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quarta-feira, agosto 09, 2023

Retorno ao lugar do afeto

Foto: Flávia Paixão


Eu havia publicado neste post um texto de despedida da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Em outubro de 2022 eu retornei a esse lugar que eu amo tanto. Só hoje eu me toquei que não fiz um post contando sobre esse processo de retorno.

Enfim, estou de volta. Fiquei cerca de três anos como apoio técnico na Gerência de Bibliotecas e Promoção da Leitura e da Escrita - GBPLE, onde realizei ações ligadas ao meu cargo de Técnico de Nível Superior - Literatura. Estive dando apoio ao Prêmio Cidade de Belo Horizonte e também ao Concurso João-de-barro. Estive em atividades do FLI-BH e circulei pelas Bibliotecas dos Centros Culturais, dando oficinas literárias e contando histórias.

Durante todo esse período eu nunca perdi de vista a vontade de retornar à BPIJ. Em nenhum outro lugar, em nenhuma outra função eu tive a mesma satisfação que vivenciei enquanto atuava nesta Biblioteca. Com isso, comecei um diálogo em busca do meu retorno.

Aqui na Biblioteca eu fico principalmente no balcão, realizando a novos cadastros, fazendo empréstimos, devoluções e renovações. Além disso, presto apoio à programação, atendendo a visitas mediadas, lançamentos de livros e demais atividades. Contudo, continuo circulando pela rede de Bibliotecas, com oficinas e narração de histórias, e prossigo dando apoio técnico aos Concursos Literários.

Posso dizer por fim que retornei ao lugar do afeto. A um espaço que considero ter um carinho enorme e onde eu sempre me encontro ao virar de cada página. Espero poder continuar aqui prestando o melhor serviço que puder oferecer à comunidade de Belo Horizonte e região. E que possam sempre contar comigo, tanto a equipe quanto frequentadores, para tudo o que estiver em meu alcance.

quarta-feira, fevereiro 03, 2021

terça-feira, maio 19, 2020

Memórias de leitura

As memórias afetivas são um fator muito forte na vida de uma pessoa. Mais profundas do que meras lembranças, tais memórias carregam junto a si uma miríade de sentidos, sejam estes físicos ou não. São aromas, sons, superfícies e até outros sentidos ainda mais sutis, além das emoções que os mesmos carregam.

Durante o curso Infâncias e Leituras, um dos exercícios foi justamente evocar as memórias afetivas que tenho das leituras mais antigas de minha infância. Nao foi difícil resgatá-las, pois as visito com muita frequência, como lugar dentro de mim para me (re)visitar e (re)conhecer.

Existem duas memórias muito próximas e não sei qual das duas é a primeira. São memórias de dois livros: Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha, e Flicts, de Ziraldo.

Uma das memórias mais antigas que tenho é a imagem de Marcelo correndo e gritando, com a boca enorme, para avisar que a casinha do cachorro estava pegando fogo. Outra imagem bem forte é da última imagem do livro Flicts, quando a gente descobre que a lua é dessa cor, Flicts.

No caso de Flicts, eu não me lembro de quem lia para mim. Talvez fosse a minha mãe, mas não tenho certeza. Já com Marcelo, Marmelo, Martelo, eu tenho a recordação do meu irmão mais velho, Arthur, rindo e dizendo: "Embrasou a moradeira do latildo!" Ele me contou a história do Marcelo e de sua confusão com as palavras e seus sentidos. Lembro-me que rumos muito com o caso. 

Talvez o meu irmão, no auge dos seus cinco anos, tenha sido o meu primeiro mediador de leitura.

quarta-feira, maio 13, 2020

Muito ainda para refletir

Quem tem acompanhado o blog pode observar que minhas últimas reflexões tiveram o olhar sobre as infâncias, suas leituras e os espaços em que elas se atravessam. Ressalto que as reflexões foram motivadas pelas atividades do curso Infâncias e Leituras, realizado pelo Polo Itaú Cultural, em parceria com o Laboratório Emília de formação. 

