sexta-feira, junho 29, 2012

Contos de Terror, Mistério e Morte


O que é o medo? O terror? Como o ser humano lida com esse sentimento tão presente e tão forte? O medo tem acompanhado a história da humanidade como uma entidade quase personalizada e a arte já trabalhou esse tema de inúmeras formas. O cinema, por exemplo, imortalizou narrativas em que o medo e o terror ganham dimensões titânicas, quiméricas. Como um assunto que sempre fascinou muitos de nós, o medo sempre teve seus grandes ícones. É inegável que um desses ícones seja Edgar Allan Poe, imortalizado como escritor de contos de terror. 
Contos de Terror, Mistério e Morte traz uma seleção dos melhores e mais famosos contos escritos por Poe. Em sua obra, há pouco espaço para os sustos convencionais como fantasmas, demônios ou aparições. No universo de Poe o medo é, sobretudo, fruto da alma humana, de suas insonváveis dúvidas. O maior monstro e inimigo do homem é sua própria imaginação, que eleva-se sobre ele e o traga. O ambiente se torna então um cenário de terror, mas somente porque o olho que obseva esse mesmo cenário o povoa dos fantasmas nascidos do seu medo. Mas não pensem que Poe nos apresenta somente isso. Para quem acha indispensável os tradicionais fantasmas, eles certamente também estão presentes, na melhor performance de um gênio do terror.
Escrito por alguém que de modo algum nega o talento para a narrativa, Contos de Terror, Mistério e Morte com certeza irá fazer seu leitor sentir calafrios. Mas se não o fizer, pelo menos aquela palpável sensação da presença do desconhecido é garantida.

Ficha Técnica
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: NOVA FRONTEIRA
Ano de Edição: 1981
Nº de Páginas: 249

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/6773

quarta-feira, junho 27, 2012

Cruzada Virtual

O ouvido colado ao fone aguarda na linha enquanto escuta apenas uma melodia inútil. A mudez e o descaso se escondem por trás de uma acordes musicais solapados. Vozes mecânicas repetem mentiras, enquanto o tempo se esvai, medido pelo compasso dessa melodia cíclica, ou pela soma de tudo que poderia ser feito durante o tempo perdido nessa enganosa chamada.
A tecnologia parece zombar de nós, interrompendo o contato sem qualquer aviso. Nosso problema não é novo; nunca o é. De fato, essa tecnologia existe para solucionar problemas que nos inquietam desde a fundação do mundo.
Quando uma voz atende do outro lado da linha, é impessoal e fria, quase eletrônica. Nosso problema é coletado por uma voz sem rosto, que ostenta ares de incredulidade. "Não, dona, não estou falando de Saci-pererê ou da Mula-sem-cabeça..."
O cliente se torna então o problema em si, um inimigo da normalidade, do bom desempenho do sistema, da imagem de eficiência da Empresa. Ele recebe um número, é agraciado com um protocolo e advertido quanto ao perigo de suas palavras com a ironia de que tudo o que ele falar será gravado "para sua segurança". Ele sabe que sua paciência será testada, assim como sua resistência, mental e física. O corpo ficará desconfortavelmente imóvel, enquanto a mente estará sujeita a diversos mantras, sejam eles eletrônicos ou não. Deverá repetir o número do protocolo tantas vezes que será capaz de decorá-lo. A cada novo atendente, deverá repetir suas informações pessoais a ponto de duvidar de si mesmo. Afinal, uma pessoa real não precisaria convencer tantas outras da relevância de seus problemas.
Seria venturoso dizer que como recompensa por sua persistência o cliente alcançaria êxito, veria seu problema solucionado. Seria também uma mentira. A tirania da tecnologia não prevê vencedores; apenas escravos. Cada efêmera vitória será apenas o prenúncio de uma nova, labiríntica e cansativa cruzada.

