Blog do escritor e contador de histórias Samuel Medina. Aqui você encontrará resenhas de livros, contos, crônicas, relatos de experiência e poemas. Além de informações sobre meus livros.
Crespim é um anjo diferente. Não quer tocar harpa ou trombeta. Quer tocar percussão. Assim, ele apronta a maior confusão. Seu desafio é unir um amor meio atrapalhado. Ele conseguirá? Vamos descobrir!
A programação do FLI-BH 2019 está no ar. Com a curadoria de Nívea Sabino e Marilda Castanha, o Festival está mais que bonito, está um monumento! Autoras e autores de diversos registros e lugares encontrarão seu espaço no Parque Municipal Américo René Gianneti. Temos Adão Ventura como homenageado. Leda Martins e Ailton Krenak são as menções honrosas.
Sinto que será uma honra para toda e qualquer pessoa que transitar por essa ciranda de Oralitura, que adentrar esse quintalzão que será o Parque Municipal nos dias 25 a 29 de setembro.
Mais que um lugar de escrita, será de escuta. Uma grande roda como aquelas que nossos ancestrais faziam. E nessa grande roda, saudaremos suas vozes com as nossas. Na figura de tantas letras, cantos, performances, slams e saraus, seremos todas uma grande colcha de retalhos.
Não poderia deixar de puxar uma sardinha pro meu lado. Estarei na Biblioteca do FLI-BH com oficinas literárias. Faço também a apresentação "De lobo a bolo". Por fim, terei o privilégio de receber Ana Maria Gonçalves e Marcelino Feire em uma mesa maravilhosa.
A história da Literatura de BH e do mundo ganha mais um capítulo. Um daqueles cheios de reviravoltas, aventuras e muita emoção. E nesse grande épico, estamos todas e todos convidadas. Vem com a gente!
Por vezes, a Poesia nos pega pela mão e nos leva até a beira do precipício. Ela então nos convida a debruçar e olhar o vazio que existe lá embaixo. E se nos negamos a isso, ela nos pega pelas bochechas e nos faz olhar em seus olhos - onde veremos o mesmo vazio. Podemos até fechar os olhos, mas nós já entramos em sua dança, e ela nos conhece muito bem. É impossível sairmos imunes.
Foi assim que me senti ao terminar Borda, de Norma de Souza Lopes. A voz da poeta belo-horizontina me levou ao silêncio e ao vazio. Mas esse mesmo vazio escondia uma semente de múltiplas possibilidades.
Não há como ler a poesia de Norma e não se sentir um pouco ela. Afinal, ela vai deixando marcas de sua alma nos versos, como "metassinaturas". Sua história marca a palavra de seus Poemas como as cavernas com pinturas rupestres.
Há uma tristeza resignada em seus poemas. Não devemos confundir, porém, com conformismo. Sua resignação está mais para uma voz que admite seus silêncios, seus tropeços, sua condição. Mas nessa mesma resignação é firmada a trincheira da resistência e da luta.
Ainda que haja essa tristeza na maior parte dos poemas, algo como a certeza de que o Amor é miragem, há como que traços de luminosidade, apontando para uma esperança despretensiosa. A voz poética não quer ter razão. Apenas se permite sonhar, a despeito da dor, da angústia, do sofrimento e da rejeição.
Uma tristeza luminosa que nos aponta para o vazio e o escuro que em nós existe, enquanto nos convida a abraçar esse breu, fazer dele um ponto de calor e aconchego, onde possamos fazer brilhar nossa própria luz.
Ficha Técnica
Borda
Norma de Souza Lopes
Número de Páginas: 100
Formato: 14x21
Editora Patuá
Aproveito para compartilhar aqui o vídeo em que eu declamo o poema "Tombo", que faz parte do livro:
Este é um relato sobre um evento antigo que me marcou profundamente.
Vou falar aqui sobre o encontro que ocorreu no sábado, dia 7 de fevereiro de 2015, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Estiveram presentes seis pessoas que debateram o tema: "O Escritor Independente". Era um grupo heterogêneo. Havia pessoas no início de suas carreiras, bem como escritores já bastante experientes.
Para nortear as discussões, perguntei: quais são os desafios do escritor independente?
Divulgação? Distribuição? Dinheiro? Percebemos que por maiores que sejam esses desafios, eles vão se mostrar diferentes para cada pessoa. O perfil de cada escritora ou escritor é único, assim como a leitura que cada pessoa faz, sua vivência e percurso literário.
Assim, veio a mim a pergunta: O escritor precisa de um agente? José Carlos Aragão, um dos escritores mais experientes que conheço, disse que fez a escolha de ter uma agente literária. Dessa maneira, ele podia se dedicar integralmente à escrita, enquanto sua agente se preocupava com questões como divulgação, contato com editoras e participação em eventos.
Ao abordarmos o papel das editoras na carreira dos escritores, sejam eles independentes ou não, Ana Faria, autora de vários livros, entre eles o romance Um ano bom, comentou que há vantagens e desvantagens, mas elas serão diferentes para cada pessoa.