Refletir e escrever sobre o tema abordado foi muito proveitoso para mim. Destaco o exercício de retorno às origens e memórias de leituras iniciais, o que reforçou ainda mais minha identidade como leitor, escritor e mediador de leitura. Ao final de cada atividade proposta, predominava o sentimento de gratidão pela oportunidade ímpar desse mergulho no passado, o qual proporcionou um melhor entendimento de mim mesmo, de meus propósitos e sentidos na vida.

Reforço que muito mais há para falar e explorar a partir das anotações feitas durante o curso. Continuarei a compartilhá-las aqui e conto com as leituras das pessoas que aqui comparecem, para podermos expandir ainda mais nossos horizontes. 

quarta-feira, maio 06, 2020

O que eu aprendi com meus leitores


Com meus leitores aprendi que não há preconcepção que não possa ser desconstruída. Aprendi que muitas vezes a criança que mais atrapalha é justamente a que mais está gostando da leitura e não sabe como dizê-lo. Aprendi que não há como a criança para quem eu leio gostar de um livro se eu mesmo não gostar.

Foram muitas as descobertas. Aprendi a não olhar a criança com superioridade. Nossas inteligências e experiências apenas são diferentes. Entender a criança a partir de uma horizontalidade e uma disposição de escuta é muito importante.

Com meus leitores eu aprendi que sempre é possível ser surpreendido e esperar o retorno das crianças, antes de tirar conclusões precipitadas. Quando eu achava que a criança já estaria consada de tanta leitura, ela pedia mais. Quando eu pensava que um texto específico já estaria batido e desinteressante, as crianças queriam que o mesmo texto fosse lido mais de uma vez sequida.

Aprendi que a leitura compartihada com as crianças é uma experiência de intensa troca, de constante descoberta. Nós estamos lendo para elas, mas elas também nos estão lendo. Elas buscam conexão.

A leitura compartilhada para as crianças é como um jogo. Não é um ato meramente protocolar. Trata-se de uma brincadeira também, assim como as demais atividades da criança são, para ela, como brinquedo. 

Ao mesmo tempo, a leitura compartilhada é também um momento para a criança descobrir outras formas de se relacionar com o mundo. O momento de silenciosa escuta. O momento de abrir a janela para dentro.

quarta-feira, abril 29, 2020

A biblioteca, as leituras de afeto e a oportunidade de escolha

Bruna e Sophia são crianças que por cerca de dois anos visitaram a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, onde trabalhei. Levadas por suas mães aos sábados, em geral mensalmente, essas meninas faziam questão que eu acompanhasse suas escolhas e que lesse para elas. 

Durante esse período, fizemos várias descobertas de bons livros. Alguns eu oferecia para ler, mas elas logo rejeitavam. Outros, pediam para que eu interrompesse a leitura pela metade. Havia aqueles, porém, que as encantavam a ponto de pedirem que fossem lidos novamente. 

Tanto a mãe de Sophia quanto a de Bruna são leitoras. Elas trocavam comigo suas experiências de leitura, o que tornava mais rica a mediação com as crianças. Além disso, ambas levavam muitos livros para casa, depois de longa exploração do acervo.

Sophia costumava exigir total dedicação. Já Bruna aceitava dividir minha atenção com outras crianças. Havia momentos em que elas participavam de oficinas literárias ou narrações de histórias. Contudo, a maior parte de nossas interações acontecia em leituras que eu fazia para elas, a partir de livros que escolhiam entre os exemplares disponíveis no acervo.

Foi fundamental o compromisso que as mães de Bruna e Sophia assumiram com a leitura e com a visitação à biblioteca. Mais ainda, elas deram às filhas, na mais tenra idade, o direito de escolher suas leituras. Esse protagonismo foi assumido pelas crianças com muita propriedade e consciência.

