sexta-feira, janeiro 30, 2015

Oscar e a Senhora Rosa - uma vida inteira em doze dias

Oscar é um menino diferente. Sua casa é a ala infantil de um hospital. Sofrendo de um câncer em estágio terminal, ele carrega uma amargura e uma ironia fortes demais para alguém de apenas dez anos. A única pessoa que ele parece respeitar de fato é uma senhora que ele chama de Vovó Rosa. Uma pessoa também incomum como o próprio Oscar. 
Incentivado por sua amiga a escrever cartas para Deus, mesmo sem acreditar em sua existência, Oscar é responsável por contar sua história, inclusive para nós, leitores, clandestinos espectadores dessa conversa. Numa linguagem carregada de amargura e desilusão, o garoto procura antes de tudo ser sincero. Já de início declara não acreditar em Deus. Inclusive ressalta que já fora enganado sobre o Papai Noel e não cairia duas vezes na mesma conversa. Ele também desfia sua completa descrença no seu tratamento, ao declarar ser um "mau paciente". Afinal, seu corpo não respondeu bem nem à quimioterapia nem ao transplante de medula.
Sardônico mas ainda assim com um agudo senso de humor, Oscar vai redigindo uma série de cartas, uma por dia, à semelhança de um diário. A Vovó Rosa propõe então que ele faça de conta que cada dia corresponda a dez anos para ele. E é com uma maravilhada comoção que vamos acompanhando essa magia em que um menino é capaz de viver uma vida inteira em apenas doze dias.
Oscar e a Senhora Rosa é um texto lindo. Enxuto, direto, sem que o fôlego prejudique sua poesia. Uma bela e inesquecível ode à Vida.

Deixo aqui um trecho desse belíssimo livro:

"Com Peggy Blue, li muito o Dicionário médico. É o livro preferido dela. É fascinada por doenças e sempre se pergunta quais poderá ter mais tarde. O meu interesse era outro, procurei palavras como 'vida', 'morte', 'fé', 'Deus'. Acredite se quiser: não constavam desse dicionário! Bem, isso prova que nem a vida, nem a morte, nem a fé, nem você são doenças. Já é uma boa notícia."


Ficha Técnica:
Oscar e a Senhora Rosa
Eric-Emmanuel Schmitt
ISBN: 9788520915936
Ano: 2003
Páginas: 112
Idioma: português
Editora: Nova Fronteira

Perfil do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/34598ED37795

quinta-feira, janeiro 29, 2015

Lançamento BH Sem Homofobia no Dia da Visibilidade Trans

Crédito da imagem: Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT/FAFICH/UFMG (http://www.fafich.ufmg.br/nuh/index.php/item/90-prefeitura-lanca-programa-bh-sem-homofobia-como-parte-de-acoes-do-dia-da-visibilidade-trans)


Hoje de manhã estive no Teatro Marília para o lançamento do Programa BH Sem Homofobia. Hoje, dia da Visibilidade Trans. 
Após uma explanação do Programa e das falas institucionais, uma mesa de discussão foi constituída. Havia cinco pessoas que, através de suas atuações, sua experiência, vivência e militância, apresentaram uma série de questões acerca do tema.
Durante as falas eu pude ter contato com uma realidade que muitas vezes é ignorada. Uma realidade massacrada pelo preconceito, pelo moralismo, pela ignorância. E na era em que vivemos, ignorância não é mais desculpa.
Foi muito importante, e eu digo principalmente para mim, estar presente nesse evento, ser testemunha da luta dessas pessoas por seus direitos, que no papel são os mesmos que os meus. E tive a consciência de que nosso silêncio também é arma contra a justiça social. Talvez seja inclusive uma das piores. Nossa omissão não deixa de ser uma grande violência simbólica, uma grande covardia, um grande absurdo. 
Nesse mundo em que discursos se multiplicam vertiginosamente, quando qualquer um pode defender uma ideia através de uma "janela" virtual, a gente esquece que no plano físico e simbólico as violências continuam se perpetuando. E quem ocupa uma posição de conforto (branco, heterossexual, cristão etc.) pode muito bem ficar lá do seu "bastião", dizer "não é comigo" e deixar sua contribuição para a perpetuação do preconceito. Afinal, amigo, seu silêncio é mais um tijolo no muro da segregação.