segunda-feira, junho 25, 2012

Música - Parte I


Tudo começou com o desaparecimento de Michelle Amorim, inquilina de um dos quartos do casarão que eu herdara de meus pais. Era uma jovem alegre, jovial e cheia de sensualidade. Não devo negar que já fora diversas vezes atraído por aquela pele morena e pelos olhos brilhantes que, em conjunto com seu cabelo anelado cor de mel, revelavam uma ímpar e brasileira beleza. O fato da jovem estudar música às vezes arrebatava minhas calmas tardes de sábado, transformando meu descanso planejado em um desespero de notas musicais que mais despertavam meu desgosto do que me relaxavam ou comoviam. As tardes de sábado eram motivo para discussões com Michelle, que não dava o braço a torcer, ameaçando deixar minha casa. Eu não desejava que isso acontecesse e por isso cedia. Antes que eu seja mal-interpretado, deixo claro que minha relação com Michelle era puramente formal e meu interesse não ultrapassava a relação inquilina-proprietário. A moça sempre pagou em dia, nunca trouxera namorados ou amigos estranhos para minha propriedade, nunca chegara bêbada ou drogada. Eu estava ciente que, apesar do barulho infernal que ela fazia com seu violão todo sábado, não havia qualquer hábito que a desmerecesse como inquilina exemplar. Assim, acabei forçado a aceitar seus argumentos e cedi, procurando me adaptar às notas estropiadas que enchiam a casa de sons atravessados.
Acontece que certa tarde de sábado despertei em meu sofá tendo um de meus livros aberto sobre o peito. Efeitos do almoço. Fui acometido por um certo estranhamento. Minha casa estava silenciosa. Era dia de estudo de Michelle e supunha eu que ela estivesse em casa. Concluí então que ela talvez tivesse trocado a tarde de estudo por outro programa qualquer. Tomado por um súbito voyerismo fui tentado a espiar como seria o quarto de minha inquilina. Levantei-me e subi as escadas com cautelosa rapidez. Bati levemente à porta, não sendo respondido. Movi a maçaneta, percebendo a porta destrancada.  
O quarto de Michelle revelou-se a mim pela primeira vez. Era cheiroso e aconchegante, embora fosse levemente desorganizado. Partituras estavam espalhadas pela cama. Na parede diversos quadros com imagens difusas criavam um ambiente onírico. O antigo guarda-roupa de madeira escura estava entreaberto, revelando a silhueta do estojo do violão de minha inquilina. Havia mais uma coisa lá. Um aparelho de CD ligado, embora não estivesse tocando. Curioso, aproximei-me e pressionei a tecla play.

Continua...

sexta-feira, junho 22, 2012

As batalhas do Castelo


Em um reino remoto em plena Idade Média, um rei agonizante dá uma ordem inusitada. Logo após sua morte, o Bobo da Corte deveria ser nomeado Duque, tendo direito a todas as regalias da nobreza, ou seja, um castelo com vassalos a servi-lo e uma corte sua, com menestréis, artistas e até um bobo para alegrá-lo. O excêntrico presente do rei moribundo deixa a Corte Real de pernas para o ar. Os dois príncipes, que secretamente disputam o trono, bem como os demais nobres, consideram que elevar um plebeu, ainda por cima Bobo, para a condição de nobre seria o maior dos ultrajes. 
Mas esse Bobo de bobo não tem nada. É um homem de meia-idade, cheio de vitalidade, otimismo e inteligência. O presente também havia sido uma surpresa para ele, mas os méritos eram todos seus, pois havia alcançado a simpatia do rei com todo o seu talento e genialidade. Com essa grande chance, ele decide pôr em prática todos os seus ideais e sua filosofia de vida, lutando para a construção de um reino mais justo e com condições mais dignas de vida. Ele parte então para o seu castelo, o mais pobre e distante, acompanhado por uma trupe de velhos, aleijados, doentes, músicos surdos, crianças órfãs e um poeta desencantado da vida. Os desafios serão muitos para que o Bobo realize seu sonho e cabe ao leitor acompanhá-lo para descobrir se de fato o ideal da justiça e do bem podem prevalecer contra a crueza do mundo.
Escrito em uma linguagem leve e despretensiosa, As batalhas do Castelo é um comovente conto que mostra como o homem sempre passa pelos mesmos questionamentos, não importa qual seja a época, e que cabe a cada um a escolha de, a cada dia, construir um mundo melhor.

