sexta-feira, dezembro 29, 2023

Motivador

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Tela em branco. 

Documento sem nome. 

Vazio de ideias, 

vago em busca de sentido. 

Sozinho. 

Abandonado. 

Sou como o arauto 

de uma era morta. 

Mas não precisa ser assim. 

A tela já não está mais 

em branco. 

Nela repousam palavras 

de angústia 

pelo ciclo que termina 

e o que se inicia. 

Essa agonia 

tão minha companheira 

me pega pela mão. 

A ela me entrego 

e assim escrevo.


Oficina de Prosa Poética - 19/12/2023 

quarta-feira, dezembro 27, 2023

Oficina estimula as crianças a encararem seus medos e refletirem sobre empatia



No dia 11 de novembro compareci à Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH para oferecer a oficina "O medo que a gente tem". Na atividade, eu li o livro Lolô, de Gregoire Solotareff. A partir da leitura, eu discorria com as crianças sobre as palavras "medo" e "empatia". Os sentidos dessas palavras eram explorados. Perguntei para as crianças de que elas tinham medo. Algumas disseram ter medo de aranhas. Outras, de baratas. Em seguida, falei sobre se colocar no lugar do outro, sentir o que o outro sente. Convidei as crianças então a desenhar suas imagens de medo, como forma a enfrentá-lo. Um aspecto dessa oficina em especial foi que as crianças foram chegando e eu voltava a ler com elas o livro e as convidava para produzir desenhos.

 











No dia 23 de novembro, foi a vez de ir à Biblioteca do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado. Atendi a cerca de 75 crianças. Resolvi mexer um pouco na metodologia. Perguntei primeiramente sobre o que os lobos gostam de fazer. A resposta foi "caçar". Dei início então a uma leitura reflexiva e dialógica, apresentando os personagens Tom e Lolô, contando a história desses dois.

Após a leitura, comecei a explorar alguns aspectos do livro, falando sobre a diferença entre MEDO-DE-LOBO e MEDO-DE-COELHO. Falei do trauma que Tom sentiu ao ser profundamente assustado por Lolô. Além disso, discorri sobre as questões como o significado da palavra "empatia" como contraponto à "antipatia", que todos conhecem e cujo conceito compreendem intuitivamente.

Sendo assim, explorei um pouco a questão da desigualdade desencadear processos nem um pouco empáticos, gerando profundos traumas nas pessoas. Contei do meu medo de aranhas e a brincadeira durante a infância em que meu irmão, Arthur, junto com os amigos Áquila e Samuel, procuraram me assustar com uma enorme aranha fosforescente. E como o resultado foi desastroso, pois estávamos todos de hóspedes na casa desses amigos e os vizinhos comunicaram aos pais deles essa confusão gerada com meus gritos de susto. 

As crianças disseram ter se divertido muito. Aproveitei para contar a história "O caso do bolinho", seguida da Que bicho será que fez a coisa?

Também discorremos um pouco mais sobre medos e a importância de a gente se colocar no lugar do outro. Estava com meus cartões. Aproveitei para separar um cartão e deixei com uma das professoras. 

Por fim, fizemos algumas fotos para marcar a iniciativa.  





O último encontro da oficina "O medo que a gente tem" aconteceu no Centro Cultural Usina de Cultura. As crianças eram bem pequenas e estavam bastante inquietas. Elas faziam parte de uma creche parceira da PBH. Apesar da inquietação, pude observar que prestaram bastante atenção durante a leitura. Quando fui conversar sobre os aspectos "medo" e "empatia", elas começaram a ficar agitadas. 

Por conta do tempo curto e da agitação das crianças, considerei melhor encerrar a atividade. Também deixei meu cartão com uma das professoras, ficando assim a possibilidade de visitar a instituição parceira.


Por fim, considerei essa oficina muito interessante e com um potencial enorme. Uma atividade que apresenta uma obra diversa e de grande sensibilidade. 

Espero poder oferecer essa oficina nos centros culturais novamente. Ou realizá-la em outros espaços, como bibliotecas comunitárias, creches e escolas.

E você, o que achou? Já leu o livro indicado? Realizou alguma oficina de leitura literária? Deixe abaixo seu comentário, compartilhando sua experiência ou reflexão. 


segunda-feira, dezembro 25, 2023

SAN - Detetive Folclórico - Uma emocionante jornada mística




Eles estão entre nós. Os seres mitológicos de nossa tradição oral. Saci, Curupira, Caipora, Boto... e a temível Cuca. E ela não está satisfeita. Irritada com a destruição da natureza, perpetrada por humanos, a bruxa reptiliana decide nada mais nada menos que aniquilar toda a humanidade. Ainda bem que temos Sandro, o detetive folclórico, para nos proteger e descobrir os planos da maligna cuca antes que seja tarde demais.

