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sábado, julho 30, 2022

As resenhas sobre "A Cidade Suspensa" no Skoob


A título de registro, resolvi transcrever para este espaço as resenhas presentes no Skoob sobre "A Cidade Suspensa".


Lusia.Nicolino28/01/2022 (sem estrelas)


Deixa um gostinho de quero mais

Como já comentei outras vezes, distopia não é o meu gênero preferido de leitura, mas é sempre bom atualizar nossas expectativas e experiências literárias. A cidade suspensa, de Medina, me deixou com um gostinho de quero mais. O texto é muito bom, com descrições curtas que não cansam a leitura e nos fazem visualizar os personagens, o ambiente, o entorno, o clima.

Através do viajante Kain (sim, vamos encontrar o seu Abel em algum momento) circularemos pela cidade que pouco pousa e onde nunca repousam seus misteriosos moradores. Que busca será essa? Quem pode ajudar e quem pode atrapalhar essa jornada? Acredito que a história tem potencial para crescer em tamanho, o universo poderia ter sido explorado detalhadamente em sua intrincada configuração, os personagens apresentados de maneira mais profunda e suas relações mais bem explicadas. Fiquei com a sensação de ter lido o roteiro detalhado de um filme. Eu assistiria se fosse produzido. Aventure-se, veja se tem a mesma sensação que eu!


Quote: "´A cada encontro que temos com alguém, realizamos um nó na linha de nossas vidas´, lembrou-se. Temia ficar enlaçado. Talvez a misteriosa sombra que havia ficado para trás, no ponto, seria apenas mais um dos perigosos nós que Kain deveria enfrentar."



site: https://www.facebook.com/lunicolinole https://www.instagram.com/lunicolinole

 

 Recitando Leitura 

recitando leitura06/12/2021 (três estrelas)


Livro curtinho, no qual dá para ler tranquilamente em apenas um dia. A história gira em torno de Kain, um viajante que chega na misteriosa Cidade Suspensa; os objetivos que o leva até lá é também uma incógnita para o leitor, sabemos apenas que ele precisa ficar lá quando a cidade voltar a pousar. A escrita em si, é de tranquilo entendimento, mas senti meia perdida em meio a tantos acontecimentos, além de, em alguns pontos, me faltou explicações. Talvez, em uma nova releitura, pegarei elementos que deixei escapar. Obrigada ao autor por disponibilizar a obra gratuita.

 

Bruna.Caroline26/11/2021 (duas estrelas)


Ainda estou tentando entender !! Rs.

Acredito que tem algo a mais nessa história, mas que precisarei reler para saber oq passou despercebido por mim.

Tem muitos mistérios com pontas soltas, vou mesmo precisar reler?.

 

 Tyr Quentalë09/04/2021 (cinco estrelas)


Revisitando A Cidade Suspensa

Conheci Samuel Medina em outro lugar e sempre gostei muito da produção de seus textos. O meu retorno à Cidade Suspensa relembrou a leitura apaixonada pelas linhas escritas pelo autor e me fez conhecer uma outra vertente que eu não conhecia.

Agradeço profundamente por essa releitura e espero que o autor não deixe de lado os seus sonhos.

 gostei (1) comentários(0)comente



Bela17/10/2014 (3 estrelas)


Misterioso e interessante

Cidade Suspensa. Autor: Samuel Medina. Páginas: 92. Publicação Independente.


Valorizo muito essa coragem de alguns escritores de escrever um livro e disponibilizá-lo gratuitamente, acho que isso faz do livro algo ainda mais especial, demostra o simples prazer pela escrita.


Kain é um viajante misterioso e ele chega a Cidade Suspensa com um objetivo também misterioso. Sabemos apenas, que ele demorou a descobrir como entrar na Cidade, que provavelmente está sendo seguido por inimigos e que ele precisa descobrir um modo de ficar lá, senão será expulso quando ela "pousar" novamente.


O livro é bem curtinho e você pode lê-lo em um único dia. A historia é bastante interessante, mas senti que poderia ter sido melhor desenvolvida, senti falta de algumas explicações. Também achei que a grande quantidade de mistérios me deixou um pouco perdida, o autor vai revelando as coisas com o decorrer a leitura, mas por ser um livro curto com um cenário completamente utópico, fiquei me perguntando o que eu deveria esperar, já que não tinha muitas informações. O livro tem ainda alguns paralelos bíblicos, mas não acredito que esse tenha sido o principal foco do autor. Não gostei muito do final, achei um pouco sem propósito, fiquei pensando que talvez eu não tenha entendido o que o autor queria passar com a história, não que todos os autores queiram passar algo, mas só que eu tenho o costume de ficar procurando lições e tal...


