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segunda-feira, fevereiro 06, 2023

A Última Batalha - O crepúsculo final de Nárnia



Tirian é o último rei de Nárnia, mas ainda não sabe. Seus pensamentos estão ocupados pelo rumor do aparecimento de Aslam. Tomado de êxtase por causa dessa boato, o rei suspira em uma de suas casas de caça, onde descansa. Em sua companhia está o unicórnio Precioso, fiel amigo e companheiro de incontáveis batalhas.

O que Tirian desconhece - além de ser o último rei de Nárnia, é claro - que os boatos da aparição de Aslam nasceram das maquinações de um macaco e de um burro coberto pela pele do leão. E por muito pouco, esse macaco - o Manhoso - vendeu Nárnia para os calormanos, os quais estão assassinando as árvores falantes do Ermo do Lampião. E que uma insidiosa invasão a Nárnia acontece naquele momento.

Assim tem início A Última Batalha, que é também a última das Crônicas de Nárnia. Um final que se mostra pateticamente maligno uma vez que a última batalha acontece em uma Nárnia que não mais existe.

Sem adiantar os acontecimentos mais marcantes e buscando não entregar o enredo, afirmo apenas que A última batalha está dividido em duas partes. Uma pateticamente triste e outra pateticamente alegre. Não acredito que a última compensa a outra. Afinal, Lewis abandona Nárnia em prol de uma aproximação ainda maior com a simbologia cristã do que os livros anteriores. Ainda mais próximo - se é que isso é possível - de O leão, a feiticeira e o guarda-roupa.

Portanto, creio que esta seja a resenha mais difícil e incompleta que já fiz na vida. Incompleta porque, para evitar revelações do enredo, vou falar mais da primeira parte do livro. E Lewis acaba me forçando a isso, uma vez que, para mim, o escritor trai sua própria literatura em prol da mensagem cristã.

Em primeiro, Lewis dá o protagonismo da cena a dois animais falantes, algo nunca antes feito nos livros de Nárnia. Em seguida, em comparação com O cavalo e seu menino, o livro tem como protagonista alguém do mundo mágico, e não crianças vindas de nosso mundo. As crianças estão no livro, já adianto, mas o foco narrativo e o protagonismo estão inicialmente em Tirian por quase toda a primeira parte. Altivo, forte e honrado, Tirian é um rapaz de 25 anos. Um soldado irrepreensível. Seu companheiro, Precioso, apenas vem endossar essa imagem do rei, sempre aprovando seus atos, devotando ao humano total adoração e sendo correspondido.

Outra personagem de destaque é Jill. Enviada a Nárnia em companhia de Eustáquio, a menina é mais madura e preparada que o amigo. Ele, por sua vez, surge indeciso e temeroso. Não que o menino não pudesse ter medo, mas ela age como alguém como alguém que sabe lidar melhor com as próprias emoções. A menina se mostra uma excelente rastreadora, tendo frieza o suficiente para tomar decisões importantes antes e também durante a batalha.

Por falar em batalha, esse é o ponto forte da narrativa. Lewis faz o contrário que fez em Príncipe Caspian e narra uma refrega próxima e real, com mortes perto demais, deixando claro que a guerra não é coisa para crianças.

Sobre a segunda parte do livro, depois da fatídica batalha, pouco tenho a dizer. Lewis continua como exímio contador de histórias. Há certo tom melancólico e anticlimático nessa segunda parte, mas talvez isso advenha de uma leitura mais pessoal.

Como todos os demais livros, A Última Batalha vale a pena ser lido. Um livro gostoso de se ler e cheio de reviravoltas. Bem, pelo menos na primeira parte. Quanto ao fim de Nárnia, bem, por mim ela teria vivido - e ainda vive dentro de mim - para sempre!  


Ficha Técnica

A Última Batalha

As Crônicas de Nárnia # 7

C. S. Lewis

ISBN-13: 9788533616202

ISBN-10: 8533616201

Ano: 1997 

Páginas: 213

Idioma: português

Editora: Martins Fontes


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-ultima-batalha-1106ed1479.html

segunda-feira, janeiro 09, 2023

A Cadeira de Prata - A jornada e os sinais



Jill está desolada. Ela frequenta uma escola experimental onde as coisas não são fáceis. Seus colegas de escola, muitos deles, são terríveis e a perseguem. Foi por isso que Eustáquio a encontrou chorando em um canto do colégio.

