sábado, agosto 31, 2019

Contraponto 1

Alma na lama
lama na alma
lama limpa
lavagem da alma
leva a alma
à lama
da lama leva
lavagem
à alma
lavo
louvo
louro
louros de louvor
à lavagem no meio do poema
no poema do meio
da lama.

sexta-feira, agosto 30, 2019

A fúria do corpo - Um relato selvagem

Um homem sem nome nem sem passado conta uma furiosa história de amor. Ele vaga pelas ruas do Rio de Janeiro. Em especial, de Copacabana. Sua palavra é descontrolada. Ao leitor, ele faz o relato de seus devaneios em uma vida insalubre e inconsequente, que ele divide com a mulher que ama.

Esse é, por se dizer, todo o enredo de A fúria do corpo, de João Gilberto Noll. O romance gira em torno das experiências sexuais e delírios do narrador. Nesta obra, Noll faz um retrato de um Rio de travestis, prostitutas e mendigos com suas vicissitudes. Um livro que é, antes de qualquer coisa, escatológico.

Aqui, o adjetivo escatológico se confunde em seus sentidos divergentes. A linguagem é pornográfica, profana, libertina. Contudo, o texto é entremeado de referências bíblicas, em especial ao livro Apocalipse de João. O próprio narrador já de início se compara ao evangelista em seu relato.

Outra forte fonte de referências, porém, está no paganismo que cerca a figura de Afrodite, a mulher que compartilha com o protagonista o caminho da mendicância. Por diversas vezes as experiências sexuais narradas se tornam bacanais onde a depravação pura é o ponto de partida. E o clímax acontece justamente no Carnaval.

Outro viés da narrativa é seu cunho de retrato de exclusão, em tom de denúncia velada. O narrador mais de uma vez declara estar pronto para ser morto pelo Esquadrão da Morte. Há relatos de violências absurdas em prisões e cadeias. Sua vida e de Afrodite estão sempre a ponto de serem descartadas.

Com muita crueza, mesclada a uma certa dose de doçura, pela adoração incondicional que o narrador devota à sua mítica Afrodite, A fúria do corpo flerta o tempo todo com a insanidade, sem deixar de lado o trato minucioso com as palavras e um apreço por fazer literatura. Assim, este é um complexo romance de enredo extremamente simples, mas que na sua simplicidade aprofunda e mostra o que nós temos de mais humano.

Ficha Técnica 
A fúria do corpo
João Gilberto Noll
Ano: 1989
Páginas: 276
Idioma: português
Editora: Rocco

quinta-feira, agosto 29, 2019

Ilusão

Quando eu fizer uma poesia
que seja bela como o nascer do sol
me avisem, não saberei a diferença
Temo tomá-la por mais um devaneio
fruto de meus olhos caleidoscópicos
Era tão bom ver assim
até descobrir que os outros viam diferente
Que agora esqueci-me do que é ver.

quarta-feira, agosto 28, 2019

Caleidoscópio: meus poemas dos anos 20

photo taken by H. Pellikka
Minha relação com a escrita poética é bem antiga. Lembro-me de ter arriscado versos e rimas lá pelo fim da infância. Eram versos que falavam do tempo e da ansiedade que ele traz. Infelizmente, esses versos não sobreviveram à minha adolescência.

Quando comecei a cursar Letras, tentei novamente. Experimentei sonetos, rimas e versos livres. Quase tudo foi abandonado lá pelos 25 anos. Diferente dos versos da minha infância, esses poemas foram, em sua maioria, preservados. 

O único problema é que eu não compartilhei a maior parte desses poemas. Ainda assim, não fui capaz de destruí-los. De uns anos pra cá, eu os reuni em um quase livro, que batizei de Caleidoscópio, o mesmo título do meu poema preferido dessa época. Alguns amigos leram, fizeram comentários e sugestões. 

Atualmente, esse livro está em processo de publicação. São poemas antigos, ingênuos, que mostram um pouco da carne que há além da minha pele. E continuo querendo divulgá-los. 

Vou compartilhando aos poucos esses poemas por aqui, com a hashtag #Caleidoscópio. Será como postar fotos antigas, daquelas que mostram como bonitinhos - e desengonçados - a gente costuma ser, quando jovem.

Convido aos interessados que acompanhem em meu blog possíveis desdobramentos, como um lançamento futuro. Podem conhecer todos os poemas do futuro livro na Página do Projeto Caleidoscópio. E conto com vocês para torcerem por mim - e pelos poemas também.

segunda-feira, agosto 26, 2019

Semana Literária em Miguel Burnier

A estrada me chamou cedo naquela sexta-feira. Encontrei minha amiga Norma de Souza Lopes no Centro de BH, quase em frente à Praça da Estação. Na van, além de nós dois e o motorista, estavam também os artistas da Companhia Fusca Azul. Nosso destino era Miguel Burnier, um bucólico distrito de Ouro Preto. Era manhã do dia 5 de julho de 2019.