Enfim, o livro é muito peculiar. Ele fez uns paralelos muito interessantes, como quando ele descreve Scarlate, a cortesã. Na verdade, todos os personagens são muito interessantes, é uma história que vale a pena ler e tirar sus próprias conclusões. ;)


Mas as pessoas não têm medo? perguntou Kain.

Medo? Pode ter medo quem não tem alma? Ou tem uma falsificada? Muitos vendem o próprio coração para ter uma alma artificial, feita aqui na Cidade. Com ela, não é preciso ter medo. Ou se tiver, ele será muito mais saboroso. A propósito, sou Salomão.


site: http://coisasdebelaa.blogspot.com.br/ 

quarta-feira, maio 05, 2021

Vídeo: A Cidade Suspensa - Capítulo VIII


Compartilho aqui com vocês a leitura do meu livro A Cidade Suspensa - Capítulo VIII. 

Para ler online ou baixar o livro em pdf, basta acessar aqui: http://www.oguardiaodehistorias.com.br/p/a-cidade-suspensa.html.

quarta-feira, abril 28, 2021

Vídeo: A Cidade Suspensa - Capítulo VII



Compartilho aqui com vocês a leitura do meu livro A Cidade Suspensa - Capítulo VII. 

Para ler online ou baixar o livro em pdf, basta acessar aqui: http://www.oguardiaodehistorias.com.br/p/a-cidade-suspensa.html.

quarta-feira, abril 21, 2021

quarta-feira, março 31, 2021

quarta-feira, março 24, 2021

quarta-feira, março 17, 2021

quarta-feira, outubro 30, 2019

Histórias Suspensas no CCSG


Continuo visitando os centros culturais de Belo Horizonte para conversar com leitoras e leitores sobre A Cidade Suspensa. As experiências acumuladas durante esses encontros têm sido muito proveitosas. Ao mesmo tempo, recebo um retorno direto sobre os trechos lidos e tenho sentido que sou muito bem acolhido. A terceira realização da oficina "Histórias Suspensas" acontecerá agora no Centro Cultural São Geraldo, com apoio da bibliotecária Luciane Carvalho Moisés. 

Na Lagoa do Nado, recebi uma numerosa turma escolar de pré-adolescentes. Já no Centro Cultural Lindeia Regina, tive a oportunidade de falar sobre o livro no sarau que acontece mensalmente. Amanhã, dia 31 de outubro, encontrarei um público um pouco diferente daqueles que encontrei antes. E o convite continua: vamos conversar?

Histórias Suspensas


Roda conversa sobre o livro A Cidade Suspensa, com leitura de trechos da obra durante o encontro.

Centro Cultural São Geraldo
Av. Silva Alvarenga, 548 - São Geraldo
Informações: (31) 3277-5648


quinta-feira, outubro 17, 2019

A Cidade Suspensa nos centros culturais de BH

A Cidade Suspensa é um dos meus projetos mais antigos e duradouros. Iniciado como folhetim online, ele evoluiu em uma novela de fantasia sombria. Hoje, o livro é distribuído gratuitamente aqui no portal e pode ser adquirido a preço mínimo na plataforma da Amazon.

Contudo, eu sentia falta do livro em formato físico. Assim, em parceria com a editora Senhor da Lenda, imprimi 100 exemplares com a capa e o projeto gráfico da Thaís Lopes. 

Com o objetivo de alcançar ainda mais leitores, estou oferecendo a oficina "Histórias Suspensas" nas bibliotecas de alguns centros culturais de Belo Horizonte. A proposta é ter um bate-papo descontraído, entremeado com leituras de trechos da obra. Ao final, um exemplar é doado para ser incluído no acervo da biblioteca.

A primeira oficina aconteceu dia 8 deste mês, na biblioteca do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado. O próximo encontro será no Centro Cultural Lindéia Regina, às 14h30.

A quem estiver interessado, fica aqui meu convite. Vamos conversar?



sexta-feira, dezembro 13, 2013

Um tesouro de histórias

O ano acaba e os projetos se iniciam. Sim, faz quase um mês que não apareço por aqui. Estive envolvido em questões ligadas à Pós-Graduação que faço e também a alguns sérios compromissos profissionais. Graças a Deus, todos ligados à literatura. O ano de 2013 foi proveitoso, e muito. Alcancei muitas realizações, interna e externamente. Pude presenciar a Biblioteca cheia para o lançamento do meu livro, tive pessoas muito legais me falando que gostaram da narrativa, que desejam uma continuação. Conheci muitos autores fantásticos e leitores sensacionais. Viajei, participei de lançamentos coletivos, mediei conversas literárias. E agora 2013 chega ao fim e eu penso: "ufa!", enquanto uma sensação gostosa de dever cumprido toma o meu peito.