Mais informações:




quarta-feira, janeiro 28, 2015

Desfecho

A semana acabou agora. 
Num piscar intermitente, foi morrendo.
Acabou-se.
Recolho os cacos de tempo que restaram
uso cada um deles
para rasgar minha pele.
Assim meu suor
faz arder minhas feridas
sal e sangue 
dançando loucos
amantes desventurados.
Sou apenas mais um expectador
do que um dia foi 
meu destino.

sexta-feira, janeiro 23, 2015

Quero meu chapéu de volta: suspense e humor na dose certa!

O Urso está triste e mal-humorado. Ele perdeu seu chapéu e sem dúvida é capaz de tudo para encontrá-lo. 
Essa é a premissa do livro infantil Quero meu chapéu de volta, de Jon Klassen. Num texto composto apenas de diálogos e portanto muito dinâmico, o leitor é convidado a acompanhar a busca do sr. Urso por seu chapéu, enquanto ele interpela vários animais.
É fundamental destacar a personalidade no traço de Klassen. Num estilo elegante, através de formas simples mas expressivas, o artista confere a maior parte do livro cores suaves, o que dá um certo ar de seriedade à narrativa. E o uso das cores será fundamental em um momento crucial da narrativa, tornando o texto ainda mais dinâmico.
Também é curioso perceber como o traço de Klassen garante aos personagens grande expressividade. Por conta da narrativa composta por diálogos, há partes subentendidas, sugeridas, o que se constitui num jogo de luz e sombras geralmente muito apreciado pelas crianças durante a leitura. E isso torna o livro de Klassen genial ao incentivar a interatividade com o leitor numa obra aberta e muito divertida.
Certamente, Quero meu chapéu de volta será uma inesquecível aventura para todos os leitores, pequenos e grandes.

Fiz uma experiência estética filmando minha leitura do livro. Confira aqui: 




Ficha Técnica:
Autor: Jon Klassen
Ano: 2012
Páginas: 28
Editora: WMF Martins

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/227011ED253907

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Balanço de um escritor em formação

O ano de 2015 começou e protelei em refletir um pouco sobre o finado 2014. Apesar de uma passagem de ano melancólica, não posso deixar de marcar que tive importantes conquistas. Em agosto lancei junto à Editora Baobá o livro Patos Selvagens. Não há como expressar o quanto a publicação desse livro significou para mim.
Mas essa não foi a única grande conquista. Aprendi em 2014 o poder do trabalho em equipe. Nesse ano que passou realizamos um ótimo Encontro de Jovens Autores e Blogueiros Literários, fundamos a Liga de Autores Mineiros, estivemos presentes na Bienal do Livro. Participamos de atividades em escolas diversas.
Agora, preciso refletir em um aspecto importante, que é o meu processo gradativo de aprendizado e aperfeiçoamento no ofício da escrita. E a melhor forma de fazê-lo é voltar meus olhos para este blog.
Foram ao todo 58 textos publicados em 2014. Resenhei nove livros, postei nove divulgações de eventos e postei quatorze poemas. É curioso classificar meus textos como poemas, já que não me considero um poeta. Além disso, sou um péssimo leitor de poesia, como vocês verão logo abaixo. Não resta dúvida, contudo, que houve uma certa mudança de rumo em meu motor criativo. E infelizmente não postei um conto durante o ano inteiro. Esse fato me deixou um pouco preocupado. E publiquei apenas duas crônicas. As demais publicações foram relatos, textos curtos, um pouco de encheção de linguiça. 
Aproveito para abrir um parêntesis. O blog, embora seja o principal espaço de veicularão de meus textos, não é meu estúdio de escrita. Escrevo quase que diariamente, em cadernos que chegam ao fim muito rapidamente. Quase nada desses escritos tem natureza literária, mas considero um excelente exercício.
Logicamente, não posso deixar de refletir um pouco sobre minha posição como leitor. Há tempos utilizo a plataforma Skoob para administrar minhas leituras. Há dois anos faço isso quase obsessivamente. O escritor Nelson de Oliveira, em seu livro "A Oficina do Escritor", fala sobre a crescente e quase absurda proliferação de textos nos mais diversos formatos. É evidente que isso não deixaria de trazer uma certa angústia a muitos leitores. Afinal, há milhares de livros que nunca lerei. 
Por conta dessa angústia,  tenho tentado me certificar que a cada ano a quantidade de livros aumente. Infelizmente nem sempre isso acontece. Em 2012, li 148 livros, enquanto que em 2013 foram apenas 82, quase metade. E em 2014, embora tenha expandido minha leitura, não consegui bater a marca de 2012, mas cheguei perto, lendo 134 livros.
Muitos poderão me contestar, dizendo que não adianta quantidade sobre qualidade. Concordo, mas adiciono que sempre fui um "releitor" por excelência. Infelizmente, o Skoob não guarda esse dado. Há livros, como Macunaíma por exemplo, que li umas cinco vezes. E nunca me canso de reler. Desses 134 livros, a grande maioria foi literatura brasileira, o que me deixou muito satisfeito. Porém, somente nove por cento desses livros era de poesia. Tive um grande número de livros infantis lidos, algo que anualmente renovo como firme compromisso. Afinal, trabalho em uma Biblioteca Infantil e Juvenil, com cerca de 25 mil títulos em seu acervo.
Chegamos então a 2015. O que pretendo para este ano? Terminar a continuação de O Medalhão e a Adaga. Terminar O Viajante Cinzento, publicar A Cidade Suspensa em formato impresso. Ganhar mais leitores do blog, terminar de ventre os exemplares dos meus livros. Os planos de 2015 serão mais calmamente detalhados em outra postagem.
Enfim. Este ano que passou, concluo, foi muito produtivo, principalmente se comparado ao seu antecessor. Participei de eventos como a Jornada de Edição e o Circuito Literário Praça da Liberdade. Contribuí para projetos muito bacanas, como O Escriba Encapuzado.
E o que me falta agora, além de muito chão? Pé.