Ficha Técnica

Título: As batalhas do Castelo
Autor: Domingos Pellegrini
ISBN: 8516035956
Editora: Moderna
Ano: 2003
Páginas: 208

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/5075-as-batalhas-do-castelo

quarta-feira, junho 20, 2012

Interior


Era um dia ameno, ótimo para um bom passeio. Acompanhado pela namorada e por duas amigas, ele chegou a um espaço cultural que prometia uma exposição imperdível. Os problemas, contudo, surgiram logo que lá chegaram: fila enorme, atendimento ruim e uma decepcionante coleção de arte barroca.
Fugiram para a segunda galeria, onde as obras de um pintor surrealista estavam expostas. Os quatro corriam os olhos pelos quadros, avaliavam, comentavam, ponderavam. As três moças estavam quietas, insondáveis. Ele, no entanto, parecia perturbado com as criações do tal surrealista. A namorada logo percebeu e perguntou o que ele tinha. Não foi possível responder, pois um incidente desviou sua atenção.
Um segurança acusou injustamente uma de suas amigas de ter encostado em uma das obras. A injustiça gerou discussões e reclamações. Todos saíram um pouco irritados com o ocorrido e deixaram para trás a galeria com suas imagens surrealistas.
Não ele. Enquanto as três moças conversavam trivialidades, ele deixava que as imagens da galeria atravessassem sua mente. Sentia um incômodo inexplicável, como se tivesse deixado passar algum detalhe. Era como se uma mensagem oculta o estivesse chamando das sombras.
Naquela noite, porém, as imagens surreais invadiram seu sono. Em sonhos ele se vê diante do mesmo espaço, sozinho. A galeria está vazia e gelada. Apesar disso, as luzes se mantêm acessas, derramando-se intensamente sobre as paredes brancas. Ele teme se perder nessas paredes, no esquecimento que a brancura delas evoca. Seus passos ecoam no piso coberto, como se o carpete fosse mármore e como se ele estivesse calçado.
O primeiro quadro mostra o interior de um cômodo onde se revela uma construção dantesca de formas geométricas, dispostas sem qualquer lógica. Ao lado do quadro, a inscrição: "Interior Metafísico". A imagem fere sua mente e ele busca se afastar dali.
Ele percorre os corredores da galeria e a armadilha o persegue nos quadros seguintes, com as mesmas montagens terríveis. Seus olhos buscam descanso em uma outra moldura que se destaca ao longe, uma provinciana praça da Itália.
Apenas uma praça, solitária, ladeada por fachadas de pequenos edifícios. Ao fundo, uma mancha branca. A paisagem além da praça está repleta de bruma, deixando antever apenas o vulto de uma enorme construção. Enquanto ele se aproxima, percebe que a bruma que havia no quadro toma também parte da galeria. Nos cantos longínquos os vultos escuros dos seguranças se desenham, enquanto a bruma pouco a pouco se dissipa. Ele sente um pouco de alívio ao perceber que, afinal, não está sozinho.
Ao chegar diante do quadro, ele vê que a praça é dominada ao fundo por uma torre cilíndrica. Pressente o perigo, pois o mistério da torre é ainda maior e mais funesto que o interior metafísico.
Ele decide então deixar a galeria e vaga entre paredes metafísicas e grandes estátuas de bronze. Sentindo-se desorientado, procura um dos seguranças, para logo descobrir que não passam de estátuas sem rosto, cobertas de engrenagens e miniaturas de templos helênicos.
Acossado pelos quadros e por suas visões, ele tenta escapar por um corredor que acaba em um quadro titânico onde a torre aparece, única e soberana. Bem às suas costas, as figuras de bronze começam a se mover em sua direção.
A urgência do terror o impele a ultrapassar o limiar do quadro, sem que se desse conta do fato. Percebe apenas que avança pela sacada da torre, sempre subindo. Ao longe, montanhas sombrias são adornadas por nuvens. Um vento gélido açoita as colunas da torre, tornando a subida ainda mais penosa.
Ele chega ao topo quando não pode mais escapar. No alto, uma outra torre, invertida, se une à primeira. No ponto em que as duas se encontram há uma placa de bronze e escrito nele um nome secreto. Ao pronunciar aquele nome, sente que suas pernas vão se enrijecendo. De seus ombros brotam espirais, de seu peito surgem fachadas de templos, colunas dispersas. Seu rosto perde os contornos. No alto da torre, monumento de bronze, ele se torna o enigma.