Existem muitas outras crianças, bem como suas mães e seus pais, que dão vida aos sábados da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Assim como há inúmeras crianças e suas famílias que frequentam as 22 bibliotecas culturais de Belo Horizonte e tantas outras bibliotecas, espalhadas pelo país. Porém, decidi registrar aqui essas experiências com as duas meninas e suas mães pelo exemplo que elas são, de afetividade, de compromisso, de busca pelo prazer da literatura e pela silenciosa mensagem de que a Biblioteca é um lugar de muitos encontros.

quarta-feira, abril 22, 2020

Sobre os lugares da palavra e do corpo na mediação da leitura com crianças pequenas

Já mencionei aqui que participei do curso Infâncias e Leituras. Foi um momento de rico aprendizado, de reflexão sobre o meu fazer e os ideais que o impulsionam. Assim, um dos desafios propostos pelo curso foi pensar sobre a relação entre palavra e corpo na mediação de leitura, seus atravessamentos e transversalidades. Sendo assim, fomos convidados a pensar nesse encontro a partir do conceito de lugar. Reuni aqui as reflexões que foram estimuladas a partir do questionamento do curso.

Lugar é uma palavra interessante. Diferente de espaço ou mesmo território, ela atrai para si um sentido de subjetividade. No caso desta reflexão, não estamos falando de lugar físico, mas simbólico. Sendo assim, quando falo de palavra e de corpo, quais sentidos eles evocam quando penso especificamente da mediação de leitura?

Na minha experiência como mediador, a palavra e os livros são elemento fundamental para serem inseridos no cotidiano das crianças. E quando falo palavra, refiro-me também à oralidade, com as brincadeiras com os sons, com o silêncio, com o ritmo entre eles. Sempre fui um brincante com as palavras, invertendo-as, mudando as sílabas de lugar, inventando novas, explorando suas possibilidades cômicas a partir de trocadilhos e piadas. Assim, busco sempre uma conexão com as crianças pequenas a partir das possibilidades lúdicas que a palavra traz.

O corpo, para mim, já é um desafio. Mais recentemente, tenho descoberto a importância da memória corporal e da exploração sensorial para a construção de sentidos. Assim, trata-se de um desafio trazer o corpo para minha prática como mediador de leitura.

Sabemos que as crianças aprendem com todo o corpo. O desenvolvimento da criança se dá de forma sinestésica, a partir da exploração sensorial do mundo. Ainda mais quando estamos falando de crianças pequenas. Ao ter contato com um objeto, o primeiro impulso da criança é levá-lo à boca. E não apenas isso. Ela irá sacudi-lo, para tentar extrair do objeto algum som. Irá manuseá-lo de várias formas. A criança pequena é acima de tudo uma exploradora.

Em 2019, tive dois momentos que me fizeram refletir profundamente sobre o papel do corpo na construção da memória e dos sentidos. Em minha trajetória, busquei sempre privilegiar a palavra, escrita e falada. Porém, pouca ou nenhuma importância dava para o corpo em meu trabalho como mediador. O primeiro encontro que me fez repensar minha posição foi com a pesquisadora Lydia Hortélio, no dia 23 de setembro, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Outro encontro foi no dia 2 de outubro, com a artista Lenna Bahule, na Terceira Candeia: Mostra Internacional de Narração Artística. Em uma noite poderosa e transformadora, aprendi o poder da memória corporal como expressão da ancestralidade.

Assim, de encontro em encontro, vou inaugurando novos lugares para o corpo e para a voz. Vou reaprendendo a ser criança, a observar e conhecer meu próprio corpo, minha própria memória. E desta forma vou me redescobrindo mediador. Muitos são os desafios, ainda. Porém, desafios que mais me estimulam que amedrontam. É maravilhosoUm mundo inteiro para aprender.

segunda-feira, abril 20, 2020

As bebetecas

No final de 2019 e início de 2020, estive participando do curso à distância de curta duração Infâncias e Leituras, promovido pela parceria entre o  Polo Itaú Social e o Laboratório Emília de Formação. Durante o curso, fomos instigados a refletir sobre diversos temas afins. Dentre eles, as bebetecas. Confesso que me senti especialmente desafiado, apesar de minha experiência de 10 anos de atuação como mediador de leitura para a infância. Afinal, o que seria uma bebeteca? Como ela se constitui? Quais são suas premissas e valores?