terça-feira, janeiro 20, 2015

Um novo companheiro

Foi sorrateiro e silencioso. Em um momento de pesar, momento de repensar escolhas, lá estava ele, a me escolher. Nada planejado, apenas aconteceu. É curioso imaginar como a vida decide muitas coisas à nossa revelia.
Conheci-o primeiro pelo som. Em certa manhã de Natal, 2014 ensaiando sua despedida. A família toda iria aproveitar o sol e na sombra ele nos observava, escondido num arbusto colado ao muro da casa de meus pais. Imperativo e ao mesmo tempo súplice, ele miava em desconsolo. Um gato. Curioso, tentei avistá-lo. Agachei-me perto do arbusto, perscrutando-o. Natália, minha irmãzinha, disse que conseguia vê-lo. Segui as indicações dela, em vão. Apenas o escuro dominava aquele arbusto. E um gato feito de sombra.
Esqueci-o o resto do dia, até que, já de noite, cheguei ao portão de casa. Escutei seus miados novamente. Agachei-me, estendi a mão e chamei-o, naquele chiado ritmado, próprio para diálogos felinos. A sombra desprendeu-se do arbusto e veio lamber minha mão. Sua língua áspera acompanhava um par de olhos esverdeados, quase melancólicos de tanto abandono.
Deixei-o entrar, embora ainda não estivesse certo do que fazer. Era hóspede na casa dos meus pais. Se quisesse acolher esse gato, teria que levá-lo para minha casa. E havia tanto a fazer! Alimento, caixa de areia, brinquedos, remédio para verme, veterinário.
Tentei endurecer meu coração. Peguei aquela sombra magra, ossuda, e levei-a novamente para perto do arbusto. Recitava para mim mesmo, em espécie de prece, que se estivesse lá no dia seguinte, ele seria meu.
Mas meu amigo tinha outros planos. Pela manhã lá estava ele, andando pela casa como se já fosse sua, azucrinando o gato adulto que vive com meus pais.
E assim lancei-me nessa aventura. Tenho como companheiro uma sombra felina, um gato preto. Seu olhar é daqueles que dizem conhecer o mundo pelo avesso. Embora pequeno, sua presença enche o mundo.


Atualização de 21/01/2015: esqueci de contar o nome de meu novo companheiro. Depois de muito pensar, decidi batizá-lo de Sirius, em homenagem a um grande personagem literário.