Só que ainda há muito a se fazer. Nossos sonhos têm esse poder. Nunca estamos totalmente satisfeitos. Queremos fazer mais pois descobrimos que podemos. Isso acaba soando meio Obama, só que é verdade. Sim, nós podemos.

Este ano foi importante não somente pelas conquistas, mas também pelas descobertas. Descobri muito de mim mesmo, muito do que sou e de quem sou. Isso foi muito importante para motivar os projetos futuros. Um deles, que ainda faz parte da safra de 2014, é a publicação da narrativa "A Cidade Suspensa" em formato e-book. É um sonho antigo, mas que durante muito tempo senti-me inibido para realizar. Hoje, contudo, estou trabalhando na versão final do texto e acredito que muito em breve ele estará pronto. Será disponibilizado em PDF para download através deste site, mas também farei questão de distribuí-lo por e-mail e em outros formatos. Gosto muito dessa narrativa e acho que os leitores também. O mínimo que posso fazer é buscar ganhar mais leitores para a causa de Kain.

Outra grande conquista foi ser escolhido pela Editora RHJ para fazer parte de seu rol de autores. Uma narrativa inédita, também de fantasia, será em breve publicada. É uma grande alegria ter um título publicado por uma editora de Belo Horizonte, minha cidade do coração, a capital onde eu vivo e onde construí minha história. Onde as pessoas que amo vivem. Então, essa vitória também é dedicada a todas essas pessoas. 

Por fim, meu maior compromisso literário em 2014 é buscar ser um leitor melhor. Literatura sempre foi minha paixão, arrebatando-me inúmeras vezes, tolhendo-me o sono, incomodando-me. A Literatura é minha forma de interagir com o mundo e por isso continuo lendo e escrevendo. Talvez não continuarei com as resenhas, ou pelo menos elas serão mais escassas. De qualquer forma, meu desejo é que eu possa contribuir ainda mais na Biblioteca onde trabalho, aproximando leitores de textos e leitores de leitores. Acredito que o leitor é a principal estrela do espetáculo chamado Literatura. E por isso, meu grande compromisso em 2014, meu grande projeto, é estimular ainda mais o encontro entre os leitores e seu deleite na leitura.

Ainda não sei o que o novo ano me reserva. Há muito o que fazer. Tenho que pensar na divulgação de O Medalhão e a Adaga, na continuação das aventuras de Bildan, Sheril e seus amigos. Mas antes de tudo, tenho que ler. E muito. Por isso, espero poder contar com vocês aqui, ajudando-me a ser um leitor melhor. Compartilhando suas opiniões, críticas e sugestões literárias. Fazendo deste espaço, ainda que virtual, um verdadeiro tesouro de histórias.

terça-feira, agosto 14, 2012

Um ano de Cidade Suspensa



Publicar "A Cidade Suspensa" no blog foi uma experiência incrível. Compartilhamos opiniões, expectativas, impressões, ansiedades... Fiz amizades que perduram até hoje, sólidas. Para não deixar o momento em branco, convido a todos para este evento virtual, também uma oportunidade para os amigos que ainda não conhecem esta narrativa.

Como uma forma de deixar marcado este momento, convido a todos para uma comemoração virtual. Para tanto, basta clicar aqui: http://oguardiao.blogspot.com.br/p/a-cidade-suspensa.html. Deixe seu comentário para marcar sua presença. Pode ser um recado, faça uma brincadeira, mande um abraço para alguém. A premissa é a criatividade!

Abraços a todos!

segunda-feira, novembro 28, 2011

A Cidade Suspensa – Parte Final


Kain chegou ao fim de sua jornada. Auxiliado por asas vermelhas e pelo amor que venceu até as marcas mais profundas em um coração, o viajante está para ficar cara a cara com o Rei da Cidade Suspensa...

Com um estrondo, os portões do gabinete real foram escancarados. Kain parou por alguns instantes, procurando examinar o interior do recinto. Parecia a entrada de uma tumba há muito fechada. Tudo cheirava a podridão sepulcral. Kain entendeu que era um feitiço. Mas seria uma armadilha ou um procedimento padrão de segurança? Não importava. Deveria apressar-se. O viajante penetrou na escuridão do gabinete com passos firmes, porém cautelosos. Um rugido súbito pôs Kain em prontidão, mas não o suficiente para evitar que vários tentáculos o agarrassem firmemente.

