.

Eu simceramente gostaria que, nessa última, ele não estivesse errado.

Um pedido

Fonte: Barbara Bonanno
Eu esqueci o nome dela. Sei que veio de Vitória. Que decidiu tentar a vida em BH com a prostituição. Que depois de ser muito maltratada pela cafetina, decidiu fugir. Que agora está na rua, esperando vaga em algum abrigo.

Tudo isso ela me disse quando nos abordou - eu e a Pam - quando atravessávamos a Praça da Estação. Disse que era travesti e perguntou se a gente tinha algum preconceito. Somente após a negativa que ela contou sua história.

Antes de tudo, porém, ela disse o seu nome. E justamente o seu nome eu esqueci. Talvez a história não tenha sido esquecida por ser algo tão comum na vida de tantas meninas e mulheres, cis ou trans. E igualmente tão brutal.

Enquanto ela falava, eu vasculhava os bolsos em busca do que tinha em dinheiro. Mas o que eu não podia lhe dar era dignidade. E isso me doeu mais ainda. Ela agradeceu, mais a intenção que a quantia pobre, e foi se afastando.

Logo que viramos as costas, Pam me disse que a conhecia. Contou que há oito meses, aproximadamente, a mesma moça a havia abordado, contando a mesma história. E antes que qualquer sentimento diferente da empatia brotasse em mim, Pam logo sentenciou:

"Se trezentas vezes ela me pedisse, trezentas eu ajudaria."

segunda-feira, abril 06, 2020

O machismo perverso de Bolsonaro

Autor: Pataxó
Há um ditado que diz que não se deve chutar cachorro morto.  Politicamente, considero que Jair Bolsonaro, vulgo Bozo, está tão morto que só falta sepultar, pois já cheira mal. Porém, como alguns de seus seguidores continuam a sacudir sua carcaça mórbida, nua e imoral por aí, acho muito necessário que a gente continue batendo, chutando e dando porrada nesse morto que muitos insistem que continua vivo e bem. Vai que a carcaça levanta pra morder mais alguém, como é seu comportamento.

Não sou um adepto da política a ponto de usar meu blog pessoal, exclusivo para a divulgação literária, como plataforma pafletária. Nunca fui disso, e creio que nunca serei. A questão é que o bolsonarismo é um problema grande demais para que eu use de diletantismo para não me posicionar politicamente. Inclusive, mais de uma vez discursei aqui, em crônicas e poemas, sobre como esse monstro estava crescendo, a ponto de atingir uma escala incontrolável.

Que Bolsonaro representa a camada mais egoísta e preconceituosa de nossa sociedade, todo mundo já sabe. São pessoas que usam o intangível patriotismo como desculpa para destilar ódio contra principalmente os mais pobres. Não apenas estes, mas também contra qualquer ideia de diferença, seja social, científica, religiosa, bem como as pessoas mais vitimadas pelos preconceitos que ainda tornam a humanidade enferma e em estado de pré-civilização.

Outro dos maiores perigos do bolsonarismo é inverter o significado das palavras, onde honesto é um homem que admite sonegar impostos e realizar transações financeiras sem qualquer documento comprobatório - e ainda ridicularizar a existência de quem o faz; onde as pessoas achem bonito que um parlamentar não preste conta da verba que usa; onde as palavras estupro e merecimento aparecem em uma mesma frase, ignorando o fato de que ninguém merece ser estuprado; onde um político homenageia um torturador e defende, literalmente, o crime de extermínio.

Sim, o bolsonarismo é perigoso, tal qual um animal peçonhento. Ou melhor, é ainda mais, pois até mesmo um bicho peçonhento segue uma lógica de sobrevivência. O bolsonarismo é maligno pois estimula a insanidade através do ódio autodestrutivo. Um ódio que procura assegurar as coisas como estão, que busca preservar uma ideia de honra de homens que agridem as mulheres por sua existência. E esse ódio é capaz de implodir tudo para que não haja mudança.

E um dos maiores problemas do bolsonarismo é justamente a defesa do machismo estrutural. Não é novidade a ninguém quantas vezes Jair Bolsonaro foi ofensivo com mulheres, seja em foro pessoal, ao dizer em tom de troça que a própria filha foi resultado de uma "fraquejada", seja como um todo, ao declarar que nunca contrataria uma mulher no lugar de um homem.

A última de Bolsonaro, de que tenho notícia, foi dizer que a gravidez precoce seria culpa de mães e avós. Ancorado em argumentos do igualmente perverso Alexandre Garcia, Bolsonaro deu a seguinte declaração:

"Na semana passada, falei de uma menina que deu à luz pela terceira vez aos 16 anos de idade sendo aidética. Isso que eu falei. O que faltou? Faltou uma mãe, uma avó, pra não começar a fazer sexo tão cedo. Qualquer pessoa com HIV, além do problema de saúde dela gravíssimo, que nós temos pena, é custoso para todo mundo. Vocês focaram no que o aidético é oneroso no Brasil. Tô levando porrada de tudo quando é grupo de pessoas que tem esse problema lamentavelmente."

Tem que levar porrada mesmo. E muita.

Fontes:




sexta-feira, abril 03, 2020

É m livro - Humor e reflexão no passar das páginas

Ontem, dia 2 de abril de 2020, foi comemordo o Dia Internacional do Livro Infantil. A data foi escolhida em ocasião do nascimento de Hans Christian Andersen, um dos maiores nomes da literatura infantil e dos contos de fadas do mundo. Para não deixar a data passar batido, resolvi então falar sobre o próprio livro em si, através do engraçado e criativo É um Livro, de Lane Smith.