Aquele é o mesmo Eustáquio Mísero, primo de Lúcia e Edmundo, Susana e Pedro. A jornada a Nárnia o transformou e agora ele é um bom sujeito. Ao encontrar a colega chorando, ele propõe que ambos peçam a Aslam que os levem a Nárnia.

O pedido funciona até bem demais e as crianças vão parar em Nárnia, mas em uma época atribulada. O Rei Cáspian X já está muito velho e seu único herdeiro desapareceu há anos. Caberá às duas crianças, com a ajuda do paulama Brejeiro, buscar os sinais de Aslam e encontrar o príncipe desaparecido.

A Cadeira de Prata talvez seja o livro mais maduro e envolvente da saga As Crônicas de Nárnia. Bem, talvez esta seja minha opinião pelo fato de ter sido o primeiro livro de Nárnia que li. O enredo é enxuto e traz uma dinâmica envolvente. O foco na narrativa está em Jill. Diferente dos quatro irmãos Pevensie, a menina é mais como Eustáquio antes de seu primeiro contato com Nárnia. Bem, não quero dizer que ela tenha as características detestáveis do menino. Porém, Jill é mais humana, falha, real. Essa característica nos aproxima da personagem. Nos identificamos com ela. Seu primeiro contato com Aslam é especialmente tocante.

Outra personagem interessante é Brejeiro, o paulama. Com um pessimismo que se mistura a um terrível senso prático, ele nos encanta por sua curiosa personalidade. 

Mais uma vez o elemento alegórico cristão aparece. A imagem da fonte de água em que Jill mata sua sede representa a conversão seguida de um comissionamento, a ordem para uma missão. Apesar disso, o livro não perde seu sabor. Lewis é um exímio contador de histórias e a tradução de Paulo Mendes Campos torna o texto ainda mais saboroso.

Há muitos outros detalhes e mistérios, como os nomes de Aslam citados pelos centauros. Ou o próprio País de Aslam, a terra acima de todas as terras, um lugar situado a uma altitude inconcebível. Ainda assim, não se trata de uma região coberta de neve ou com o ar rarefeito, como seria o caso.

Nárnia continua um local envolvente e cheio de um charme selvagem, agreste. Seus habitantes, a maioria inumanos, nos conquistam com sua simplicidade e comicidade.

A Cadeira de Prata é  um livro que nos envolve do início ao fim. O elemento do perigo real reaparece nesse livro, diferente do que percebi em Príncipe Caspian. Não são crianças brincando de guerra. São pessoas enviadas a uma região inóspita, hostil, com o perigo de gigantes ferozes e o inverno inclemente. Neste livro, os elementos atuam como cruéis inimigos. E nesse ponto, a despeito de seu pessimismo, Brejeiro surge como um aliado inestimável. E não é apenas nessa vez que ele salva o dia. A abnegação do paulama, as decisões que ele toma pelo grupo fazem com que a gente aprecie ainda mais sua presença.

Com elementos romanescos de uma jornada de resgate repleta de perigos, a envolvente narrativa de A Cadeira de Prata nos seduz completamente. Uma aventura empolgante para qualquer idade. Um livro inesquecível, uma jornada a ser lembrada, como os próprios Sinais de Aslam. 


Ficha Técnica

A Cadeira de Prata

As Crônicas de Nárnia # 6

C. S. Lewis

ISBN: 8522616198

Ano: 1997 

Páginas: 208

Idioma: português

Tradução: Paulo Mendes Campos

Editora: Martins Fontes


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-cadeira-de-prata-1104ed1474.html

segunda-feira, janeiro 02, 2023

A Viagem do Peregrino da Alvorada - Sobre jornadas sem retorno



O menino se chama Eustáquio Mísero. E faz por merecer esse nome. Tem comportamentos extremamente práticos e adora debochar de seus dois primos, os irmãos Lúcia e Edmundo Pevensie. E o deboche piorou quando descobriu que os dois compartilham um segredo: as viagens ao país mágico de Nárnia.

É claro que Eustáquio não acredita que os primos tenham viajado para outro mundo. Essa certeza torna o deboche ainda mais saboroso para ele. Fato é que o menino não suporta aqueles dois, e o sentimento é recíproco.

As férias teriam sido uma tortura para os irmãos Pevensie, hospedados na casa de Eustáquio por motivo de força maior, não fosse o quadro pendurado no quarto em que os dois dormem. Trata-se da imagem de um belo navio a remos, com uma cabeça de dragão na proa, navegando em um mar maravilhosamente tranquilo. 