sexta-feira, janeiro 16, 2015

Um Ano Bom: Quando a Vida nos traz boas surpresas

O início de ano costuma ser considerado momento para reflexão e planejamento. Uma oportunidade para fazer um balanço, além de estabelecer expectativas. Quando se é jovem, contudo, é mais fácil deixar-se levar, aproveitando o momento. Há aqueles que, embora jovens, foram marcados por episódios dolorosos, tornando-se assim mais precavidos, cautelosos. Há também os cautelosos por natureza, pessoas mais sensatas, comedidas, que buscam alinhar suas expectativas de forma sóbria e inteligente.
Chris e Clara, cada um por razões diversas, começam o ano assim, cautelosos. O rapaz, embora dotado de inteligência, beleza e popularidade, não quer trocar os pés pelas mãos e desperdiçar sua juventude. Já Clara, marcada por uma experiência dolorosa do passado e por episódios recorrentes de bullying, quer apenas ser deixada em paz. Chris, porém, logo de início fica interessado por Clara e, mesmo sendo repetidamente repelido, sente-se cada vez mais fascinado pela garota.
Assim somos convidados a acompanhar os percalços do jovem casal no romance "Um Ano Bom", de Ana Faria.
Algo que chamou minha atenção foi a primorosa escrita da autora. Dona de um texto de um Português impecável, Ana Faria também nos presenteia com uma narrativa fluida, graciosa e que faz bem aos olhos. Os personagens, com destaque ao casal que protagoniza a trama, também são dignos de nota. Dessa forma, acompanhamos a vida desses jovens em seu quotidiano no decorrer de um ano. A trama é simples e seria monótona se não fosse a habilidade da autora de narrar uma história, aproximando leitor e personagens, criando laços de simpatia e afeto.
Com uma singela e tocante narratica, "Um Ano Bom" certamente será uma ótima opçao para leitores que curtem uma boa dose de realidade, sem perder o encanto pela beleza da vida.

terça-feira, janeiro 13, 2015

Retomando o fio

Boa noite, pessoal. Bem, confesso que estou com certas dificuldades em escrever este post. Ultimamente, acredito eu, vocês tem tido contato com textos menos literários aqui no blog. Embora esses textos falem de literatura, especialmente da minha. E aqui estamos nós mais uma vez.
Há tempos tenho estabelecido para mim uma meta ainda não alcançada: escrever todo dia. Para ajudar nessa determinação, arrumei um diário. De fato, passei a escrever quase diariamente. Sim, quase. Curiosamente, esse foi um período em que o blog passou a ter um número muito pequeno de atualizações.
Quem passear pelos histórico deste espaço poderá constatar as diversas tentativas que empreendi para aumentar o número de leitores deste blog e, ao mesmo tempo, exercitar minha escrita literária. Contudo, é também possível avaliar que essas tentativas não foram bem-sucedidas. Talvez por conta da incompetência do escriba, seja no seu fazer textual, seja na dificuldade em manter um calendário de novos textos.
E aqui estamos nós. Início de 2015, dois livros publicados, participações em cinco antologias e alguns proseados publicados em jornais de pequena circulação. Um caminho intermitente, árduo, nem um pouco fácil, mas muito compensador. Se necessário, faria tudo de novo.
Muito ganhei nesta jornada, entretanto. Fiz amizades, ajuntei forças com outros escritores, estive diante de diversos leitores em diversas ocasiões. Suei, malhei, chorei pela minha literatura. Ou seja, não posso reclamar. Este blog não tem um grande número de leitores, mas eu pude receber o retorno de muitos leitores, com suas visões de mundo, suas impressões sobre meu texto, suas expectativas por uma continuidade.
E por isso mesmo volto a este espaço com o intuito de retomar o fio. Não sei se conseguirei, mas pretendo fazer daqui também um diário de escrita. O objetivo é tentar publicar todo dia. Ainda que um miniconto, ainda que um haicai. 
Hoje, segundo meu calendário interno completamente desorganizado, era pra sair um vídeo. Seria ou a leitura de um livro infantil, de Quero meu chapéu de volta e Que bicho será que fez a coisa?, ou a performance de um poema. Essas experiências estão lá no canal que tenho no Youtube. Só que contrariando totalmente minhas expectativas, saiu este texto. 
Então é isso, pessoal. Esta é a minha tentativa de retomar o fio. Espero, sinceramente, que 2015 seja o ano em que O Guardião de Histórias possa compartilhar outras tantas histórias com vocês! ^_^

sexta-feira, janeiro 09, 2015

Ouro, Fogo & Megabytes: Nobreza, Poder & Glória!

Imagine só: quantos mundos dentro de mundos a imaginação pode comportar? Vou dar um chute quântico: infinitos.
Acredito que era nisso que Felipe Castilho pensava quando idealizou seu excelente Ouro, Fogo & Megabytes. E garanto a vocês: esse título tem tudo a ver com o livro e muito mais. Muito. Este é o primeiro romance da saga O Legado Folclórico. Nele, conhecemos Anderson Coelho. Um jovem normal de 12 anos. Bem, não tão normal assim. Afinal, ele ocupa o segundo lugar no ranking do MMORPG Battle of Asgorath, e esse não é uma posição de se desprezar.
Esse é o primeiro grande lance que Castilho faz com sua obra. Ao escrever, à guisa de introdução desintrodutória, um tópico de um jogo online fictício, ele já mostra uma jovial tranquilidade em romper paradigmas e se apropriar de outros gêneros textuais não-literários, dando-lhes assim tal qualidade. E tudo com muito humor.
Outro elemento forte no romance de Castilho são os personagens. O próprio Anderson é mostrado como um garoto normal, com um temperamento um pouco forte, uma lealdade irredutível e muito senso de justiça. E ele não é o único. Em Ouro, Fogo & Megabytes o leitor irá encontrar uma gama de personagens carismáticos inspirados em nosso folclore, como se tivessem pulado de um livro de Luís Câmara Cascudo. Uma jornada heroica, um início épico para uma grande aventura.