As bebetecas ainda são um conceito novo. Afinal, existe um senso comum que pressupõe que um bebê, por não saber ler, não seria um potencial leitor. Ainda que no meio acadêmico que pesquisa a infância e seus atravessamentos já exista uma fortuna crítica sobre o tema, a sociedade como um todo ainda carrega diversos preconceitos sobre os bebês e suas necessidades.

Uma das maiores referências no incentivo à leitura na primeira infância, Yolanda Reyes destaca, com muita propriedade, a necessidade de apresentarmos a palavra aos bebês quando estes ainda estão no ventre materno. Conversar com o bebê ou ler para ele durante a gestação não é um gesto vazio de sentido. O pequeno ser em formação dentro da barriga da mãe já se relaciona com o mundo externo através do corpo dentro do qual ele se desenvolve.

É importante observar também que o bebê é uma pessoa em franco desenvolvimento. Reyes, em seu livro A Casa Imaginária: leitura e literatura na primeira infância, aponta pesquisas que indicam que na primeira infância, as crianças apresentam um enorme potencial cognitivo, devido à enorme neuroplasticidade. Ou seja, o cérebro da criança, até seus seis anos de idade, está construindo sua rede sináptica e por isso sua capacidade de adaptação é enorme. E basta apenas observarmos uma criança para perceber o enorme avanço que é crescer. Até os 5 anos, a criança aprende uma enorme quantidade de habilidades, sejam elas motoras, cognitivas ou linguísticas. Não é à toa que uma criança tem muito mais facilidade de aprender um novo idioma que um adulto.

Portanto, nada mais natural que oferecer livros para os bebês, para que os mesmos possam adquirir maior familiaridade com esse objeto. Yolanda Reyes inclusive defende que não devemos temer que a criança rasgue ou morda o livro. Sua relação com o mundo é extremamente sensorial. Aprendendo com os sentidos, a criança se integra ao universo ao seu redor. Por ser extremamente explorador, o bebê irá manusear o livro à vontade, até se familiarizar com o mesmo.

Nesse ponto, acredito que é importante destacarmos o caráter interativo que o livro tem. É um objeto altamente manuseável, encerrando em si mesmo a metáfora do tempo. Com um livro em mãos, a criança observa o passar das páginas e vai percebendo naturalmente que existe uma sequência e que esta pode inclusive ser subvertida. Ao ler, avançamos as páginas, mas podemos muito bem retornar, ou seja, simbolicamente nós voltamos no tempo ao voltarmos as páginas.

Outro ponto importante a ser destacado é que os bebês aprendem pela imitação. Ao observar os adultos e crianças mais velhas lendo, eles também demonstrarão vontade de segurar um livro, passar as páginas e "ler", mesmo quando ainda não estão alfabetizados. E tal brincadeira irá se repetir inúmeras vezes. 

Assim sendo, é fundamental inserir os bebês no universo letrado. E não estou falando de uma alfabetização precoce. Apenas estou apontando que os livros não devem ser poupados aos bebês, bem como as leituras em voz alta, seja de narrativas, seja de poemas. A poesia, por ter musicalidade e ritmo, é uma fonte rica de aprendizado para os bebês. E livros, muitos livros.

A criação de bebetecas ainda é um grande desafio. Trabalhei por anos na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Nela, pude constatar como atendemos ainda de forma muito precária os bebês e suas famílias. Por exemplo, além de acervo e mediadores, precisamos ter estrutura física para melhor atender esse público, como fraldários, espaço família, mobiliário adequado, entre outros elementos fundamentais.

Além disso, a produção literária para bebês ainda é escassa, se compararmos a outros segmentos literários. Carecemos de mais livros, fora do aspecto paradidático. Precisamos de livros que busquem explorar de forma criativa, sensível e inteligente o universo da primeira infância.

A carência, porém, esconde também uma enorme potencialidade. Há todo um universo a ser explorado, na escrita, na ilustração, no projeto gráfico, na pesquisa de novos materiais que sejam amigáveis aos bebês. A materialidade na primeira infância é fundamental. Nada de telas e suas barreiras de vidros. Os diversos materiais que podem compor um livro, as texturas, as superfícies, os cheiros e sabores são verdadeiros parques sinestésicos. E não é só isso. A primeira infância nos convida à criatividade, a romper os parâmetros da linguagem. E nos convida também a dialogar com o passado, com a tradição oral e suas cantigas, parlendas, trava-línguas e quadrinhas.