Lúcia e Edmundo acreditam que aquele é um navio de Nárnia. Por isso, investem todo o tempo possível a contemplá-lo, perdidos em nostalgia. Eustáquio, em muitos desses momentos, aparece para debochar deles. Mas então, em um desses episódios, a magia acontece, provando que os irmãos tinham razão.

Aquele é mesmo um navio de Nárnia, levando ninguém menos que o próprio Rei Caspian, o herói do livro que leva seu nome em As crônicas de Nárnia. Caspian está em uma missão de busca pelo paradeiro dos fidalgos amigos do seu pai, os quais foram banidos para o mar por Miraz, o tirânico tio do rei. Acompanhando essa jornada está Ripchip, o Rato, aquele mesmo que operou feitos heroicos no livro anterior.

Assim tem início A Viagem do Peregrino da Alvorada. É talvez um dos mais épicos livros da série, no seu sentido estrito do termo, pois trata de uma jornada grandiosa e que tem a sua cota de perigos. Dragões, monstros marinhos e criaturas invisíveis estão entre esses percalços que os viajantes terão de enfrentar. Sem falar no maior e melhor dos perigos: Aslam, o Grande Leão.

O livro é uma delícia de se ler e acrescenta mais alguns à grande galeria de mistérios do mundo de Nárnia. Estrelas descansando em ilhas, frutos do Vale do Sol, a Faca de Pedra na Mesa de Aslam são alguns desses mistérios. A jornada em si é um grande mistério, podendo ser vista em seu teor figurativo. Ninguém pode negar o tom alegórico dos livros de C.S.Lewis, conhecido pregador cristão. Com isso, podemos pensar na jornada do Peregrino da Alvorada como uma escalada espiritual.

Outra grande alegoria está na metamorfose de Eustáquio. A narrativa tem seu início com foco no menino, mas esse foco se desprende dele e muda para Lúcia. Durante a maior parte do tempo, Eustáquio é insuportáel. Ele não é apenas um péssimo sujeito para os familiares, mas uma compahia odiosa. Há um propósito para que Eustáquio embarcasse nessa jornada e esse propósito é uma das alegorias mais belas de toda a série.

A despeito dessa beleza, gostaria de problematizar a construção da personagem Eustáquio. O livro apresenta o menino de um jeito que me faz pesar que ele e sua família são progressistas "caricaturizados". São descritos como "gente moderna, de ideias abertas". Pelo contexto, dá para perceber que a descrição é negativa e nem um pouco elogiosa.

A despeito desse problema, o livro continua delicioso de ser lido. Com aventuras, mistérios e muita magia, A Viagem do Peregrino da Alvorada é diversão certa, mesmo que seja uma alegoria religiosa.

Ficha Técnica:

A Viagem do Peregrino da Alvorada

As Crônicas de Nárnia # 5

C. S. Lewis

ISBN-13: 9788533616189

ISBN-10: 853361618X

Ano: 1997 

Páginas: 235

Idioma: português

Editora: Martins Fontes

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-viagem-do-peregrino-da-alvorada-1103ed1471.html

segunda-feira, dezembro 12, 2022

O leão, a feiticeira e o guarda-roupa - Um mundo mágico a conquistar



Toda criança tem seu lugar secreto. Seu cantinho particular, para onde foge quando quer se ausentar do mundo real, tão cheio de crueza e dor. E por vezes, o lugar secreto não é físico, mas um estado de sonho e divagação, um verdadeiro mundo mágico. Imagine, porém, ter um lugar físico capaz de levar uma criança a um mundo mágico, com criaturas fantásticas e aventuras sensacionais? Pois essa é a premissa de O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, primeiro livro de C.S.Lewis escrito para crianças.

O livro conta de quatro irmãos: duas meninas e dois meninos. Pedro e Susana são os mais velhos. Depois deles vêm Edmundo e Lúcia. Os dois mais velhos se apresentam como responsáveis, maduros, enquanto Edmundo é mau e imaturo. Lúcia, por sua vez, carrega um encanto e uma inocência que dão a ela um ar de heroína, comovendo e encantando leitoras e leitores.

Na narrativa as quatro crianças vão se refugiar dos bombardeios a Londres em uma casa no campo. Essa casa, contudo, não é comum. Enorme e cheia de segredos, tem um guarda-roupa mágico, capaz de levar as crianças à terra de Nárnia. A primeira a viajar para lá é Lúcia, que acaba fazendo amizade com o fauno Tumnus. Por ele a menina vem a saber que Nárnia é governada por uma feiticeira cruel. Por sua magia, é sempre inverno, mas sem nunca ser Natal.