segunda-feira, junho 18, 2012

A Galinha


Tudo começou numa cidadezinha bem pequena, onde os frangos não eram vendidos congelados no açougue (mas vivos!) e os ovos não eram encontrados nas cartelas de papelão do supermercado. Aliás, nem supermercado havia nessa cidade.
Ovos eram vendidos em galinheiros fedorentos, onde galinhas brancas e silenciosas comiam e botavam. Algumas também chocavam pintinhos bem amarelos que logo viravam franguinhos e franguinhas brancos. As franguinhas eram destinadas à produção de ovos, fechando o interminável ciclo de exploração. Já os franguinhos tinham um destino bem pior: a panela.
Naquele dia o Menino havia ido ao galinheiro com o dinheiro contado para comprar o frango do almoço. Ele foi atendido por uma mulher esquálida, com um avental contendo um bolso dianteiro, de onde retirava maquinalmente maços de notas e as contava e recontava. Sem olhar para o Menino, disse o preço e esperou que o cliente escolhesse o frango que iria levar.
Com ares de especialista, ele olhou, examinou, ponderou. Até que bateu os olhos em uma galinha já velha, meio capenga, que não botava mais ovos e por isso tinha sido “rebaixada” de posto. O Menino viu aquela galinha no meio de tantos frangos e compreendeu. Sem pensar duas vezes, pediu para levá-la e deixou seu dinheiro com a mulher esquálida.
Ao chegar em casa, o Menino levou uma bronca. A Mãe tinha mandado comprar frango novo e não galinha velha! O Menino fez que nem era com ele. Disse que a galinha não iria para a panela. Ela era da família agora e ponto final. Naquele dia, por causa de tanta teimosia, todos comeram ovo, frito ou cozido. A nova integrante da família foi batizada de Camila.
O Menino e Camila passavam muito tempo um com o outro. Às vezes, depois do almoço, ela chegava a entrar casa adentro, sempre silenciosa, em busca do seu salvador. O Menino ficava feliz ao ser procurado e pegava sua amiga no colo. Passava horas conversando com ela, que retribuía as palavras de afeto com seu habitual silêncio, mas com um olhar tão profundo que quase parecia carinhoso.
Seria legal dizer que essa história nunca acabou, mas todos sabemos que tudo acaba. Camila um dia não foi vista no quintal. O Menino procurou sem descanso por dias a fio, sem descobrir o que fora feito da galinha. Andou pelas ruas de terra, inquiriu vizinhos, chorou e até pediu a Deus que lhe devolvesse a amiga. Ainda assim, em seu peito sabia. Camila havia partido e não voltaria mais.


Conto produzido durante a oficina Clarice para crianças, realizada por Simone Teodoro.

