Estou sozinho. Tateio na escuridão com a tristeza de um órfão. Sinto meus dedos doerem, tocando a superficie fria e áspera do chão onde repouso. A solidão é tão profunda que parece tragar a própria luz. Nada posso fazer contra ela. Essa solidão talvez seja meu mais forte atavismo.
Se eu gritar por socorro, alguém escutará? Se eu bradar ao abismo, enquanto o olho de frente, o abismo responderá? A falta de resposta me consome. Sou carcomido por dentro, mastigado internamente por dúvidas impenetráveis.
Quem abandonou quem? Fui abandonado ou abandonei todas as oportunidades postas para mim? Sinto-me como um náufrago, que lança essas cartas a um oceano de indiferença.
Certa vez, uma criança me disse que eu nasci feliz. Se isso é verdade, quando foi que deixei de ser? E como terá sido isso? Meus amigos, meus amores, sinto ter falhado com todos. Será isso a infelicidade e o inferno?
Desamparado, nu, ferido, humilhado. E tudo resultado de um sofrimento inflingido por mim mesmo. Haverá cura para tão grave erro? Ignoro e desisto. As horas passam e esfarelam mais um pouco de tudo que me resta.
O dia mais solitário da sua vida sempre terá outro mais solitário para sucedê-lo.