Lúcia retorna ao nosso mundo. Mais tarde, as quatro crianças vão parar em Nárnia e ficam sabendo que o inverno de 100 anos chegará ao fim e que o Grande Rei, o Leão Aslam, está a caminho para cumprir a profecia de que os quatro tronos de Cair Paravel serão ocupados.

Trata-se de um enredo repleto de ação e perigos. Edmundo acaba por provocar, por sua ganância e ambição, situações irreversíveis. Enquanto Pedro surge como líder incorruptível e destemido. Já as meninas, infelizmente, são colocadas como testemunhas da ação. Chegam a ser proibidas por Aslam a entrar na batalha.

A ditadora de Nárnia, Jadis, também conhecida como Feiticeira Branca, surge como grande destaque. De longe uma personagem mais interessante, com seus manjares enfeitiçados e conhecimentos ocultos. Ela é responsável pelo eterno inverno em Nárnia, mas um inverno sem Natal. Suas forças são compostas pelos seres abomináveis, perigosos e mortais: espíritos de cogumelos venenosos, duendes, ogros, bruxas, minotauros, morcegos gigantes, entre outras criaturas. Nesse ponto, incomoda-me muito o discurso de C.S.Lewis, que coloca os feios e diferentes no lugar de vilões que devem ser eliminados.

Porém, não devo tirar o mérito da narrativa que não subestima as crianças. Elas não são poupadas da dor e da morte, mas entram "de cabeça" em uma aventura com muitas doses de horror. Destaco a primeira batalha de Pedro, quando ele é incitado por Aslam a enfrentar, sozinho, o lobo Maugrim, comandante da Polícia Secreta da Feiticeira Branca.

Faço destaque também a personagens que surgem para dar apoio às crianças: o adorável fauno Tumnus e o gracioso casal de castores. Há um certo ar de ingenuidade em Tumnus, algo quase infantil, enquanto que o senhor castor surge como uma figura sábia e paternal, enquanto a senhora Castor, além de maternal, assume posturas de uma sabedoria prática, o que causa um efeito cômico em sua relação com o marido.

Por fim, não posso deixar de mencionar o Professor, com seu tom sábio, mas de uma sabedoria pouco convencional, sempre pronto a acolher as crianças e acreditar nelas.

Com cenas de ação e um tom mágico de mistério, a despeito de certos anacronismos, O leão, a feiticeira e o guarda-roupa é uma obra encantadora e cativante, diversão garantida para todas as idades.


Ficha Técnica

As Crônicas de Nárnia

Volume Único (Edição WMF 2020)

C. S. Lewis

ISBN-13: 9788578270698

ISBN-10: 857827069X

Ano: 2010 

Páginas: 751

Idioma: português

Editora: WMF Martins Fontes


segunda-feira, novembro 28, 2022

O sobrinho do mago - um vai e vem entre mundos



Digory está numa enrascada. Por causa das maquinações de seu tio, o feiticeiro André, sua amiga, Polly, desapareceu ao tocar em um anel mágico. Agora, caberá ao menino enfrentar seus medos e viajar rumo ao desconhecido, através do poder de um desses anéis mágicos, para resgatar sua amiga.

Assim tem início O sobrinho do mago, segundo livro de As Crônicas de Nárnia, mas que consta no volume único como o primeiro, pois conta acontecimentos ocorridos antes de O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, obra que estreia a saga. Mas voltemos à aventura de Digory.

Trata-se de uma narrativa leve e amena, sem grandes percalços. A jornada por Charn é especialmente interessante, por conta de seu tom de mistério e suspense. A origem da Feiticeira Branca também é narrada, om direito a uma atrapalhada incursão pela Londres vitoriana, com carruagens destroçadas e policiais nocauteados aos montes. Sendo assim, a narrativa carrega um tom ímpar de humor e se configura na mais pitoresca das aventuras em Nárnia.

Fato é que O sobrinho do mago acaba destoando um pouco dos demais livros da saga. Muitos o apontam como o menos interessante. Porém, destaca-se o tom poético que a obra assume ao apresentar o poderoso leão Aslam na criação de um mundo de sonhos, repleto de deusas e fadas.

A dinâmica entre Digory e Pollyu é ótima. São crianças que assumem uma parceria ímpar. Digory se apresenta como um garoto íntegro e corajoso. Polly é intrépida e destemida. Há um certo tom que contrapõe a cidade e o campo, como se Londres (ou Charn) fosse o lugar da malícia e do vício, enquanto o campo se configura como o destino de quem quer reencontrar a inocência e a pureza.