Seguimos caminho, passando por estradas de terra. A estação ferroviária, transformada em espaço cultural, nos aguardava entre montanhas.

Passeamos por lá, brincando entre os trilhos onde já não passam trens. A antiga estação, que esteve em ruínas, agora era um lugar bonito de se ver, com biblioteca e sala de oficina. Lá eu conheci o casal Marco Antonio e Karine, realizadores do 9o Festival Cultural de Miguel Burnier. E não apenas isso. Através deles eu soube da história de revitalização da estação ferroviária e o trabalho frequente em compartilhar cultura junto aos moradores do distrito. 

Após o café da manhã, tivemos uma palestra com a Norma, que falou de sua experiência como articuladora de leitura na rede municipal de ensino de BH. Fui convidado por ela para realizar algumas leituras e falar um pouco de minhas escolhas literárias.

Tivemos uma pausa para o almoço, quando pudemos curtir um momento de convivência e estreitar os laços.

Em seguida, tive o privilégio de dividir com a Norma uma apresentação de narração de histórias na biblioteca da estação ferroviária. Alternamos nossas  atrativas e conversamos com as crianças, que participaram e se encantaram.

Para abrilhantar ainda mais o dia, assistimos o espetáculo da Companhia Fusca Azul, com uma série de histórias do kit literário de BH.

Partimos Miguel Burnier com a alegria de termos feito parte dessa história. Deixamos lá nossas marcas e sabemos que fomos também marcados por esse dia inesquecível. 





sexta-feira, agosto 23, 2019

Uma Chapeuzinho Vermelho - As pequenas forças contra os grandes monstros

Uma menina sozinha em seu caminho. Dante dela, surge um lobo. Ele é enorme e está faminto. Essa menina, que veste um chapeuzinho vermelho, tem diante de si um perigo terrível.

Assim começa uma das histórias mais antigas do universo infantil. Readaptado e recontado diversas vezes, o conto Chapeuzinho Vermelho aparece em inúmeros formatos e releituras. Por causa de tantas versões, há que se pensar que o tema já esteja alcançando um certo esgotamento. 

Até sermos apresentados ao livro Uma Chapeuzinho Vermelho, de Marjolaine Leray. Trata-se de uma obra completa, com um texto que ganha em simplicidade e humor. Os traços são expressivos e dialogam abertamente com o universo infantil, uma vez que simulam os rabiscos que as crianças fazem com giz de cera.

O equilíbrio entre texto e imagem concedem à narrativa um caráter fortemente cênico. Enquanto lemos, estamos vendo uma tela em ação. Há muitos silêncios que são completados pela expressividade dos desenhos de Marjolaine Leray. 

As principais referências ao conto original estão lá, mas transformados em ganchos de humor e ironia. O lobo se torna totalmente caricato. Com seus dentões, seus olhos enormes e ferocidade, ele vai sendo desconstruído, diante de uma menina que não tem medo. Ou melhor, uma menina que sabe vencer o medo através da curiosidade e da malícia propriamente infantil.

Uma Chapeuzinho Vermelho também dialoga com o universo dos cartoons, ao apresentar uma heroína pequena e forte, diante de um vilão virtualmente superior. Ela não teme sujar as mãos e não se importa em usar da violência sutil diante de seu inimigo. E de mau, o lobo se torna bobo, ou melhor, bobinho. 

Em um tempo em que a força é alardeada e que as minorias são ridicularizadas por homens brancos e preconceituosos, Uma Chapeuzinho Vermelho é uma alegre lembrança de que ainda podemos rir dos monstros, estejam eles em florestas, palanques ou tribunas.

Ficha Técnica
Uma Chapeuzinho Vermelho
Marjolaine Leray
Ano: 2012
Páginas: 44
Idioma: português
Editora: Companhia das Letrinhas

segunda-feira, agosto 19, 2019

Conte Outra Vez: coletânea de contos inspirados em canções de Raul Seixas


Em livro digital gratuito, escritores prestam tributo ao cantor 30 anos após sua morte.



Este ano se completam 30 anos da morte de Raul Seixas. Para celebrar o legado musical do Maluco Beleza, o escritor T. K. Pereira organizou a coletânea Conte Outra Vez.



Inicialmente, o livro teria apenas 30 contos, mas recebeu 6 faixas-bônus. “Percebi que as canções escolhidas permeavam quase todos os álbuns 17 álbuns de estúdio, deixando de fora o primeiro e os últimos. Então convidei mais autores e pedi que eles escolhessem uma canção de cada álbum faltante. Para tornar o tributo ainda mais completo, o escritor Bráulio Tavares liberou a publicação de uma canção de sua autoria, uma apropriada elegia ao rei do rock brasileiro.”, diz T. K. Pereira.



