Tudo começou com o desaparecimento de Michelle Amorim, inquilina de um dos quartos do casarão que eu herdara de meus pais. Era uma jovem alegre, jovial e cheia de sensualidade. Não devo negar que já fora diversas vezes atraído por aquela pele morena e pelos olhos brilhantes que, em conjunto com seu cabelo anelado cor de mel, revelavam uma ímpar e brasileira beleza. O fato da jovem estudar música às vezes arrebatava minhas calmas tardes de sábado, transformando meu descanso planejado em um desespero de notas musicais que mais despertavam meu desgosto do que me relaxavam ou comoviam. As tardes de sábado eram motivo para discussões com Michelle, que não dava o braço a torcer, ameaçando deixar minha casa. Eu não desejava que isso acontecesse e por isso cedia. Antes que eu seja mal-interpretado, deixo claro que minha relação com Michelle era puramente formal e meu interesse não ultrapassava a relação inquilina-proprietário. A moça sempre pagou em dia, nunca trouxera namorados ou amigos estranhos para minha propriedade, nunca chegara bêbada ou drogada. Eu estava ciente que, apesar do barulho infernal que ela fazia com seu violão todo sábado, não havia qualquer hábito que a desmerecesse como inquilina exemplar. Assim, acabei forçado a aceitar seus argumentos e cedi, procurando me adaptar às notas estropiadas que enchiam a casa de sons atravessados.
Acontece que certa tarde de sábado despertei em meu sofá tendo um de meus livros aberto sobre o peito. Efeitos do almoço. Fui acometido por um certo estranhamento. Minha casa estava silenciosa. Era dia de estudo de Michelle e supunha eu que ela estivesse em casa. Concluí então que ela talvez tivesse trocado a tarde de estudo por outro programa qualquer. Tomado por um súbito voyerismo fui tentado a espiar como seria o quarto de minha inquilina. Levantei-me e subi as escadas com cautelosa rapidez. Bati levemente à porta, não sendo respondido. Movi a maçaneta, percebendo a porta destrancada.
O quarto de Michelle revelou-se a mim pela primeira vez. Era cheiroso e aconchegante, embora fosse levemente desorganizado. Partituras estavam espalhadas pela cama. Na parede diversos quadros com imagens difusas criavam um ambiente onírico. O antigo guarda-roupa de madeira escura estava entreaberto, revelando a silhueta do estojo do violão de minha inquilina. Havia mais uma coisa lá. Um aparelho de CD ligado, embora não estivesse tocando. Curioso, aproximei-me e pressionei a tecla play.
Continua...
sempre o mistério....
ResponderExcluirSempre... rsrsrs... Uma pergunta: você preferiria que eu postasse o texto todo?
ResponderExcluirA forma que você corta o texto é bastante interessante, pois você nos mantém preso à sua leitura. Mas aprendi que devemos manter a calma e esperar pelos desfechos ;)
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