"Então o insolente irmão por fim retorna..." bradou alguém na escuridão. "Não ponderei que seria tão atrevido e temerário. No entanto apreciei imensamente quando soube da sua jornada em busca do seu coração."

Kain nada respondeu. Erguia barreiras contra os ataques do inimigo, ao mesmo tempo que preparava feitiços de reação. Mas sabia que sua derrota era praticamente certa. De fato, o Rei da Cidade Suspensa era o monstro que ele imaginava. Da escuridão, surgiu o corpo que sustentava os tentáculos. Era um homem enorme, talvez tivesse uns três metros de altura, e trajava um casaco comprido, de onde saíam os asquerosos tentáculos que prendiam o viajante. A coroa era enorme e bizarra, como os galhos de uma árvore seca, além de também ser uma máscara que ocultava o rosto do monarca.

"O ciclo está agora completo. Graças a ti, tornei-me rei deste lugar. Graças a mim, foste privado de teu coração. Percebo em teu rosto confusão; pelo visto, és muito menos de que já foste há milênios atrás."

"Quem... é você... afinal?" perguntou Kain, cada vez mais fraco por causa da força que os tentáculos faziam ao segurá-lo.

"Eu? Sou o Exemplo, o Ideal. Sou a quimera que todos perseguem e almejam alcançar, a Perfeição. Sou o Humanismo perdido pela própria humanidade. Eu, caro irmão, sou Abel."

Nesse momento, um turbilhão de dolorosas imagens atravessou a mente de Kain, imagens de culpa e confusão. Viu as lembranças do Rei da Cidade, um jovem pastor de ovelhas, vítima do assassinato motivado pela inveja. O assassino, sangue do próprio sangue, condenado a viver sem identidade e sem sentimentos, sendo obrigado a trabalhar como um Vazio, tendo seu corpo preenchido por memórias alheias e o rosto desfigurado. Enquanto as lembranças de Kain e Abel se misturavam, o viajante viu pelas memórias do Rei que o Vazio enviado para caçar Kain já havia sido informado e aproximava-se do Torreão Real.

Mas subitamente a torrente de pensamentos que invadia a mente de Kain cessou, enquanto a força dos tentáculos ia lentamente diminuindo. Kain recobrou o controle de seu corpo e viu nisso a oportunidade para um contra-ataque. Ergueu chamas ao seu redor, para lançá-las contra seu inimigo, mas parou por alguns instantes. O rei parecia temeroso por causa de alguém que acabava de entrar no recinto.

"Você..." murmurou Abel. "Por que está aqui?"  

Kain, já livre dos tentáculos, virou-se e viu uma jovem pálida, de cabelos loiros e olhos azuis, tristonhos. O viajante não pôde conter sua surpresa ao ver Marília surgir vacilante do mesmo portão que Kain surgira. Aquela era a chance, talvez a única, para um contra-ataque, mas Marília adiantou-se, ficando entre o Rei e o viajante. Se atacasse agora, Kain com certeza atingiria também a filha do Bibliotecário.

"Marília..." sussurou o Rei, "... como alcançou este lugar?"

"Recebi a ajuda da Aurora e suas asas avermelhadas" respondeu Marília, de forma a deixar claro a Kain que a jovem fora ajudada por Scarlate. "E estou aqui para acabar com esse teatro infame."

"Insolente!" rugiu Abel, ameaçadoramente. Buscava recobrar sua fala pomposa. "Não admito tal comportamento em minha presença. Se não deixares este recinto agora, sentirás a minha ira!"

Mas Marília não pareceu importar-se. Sorriu e, nesse momento, murmurou:

"Então invoquemos todos os personagens desta peça. Agora."

Subitamente, as paredes se alongaram e em cada canto do recinto surgiram o Ambulante Chinês, Salomão, o Bibliotecário, a Cortesã e o Vazio. Todos estavam lá e, ao mesmo tempo não estavam. Eram miragens e não eram.

Da porta surgiu Scarlate, com suas asas vermelhas ainda à mostra. Sua miragem permanecia em um canto, pois neste ato final ela era algo além da Cortesã.

Kain sentiu o terror encher seu peito, ao ver que a peça iria por fim terminar e ele veria seu fim sem ao menos recuperar seu coração. Mas Marília aproximou-se e, ainda sorrindo, tocou o rosto do viajante.