Assim tem início um dos livros mais divertidos que li. SAN - Detetive Folclórico, de Henrique Zimmerer, é uma narrativa leve e fluida, cheia de ação, humor e romance. Sandro - ou San, para os íntimos - é na verdade uma entidade folclórica e usará todo o seu poder para salvar a humanidade da extinção.

Como braço direito do detetive está o professor de biologia Custódio, outra entidade da nossa tradição oral brasileira. Custódio é ruivo, usa dreadlocks e tem o corpo coberto de tatuagens. É um exímio caçador e suas habilidades serão usadas para rastrear os inimigos que desejam tanto o fim da humanidade. 

E por fim, temos dois humanos: Alice e Daniel. Ela é uma jovem intempestiva e destemida. Dotada com um misterioso poder e a capacidade de ver o que os demais humanos não conseguem, a jovem entrará na luta para salvar os seres humanos, auxiliada pelo seu melhor amigo. Daniel perdeu o namorado André em um ataque realizado por espíritos de fogo, que destruíram uma boate em que Alice, André e Daniel estavam.

A narrativa se passa em Belo Horizonte. Sim, a capital mineira se torna o palco de uma luta épica entre entidades folclóricas, com alguns seres humanos dando força na batalha. A solução que o autor dá é genial. As pessoas comuns estão impedidas de ver fenômenos sobrenaturais. É como se elas não conseguissem prestar atenção nesses fenômenos. Com isso, as batalhas acontecem em plena luz do dia, com as mentes dos espectadores "adaptando" as partes espirituais de forma a poderem aceitar melhor o ocorrido. É uma solução interessante. E inclusive a narrativa sustenta que tudo o que acontece nos livros tem um "pezinho" na realidade. Ou seja, as narrativas de fantasia podem ter de fato acontecido.

Sandro, Custódio, Alice e Daniel são cativantes e possuem uma dinâmica própria. Sentem medo, insegurança, raiva e alegria. Suas reações são verossímeis e factíveis. Ainda que Sandro e Custódio sejam entidades mágicas, eles apresentam atributos tão humanos quanto você e eu.

Com cenas de ação de tirar o fôlego e um desenvolvimento de personagens cativante, SAN - Detetive Folclórico é uma jornada maravilhosa por um mundo que muitas vezes está escondido logo ali, para além do véu que encoberta nossos olhos.


Ficha Técnica

SAN - Detetive Folclórico

Zimmerer

ISBN: B09FZXVBDR

Ano: 2021 

Páginas: 209

Idioma: português

Editora: independente


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/san-detetive-folclorico-12058021ed12043887.html

sexta-feira, dezembro 22, 2023

O que espero

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Claro que eu quero que me ame, baby.

Desculpe, mas suplico amor

a cada passo que dou.

Mas o amor que espero

é para poucos.

Não adianta idealizar.

Tem que pegar pela mão

Me passar pela lama

Me afundar no lodo

Não adianta

me cobrir de beijos

afagos e carícias.

Tem que ser mais

Um pouco de tudo.

Saliva, muco, cabelos.

É líquido, e fragrância.

Tem que me puxar pra perto

Segurar firme

E me cobrir de ti.

quarta-feira, dezembro 20, 2023

Milésima postagem - Entendendo melhor os leitores

https://www.canva.com/p/id/BABfyOHKZIg/


Este é um dia de celebração. Após anos e anos escrevendo e publicando, chegamos à marca da milésima postagem. 

Acredito que seja um momento interessante para avaliar as conquistas deste espaço literário. Já publiquei anteriormente balanços sobre as postagens, refletindo um pouco acerca das publicações. Há por exemplo, a reflexão que fiz sobre minha formação continuada como escritor. Em outros textos, prometi que ira diminuir ou parar com as resenhas, mas não consegui fazer isso. Eis que continuo resenhando, refletindo sobre o que leio e colocando aqui. 

Outra questão que observei foi a quantidade de memória que existe no meu blog. Tanto que, se vocês leitores olharem para o lado, vão ver as postagens e suas principais categorias. São mais de 200 relatos em que eu conto minhas experiências, muitas vezes em formato de crônicas. Outras vezes, como ensaios. São notas de experiência desses tantos anos como escritor, contador de histórias e mediador de leitura.