O livro traz autores de estilos e trajetórias próprias, mas que compartilham o fascínio pela figura e pelas obras do Raul. Algumas inspirações são mais sutis, outras mais diretas, com o próprio cantor surgindo em várias narrativas. Houve a preocupação de dar diversidade à coletânea, reunindo escritores de Minas Gerais, Paraíba, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e outras partes do país.



 “Os anos criaram misticismos e lendas ao redor do Raul, mas o que ficou dele para mim foi o artista que nunca deixou de acreditar em si mesmo, em sua obra e no que tinha a dizer, por mais obstáculos que surgissem em seu caminho”.



Gratuito e exclusivamente digital, o livro estará disponível a partir do dia 21 na Amazon, Apple Books e outras plataformas digitais, incluindo o site oficial do organizador (www.tkpereira.com.br).

Lista de Autores e Canções Escolhidas

 Adriane Garcia - MG - Se o rádio não toca
 Alessandra Barcelar - SP - Para Nóia
 Alessandro Garcia - RS - Meu Amigo Pedro
 Ana Elisa Ribeiro - MG - Metamorfose Ambulante
 Ana Luiza Rizzo - RS - O Trem das 7
 Betzaida Mata - MG - Ave Maria da Rua
 Bráulio Tavares - PB - Chegada de Raul Seixas ao Castelo de Avalon
 Bruna Brönstrup - RS - Check-up
 Bruno Ribeiro - MG/PB - Maluco Beleza
 Cinthia Kriemler - RJ - Ouro de Tolo
 Cris Vazquez - RS - Al Capone
 Cristiano Rato - MG - Na rodoviária
 Eduardo Sabino - MG - Canto pra minha morte
 Elizabeth Gouvea - MG - Você roubou meu videocassete
 Gisela Rodriguez - RS - O Dia em que a Terra parou
 Irka Barrios - RS - Gita
 Ivandro Menezes - PB - Mosca na Sopa
 João Matias - PB - A Maçã
 Joedson - PB - Sociedade Alternativa
 Julia Dantas - RS - Meu Amigo Pedro
 Katia Gerlach - RJ - Gospel
 Matheus Borges - RS - Paranóia II
 Maurem Kayna - RS - Medo da Chuva
 Nathalie Lourenço - SP - Aluga-se
 Renata Wolff - RS - Segredo da Luz
 Roberto Menezes - PB - Caminhos
 Samuel Medina - MG - Trem 103
 Sérgio Tavares - RJ - Metrô Linha 743
 Simone Teodoro - MG - S.O.S
 T. K. Pereira - BA/MG - Tente Outra Vez
 T. S. Marcon - SC - Mamãe eu não queria
 Tadeu Sarmento - PE/MG - Dr. Paxeco
 Taiane MariaBonita - RS - Judas
 Tiago Germano - PB - Sessão das 10
 Tiago Motta - MG - Como Vovó já Dizia
 Wander Shirukaya - PE/SP - Rock das Aranha

T.K. Pereira

A Palavra do deus

É forte como a dor
É dura como o horror
e fura como uma
presa bestial
Distorce o real
Infame, espalha o mal
A palavra sangrenta
do senhor

sexta-feira, agosto 16, 2019

Flicts - Uma ode à empatia

Era o ano de 1986. Um garotinho introspectivo e desajustado encontra um livro que é quase de seu tamanho. Em suas páginas, cores fortes saltam em sequências oníricas. Admirado, o garotinho descobre uma história sobre preconceito e autodescoberta. Ele se descobre.

Esse é o início de minha história com Flicts, clássico do escritor e ilustrador Ziraldo. A saga de uma cor incompreendida buscando o seu lugar me cativou, como tem feito com tantas crianças - e adultos - há 50 anos.

Pioneiro em tantos aspectos, o primoroso livro de Ziraldo aborda um tema que não perde sua atualidade. Afinal, a humanidade, desde os primórdios tropeça em conviver com suas diferenças.

Flicts é um livro que suporta múltiplas narrativas. As formas e cores, seguindo um desenho básico, dialogam com todas as faixas etárias. A sequência de imagens apresentam uma narrativa que pode ser facilmente acompanhada por quem ainda  ao passou pela alfabetização. Ainda assim, essa simplicidade é de um refinamento que dialoga com a poesia concreta.

Seu texto, porém, não perde em riqueza poética. O ritmo, a escolha nas palavras e sentidos constrói um conflito que cresce rumo a um clímax. Por ser uma obra-prima, texto e imagem se completam nessa tensão. 