"Ainda há um pedaço do seu coração aqui dentro. Um pedacinho que o Demônio do Gelo e do Fogo não conseguiu arrancar. Esse pedaço vai te ajudar a encontrar o caminho de casa."

Marília então virou-se para o rei e bradou:

"O que sustenta esta cidade também é sua maior fraqueza. Ela sempre precisou de Vazios e Exemplos. Você, meu querido, meu jovem pastor, foi apenas mais um escolhido para ocupar o papel de Rei, assim como Kim foi tornado em Vazio. Você crê, meu querido, que sempre haverá um Rei na Cidade Suspensa e este sempre nascerá pelas mãos sanguinárias de um Vazio. Mas eu digo basta!"

Nesse momento, a filha do Bibliotecário enterrou a mão no peito e arrancou do mesmo o próprio coração. Parecia uma brasa azulada, que brilhava com intensidade. Marília estendeu a mão e andou com passos firmes em direção ao Rei. 

Não há magia mais poderosa que um coração puro entregue em benefício de outra pessoa. Ainda que Abel tentasse repelir a moça com seus tentáculos, os mesmos eram destruídos logo que se aproximavam. O coração brilhante de Marília tocou o indefeso monarca que explodiu em luz, junto com a jovem. O Torreão Real começou a balançar, instável. Kain apenas observava, surpreso e confuso. Tudo brilhava e, em meio à luz, Kain identificou as silhuetas de Marília e de um jovem e belo rapaz se abraçando como se há muito tempo não se vissem. O casal desapareceu em uma explosão de luz.

A escuridão subitamente envolveu o recinto. Kain sentiu mais uma presença naquela sala, além de Scarlate. As sombras que antes tomavam forma dos outros personagens se dissiparam, ficando apenas o Ambulante Chinês, que se tornava cada vez mais nítido. Seu olhar cada vez mais feroz.

Em segundos, as roupagens antes simples do oriental se tornaram vestes pomposas. Seu cabelo estava arranjado em um coque elaborado sobre sua cabeça, onde uma singela coroa dourada se sustinha. Sua face assumiu um ar arrogante.

“Agora este é meu momento” bradou ele. “Ajoelhem-se perante seu Imperador.”

Scarlate ergueu suas asas de forma protetora, mas antes de qualquer iniciativa, ela foi lançada contra a parede, que engoliu metade do seu corpo. A moça estava presa.

“Quieta, rameira” rosnou o Imperador. “Uma Nova Ordem nasceu. Graças a vocês dois, casalzinho patético. Obrigado.”

A risada do Imperador feriu o peito vazio de Kain, que até o momento estava paralisado de terror. O Imperador ergueu a palma da mão direita e exibiu uma chama lúgubre e avermelhada, que bruxuleava.

“Reconhece este coração?” perguntou. “É aquele mesmo que você vendeu. Assim é você. Uma chama moribunda. Alguém que negocia qualquer coisa. Você é tão inútil quanto a rameira. É um vaso quebrado.”

Num grito de ódio, Kain reuniu todo o seu poder. As furiosas chamas antes destinadas a Abel foram lançadas contra o Imperador Chinês, que apenas ergueu a palma da mão esquerda. Nela estava o botão que o viajante negociara. Esse mesmo botão, ao ser atingido pelas chamas, fez com que Kain fosse envolto pelo seu próprio feitiço. O que antes era ódio tornou-se dor, pura e simplesmente. 

O Imperador Chinês, ainda resmungando sobre Kain ser um vaso quebrado, fez um gesto cabalístico. A alma artificial de Kain foi arrancada, enquanto o que restava do viajante era consumido pelas suas próprias chamas. Num último resquício de consciência, Kain constatou que sempre desconfiara. Aquele que antes havia sido o Ambulante Chinês tivera tempo para fazer seus contatos, seus negócios. Bastou que o poder na Cidade Suspensa fosse desestabilizado para que o antigo mascate acionasse suas engrenagens, cobrasse seus favores por meio de feitiços e assumisse o posto máximo. Kain fora apenas a última peça naquele mecanismo, usado para depois ser jogado fora. Mesmo assim, tinha certeza, faria tudo de novo.

O sol se ergueu sobre o horizonte, iluminando a Cidade Suspensa, eterna e sólida sobre as nuvens.

FIM

segunda-feira, novembro 21, 2011

A Cidade Suspensa – Parte XIV

É confirmada a identidade da pessoa que mais tem ajudado Kain em sua jornada em meio aos edifícios labirínticos da Cidade Suspensa. Mais aspectos da Verdade estão prestes a ser revelados...