Um macaco está sentado, tranquilamente lendo seu livro. Até que um burro se aproxima e pergunta o que ele tem em suas mãos. "É um livro" - responde o macaco. Começa assim um engraçado diálogo em que o burro, um entusiasta da tecnologia, tenta entender um objeto que não entra na internet, não acessa o Twitter, não manda mensagens, não precisa de senha, log in e nem de bateria.

Através do divertido diálogo, o objeto livro é apresentado ao leitor, num divertido jogo de significados. Este objeto vai sendo apresentado justamente pelo que não é, mediante o contraste com as características que smartphoes e gadjets ostentam ao serem operados por seus usuários.

E interessante observar o traço suave de Lane Smith com desenhos longos e arredondados, algo que a pesquisadora Yolanda Reyes aponta como elementos visuais atrativos para os bebês e demais pequenos leitores. As texturas remetem ao giz de cera, tão comum em atividades artísticas infantis.

Outro ponto a se observar é a homenagem que o autor faz à literatura universal ao mostrar qual livro o macaco está lendo. Ao mesmo tempo, ele faz uma brincadeira com a linguagem abreviada que os jovens utilizam para trocar mensagens.

Vale também apontar o aspecto interativo que o livro tem em si. E não estou falando apenas do alvo desta resenha. Ao observarmos como os bebês manuseiam os livros, podemo perceber que há nestes objetos características interativas que representam a própria ideia de tempo e sucessão. As páginas podem ser passadas, pode-se adiantar e retornar nas mesmas. Todo livro é antes de tudo um brinquedo.

Com um humor inocente e desenhos que primam pela estética, sem perder a jovialidade, É um Livro certamente é um boa pedida para ser o primeiro livro de alguém. Seja este alguém de qualquer idade.



Ficha Técnica
É um Livro
Lane Smith
ISBN-13: 9788574064512
ISBN-10: 8574064513
Ano: 2010
Páginas: 32
Idioma: português
Editora: Companhia das Letrinhas


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/e-um-livro-132166ed146594.html

quarta-feira, abril 01, 2020

Sobre estrelas cadentes

Quem me conhece sabe que desde bem pequeno cultivo o sonho de ser escritor. Logo que o primeiro livro me capturou e encheu de fascínio, decidi: Quero fazer as pessoas sentirem o que sinto ao ler. Se alguém me perguntar que sensação seria essa, talvez eu tenha dificuldade em responder. É aí que a coisa fica complicada. Como provocar nas outras pessoas algo que nem eu sei divisar?

Porém, lá estava eu, um franzino e cabeçudo, dizendo aos quatro cantos que seria escritor quando crescesse. Também, pudera! Entre ser escritor e astronauta, a primeira ocupação seria muito mais alcançável.

Ledo engano. Fui crescendo e descobrindo como era difícil saber o que seria preciso para se tornar um escritor. Qual curso fazer? Que caminho tomar? Era tudo muito difícil e nebuloso. Sem falar que tem escritor que não ajuda. Certa vez, eu viajei para o lançamento do livro com o bate-papo com o autor. Um rapaz ao meu lado perguntou o que era necessário para ser escritor. Ao que o autor encheu o peito e disse:

- Pra ser escritor, você tem que ser bom!

Saí do evento decepcionado. Claro, não havia comparecido achando que teria a fórmula de Flamel, mas a empáfia do dito autor me revirou o estômago.

Porém, fui persistente. Participei de oficinas literárias. Inscrevi meus textos em concursos, integrei coletâneas literárias. Depois de vários percalços, lá estava eu, no lançamento de meu primeiro romance "O Medalhão e a Adaga".

Como um bom pai, passei a acompanhar o que os leitores estavam achando do livro. Criei um perfil dele no Skoob, a rede social de livros e leitores. E fiquei de camarote esperando quantas estrelas cada leitura daria.

Os primeiros dias após o lançamento do livro foram de empolgação, acompanhando lá no Skoob o crescimento de leitores. Era como se meu próprio filho fosse crescendo. Logicamente, esses primeiros leitores eram do meu círculo de amigos e por isso a maioria deu 5 estrelas após a leitura.

Mas certo dia, qual não foi minha surpresa ao descobrir que alguém  havia dado 4 estrelas ao meu livro. Ponderei. Tudo bem, ainda era muito bom. Os hotéis 4 estrelas são excelentes. Ter 4 estrelas é estar acima da média. Acabei me acalmando.

Só que não parou por aí. Veio o dia em que eu encontrei um leitor que deu 3 estrelas para meu livro. Tive uma sensação de estranhamento. Afinal, meu objetivo era que o livro fosse bem recebido, que o livro agradasse, que empolgasse meus leitores. Porém, três estrelas ainda se enquadram na lógica da boa avaliação. O melhor hotel em que estive tinha 3 estrelas.

Mas então eu finalmente cheguei à primeira vez que recebia uma avaliação abaixo da média. Logo depois, uma nota ainda pior. Alcancei a marca de uma estrela. Pronto, tinha chegado ao fundo do poço. 

Era para eu ficar aturdido. Não sei se estava vacinado, ou simplesmente cansado, mas não liguei como imaginei que ligaria. Não fui ao chão. Essa experiência só reforçou o fato de que preciso continuar aprendendo.