Porém, as pessoas mais importantes deste blog são os meus leitores. Por isso, resolvi criar uma pesquisa para entender melhor esses leitores, um questionário rápido para que eu possa compreendê-los mais. Os endereços de e-mail serão guardados para comunicações futuras.

Acesse este link e responda à pesquisa.

Depois desse longo trajeto e de tantos anos passados, agradeço a todas as pessoas que seguem acessando e lendo este meu espaço literário. Sem vocês, seria impossível ter continuado a escrever. Espero que o blog continue vivo para produzir outras mil postagens! 

segunda-feira, dezembro 18, 2023

Clara e o homem na janela - Quando a luz invade



Este é um livro lindo. Seu nome é Clara e o homem na janela. Clara é a protagonista, uma menina que vive num interior desses de algum país da América Latina.

Clara tem que levar um cesto de roupas lavadas. Deve entregá-las na Casa Grande. O homem que lá vive nunca sai, vive recluso. Apesar das recomendações, Clara se distrai com tudo, inclusive com os livros que recheiam as estantes do homem.

Vendo o interesse da menina, o homem pergunta se ela sabe ler. Clara diz que sim. Ele então passa a lhe emprestar livros. Das leituras e dos encontros, nasce uma amizade. Clara descobre que o homem nem sempre foi recluso, que teve um grande amor, o jardineiro. Mas esse amor se perdeu no tempo e na vida.

O texto de María Teresa Andruetto é enxuto, econômico, mas rico em discurso. Fala muito pois diz do que é eterno e, ao mesmo tempo efêmero: vida, amor, amizade. O desenho de Marina Trach é um convite a buscar as mais diversas referências, imagens polissêmicas que enchem o silêncio de dizeres.

As cores são leves, suaves, como que contrastando a força do sentimento que permeia as páginas. Há muito sentimento represado nesse livro, muita emoção contida.

Em certo momento, vemos a referência aos contos de fadas, com a menina andando pela floresta com o cesto. Por vezes, vemos o jogo de cores a criar um tom harmonioso, como que para apaziguar o conflito que se estabelece na figura daquele homem que praticamente desistiu de viver.

Com desenhos lindos e um texto conciso e potente, Clara e o homem na janela é uma narrativa sobre amizade, sobre amor e, também, sobre cumplicidade que a paixão pelos livros pode ajudar a construir. 


Ficha Técnica

Clara e o homem na janela

Coleção da Cigarra

María Teresa Andruetto

Marina Trach

ISBN-13: 9788585166083

ISBN-10: 8585166088

Ano: 2020 

Páginas: 48

Idioma: português

Editora: Amelì Editora


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/clara-e-o-homem-na-janela-11733459ed11744270.html

sexta-feira, dezembro 15, 2023

É triste


É triste 

mas eu 

desisti 

de você. 

Nossos corpos 

nunca se unirão.

Nossas bocas 

Terão para sempre 

o abismo da 

impossibilidade. 

Porém, continuo aqui. 

Pois quem sabe um dia 

a gente se olhe 

diferente. 

E para isso estarei aqui. 

Sempre.

quarta-feira, dezembro 13, 2023

O pássaro da verdade

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Esta história é contada entre o povo San, que vive no deserto do Kalahari, ao sul da África. Quem a contou para mim foi a Emilie Andrade, na abertura da Sexta Candeia - Mostra Internacional de Narração Artística. Ela por sua vez teve contato com essa narrativa por intermédio de um pesquisador estadunidense chamado Michael Meade.

Dizem que certa vez um caçador, cansado de suas caçadas, sedento e esbaforido, parou às margens de um lago para beber àgua. Enquanto saciava sua sede, viu nos reflexos das águas a figura de um enorme pássaro branco. Ao levantar a cabeça, porém, não viu sinal do pássaro. Apenas o céu azul.

O caçador permaneceu no mesmo lugar o dia inteiro, esquecido de retomar a caçada, olhando para cima, na esperança de novamente ver o pássaro branco. Ao fim do dia, retornou para sua casa.

Uma mudança, porém, se operou no caçador. Ele parecia triste e desanimado. Vivia com os olhos no céu. Não saía mais para caçar. As pessoas perguntavam o que ele teria, ao que nada respondia. Até o dia em que um amigo o interpelou. Ele compartilhou que desde que vira de relance o pássaro branco, nada mais queria a não ser vê-lo novamente. O amigo retrucou que ele provavelmente não havia visto pássaro algum, que tudo não havia passado de um lampejo de raio de sol refletido na superfície do lago. Mas caçador tinha certeza do que havia visto.