André é uma figura especialmente maligna, mas de uma malignidade rasteira, como de um vilão de terceira categoria, tornando-se de antagonista a figura de riso e piada. Já a Rainha Jadis surge como o contraponto ou sombra de André. Totalmente ofuscada pela própria grandeza, ela não consegue entender que com força bruta nunca será capaz de dominar um mundo complexo como o nosso. A rainha age como uma força obtusa, sem propósito a não ser espalhar o caos na já caótica cidade de Londres vitoriana.

Apesar de carregar um tom menos épico que os demais, o livro é uma narrativa divertida e poética, com sua leveza e seus percalços, tornando-se uma ótima diversão para aqueles que amam Nárnia, bem como para os curiosos sobre as origens desse mundo de magia.


Ficha Técnica

As Crônicas de Nárnia

Volume Único (Edição WMF 2020)

C. S. Lewis

ISBN-13: 9788578270698

ISBN-10: 857827069X

Ano: 2010 

Páginas: 751

Idioma: português

Editora: WMF Martins Fontes


sexta-feira, novembro 12, 2021

Coraline - Uma passagem para a maturidade


Coraline é uma menina diferente. Movida por uma insaciável curiosidade, ela passa o verão inteiro explorando os arredores da casa em que mora. A própria residência tem suas peculiaridades. Trata-se de um casarão dividido em 4 apartamentos. Um deles está vazio, sendo justamente ao lado daquele em que a menina mora.

A curiosidade de Coraline a impulsiona a longos passeios pelos arredores. Até que um dia chuvoso faz com que a menina perceba uma porta que dá para uma parede de tijolos. A curiosidade por saber o que haveria além daquela parede guia a menina a um outro mundo, onde a comida é mais saborosa, os pais são mais presentes e os vizinhos, muito mais interessantes.

Alguma coisa, porém, mostra a Coraline que aquele mundo ideal não é seguro. Todas as pessoas que lá habitam têm botões pretos no lugar dos olhos. Um detalhe, no mínimo, assustador. 

Coraline pode ser considerado um romance de terror voltado para jovens leitores. Narrado na perspectiva da protagonista, o livro traz muitos dos dilemas da infância, principalmente o abismo entre crianças e adultos, a incompreensão, a tirania e o isolamento a que adultos acabam por relegar as crianças.

A protagonista é intrépida e inventiva. Porém, o texto sempre nos lembra que ela é mais baixa, inclusive para a idade, e também mais fraca. Assim, ela precisa enfrentar desafios muito maiores e mais perigosos do que seria de se esperar para crianças de sua idade.

Para compensar o terror e o perigo a que o ambiente do romance nos envolve, há uma narrativa fabulosa, divertida e aconchegante. É como se estivéssemos o tempo todo segurando a mão de Coraline, para lhe dar coragem, mas também para sermos reconfortados por ela em nossos medos. É preciso mencionar também os inusitados aliados que surgem ao longo da trama.

Por fim, a primorosa ilustração de Chris Riddel nos envolve ainda mais no clima do romance. 

Com uma narrativa envolvente, num ambiente salpicado de sustos e sobressaltos, Coraline é uma elaborada fábula sobre quão assustador é crescer. Assustador, sim, mas necessário.


Ficha Técnica 

Coraline

Neil Gaiman 

Desenhos de Chris Riddel

ISBN-13: 9788551006757

ISBN-10: 8551006754

Ano: 2020 

Páginas: 224

Idioma: português

Editora: Intrínseca

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/coraline-218759ed1193129.html

sexta-feira, maio 07, 2021

Finalmente, o leite - A história da história num mirabolante jogo


Ninguém pode negar a inventividade do escritor britânico Neil Gaiman. Famoso pela obra em quadrinhos Sandman, que repaginou um herói esquecido, Gaiman há muito tempo já escrevia, sendo um autor premiado de diversos contos, bem como de romances aclamados, como Os Filhos de AnansiDeuses Americanos e Coraline, entre muitos outros.

Quando Finalmente, o leite caiu em minhas mãos, fiquei muito animado para ler. Afinal, sou admirador dos trabalhos de Gaiman, em especial sua obra literária. Sendo assim, quando a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH recebeu um exemplar doado pela Letícia Pimenta, criadora do Clube do Livro BH, fiquei muito animado para ler.

Confesso que é de longe o menos interessante que eu li, de todos o de Gaiman. O pai "inventa" uma  história mirabolante e nonsense para justificar a demora em retornar do mercado para os filhos (uma menina e um menino) colocarem no cereal durante o café da manhã.