E nesse clímax, nós leitores temos então uma grande reviravolta. Nela, somos compactados com a verdade que todas as pessoas são feitas da mesma matéria, não importando as aparências. 

Entendemos que, assim como a lua, nossa alma é Flicts.

Ficha Técnica 
Flicts
Ziraldo
Ano: 1969 
Páginas: 82
Idioma: português 
Editora: Expressão e Cultura

terça-feira, agosto 13, 2019

O Saci no CCLAO


Oficina Literária "O Saci, de Monteiro Lobato"


Leitura de trechos do livro "O Saci", de autoria de Monteiro Lobato, seguida de atividade criativa sobre as origens e peripécias do personagem, com Samuel Medina.


Dia 14, quarta, às 14h30

Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira
Avenida Antônio Carlos, 821 - Mercado da Lagoinha
Contato: (31) 3277-6091 ou 3277-6077


Vídeo: Uma Chapeuzinho Vermelho - Marjolaine Leray


Que criança não vive a sensação de medo através da figura do famoso Lobo Mau? Ele é grande, forte, feroz e ruim até o último pelo. Aqui neste livro, ele continua sendo tudo isso, com a diferença de que a Chapeuzinho, além de muito esperta, não tem nenhuma compaixão pela fera. Uma coisa é certa, o final é surpreendente!

Ficha Técnica

Título original: UN PETIT CHAPERON ROUGE
Tradução: Júlia Moritz Schwarcz
Páginas: 48
Formato: 20.30 X 13.60 cm
Peso: 0.184 kg
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 20/04/2012
ISBN: 9788574065281
Selo: Companhia das Letrinhas

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40672

segunda-feira, agosto 12, 2019

Primavera Literária 2019

A CONSTRUÇÃO DE UM CAMINHO COMUM PARA BIBLIOTECAS E O MERCADO EDITORIAL - A relação entre o mercado editorial brasileiro e as políticas de aquisição de livros para bibliotecas públicas e escolares.

Mesa de discussão com:
. Volnêi Canônica
. Samuel Medina
. Guilherme Relvas
. Viviane Maia
. Mediação: Rosana Mont'Alverne


"O mercado editorial brasileiro, especialmente sua produção infantil e juvenil, funciona, não exclusivamente, mas em grande medida, em torno de políticas de aquisição de livros para bibliotecas públicas e escolares. Em nosso atual contexto, como pensar essa relação, considerando aspectos como liberdade de expressão, financiamento e compromisso com um projeto amplo e longevo de formação de leitores e fortalecimento das bibliotecas?"

Dia 15/08/2019
11h30
Sala 206 (não será na sala multiuso)



terça-feira, agosto 06, 2019

Vídeo: 20 disfarces para um homenzinho narigudo - Marcelo Martinez



A ideia de 20 disfarces para um homenzinho narigudo é proporcionar à criança uma brincadeira com o significado das linhas e das formas. A partir de uma base fixa – o homenzinho narigudo –, de muita imaginação e poucos traços, o pequeno leitor poderá “ver” figuras diferentes: "um carinha la da França", "um pintinho de mudança", "uma cobra equilibrista", "um elefante na piscina", e por aí vai. Ao fim do livro, uma nova aventura é proposta: quais figuras os pequeno leitor será capaz de imaginar sobre a imagem do homenzinho narigudo?

Ficha Técnica
Título: 20 Disfarces Para Um Homenzinho Narigudo
Autor: Marcelo Martinez
ISBN: 9788520932056
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Formato: 20 x 20
Páginas: 48
Ano de edição: 2013

segunda-feira, agosto 05, 2019

Mesmo depois

Prometo ser fiel
Em ações e palavras
Que minha poesia
jamais verá
outra musa.
Prometo ouvir
Atentamente
Todo que você
tiver a dizer.
Observar seus silêncios
com respeito e cuidado.
Prometo não te sufocar
com meus ciúmes
E te cobrir de beijos
Todos os meus dias
E...
Quem sabe?
Mesmo depois.

sexta-feira, agosto 02, 2019

Contos de Amor e Morte - Com Pâmela Bastos e Samuel Medina


Princípios e Fins. Presume-se que a vida começa no Amor, mas certamente em seu fim,  a morte, há que se encontrar Amor. Contos  de Amor e Morte celebra a vida em sua plenitude.

Dia 9/08/2019
No Espaço Suricato
Rua Souza Bastos, 175, Floresta. Belo Horizonte - MG.
Couvert artístico de R$ 12,00.


Contamos com as presenças de vocês!

Atualização: estaremos com uma barraquinha, vendendo o livro Patos Selvagens a quem estiver interessado. E o preço será promocional!