Depois de alguns dias, o caçador então tomou uma decisão. Largou definitivamente seu ofício, abandonou o local que nasceu e decidiu partir em busca do pássaro. Por onde ele passava, perguntava se as pessoas tinham avistado a ave. A maioria dizia que nunca a tinha visto. Uns poucos dizia ter ouvido falar.

O tempo passou caçador agora estava velho. Até que chegou em um pequeno vilarejo situado no fundo de um vale. Lá ele ouviu pela primeira vez que sim, esse pássaro existia. Era o grande Pássaro da Verdade e vivia na montanha mais alta, do outro lado do vale. 

Imbuído de uma nova energia, o caçador se dirigiu à montanha e começou a escalá-la. Usou toda a sua força para transpor esse obstáculo. Até que sentiu uma emoção nunca antes sentida. Seu corpo todo se comovia. Era um cansaço impossível. O caçador teve então a certeza de que iria morrer.

E num relance ele sentiu o lufar de asas sobre a sua cabeça. Olhou para cima e nada viu além do céu azul, tão azul quanto naquele dia em que ele vira de relance o vulto do Pássaro da Verdade na superfície das águas do lago, tantos anos atrás. Fraco e cansado, o caçador estendeu a mão. 

Então, lá do alto, planando, cálida e pequena, uma pena branca veio descendo lentamente, uma leve pluma, que pousou na mão estendida do caçador. Ele segurou a pena junto de si e, com um sorriso nos lábios, morreu.

Hoje, após transcrever essa história, eu me sinto um pouco como esse caçador. Sinto-me como alguém que encontrou um dia a Beleza e foi por ela transformado de tal maneira que deseja investir a vida inteira em sua busca. E sem se importar se a busca terá sucesso, estando feliz e realizado apenas com o mínimo sinal de que ela, a Beleza, a Verdade, o Sonho, o Ideal, existe.

segunda-feira, dezembro 11, 2023

A Esposa do Rei - Filha do mundo azul



Everlin, ou simplesmente Lin, é uma jovem comum que tem um segredo. Na adolescência, ela se apaixonou por um misterioso garoto. Essa paixão a marcou para sempre, de tal forma que a moça se considera incapaz de se apaixonar novamente.

A vida comum de Lin vira de pernas pro ar quando, em um acidente de avião, a moça vai parar em uma ponte de Einstein-Rosen, que a transporta para um mundo sem tecnologia, onde as mulheres são proibidas de estudar e as pessoas diferentes, com traços incomuns, são vistas como especiais.

Lin é salva por um nômade, mas acaba sendo levada pelos soldados do rei, como pagamento da dívida de seu salvador. Assim, ela vai parar no harém do monarca. Por ter traços orientais, a jovem é considerada uma verdadeira raridade. O rei do país quer que ela aceite a condição de esposa mas, por mais belo e sedutor que ele seja, Lin se sente incapaz de se apaixonar e esquecer seu amor do passado.

O texto de M. Okuno é atraente, cativante. Repleto dos elementos da cultura pop, como referências a filmes e músicas, o enredo atrai e captura nossa leitura. O maior conflito é justamente a reiterada e exaustiva investida de Sete, o Rei, para conquistar Lin. Ela se sente fisicamente atraída, mas suas emoções continuam cativas de seu amor da adolescência.

Enquanto resiste às investidas de Sete, Lin busca aprender tudo sobre o mundo em que está, enquanto tenta encontrar uma forma de voltar para o seu mundo - o mundo azul, que é a forma como nosso planeta é conhecido naquela terra.

Com elementos românticos e algumas reviravoltas, A Esposa do Rei é o livro ideal para quem gosta de histórias de amor, mesmo aquelas em que o amor parece perdido no passado.