Existem duas grandes piadas no livro. A primeira é sobre o tempo, havendo paradoxos temporais e viagens no tempo que os provocam. A segunda(que deveria ter sido a primeira) é a metanarrativa. O livro tem um primeiro narrador (o filho), que escuta do pai a aventura. Sendo assim, estamos lendo a narrativa da narrativa, com o acréscimo da interlocução da irmã, que faz brevíssimos comentários ao longo do desenrolar da história.

Dessa forma, o livro é um enorme faz-de-conta, ao mesmo tempo que é um conta-e-faz, em um emaranhado de ideias mirabolantemente ridículas de um pai meio picareta que só sai para comprar o leite dos filhos porque de fato ele quer um pouco dele para o seu chá. O livro conta com piratas, dinossauros, alienígenas, além de outros perigos. Todos esses perigos sendo um prato cheio para crianças.

Com muito humor e doses cavalares de falta de noção, Finalmente, o leite é mais uma das provas da enorme - e ao que parece - inesgotável criatividade de Neil Gaiman. Além de ser uma excelente dica para crianças interessadas em tudo que uma criança pode se interessar. E um pouquinho mais.


Ficha Técnica

Felizmente, o Leite

Neil Gaiman

Desenhos de Skottie Young

ISBN-13: 9788579802591

ISBN-10: 8579802598

Ano: 2016 

Páginas: 128

Idioma: português

Editora: Rocco Jovens Leitores

Perfil do livro no Skoob: 

sexta-feira, fevereiro 05, 2021

O guia do mochileiro das galáxias - humor e criatividade na dose de uma dinamite pangalática


NÃO ENTRE EM PÂNICO. Acredito que essa frase é muito útil em inúmeras situações. Seja em momentos em que a gente descobre que perdeu as chaves de casa em uma sexta-feira depois daquela saideira do bar. Ou então ao descobrir que não viu aquele e-mail do chefe, enviado uma semana antes, mandando fazer aquela tarefa "pra ontem". Ou até mesmo em casos de inevitável demolição de um planeta para a construção de uma via expressa hiperespacial.

Essa é a frase de ordem estampada na capa do mais famoso e prestigiado guia de viagens do universo, O guia do mochileiro das galáxias. Não é por nada que ele também empresta o nome a um dos livros mais inventivos de nossos tempos. Escrito por Douglas Adams, o livro dá início a uma saga de cinco volumes narrando as desventurosas aventuras do inglês Arthur Dent, seu "parça" Ford Prefect, o mais humano dos alienígenas, dentre outras excêntricas personagens. Uma delas é Marvin, o robô maníaco-depressivo. Outra é Tricia Mcmillan, ou Trillian, a ousada astrofísica e companheira Zaphod Beeblebrox, um bon vivant totalmente caótico que, após alcançar o cargo de presidente da galáxia, orquestra um dos maiores roubos da história do universo.

Com tudo o que já foi dito, é possível ter uma leve ideia do que encontrar em O guia do mochileiro das galáxias. Antes de tudo, trata-se de uma narrativa repleta daquele humor crítico em que o mundo da ficção científica funciona como uma alegoria da contemporaneidade. Douglas Adams utiliza-se de conceitos complexos da astrofísica, da filosofia e até mesmo da literatura para tecer suas refinadas e deliciosas críticas.

Outro ponto interessante na narrativa é que Arthur Dent, improvável protagonista, surge para negar a jornada do herói. Como uma espécie de "Ulisses de araque", ele passa a maior parte do tempo sem fazer a mínima ideia do que está acontecendo. Claro, sua reação poderia ser proveniente do choque de ter o seu planeta natal transformado em vapor. Porém, muitos anos-luz serão percorridos até que o impossível herói dessa saga espacial terá o mínimo de noção do que está acontecendo e qual o seu papel no universo.

Não é preciso falar muito para atestar a maestria de Douglas Adams ao conceber sua "Odisseia Galáctica". O trabalho magnífico desse grande escritor é mundialmente conhecido. Porém, é sempre bom reafirmar a importância de um clássico como esse. Afinal, nele está contido um dos maiores mandamentos do Universo: NÃO ENTRE EM PÂNICO.


Ficha Técnica

O guia do mochileiro das galáxias

Douglas Adams

ISBN: 9788599296943

Editora: Sextante

Ano: 2010

Páginas: 156


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-guia-do-mochileiro-das-galaxias-225ed344547.html