sexta-feira, junho 15, 2012

Epopeia Paulistana - Parte II

Sábado amanheceu mais frio, porém menos úmido. Depois de mais um café da manhã generoso, partimos para um destino um pouco mais desafiador: Avenida 23 de Maio. 
Esse é um ponto bem engraçado de nossa jornada. Eu nunca acertava o nome quando pedia aos paulistanos indicações de como alcançá-la. Quando não dizia 25 de maio (aniversário da Ana), era 23 de março (aniversário de uma de minhas irmãs). Não preciso mencionar que cada confusão era um motivo de risadas e chacotas entre Ana e eu. 
Foi um passeio agradável, embora cansativo. Os quarteirões comerciais da 23 de Maio são repletos de lojas com inúmeros produtos importados, como um enorme camelódromo. Apesar disso, os produtos muitas vezes se repetiam. Em um certo trecho, havia tanta gente que as pessoas simplesmente tomavam a rua, sendo impossível que qualquer veículo transitasse por lá. Fiquei lembrando os blocos de carnaval. A música ficava a cargo de um menino que tocava um playback repetitivo, recolhendo donativos dos transeuntes. A afinação do menino, ou a falta dela, tornava a cena dantesca.
Passamos rapidamente pelo Mercado Municipal, o famoso Mercadão, que estava impossível de tão cheio. A hora estava avançada, precisávamos retornar ao hotel para nos aprontarmos, pois havia o grande motivo da viagem, marcado para 15 horas.
Assim como na ida, fizemos o caminho de volta a pé e conseguimos ficar prontos a tempo. No horário marcado, estávamos no China Trade Center para o lançamento do Entrelinhas II.
O evento foi muito bacana. Fiz o credenciamento e logo recebi um crachá com meu nome e dois exemplares do livro. Assim começou o momento que achei mais legal: correr atrás dos autógrafos dos outros autores do Entrelinhas II. 
Conheci muita gente legal, especial mesmo. Autores que estão bem conscientes de sua criação literária, que têm algo a dizer e o fazem com muita propriedade. E não quero perder esse contato. Estar lá, tirar fotos, trocar ideias, tudo isso se constitui no primeiro passo. O caminho é longo e acredito que muitos outras publicações virão.
Enquanto eu escancarava meus dentes de tanta alegria, lá estava a Ana ao meu lado, sempre radiante, resplandecente. Ana é mais que um farol; é uma estrela. Seu brilho me aquece e me enche de força. A presença dela comigo durante essa viagem foi de longe o que tive de mais especial. Poder desfrutar da sua voz, do seu sorriso, do seu olhar que dizia que compartilhava da minha felicidade. 
Depois do lançamento, aproveitamos para comemorar. Queria brindar essa conquista com um bom vinho. Passeando pelas imediações do hotel encontramos a acolhedora Cantina Luna di Capri. Adorei a comida, o atendimento, o ambiente. 
Ao final, tivemos que nos recolher cedo, pois precisaríamos tomar o avião no dia seguinte, às seis da manhã. Ainda assim, a noite já estava completa.
Gostaria de agradecer imensamente os sorrisos, a simpatia e os autógrafos de todos os escritores que estavam no lançamento do Entrelinhas II. Foi um momento mágico que quero ter o privilégio de repetir. Por isso, gostaria de mencionar as pessoas especiais que conheci:

Luiz Brener - http://voznomundo.wordpress.com/
Alessandra Pedroso
Vitor Alderico Mendes - http://wordvitormendes.blogspot.com/ e http://wordvitormendes.tumblr.com/
Aglaé Torres
Bruna Folster e Tiago Carvalho - http://tibrubs.blogspot.com.br/
Gabriel Messias - http://relentandootexto.blogspot.com/
Angela Di Gianni
Janyfer Melo - http://janyfer.blogspot.com.br/
Marcel Talamini
Aline Aimée - http://catandosentidos.blogspot.com/
Pedro Di Gianni
Paula Munhoz
Helena Gomes - http://helenagomes-livros.blogspot.com/
Thais Pampado - http://inkwithcoffee.blogspot.com/
N. Ancalimë - http://anacalime.blogspot.com/
Any Akopian - http://pequenocadernoazul.blogspot.com/