Aragão então voltou a mencionar a função do agente. Ele recomendou que um escritor iniciante deve pesquisar os vários que têm sites e ler com atenção os serviços que eles prestam.
Aragão ressaltou que é importante também saber até onde deixar o agente opinar. Alguns interferem demais no texto de seus clientes. Isso pode incomodar algumas pessoas. Porém, os agentes literários possuem um leque de editoras de contato. Assim, um agente pode receber a encomenda de um livro, de acordo com um assunto "quente". Porém, ele advertiu que é sempre importante conferir a referência dos agentes entre os escritores que eles representam.
Ledinilson Moreira, autor de Portais, apontou que um escritor deve ter com clareza sobre aonde quer chegar. Afirmou que há escritores felizes por serem independentes.
Mencionei então a nossa vontade de divulgar nossos textos, alcançar nossos leitores diretamente. A angústia de ter logo um retorno pelo que escreve. Um dos caminhos seria publicar em blog, mas o resultado pode ser o contrário do esperado. Um blog precisa de constante atenção. Ele deve ser atualizado e divulgado. No fim, ele pode exigir muito trabalho, como um eterno bebê.
Aragão disse que o plágio é sempre uma possibilidade e, para não facilitar, não publica online.
Outro ponto importante que discutimos no encontro é a realidade de que o eixo Rio-SP ainda faz grande diferença. O que significa que em Minas, embora estejamos tão perto desse eixo, continuamos meio que isolados.
Por fim concluímos que o status de escritor independente é uma condição que fará parte do histórico da grande maioria daqueles que desejarem seguir carreira literária. Alguns de nós seremos sempre independentes. Isso, porém, não deve ser algo que desanime aqueles que ainda não se lançaram no ofício, ou estejam em seus primeiros passos.
Afinal, como a história do nosso país gosta de alardear, em alguns casos é "independência ou morte".
Livro-minuto foi um termo que passei a utilizar em 2014, após aprender com o Rodrigo Teixeira uma dobradura que torna uma única folha em caderno.
Ao me deparar com esse belo truque, fiquei fascinado e decidi levar essa técnica para minhas oficinas de mediação de leitura. Nascia então o livro-minuto: a proposta de produção de um livreto que poderia ser lido em menos de um minuto.
A oficina Livro-minuto foi ofertada tanto na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, quanto em bibliotecas de centros culturais da cidade. O princípio era ganhar simpatizantes pela proposta, de forma que mais pessoas se envolvessem no processo de produção de livros como objetos únicos, artesanais, fora da lógica de produção em série.
Minha paixão por livros sempre foi para além do texto. As obras medievais me fascinavam, com suas brochuras com iluminuras e escritos à mão. Não foi à toa que fui atraído por Jorge Luís Borges e suas ideias de livros em que imprecisões ou "erros" tipográficos os transformariam em objetos diferenciados.
Assim, quando conheci os livros artesanais, fui imediatamente cativado. Tenho em meu acervo pessoal muitos livros feitos de material reciclado, costurados à mão. E sempre que tenho oportunidade de ir a uma feira de livros independentes, saio de lá com a mochila cheia de novos tesouros.
E por isso essa minha paixão extrapolou para além do colecionismo. Passei a produzir artesanalmente minhas próprias obras através da Oficina Livro-minuto.
A proposta da atividade é refletir no papel do livro e em seu percurso como ferramenta fundamental do pensamento e da memória da humanidade. Discutimos sobre os usos do livro e sua evolução de riscos no chão, pelos desenhos rupestres, passando pela pedra talhada, pelas tábuas de argila, pelo pergaminho, até o formato convencional, conhecido como brochura, caderno ou códex. Por fim, lanço às pessoas participantes o convite de fazermos nossos livros.
Como material, além da folha de papel, uso textos em domínio público. Podem ser poemas, ditados, adivinhas, quadrinhas, trovas, sonetos. Quando o texto tem autoria identificada, não deixo de fazer menção do nome da autora ou do autor. Apresento também alguns desenhos do escritor Ricardo Azevedo para serem recortados e colados.
Todo esse material, contudo, é propositivo. Cada pessoa tem a liberdade de criar seu livro-minuto de acordo com seu impulso criativo. Assim como eu, pois aproveito para, a cada oficina, criar mais um livreto.
Tive a felicidade de participar de um sarau em que o amigo Felipe Diógenes levou suas alunas e seus alunos. Fizemos um varal e vários livretos produzidos pela garotada foram pendurados. Quem quisesse poderia pegar qualquer um e ler para o público. Foi um momento mágico.
Com o objetivo de expandir a ideia, decidi lançar oficialmente o Projeto Livro-minuto. O objetivo é fazer circular o conceito, bem como o livreto em si. Abaixo, compartilhei o vídeo do livro-minuto "JOGO".
Posteriormente, farei propostas e postarei outros vídeos, com o objetivo de envolver ainda mais as pessoas no processo. Aguardem!