Kain e sua inusitada companheira caminharam apressadamente por caminhos cada vez mais escuros e úmidos. Segundo Scarlate, o aqueduto levava diretamente a um torreão e este para uma escada secreta que dava diretamente na câmara do Rei da Cidade Suspensa. Não havia garantias de que a entrada não estaria vigiada, mas a Cortesã contava com o fato de que quase ninguém conhecia essa passagem. 

"Ao que parece," comentou a jovem, "nem o Rei sabe que essa passagem existe."

"Isso é bom demais para ser verdade, Sofia" ofegou Kain. "Ainda me pergunto se isso tudo não é uma armadilha."

"Você me ofende com essas palavras, Kim. Mas me ofende mais ainda ao me chamar por esse nome. Eu deixei de ser Sofia há muito tempo. Só voltarei a atender por esse nome quando você tiver de volta seu coração."

Kain fez um muxoxo, enquanto acompanhava Scarlate, que havia transformado o passo rápido em ligeira corrida. Não confiava na Cortesã, nem em seu agente, o Ambulante Chinês. Ao que parecia, o oriental havia ajudado a moça por todo o tempo que ela passara lá, inclusive garantindo seu ofício na taberna. Com as décadas se tornando séculos, a antiga dona do lugar cedeu o direito de propriedade à cortesã mais bela e talentosa, a moça cujo nome antes fora Sofia e que agora chamava-se Scarlate. 

Toda essa história fora contada às pressas para o viajante, que não conseguia abrir mão de sua desconfiança. Era fato de que nomes e rostos misteriosamente surgiam como sendo familiares. Havia alguém, uma imagem no passado que insistia em pregar peças na mente do viajante, mas ele tentava resistir. Precisava concentrar-se, cumprir sua ambição, para depois partir para sempre daquele lugar. Sem ter seu coração de volta, seria sempre um Vazio, uma sombra, um escravo sem identidade, fugindo de senhores poderosos, que brincavam com a vida de homens e outras criaturas.

No fim do aqueduto, Scarlate levou Kain por uma porta oculta na escuridão. A porta era de fato imperceptível, seu contorno só tornou-se visível quando a cortesã tocou algumas pedras na seqüência do que parecia ser uma senha. Logo que a passagem abriu, os dois entraram com rapidez, chegando a uma escadaria íngreme e perigosa, que subia pela parede externa do torreão central. 

Os dois subiram em silêncio. Nada se ouvia, a não ser o som de suas respirações ofegantes. Scarlate era a que mais ofegava, segurando a saia para que não tropeçasse em sua barra. Kain olhava por sobre os ombros da cortesã e lembrava do coração marcado de mordidas. Era delicioso e ao mesmo tempo completamente asqueroso. Algo então chamou sua atenção. Já estavam a uma altura considerável. O Torreão Real parecia ser mais alto até mesmo que a Biblioteca. Assim, o viajante pôde ter uma visão panorâmica da cidade, de seus titânicos edifícios e formidáveis fornalhas. Era imensa, vasta, como um Mal impossível de se extinguir. A visão foi tão perturbadora que Kain estacou entre os degraus, sentindo vertigem. Só não caiu porque foi agarrado por Scarlate.

"É incrível, não é mesmo?" comentou a cortesã, em um tom de malicioso desinteresse. "Essa é a Cidade. A Cidade dos Sonhos que todos almejam alcançar. Dizem que todos aqueles que acabam nos abismos mais profundos almejam um dia morar aqui. Neste lugar, uma pessoa pode negociar sua alma pelo mundo inteiro ou o mundo inteiro por uma alma nova.

Kain permaneceu calado. De qualquer forma, tudo o levava a crer que sua existência estava intimamente ligada àquela cidade. Talvez ele fosse um completo faz-de-conta. Talvez apenas reminiscências do corpo desse "Kim" fizessem parte do viajante e que a busca de um coração fosse algo completamente impossível e sem sentido. Uma alma artificial. Era bem provável que ele fosse apenas isso, um retalho de almas alheias. Mas Scarlate dizia algo importante e Kain resolveu prestar atenção.

"Está vendo aquelas enormes fornalhas? Já devem ter te falado que elas movimentam a Cidade e aquecem as caldeiras. Sabe o que mantém aquele fogo vivo? A magia dos corações negociados nesta cidade. Os corações vendidos por aqueles que querem trocar de alma e não têm posses para tanto. Esses corações são penhorados e, em seguida, transportados ao Banco, que os resgata. Em seguida, o Banco os vende ao Senhor das Fornalhas, que os usa para nunca deixar o fogo morrer. Por isso, acho que é quase impossível resgatar seu coração sem luta. O Rei da Cidade será nosso inimigo."