quarta-feira, junho 13, 2012

Epopeia Paulistana - Parte I

Partimos de Belo Horizonte por volta de 17h. Uma senhora jovial, baixinha e rechonchuda, de tempos em tempos puxava papo ao meu lado. Paulistana empreendedora, ela havia começado uma loja de roupas na galeria do Edifício JK. Agora, retornava aos seus e estava louca de saudades. Eu ouvia os comentários dela com o máximo de atenção, aquiescendo de tempos em tempos, para mostrar que estava ouvindo. Ao meu lado, Ana havia tentado dormir um pouco, mas logo desistiu, passando a participar também da conversa que tinha ares de monólogo.
Descemos no Aeroporto de Guarulhos, num frio incomum a nós. A simpática senhora ofereceu carona até uma das estações de metrô. Descobrimos então que estaríamos ilhados, não fosse essa ajuda providencial. A senhora nos apresentou a seu simpático marido e ao filho de oito anos, também muito sorridente.
Fomos deixados em frente à estação de metrô e em menos de meia hora já estávamos no hotel. Comentei com a Ana como essa carona pareceu mais que coincidência. 
Na manhã seguinte, 8 de junho, passeamos pelo bairro Liberdade. Encontramos um de meus irmãos, que estava em Sampa com a namorada e alguns amigos para um show evangélico. Foi tão bom rever o João! Tiramos fotos, visitamos a Catedral da Sé e o MASP.
Nesse momento, descobri que grande parte da minha expectativa sobre o MASP foi por água abaixo. Não sei se meu humor ficou azedo por causa da chuva e do frio, mas não achei o Museu de Arte de São Paulo mais encantador que os espaços culturais que temos aqui em Belo Horizonte. Bem, talvez eu esteja puxando sardinha para meu lado, mas acho tanto o Palácio das Artes quanto os outros espaços culturais de BH (e temos muitos!) mas acolhedor - e acessível!
Agora, uma coisa positiva que descobri em São Paulo foi a eficiência pública. A cidade é bem mais limpa que Belo Horizonte. Os transportes são muito melhores. Em compensação, parece que todo mundo depende desse transporte. Para qualquer indicação que pedíamos, as pessoas nos orientavam a tomar o metrô, um ônibus ou um táxi. Eu e Ana descobrimos que podíamos ir a qualquer lugar que desejávamos com os pés que Deus nos deu...
Mesmo caminhando para tudo quanto é lado, dessa vez entendi o que significa "terra da garoa". Sexta-feira foi molhada e fria. Fiquei com dó da Ana que no final do dia estava com os pés encharcados e gelados! Mesmo assim, não fomos intimidados pela chuva e andamos do MASP até o hotel, quarenta minutos de caminhada!
Ao final desse primeiro dia, nosso saldo foi positivo. Pude rever a família (meu irmão voltaria para o Rio no dia seguinte, ainda de manhã), fiz um um bom exercício físico e ainda conheci o Bairro Liberdade, com todo o seu charme oriental. O melhor, contudo, estava para o dia seguinte: o dia do lançamento!

segunda-feira, junho 11, 2012

A Mensagem


Os raios do poente tocaram o balcão da lanchonete de beira de estrada. Lá fora, a rodovia parecia abandonada, como se jamais alguém por ela houvesse trafegado. Um homem de meia-idade, trajando uma jaqueta marrom, descansava os cotovelos sobre o balcão. Sua mente divagava, revivendo imagens de sua juventude.
A porta da lanchonete rangeu, deunciando um visitante. O homem virou-se e sorriu ao reconhecer um rosto amigo que se aproximava, com uma expressão de cordial surpresa. Aquele que chegava estava vestido com um simples macacão de cor neutra, talvez cinza.
– Cara, que puta coincidência! – exclamou o primeiro. – Você não morre tão cedo. Eu estava aqui pensando em você e na última vez que nos encontramos.
– É mesmo um pouco engraçado – respondeu o outro, enquanto tomava lugar em um assento ao lado. – Eu tinha uma curiosa sensação de que encontraria alguém conhecido quando atravessasse aquela porta.
– Mas o que você anda fazendo por aqui?
– Tô aqui a trabalho. Sou mensageiro...
Sua voz sumiu, perdendo-se na poeira que a tênue luz do sol revelava, como chuviscos de ouro. Ambos permaneceram em silêncio. O homem de jaqueta marrom ainda aguardava de seu amigo alguma explicação sobre a natureza de seu trabalho. Incomodado, pigarreou.
– Desculpa, desculpa... – disse o mensageiro, empertigando-se. – É que tudo aqui me parece tão familiar que esperei que você entendesse, que dissesse alguma coisa, só pra arrematar. Escuta: há quanto tempo não nos vemos? Trinta anos?
– Acho que há vinte. Não... trinta mesmo. Acho que nos esbarramos por aí umas duas vezes depois da formatura. Lembro que logo que saímos da faculdade, antes de perdermos contato, você se casou. Como ela se chamava mesmo? Dora, Júlia, Ester?
– Não estou mais com ela.
– Ué, separou?
– Não, não é isso... – É por causa do trabalho, por bem dizer.
Tentando disfarçar o desconforto pela resposta do companheiro, o homem de jaqueta marrom bateu na campainha em cima do balcão da lanchonete.
– Diabo! Até agora ninguém apareceu aqui pra me atender! Num fim de mundo desses a única lanchonete aberta tem uma porcaria de atendimento!
Abriu a jaqueta e de lá retirou um maço de cigarros. Acendeu um e estendeu o maço ao seu companheiro, que recusou.
– Você sabe que sempre fui contra o fumo. Lembra que ainda na faculdade eu dizia que isso ia acabar te matando?
– Sem papo-saúde, tá certo? É bom te ver, mas lembro que você sempre enchia o saco com essa história. E no final não adiantou nada pra você...
Nesse momento, o cigarro pendeu da sua boca, enquanto ele sentia vertigem. Por que isso não adiantou nada? Como assim? Havia algo deslocado naquela conversa. Aliás, naquela lanchonete, na estrada vazia e no amigo que misteriosamente aparecera depois de tanto tempo. Remexeu-se em seu assento, brincou com o zíper da jaqueta. O silêncio incomodava mais que o diálogo claudicante. Correu os olhos furtivamente na estrada além das vidraças. Perguntou-se por que não escurecia de vez, mas os raios do poente persistiam, abrasando o rosto do mensageiro, que mantinha o enigmático ar jovial.
– E as crianças? – perguntou o mensageiro. – Sei que você teve três filhos...
– Quatro. E o mais novo já é formado...
Os olhos claros do amigo pareceram refletir com mais vigor os raios do ocaso, enquanto o homem de jaqueta marrom falava dos filhos, contando com minúcias do destino de cada um.
– Minha primogênita era muito estudiosa – concluía ele. – Fez até doutorado. Ela já tinha três livros publicados quando eu...
– Eu o quê?
O desconforto não deixou que ele continuasse. Subitamente foi invadido pela pergunta: como havia chegado ali? O que buscava naquela estrada? Ele aguardava alguém? Por que justamente ele?
– Me explica uma coisa: Você disse que é mensageiro...
– Isso mesmo.
– Não entendo. Mas que tipo de mensagem você entrega?
– Você, meu amigo. Você é a mensagem. Chegou a hora de ir.
O homem ficou em silêncio, segurando o cigarro meio queimado na ponta dos dedos. A cinza repousava sobre a superfície gasta do balcão, lembrança da parte que não mais havia. E a brasa tinha a mesma cor que o rosto do mensageiro naquele crepúsculo interminável.