Que nós, mediadoras e mediadores possamos entender a enorme responsabilidade que temos. Que possamos entender que somos convidadas e convidados a oferecer o que há de melhor para a primeira infância. O desafio é também uma chamada à aventura, à experimentação. As bebetecas devem oferecer o que há de melhor. E com as pessoas mais bem preparadas profissionalmente, além dos melhores e mais seguros móveis. Sem nos esquecermos dos melhores livros. Os bebês merecem isso.


Para conhecer mais sobre o Polo Itaú Social, basta clicar em http://www.polo.org.br.

Recomendo também acessar o site da Revista Emília (https://revistaemilia.com.br/).

quarta-feira, abril 15, 2020

Reflexões sobre leitores e leituras

Trabalho ativamente como mediador de leitura há quase dez anos. Existem duas dimensões quando falamos dessa mediação. A primeira, é a dimensão prática, o trabalho diário com os leitores. Já a segunda é a dimensão reflexiva. Pensar nossa atuação como mediadores é fundamental para o desenvolvimento de estratégias cada vez mais eficazes. 

Dessa forma, é importante refletir sobre o objeto de nossa atuação. O que a leitura representa para nós? Existe a conceituação acadêmica, mas para mim, a leitura também atravessa aspectos afetivos e identitários. Pensar a leitura também significa pensar em quem sou como pessoa.

Leitura vai muito além de decifrar um texto escrito. Há uma extensa discussão conceitual sobre isso. A meu ver, a leitura é a produção de sentido através da inferência e da interpretação de um texto, relacionando seus sentidos com a bagagem de conhecimento do leitor. 

Sendo assim, cada leitura é única, pois cada leitor também o é. Além disso, um texto pode ser uma sequência de sinais gráficos ou uma tela de cinema, ou uma melodia. Desta maneira, quanto maior nossa bagagem de conhecimento, maior a variedade de ferramentas para enriquecer os sentidos que produzimos ao ler.

É importante que cada leitor valorize e respeite sua trajetória pessoal. O pertencimento e a familiaridade são muito importantes para a construção de um ambiente rico de possibilidades. Acredito que cada experiência e trajetória são valiosas na composição de cada sujeito leitor. As memórias de infância e sua relação com a fabulação propiciam uma disposição para a leitura e para a experimentação de novas narrativas.

Como dito anteriormente, cada leitura é única. Ler um texto novamente se torna uma experiência diferente da leitura acontecida em sua primeira vez. A diversidade de leitores também proporciona a diversidade de leituras. Diante disso, cada mediador precisa manter uma postura de escuta ativa e acolhimento.

Como disse Antônio Cândido, todo ser humano necessita de fabulação. A leitura literária permite esse fenômeno, assim como outras linguagens artísticas. Na literatura, porém, o foro é mais íntimo. A imaginação é estimulada ao máximo. Na leitura literária, o leitor não apenas adquire vocabulário e conhecimento. Ele adquire experiência sinestésica e cultiva a empatia pela diferença.

Ainda parafraseando Antônio Cândido, se a literatura é uma necessidade básica, ela também é um direito inerente ao ser humano. Garantir a cada pessoa o acesso ao universo literário é garantir um mundo um pouco mais justo.

Por fim, o mediador precisa se apresentar como alguém acessível, empático, disposto a aprender com seu público, a construir junto uma trajetória de leitura. Ao mesmo tempo, ele precisa se comprometer com a pesquisa, com a busca por novos horizontes literários, de forma a apresentar ainda mais possibilidades a cada um de seus leitores.