"Não importa" respondeu Kain, com secura. "Não cheguei tão longe para desistir. Se precisar medir forças com o Rei, que assim seja."

Com um sorriso enigmático, Scarlate agarrou a mão esquerda de Kain e puxou-o escadaria acima. Em um segundo, o viajante olhou para baixo e viu que seus pés estavam suspensos e os degraus pairavam alguns metros abaixo. Aterrado, ele viu que Scarlate tinha agora um par de asas de um vermelho vivo, intenso. Instantes depois eles já estavam no alto do torreão. Scarlate pousou graciosamente em uma sacada, enquanto sorria. Estavam diante de um enorme portão que dava para o gabinete particular real.

"Esta é tua última batalha, meu querido" disse ela, com um sorriso doce. "Não se esqueça, alcance seu objetivo e volte para mim."

Dizendo isso, a Cortesã beijou suavemente os lábios do viajante e, antes que o rapaz desse conta, ela já havia alçado voo, tomando distância entre as nuvens de fuligem que saíam das chaminés. Kain respirou fundo. Tudo aquilo poderia ser um embuste, mas não havia mais tempo para outras medidas. A noite findava. Lá embaixo, em algum lugar, o Vazio o aguardava. Se havia alguma chance de reaver seu coração, havia chegado a hora. Sem hesitar, Kain marchou corajosamente rumo ao portão e o abriu. Sua jornada havia chegado ao fim.

quarta-feira, novembro 16, 2011

A Cidade Suspensa – Parte XIII


Um misterioso bilhete leva Kain a uma busca noturna e a um confronto maligno. Usando sua experiência, ele escapa, embora sabendo que por pouco não foi derrotado. Agora, o objetivo de sua jornada está para ser revelado...

Kain se esgueirou por um bom tempo pelas ruelas escuras da Cidade Suspensa. Não sabia se havia alcançado sucesso em despistar seu perseguidor, mas nem ao menos queria olhar para trás e conferir. Seu tempo era curto e ele procurava aproveitá-lo da melhor forma possível. 

Logo ele alcançou o local de encontro. Um vulto o aguardava, mas não era o mesmo sinistro inimigo. A silhueta delicada revelava um corpo de mulher. Ao perceber a chegada do viajante, o vulto saiu das sombras, revelando sua identidade. Scarlate, a Cortesã, trazia uma capa escura sobre os ombros, escondendo o corpete fino. Kain fitou-a com seus olhos frios. 

Scarlate ensaiou alguns passos indecisos na direção do forasteiro, que mantinha-se impassível. Ainda vacilante, a Cortesã começou a falar:

"Antes, não tinha certeza que você era meu Kim, mas agora não me restam dúvidas. No começo, não te reconheci, seu rosto não é mais o mesmo. Só que alguma coisa me dizia que eu já te conhecia e essa certeza foi crescendo e hoje é absoluta. Mesmo que não se lembre, você é o meu Kim."

"Moça, você está me confundindo com outro alguém" disse Kain, com frieza. "Nossos nomes podem ser até parecidos, mas eu te afirmo que não sou quem você procura."

Scarlate abaixou a cabeça por um momento, para esconder os olhos tristes. Logo em seguida, porém, ela ergueu-os, desafiadores.

"O que você veio fazer aqui, então? Não foi pra resgatar seu coração que você veio à Cidade Suspensa? Para reaver o coração que você vendeu para o Demônio de Gelo? E eu sei que você viria. Esperei todos esses séculos, aluguei tentas vezes meu coração... Não, nunca o vendi. Resgatei-o várias vezes, tantas quantas foi preciso, só pra ter o momento de te encontrar."

Confuso, Kain pôs as mãos sobre o rosto. Como aquela mulher sabia tanto sobre ele? Mas alguns dados não batiam. Ele vendera seu coração para um demônio, era verdade, mas um demônio de gelo? Estava lembrado de ter negociado com um demônio de fogo. Era certo que parte da sua alma, ou toda ela, era artificial. Ele era igual ao seu perseguidor, um Vazio, um agente a serviço daqueles que comandavam planos superiores e inferiores. Mas então um nome que antes parecia desconhecido brotou de seus lábios:

"Sofia!?"

A cortesã esboçou um sorriso triste diante do perplexo viajante.