Ficha Técnica

A esposa do rei

Grupo Editorial The Books

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ISBN-13: 9788554906672

ISBN-10: 8554906675

Ano: 2019 / Páginas: 273

Idioma: português

Editora: The Books



Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-esposa-do-rei-993290ed994878.html

sexta-feira, dezembro 08, 2023

Estou morto

 


Estou morto.
No espaço
ando penso cago como
mas no tempo sou
um morto.
Estamos todos mortos.
Essa verdade
apenas
ainda não se realizou.
Talvez.
Pois quem sabe esta seja
a última instância da
existência.
Bem, no fim, nada disso
importa.

quarta-feira, dezembro 06, 2023

Visita à Escola Estadual Carlos Campos no dia 10/11/2023



No dia 10 de novembro de 2023, pela manhã, compareci à Escola Estadual Carlos Campos para falar de meus livros. Fui recebido pela Cássia com uma mesa posta e comida gostosa: pão de queijo e biscoito com manteiga, para então ser apresentado à diretora Beatriz e a outras pessoas, como a Kátia.

Contei minha história de vida. Em seguida, contei Uma visita inesperada, "O caso do bolinho", "Que bicho será que fez a coisa", "Chapeuzinho Amarelo". Respondi a perguntas das crianças. Por fim, contei "As penas do dragão". Faltavam sete minutos e aproveitei esse tempo para contar "Os cisnes selvagens", do Andersen.

Na parte da tarde, voltei à escola. Fiz uma segunda apresentação. As histórias foram diferentes. Contei minha trajetória, "O caso do bolinho", "Que bicho será que fez a coisa" e "A procissão das almas". Fui tirar foto com a turma da Cássia. Autografei meu cartão de visita. Uma criança pediu para autografar seu braço. A moda pegou e logo outras crianças pediram o mesmo. Foi uma algazarra. 

Deixei como doação um exemplar do livro Uma visita inesperada.






segunda-feira, dezembro 04, 2023

Sagatrissuinorana - Crônica de uma tragédia anunciada



O clima está ameno. O campo aberto é um convite ao cultivo. Aquele vale verde e fértil é habitado por três simpáticos porquinhos. A princípio, lobo nenhum espreita, mas isso está para mudar.

Assim começa Sagatrissuinorana, livro de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz. Na verdade, a "Saga" começa com uma inusitada mas famosa palavra: Nonada. Refazendo os passos e estilo roseanos, João Luiz Guimarães nos presenteia com um espetáculo de linguagem que nos remete não apenas aos clássicos dos contos de fadas, mas aos textos de Rosa que dialogam com esses clássicos, como Fita verde no cabelo.

E ao falarmos de espetáculo, o que dizer do traço de Nelson Cruz? O primor nas cores e formas fundam um universo de sentidos e transforma o texto de João Luiz Guimarães em uma experiência sinestésica vívida.

E enquanto o idílico vale se desdobra aos olhos de quem lê, a anunciada tragédia acontece. O lobo arrebenta os limites da tela e invade a imagem, causando destruição e medo. O lobo de Nelson Cruz é espetacular em toda a sua monstruosidade. Os porquinhos, porém, contam com um último refúgio, que é a casa de pedra. Até acontecer a verdadeira e real tragédia.

O trabalho conjunto de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz resulta em uma obra-prima. Uma narrativa múltipla, que dialoga com o nosso tempo, enquanto homenageia os clássicos de ontem e de sempre. Um texto rico e profundo, mesclado a desenhos poderosos. Trata-se de um livro para ler várias vezes, uma obra que valoriza a memória, que nos pede para não esquecermos. E também é um livro que diz que não há lobo feroz o bastante que se equipare à maldade humana. Livro vencedor do Jabuti 2021. 


Ficha Técnica

Sagatrissuinorana

João Luiz Guimarães e Nelson Cruz

ISBN-13: 9786599010743

ISBN-10: 6599010741

Ano: 2020 

Páginas: 32

Idioma: português

Editora: ÔZé


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/sagatrissuinorana-11831776ed11831450.html

sexta-feira, dezembro 01, 2023

Asceta


A tristeza faz sua volta

coça meu nariz mais uma vez.

é o espírito

o sopro tênue

chama que logo cessará.

Eu sou essa chama

exangue centelha

conto os instantes

da minha própria morte

e depois

viro-me para um canto e

esqueço

quarta-feira, novembro 29, 2023

Uma história de amor com Carmo da Mata


Carmo da Mata é uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, próxima a Cláudio e Divinópolis. Uma cidade histórica, com casarões de época bem conservados ostentando em suas fachadas as datas de suas construções. Idílica, romântica e quase plana, Carmo da Mata é uma ótima cidade para se conhecer, principalmente na época do seu evento literário, a Flicar - Festa Literária de Carmo da Mata.