Outro conto que pude concluir com os conselhos incríveis do Mestre Sérgio Fantini.

quinta-feira, junho 07, 2012

Lançamento Entrelinhas II



Este é um grande sonho que se torna realidade. Enviei meu texto para a seleção da antologia Entrelinhas II, da Editora Andross e fui selecionado. É um pouco súbito falar sobre isto no blog, eu sei. É que tenho andado sonhando acordado e a ficha ainda não caiu. Para todos que moram em São Paulo, espero vê-los lá!

Abraços!

quarta-feira, junho 06, 2012

Sabores, memórias e sensibilidades

A faca desliza quase inábil entre os dedos. O fio corta a ponta do dente de alho, que é desnudado de forma metódica e meticulosamente descuidada. A cena é quase a mesma da infância: Eu, sentado à enorme mesa de madeira, com uma faca também enorme, tento descascar as cabeças de alho que minha avó irá usar para o feijão preto do almoço. O chão é feito de pequenos mosaicos brancos, encardidos. O cheiro é de velhice e familiaridade, apesar de minha tenra infância. Além da mesa, a porta da cozinha deixa que a luz do quintal, plena de energia matinal, invada o recinto.

A memória se contrasta com o presente. Agora é noite; preparamos um jantar feito de afeto. Uma receita estranha, oriental, guia nossa inexperiência. As vozes se alteiam, alternam-se. Risos tão efusivos quanto o som do alho chiando na panela.

Os sabores são outros, embora o presente se desenhe no amor do passado. O calor da família, ainda que não seja a minha, enche meu peito de ternura. Sou visita, mas faço parte de algo que tem uma beleza tão natural, tão pura, tão viva em simplicidade, que parece despropositada, coincidente. O acaso parece ter nos unido nesse momento não planejado. Contudo, rearranjamos o tempo e o espaço para que sejamos mais que mero acaso.

E assim, olhando nos olhos dela, deixando minhas mãos dançarem entre as mãos dela, sinto-me completo. Nossos olhares trocam cumplicidade. Não estamos cozinhando, estamos criando vida.