Atualização de 25/04/2020 - Caso alguém tenha ficado em dúvida quanto ao termo "leitura literária", esclareço que se trata da leitura para além de seu aspecto puramente pragmático, não se resumindo apenas à decodificação de sinais linguísticos, mas também  um exercício estético de apreciação da literatura, devaneio da imaginação e da fruição poética.

quarta-feira, março 11, 2020

Uma tarde celebrada com histórias e livros

O Centro Cultural Vila Santa Rita está realizando, entre 9 e 13 de março, o Vila Lê. Convidados para o evento, fomos contar histórias. O auditório estava lotado. Duas amigas, Jéssica e Daiane, estreavam  suas apresentações. Cada uma e cada um tínhamos nossos perfis de histórias e apresentações.

Ficamos com medo, sim. Inseguros, com toda certeza. Porém, diante da energia e disposição daquelas crianças de 4 e 5 anos, fomos tomados pela mesma força. Em sintonia, contamos nossas histórias, lemos livros e trocamos afetos.

Meus agradecimentos especiais à equipe do CCVSR pelo convite e confiança, em especial à Shirley e ao Mateus, que dividiram conosco o palco. E por falar em palco, saúdo Eva Martins, Daiane de Aquino Simão e a Jéssica da Mota Menezes. E, por último, o Rodrigo Teixeira, que uma criança perguntou se era meu irmão gêmeo.

Lembrando que o Vila Lê continua até sexta. Convido a todas e todos a acompanhar a programação, que está maravilhosa. 

Que continuemos a celebrar as histórias, os livros, as proximidades e afetos que a arte proporciona. Que estejamos sempre de mais dadas e sempre perto. Sempre.









segunda-feira, fevereiro 24, 2020

Pequeno guia do mediador:



  1. Cuidar do espaço de modo a criar um ambiente favorável para a leitura; principalmente quando se trata de bebês. É importante garantir condições mínimas no espaço.
  2. Deixar os livros ao alcance das crianças, facilitando seu acesso.
  3. Ter um acervo, uma biblioteca, diversificada pensando na multiplicidade dos perfis leitores.
  4. Saber quem serão seus leitores, ou preparar-se para a diversidade de perfis.
  5. Disponibilizar o tempo para a leitura com dedicação e exclusividade.
  6. Não esperar nada desses momentos de leitura a não ser um momento de fruição que o contato com uma experiência artística possibilita.
  7. Não se esquecer da liberdade do leitor - ele não é obrigado a nada.
  8. Mostrar o livro como fruto de um trabalho coletivo:
  • ler o título;
  • ler o nome do autor e do ilustrador;
  • ler o nome da editora;
  • ler o paratexto.
Quando for um álbum ilustrado, compartilhar a leitura das ilustrações. Ser fiel ao texto:
  • não vale mudar palavras de difícil compreensão;
  • não vale traduzir trechos complicados;
  • não vale alterar ou reduzir histórias.
Depois da leitura:
  • ter uma escuta atenta;
  • respeitar o que os leitores pensam, suas dúvidas;
  • problematizar sem conduzir a uma interpretação única do texto.
Procurar se manter informado sobre lançamentos.

Guia retirado do curso Infâncias e Leituras, do Polo Itaú Social, em parceria com o Laboratório Emília de Formação. (http://www.polo.org.br)

segunda-feira, agosto 26, 2019

Semana Literária em Miguel Burnier

A estrada me chamou cedo naquela sexta-feira. Encontrei minha amiga Norma de Souza Lopes no Centro de BH, quase em frente à Praça da Estação. Na van, além de nós dois e o motorista, estavam também os artistas da Companhia Fusca Azul. Nosso destino era Miguel Burnier, um bucólico distrito de Ouro Preto. Era manhã do dia 5 de julho de 2019.

Seguimos caminho, passando por estradas de terra. A estação ferroviária, transformada em espaço cultural, nos aguardava entre montanhas.

Passeamos por lá, brincando entre os trilhos onde já não passam trens. A antiga estação, que esteve em ruínas, agora era um lugar bonito de se ver, com biblioteca e sala de oficina. Lá eu conheci o casal Marco Antonio e Karine, realizadores do 9o Festival Cultural de Miguel Burnier. E não apenas isso. Através deles eu soube da história de revitalização da estação ferroviária e o trabalho frequente em compartilhar cultura junto aos moradores do distrito. 

