Já mencionei aqui que participei do curso Infâncias e Leituras. Foi um momento de rico aprendizado, de reflexão sobre o meu fazer e os ideais que o impulsionam. Assim, um dos desafios propostos pelo curso foi pensar sobre a relação entre palavra e corpo na mediação de leitura, seus atravessamentos e transversalidades. Sendo assim, fomos convidados a pensar nesse encontro a partir do conceito de lugar. Reuni aqui as reflexões que foram estimuladas a partir do questionamento do curso.
Lugar é uma palavra interessante. Diferente de espaço ou mesmo território, ela atrai para si um sentido de subjetividade. No caso desta reflexão, não estamos falando de lugar físico, mas simbólico. Sendo assim, quando falo de palavra e de corpo, quais sentidos eles evocam quando penso especificamente da mediação de leitura?
Na minha experiência como mediador, a palavra e os livros são elemento fundamental para serem inseridos no cotidiano das crianças. E quando falo palavra, refiro-me também à oralidade, com as brincadeiras com os sons, com o silêncio, com o ritmo entre eles. Sempre fui um brincante com as palavras, invertendo-as, mudando as sílabas de lugar, inventando novas, explorando suas possibilidades cômicas a partir de trocadilhos e piadas. Assim, busco sempre uma conexão com as crianças pequenas a partir das possibilidades lúdicas que a palavra traz.
O corpo, para mim, já é um desafio. Mais recentemente, tenho descoberto a importância da memória corporal e da exploração sensorial para a construção de sentidos. Assim, trata-se de um desafio trazer o corpo para minha prática como mediador de leitura.
Sabemos que as crianças aprendem com todo o corpo. O desenvolvimento da criança se dá de forma sinestésica, a partir da exploração sensorial do mundo. Ainda mais quando estamos falando de crianças pequenas. Ao ter contato com um objeto, o primeiro impulso da criança é levá-lo à boca. E não apenas isso. Ela irá sacudi-lo, para tentar extrair do objeto algum som. Irá manuseá-lo de várias formas. A criança pequena é acima de tudo uma exploradora.
Em 2019, tive dois momentos que me fizeram refletir profundamente sobre o papel do corpo na construção da memória e dos sentidos. Em minha trajetória, busquei sempre privilegiar a palavra, escrita e falada. Porém, pouca ou nenhuma importância dava para o corpo em meu trabalho como mediador. O primeiro encontro que me fez repensar minha posição foi com a pesquisadora Lydia Hortélio, no dia 23 de setembro, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Outro encontro foi no dia 2 de outubro, com a artista Lenna Bahule, na Terceira Candeia: Mostra Internacional de Narração Artística. Em uma noite poderosa e transformadora, aprendi o poder da memória corporal como expressão da ancestralidade.
Assim, de encontro em encontro, vou inaugurando novos lugares para o corpo e para a voz. Vou reaprendendo a ser criança, a observar e conhecer meu próprio corpo, minha própria memória. E desta forma vou me redescobrindo mediador. Muitos são os desafios, ainda. Porém, desafios que mais me estimulam que amedrontam. É maravilhosoUm mundo inteiro para aprender.
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