O sabor deste jantar supera qualquer outro sabor provado este ano. Minto: não supera o sabor dos lábios dela.

segunda-feira, junho 04, 2012

Somente eu


Uma lágrima cálida escorre da face lisa e pálida. Essa redonda gota de tristeza alcança o queixo e liberta-se do corpo ao vazio, indo perder-se nos limites além da janela do apartamento. Uma única lágrima, solitária expressão do vazio. Quase surge outra, irmã, mas basta. As pálpebras fecham-se, procurando cessar a amarga fonte. Ao som de Vivaldi, o inverno entra por meu corpo, que se entorpece, lutando contra a dor de admitir. Lutando contra a verdade.

Uma lágrima solitária foi o último tributo direcionado a ti. A última expressão do meu amor. Que essa gota de meu próprio ser se torne em diamante! Nunca mais desapareça, para que fique patente, mesmo após minha partida, do quanto te quis. Nela, esconde-se o mar que nos embalava, agora morto, maldito vale de escuridões. Nesse vale me aconchego, como sepulcro, para nunca mais chorar nenhum de nossos enganos.

A escuridão veda meus olhos... É a cegueira da morte que me toma. Minh'alma está morta para todas as luzes da terra. Sou agora simplesmente um sombrio. Um noturno à janela do apartamento. Um ente da noite que fechou suas portas para a aurora.

Uma única lágrima a cair do alto do prédio é mais do que mereces. É na verdade muito mais, sua bruxa. Sou a última vítima imolada pelo holocausto ao culto teu. Pensas que és deusa, mas para mim te tornastes entidade maligna, espírito aziago.

E agora me ponho aqui. Longe de todas as realidades simuladas. Basta um passo – a libertade. Liberto serei de todos os teus labores, qual minha lágrima libertou-se de minha própria tristeza. Serei o próprio líquido espesso, a própria escuridão em torno. E me regozijarei em pleno nada. Do outro lado poderei de fato dizer o que és. E não haverá como deter-me em minha dor.

Uma lágrima precipita-se da janela do apartamento. E essa lágrima sou eu.

sexta-feira, junho 01, 2012

O Renascer da Terra


Vivemos em uma época em que os discursos ambientais ganham cada vez mais fôlego. O efeito negativo do homem sobre o meio ambiente é um fato. Muitos países já buscam uma política menos agressiva, enquanto outros permanecem orgulhosamente alheios, como se os efeitos da industrialização na biosfera do Planeta não lhes dissesse respeito. Mas o que aconteceria se o Universo conspirasse contra a ação irresponsável do homem sobre a Natureza, a ponto de tomar uma enérgica atitude?
Em Miramar, cidadezinha do interior do estado de Minerais, estranhos acontecimentos começam a ocorrer, deixando os habitantes perplexos e temerosos. As autoridades locais não conseguem controlar as dimensões dos incidentes e as notícias acabam vazando em esferas cada vez mais amplas. Logo, agências de notícias do Brasil e do mundo afluem para o local e a situação foge cada vez mais do controle. Enquanto isso, os cidadãos de Miramar tentam seguir suas vidas simples e pacatas. Para eles, o mundo sempre foi aquele pequeno povoado, com uma estrutura quase feudal, onde os senhores do café mandavam na vida e na morte de seus habitantes. O clima de suspense e apreensão, no entanto, toma o mundo todo de forma tão vertiginosa que é impossível que Miramar escape ilesa de seus efeitos.
O Renascer da Terra é o primeiro romance de Walfrido Nascimento. Um trabalho de fôlego e força,  uma trama fantástica que aborda os efeitos da ação inconsequente do homem sobre a Natureza, seja em escala local ou global. Uma saga apocalíptica, onde a humanidade é finalmente obrigada a encarar de frente seus mais terríveis medos e assumir a responsabilidade por todos os seus erros.

Ficha Técnica:

Título: O Renascer da Terra
Autor: Walfrido Nascimento
Subtítulo:
Edição: 1
ISBN: 9788576371205
Editora: Armazém de Ideias
Ano: 2007
Páginas: 433

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/238781