Cheguei à cidade no dia 2 de novembro e já me apaixonei. Era meu aniversário. A cidade se revelava entre morros suaves e se colocava à disposição para ser conhecida, num convite para sua exploração. Foi um enorme presente conhecer Carmo da Mata nesse dia em que eu completava quarenta e dois anos. Quem me apresentou à cidade foi o Professor Doutor Hércules Tolêdo Corrêa, na companhia de seu marido, o Fred, e da professora portuguesa Maria de Lourdes. 

Era perto da hora do almoço. Dei entrada no Hotel Boa Vista e pouco depois fomos ao restaurante Golo e Gula, onde almoçamos. Em seguida, partimos para o local da tenda da Flicar, a Praça da Matriz. A tenda havia acabado de ser montada e lá estava a Júnia Paixão, acertando os últimos detalhes da Flicar. Conversamos algumas amenidades e nos despedimos, quando voltei para o hotel.

No meio da tarde, caiu um grande temporal. Não me surpreendi, pois tenho lembranças de meus aniversários serem sempre  chuvosos. Fiquei curtindo a chuva, enquanto descansava da viagem. O momento da chuva foi especialmente emocionante, pois logo descobri um ninho de passarinhos na janela do banheiro do meu quarto de hotel. Acredito que o ninho era de um João-de-barro.

No cair da noite, Hércules me pegou no hotel e fomos ao Armazém Notini, um charmoso restaurante situado na entrada da cidade. É um lugar com uma rusticidade clássica e um cardápio de dar água na boca. Saboreamos deliciosos pastéis de camarão, dentre outros pratos. Pedi a sobremesa e cantamos parabéns. Ganhei o jantar como presente de aniversário.

Dia seguinte, 3 de novembro, a Flicar teve início. Dentre falas institucionais e apresentações artísticas, conheci o Servos Cardoso, um talentoso professor de música e poeta que estava lançando seu livro, Poético. A gente trocou algumas palavras rapidamente ainda no Hotel Boa Vista e durante o evento fomos estreitando nossos laços. Servos é uma pessoa maravilhosa, além de um filósofo contemporâneo. Outra pessoa que lançava seu livro era a jovem Luna Carvalho, com o título Poesia na alma.

Conheci também a autora Mirian Freitas, que estava ao meu lado nos estandes de vendas de livros de autoras e autores. Sempre simpática e interessada, Mirian foi quebrando o gelo, puxando papo comigo.

Na hora do almoço, as convidadas e convidados se reuniram e partiram em grupo para comer no bar e restaurante Velho Oeste, que apresentou um cardápio típico da culinária mineira, com direito a fogão à lenha.

No período da tarde, às 14h, ocorreu primeira mesa que tinha como título: "Criando mundos: quando a imaginação ganha corpo". A mesa contou com a minha presença, além da participação de Felipe Soares e Luís Mingau. O mediador foi o José Carlos Neto, que nos perguntou questões sobre criatividade e interesses literários.

Ainda no dia 3 de novembro, à noite, tivemos um magnífico sarau, que contou com as presenças das convidadas e convidados, recitando textos autorais, além de poemas de Fernando Pessoa e Gregório de Matos. 

Minha participação na programação da Flicar aconteceu também no dia seguinte, sábado, às 11h, quando participei da mesa 04 - "Histórias, historinhas e historões para crianças de todos os tamanhos", com a presença também de Bruno Rodrigo, Vânia Ordones e Patrícia Oliveira. Conversamos sobre nossas trajetórias como mediadoras e mediadores de leitura, contadoras e contadores de histórias e como esses trajetos influenciam em nossos trabalhos literários. A maravilhosa mediação ficou por conta do Professor Hércules.

Vale destacar que as demais mesas foram potentes e instigantes, contando com as participações de diversas personalidades literárias. Destaco dentre elas além da Mirian Freitas, o Lucas Galvão, o Alan Resende, a Thaís Campolina, o Bruno Magalhães, o Pedro Gontijo e o Luiz Eduardo Carvalho. É possível conferir a maior parte das mesas de debate através do perfil da Flicar no Instagram

Durante as noites de 3 e 4 de novembro, o Armazém Notini foi nosso ponto de encontro, onde trocamos brindes, histórias e impressões, embalados por um ambiente maravilhoso e um cardápio de delícias.