Ficha Técnica
Ouro, Fogo & Megabytes
O Legado Folclórico - Livro 01
Felipe Castilho
ISBN: 9788565383134
Ano: 2012 / Páginas: 288
Editora: Gutenberg

quarta-feira, janeiro 07, 2015

Necessidades



Precisa-se de sorrisos
raios de sol esparsos
despertas sonolências
lampejos de felicidade

Precisa-se de lágrimas
decantadas pedras preciosas
diamantes, cristais oblíquos
efêmeros tesouros de nostalgia

Agora, mais que desesperadamente
precisa-se de sangue
gotas e mais gotas, chuvosas
mares eternos em tom escarlate

E suor, por Deus, não se esqueçam dele
correndo salgado por um corpo forte, rijo
voluptuosamente ativo, imponente
a preencher despropositadamente o vazio.

domingo, janeiro 04, 2015

Por um 2015 de escritos, descobertas e desafios

Enfim, começamos. Primeira postagem do ano. Pensei que faria, antes disso, uma espécie de retrospectiva, analisando tudo o que fiz, apontando os frutos colhidos, as oportunidades aproveitadas, as leituras feitas. Talvez eu o faça nas próximas semanas. 
Tenho a prática de manter um diário para cada ano, as vezes até mais de um. Trata-se de um caderno de anotações, um sketchbook ou uma agenda. Não se trata apenas de manter um registro de meu quotidiano. Tento inclusive não fazer isso. Procuro na verdade manter um constante exercício de escrita. Quando percebo que estou muito focado no mero registro, dou uma parada, tento compor um poema, fazer um desenho. Ou até mesmo deixo de escrever por uma semana. Então consigo perder um pouquinho do tom burocrático. 
O exercício de escrever quase todo dia é muito bom, mas ao mesmo tempo sinto que o uso como uma espécie de fuga da literatura. Afinal, enquanto eu poderia me dedicar à continuação de O Medalhão e a Adaga, dou a desculpa de que estou escrevendo, que estou treinando, e deixo de criar, de fazer minha literatura.
Aproveitei que estava passando uns dias com minha família e decidi ler minhas anotações sobre 2014. Cheguei à metade do primeiro caderno. Constatei que deveria ter começado essa leitura mais cedo. Talvez não teria repetido tantas vezes os mesmos erros. Talvez teria escrito até mais. Só que literatura dessa vez. 
Além da consulta ao diário, também passei o olho na lista de livros lidos em 2014. Li muitos livros, principalmente infantis. Constatei, porém, que poderia ter lido mais. Este é o grande objetivo de 2015: ler muito. Estou montando um planejamento de leitura e espero alcançá-lo. E quem acompanhar este blog poderá também acompanhar a evolução desse projeto.
E por falar no blog, tenho o objetivo de deixá-lo mais atualizado e dinâmico. Comecei agora a experiência do canal no Youtube e continuarei a explorá-lo, principalmente nos exercícios de leitura.
Tenho ponderado, porém, no propósito deste blog. Já falei disso aqui várias vezes, sobre minha principal motivação. Tenho me perguntado se as pessoas de fato têm lido este espaço. Há tempos não recebo um comentário, seja positivo ou negativo. Isso é um indício, para mim, de que poucos ou nenhum leitor estão acessando este espaço.
Em uma entrevista à Revista Literatura, o escritor Mário Sérgio Cortella recomenda ao autor iniciante que busque junto aos amigos a divulgação de seus escritos, de forma a capturar assim o nível de relevância. Bem, ao que parece, pouca relevância têm meus escritos por conta do pouco retorno que recebo. Como mudar isso? Bem, ainda não descobri e estou aberto a sugestões.
E desta forma adentro o último ponto deste post. Quero que minha literatura seja relevante. Quero ser alguém que vá além de frases de efeitos e lugares-comuns. Tenho algumas ideias quanto a isso, mas preciso muito amadurecê-las. Talvez seja este o maior problema: amadurecimento. Meu grande desafio.