Após o café da manhã, tivemos uma palestra com a Norma, que falou de sua experiência como articuladora de leitura na rede municipal de ensino de BH. Fui convidado por ela para realizar algumas leituras e falar um pouco de minhas escolhas literárias.

Tivemos uma pausa para o almoço, quando pudemos curtir um momento de convivência e estreitar os laços.

Em seguida, tive o privilégio de dividir com a Norma uma apresentação de narração de histórias na biblioteca da estação ferroviária. Alternamos nossas  atrativas e conversamos com as crianças, que participaram e se encantaram.

Para abrilhantar ainda mais o dia, assistimos o espetáculo da Companhia Fusca Azul, com uma série de histórias do kit literário de BH.

Partimos Miguel Burnier com a alegria de termos feito parte dessa história. Deixamos lá nossas marcas e sabemos que fomos também marcados por esse dia inesquecível. 





segunda-feira, agosto 12, 2019

Primavera Literária 2019

A CONSTRUÇÃO DE UM CAMINHO COMUM PARA BIBLIOTECAS E O MERCADO EDITORIAL - A relação entre o mercado editorial brasileiro e as políticas de aquisição de livros para bibliotecas públicas e escolares.

Mesa de discussão com:
. Volnêi Canônica
. Samuel Medina
. Guilherme Relvas
. Viviane Maia
. Mediação: Rosana Mont'Alverne


"O mercado editorial brasileiro, especialmente sua produção infantil e juvenil, funciona, não exclusivamente, mas em grande medida, em torno de políticas de aquisição de livros para bibliotecas públicas e escolares. Em nosso atual contexto, como pensar essa relação, considerando aspectos como liberdade de expressão, financiamento e compromisso com um projeto amplo e longevo de formação de leitores e fortalecimento das bibliotecas?"

Dia 15/08/2019
11h30
Sala 206 (não será na sala multiuso)



segunda-feira, maio 06, 2019

Renovando os caminhos e as ideias para a Mediação da Leitura

No dia 27 de abril de 2019, sábado, estive no Museu de Artes e Ofícios para participar do curso "E agora, o que fazer com a mediação de leitura e a formação de leitores?".

Ministrado por Aparecida Soares Carneiro, o curso foi um momento muito especial. A mediadora buscou integrar os participantes e, ao mesmo tempo, tirar cada um de nós de seu lugar de conforto. Fomos estimulados a refletir na ideia que temos de leitura literária e de sua mediação, construindo uma teia de significados a partir de nossas vivências e valores.

Alternando sua palestra com atividades dinâmicas, Aparecida nos levou a ficar em movimento, estimulou nossos sentidos, em especial nosso olhar, de forma que pudéssemos refletir sobre nossas visões e paradigmas. Desta forma, fomos convidados a repensar nossa ação como mediadores e, sobretudo, como leitores.

Tivemos um importante momento para que cada um de nós apresentasse seu trabalho e sua experiência. Assim, foi possível conhecer os projetos da Ong Casa da Árvore (BiblioArteLab, Instagram do projeto, ebook Caderno BiblioArteLab), realizados por Aluísio Cavalcante, com ações de mediação de leitura junto a jovens. Conhecemos a iniciativa de biblioteca literária realizada dentro da empresa Tambasa, por Juliana Marques. Conhecemos a experiência em ensino de Jovens e Adultos de Andréia Silva.  Por fim, fomos apresentados à consultoria em Projetos Educacionais, proporcionada por Patrícia Rocha, através da empresa Letra Pê.

Eu tive a oportunidade de falar acerca da minha experiência na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Mencionei as oficinas de Mediação de Leitura que realizei no âmbito da Fundação Municipal de Cultura, em especial a Oficina Livro-Minuto. Ao fazer referência sobre minha atuação como contador de histórias, tive o privilégio de narrar a história Uma questão de interpretação, da tradição oral italiana.

O curso chegou ao fim, mas todos estávamos animados e sedentos por mais. Eu senti minhas forças renovadas. Foi um momento marcante de construção de uma rede pautada na mútua admiração e no ideal comum de construir um futuro mais inclusivo e justo.