Minha história com Carmo da Mata, porém, não tinha acabado. Ainda fiquei na cidade no domingo e pude conhecer a Garagem do Automóvel, com itens raros, como o automóvel único produzido para a filha do presidente da Fiat ou um dos carros do Palácio de Buckingham. O espaço conta também com um incrível acervo de relógios 

Tivemos também uma tarde extremamente agradável na companhia do Hércules, de seu marido Fred, da Maria de Lourdes e de algumas pessoas da família do professor. Foi um almoço delicioso e especial, orquestrado pelas mãos talentosíssimas do Fred. Com a gente estavam também a Mirian Freitas e o Servos Cardoso.

Deixamos a cidade na segunda-feira, dia 6 de novembro. Estava porém transformado. Já amava Carmo da Mata. Uma cidade gostosa e acolhedora onde passei momentos muito interessantes e ricos, principalmente por conta da Flicar. Fiz contatos importantes e conheci pessoas que impactaram definitivamente a minha vida.

Fica aqui meu agradecimento imenso à Júnia Paixão, curadora e idealizadora do Flicar, pelo convite e acolhida, além de um agradecimento especial ao Hércules Tolêdo Corrêa por nos receber e também por ter me levado a Carmo da Mata e me trazido de volta a Belo Horizonte. E não foi apenas isso. Hércules é um maravilhoso anfitrião, que me deixou sempre muito à vontade. Fred não fica atrás e esbanjava simpatia, bem como a Maria de Lourdes. Sinto que esses encontros forjaram uma amizade que eu quero levar para a vida.



















segunda-feira, novembro 27, 2023

O Pequeno Nicolau - Uma homenagem à infância antiga



Imagine um menino que o que tem de inocente, tem de travesso. Pois assim é Nicolau. Agitado, ingênuo e um pouco inconsequente, o menino se envolve em diversas confusões com seus amigos, principalmente o Alceu. Esse é o enredo de O Pequeno Nicolau, de Sempé e Goscinny, com tradução de Luís Lorenzo Rivera e publicação pela Editora Martins Fontes.

O livro trata de pequenos episódios da vida do menino Nicolau. Uma criança como qualquer outra, que não se priva de chorar quando deseja e tem como maior vontade a diversão. São episódios cotidianos sem relação cronológica entre si, podendo ser lidos separadamente. Tanto que as crianças são apresentadas novamente a cada capítulo.

São muitas as confusões aprontadas por Nicolau e seus amigos. Cada um tem características bem marcadas pelo menino, que é também o narrador. Alceu come o tempo todo. Maximiliano tem as pernas compridas e é bom na corrida. Godofredo tem o pai muito rico e por isso aparece sempre com as melhores fantasias. Agnaldo é o primeiro da classe e o queridinho da professora. Por isso, todos querem bater nele, mas não podem, pois ele usa óculos. Rufino vive com um apito, pois seu pai é policial Clotário é sempre o último da classe. Eudes é grande e forte e adora distribuir socos nos narizes dos colegas.

O livro é muito gostoso de ler e também engraçado, com ótimas tiradas de humor, sempre contrapondo o mundo adulto com o mundo da infância. Trata-se de uma infância alegre e inocente, extremamente idealizada, mas que não deixa de ter o seu charme. 

Por falar em charme, essa é principal característica de Nicolau. Ele é de fato um narrador encantador. Talvez este encanto esteja justamente na sua falta de malícia, o que nos aproxima dele e nos faz apreciá-lo. Nicolau é simples, apesar das ambições de, ao crescer, ser rico, ter um carro, um avião e deixar todos impressionados.

Os desenhos são de Sempé, o mesmo criador de Marcelino Pedregulho, com traços cartunescos bem característicos, de formas angulosas marcantes e bem definidas, mostrando o cotidiano de uma época francesa em que as escolas de meninas e meninos eram separadas, fotografias eram tiradas por câmeras gigantescas e o futebol era jogado em terrenos abandonados, com sucatas de carros espalhados por todo lado.

Existe um aspecto que me desagradou no livro, que é a marcação exagerada em relação á obesidade de Alceu e sua compulsão por comer. Essa estrutura narrativa é utilizada como elemento cômico muito datado. Apesar desse estereótipo, Alceu aparece como uma criança comum e até um pouco mais travessa que as outras.

Outro personagem que merece destaque é o Agnaldo, por sua caricaturização. Trata-se de um garoto precoce tanto em livros quanto no conhecimento. Porém, ele é como uma miniatura de vilão, sempre entregando os colegas em com isso sendo constantemente chamado de "traidor sujo".