"Há muito tempo eu não uso esse nome, mas não nos resta luxo para mais nostalgias. Temos que chegar ao Rei antes que este pesadelo em forma de cidade te expulse daqui."

segunda-feira, novembro 07, 2011

A Cidade Suspensa – Parte XII

Embora considerasse impossível, Kain começa seu trabalho na Biblioteca. Impelido por um misterioso bilhete, o viajante parte rumo à escuridão da noite.


Kain movia-se silenciosamente por um beco escuro, já bem longe da Biblioteca. Pôs a mão direita sobre o peito, lembrando-se da súbita sensação que teve ao ler aquele estranho pedaço de papel. Que sensação fora aquela? Palpitação? Coração agitado? O viajante deu um sorriso de deboche, meio que escarnecendo de si mesmo. “Como se alguém na minha situação tivesse coração.” murmurou. As letras do bilhete marcavam como fogo sua memória, pregando peças em sua mente ao provocar aquela desagradável sensação.

A verdade era que Kain estava encurralado. No bilhete dizia que o Bibliotecário estava sendo pressionado a rejeitar o trabalho do viajante e que a Cidade iria pousar ao raiar da manhã. Kain não tinha muito tempo a perder. O autor do bilhete afirmava conhecer um atalho para o Palácio Real, para dentro da própria câmara do Rei da Cidade. Era a única chance de Kain para conseguir o que procurava.

O viajante seguiu pela estreita viela, perdido em seus pensamentos e desconfianças. E se fosse uma armadilha? E se aqueles que o queriam impedir estivessem prontos para pegá-lo? De qualquer maneira, Kain deveria arriscar e ele sabia que, desde o momento em que pusera os pés na Cidade, sua vida passara a não valer absolutamente nada. Ele já estava arriscando tudo a partir daquele momento.

A atenção de Kain foi atraída para uma figura que estava alguns passos à frente, próxima à saída do beco. Parecia ser aquele mesmo desconhecido que estivera no ponto de embarque do bonde. A excelente memória de Kain nunca esquecia um fato, por mais corriqueiro. O viajante diminuiu o passo, cauteloso. Era uma coincidência grande demais aquela mesma silhueta estar naquele lugar, aguardando. Kain estava bem próximo à saída do beco e ao seu destino, onde era esperado pelo autor do bilhete.

O desconhecido então gemeu. O som penetrou Kain como uma lança de gelo. Parecia o suspiro resignado de alguém que nunca conheceu paz ou alegria. Mas o viajante entendeu imediatamente o que era aquilo. Era um feitiço. Erguendo suas defesas, Kain resistiu ao melancólico e doloroso ataque da criatura que o havia emboscado. Era difícil, pois seu inimigo parecia ser conhecedor de profundas maldições, usando-as de maneiras que ele nunca imaginara. Suas mentes não se chocaram em nenhum momento, mas Kain sentia-se dilacerado pelos gemidos do outro.

A batalha pode ter durado segundos ou séculos, ninguém irá saber, a não ser aqueles dois, que descobriram conhecer muito mais um do outro. O agressor era um Vazio, alguém que fazia o mesmo serviço que Kain fizera durante longos anos. Aquele, porém, era tão ou mais experiente que o viajante, que estava tendo dificuldades em manter o equilíbrio da luta. Lentamente, suas forças eram drenadas, as maldições iam penetrando pouco a pouco suas defesas, petrificando suas juntas, apertando sua garganta, como algo invisível que quisesse sufocá-lo.

Com resignação, Kain deixou o seu sobretudo cair ao chão. Seu corpo então mudou rapidamente de forma, assumindo a estranha consistência de piche, como um ser pseudópode. O oponente fez o mesmo e, por segundos, duas massas disformes lutaram entre si, medindo forças em movimentos espalhafatosos, um tentando esmagar o outro.

Enquanto isso, Kain tomava distância, ofegante. Esperava que seu caçador ficasse distraído com aquela ilusão por tempo suficiente para o viajante escapar. Não podia ficar perdendo tempo enfrentando Vazios. Tinha que chegar ao Palácio Real o mais rápido possível. Enfraquecido pela última batalha, Kain cambaleou até o local onde o autor da carta aguardava, escondido nas sombras de um muro, com o rosto coberto por uma capa. Kain apoiou-se no mesmo muro e olhou, inquiridor, para aquela pessoa, sem reconhecê-la. O desconhecido então lentamente retirou o capuz que lhe cobria a cabeça, revelando sua identidade. O viajante deixou escapar apenas uma palavra:

“Você!...”