Apesar desses elementos que considerei controversos, pude me divertir bastante com o livro. Acompanhar as aventuras do pequeno Nicolau foi também um nostálgico mergulho na minha infância. Eu me senti rejuvenescido e como que revivendo os episódios pitorescos e memoráveis da época em que eu era criança.

Com desenhos de muita personalidade e narrativas muito divertidas, O pequeno Nicolau é uma leitura imperdível, uma deliciosa jornada recomendada para crianças de todas as idades.


Ficha Técnica

O Pequeno Nicolau

René Goscinny

Sempé

Tradução de Luís Lorenzo Rivera

ISBN-13: 9788533601833

ISBN-10: 8533601832

Ano: 1996 

Páginas: 120

Idioma: português

Editora: Martins Fontes

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-pequeno-nicolau-1854ed122257397.html

sexta-feira, novembro 24, 2023

Uma criança


Uma criança. 

Presa. 

Processada. 

Julgada. 

É apenas uma criança. 

Chora de horror 

ao ser levada por soldados. 

Isso é o que acontece no mundo. 

E você, cidadão de bem, 

ignora essa enorme tragédia 

enquanto estampa 

a bandeira 

de um estado 

Genocida.  

quarta-feira, novembro 22, 2023

Oficina de Prosa Poética encontra a Oficina de Letras


Era terça-feira, 5 de setembro de 2023. Estávamos na escrita, quando chegaram as pessoas do Centro de Convivência Carlos Prates. Sandro, o monitor da Oficina de Letras, veio acompanhado de alguns participantes: Adriene, Leonardo, Ágata, Sulamita, Reuben. 

Sandro falou um pouco sobre a experiência da realização da Oficna de Letras, que acontece no Centro de Convivência Carlos Prates, ligado à Rede SUS de BH. Na oficina, as reuniões acontecem em uma mesa redonda, para realçar o caráter circular e horizontal da atividade. Sandro ressaltou ser uma atividade terapêutica, com a importância da escuta e do uso da Palavra Oral. É escolhido um tema e, sobre ele, são produzidos textos livres. Após o momento de escrita, os participantes compartilham seus textos e muitas vezes são recebidos com palmas.

A oficina produziu um primeiro caderno. Um segundo caderno, como livro-objeto, começou a ser produzido, mas teve sua confecção interrompida pela pandemia.

Com o fim da pandemia de Covid-19, o projeto foi retomado e o Caderno de Letras foi finalizado e lançado. Trata-se de um livro-objeto organizado em 16 livretos individuais, um livreto coletivo e um mapa, todos acondicionados em uma caixa de papel craft.

Depois de apresentado o projeto, passamos a ler os textos dos participantes da Prosa Poética. Os textos foram produzidos a partir da observação, do manuseio e da leitura de trechos dos Cadernos de Letras. Por fim, os nossos visitantes, participantes da Oficina de Letras, compartilharam suas produções, com destaque à Sulamita, que recitou um poema instantâneo, criado no momento, com a belíssima expressão: "Me vesti de lágrimas."



No dia 31 de outubro, foi a nossa vez, a turma da Prosa Poética, de retribuir a visita. Chegamos eu, Kátia e Wander no Centro de Convivência Carlos Prates e encontramos a casa cheia. Uma turma de estudantes do curso de Psicologia da UFMG iniciava seu estágio no local e participaria também da oficina.

Fomos muito bem recebidos pelas pessoas que utilizam o Centro de Convivência, em especial a Adriene, que fez questão de apresentar o espaço para a Kátia e o Wander. Uma bela exposição interativa estava instalada no local e foi apresentada pela Adriene, que fez questão que tocássemos as obras e nos explicou suas características e contextos de feitura. Ela também nos mostrou a sala da Oficina de Letras, onde está também instalada a biblioteca do projeto.


Sandro nos reuniu ao redor de algumas mesas e deu início à sua mediação, apresentando o livro Alinhavos escrito pela Maria Helena Camargos Moreira e publicado pela Mazza Edições. O livro é um apanhado de poemas da autora e trata questões como o corpo, identidade e a existência. Diversos poemas foram escolhidos e lidos pelo grupo. Assim, tornaram-se os motivadores da escrita. Foi realizada uma pausa para o café e logo em seguida retornamos para escrever. Após esse período de escrita, os textos foram compartilhados pelo grupo.

Foram momentos de encontro e descoberta. Sinto-me muito grato pela oportunidade de ter conhecido o Centro de Convivência Carlos Prates e todas as pessoas participantes da Oficina de Letras. Que este projeto continue frutificando e transformando a vida de tanta gente.