domingo, março 27, 2011

A Guerra (im)Possível

O mundo acabou. Uma horda de mortos-vivos causou um grande colapso mundial. A boa notícia é que a humanidade, depois de chegar quase à extinção, conseguiu sobreviver e praticamente eliminar a grande ameaça. Esse período ficou conhecido como "Guerra Mundial Z". 

Dez anos depois, o autor, a pedido da ONU, viajou pelomundo e recolheu depoimentos de pessoas de diversas camadas sociais e que desempenharam diferentes papéis nos eventos anteriores à guerra e durante a mesma. É assim que Max Brooks apresenta seu livro, Guerra Mundial Z.

Alguns dos entrevistados foram grandes figurões, outros, simples soldados que combateram no front contra a multidão de zumbis. Seus relatos desenham uma história fragmentada, controversa e confusa. Cabe ao leitor, portanto, refazer os pedaços, construindo em sua mente toda a trajetória desde o paciente zero, o surto que originou o Grande Pânico, a virada e por fim o sucesso da vitória, conhecido como dia Z. Brooks, com genialidade, cria desta forma um romance que também funciona como um jogo. Um livro interativo que desafia o leitor a decifrá-lo.  Os relatos procuram cumprir com fidelidade o princípio de veracidade. Desta forma, Brooks insere cada acontecimento em seu contexto histórico, econômico e cultural, levantando possíveis reflexos e impactos que um surto zumbi de grandes proporções poderia causar em escala regional e global.

O único tropeço, a meu ver, é a linguagem assumida pelo autor para alguns personagens, como a fala de um brasileiro, cujo modo de expressar-se soa muito artificial, num tom que o aproxima mais do estilo norte-americano. Mas deslizes como esse não desqualificam a interessante e inovadora obra de Max Brooks. Guerra Mundial Z é mais que um bom livro. É um relato indispensável tanto para amantes do gênero zumbi como daqueles que não fogem a um bom desafio intelectual.


Editora: Rocco
Autor: MAX BROOKS
ISBN: 9788532525550
Ano: 2010
Edição: 1
Número de páginas: 368
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

domingo, março 13, 2011

O Chinês Americano - Uma fábula sobre quão preciosa é nossa alma

Nessa incrível fábula, o menino Jin Wang, apesar de nascido nos EUA, tem suas raízes na china. Ele quer se enturmar, quer ser aceito, ser parte do grupo. Mas enfrenta os preconceitos e a incompreensão daqueles que se consideram americanos "genuínos".

Como alegoria da busca de Jin em ser parte desse país tão diferente da China que ele nunca conheceu, somos apresentados à lenda do Rei Macaco e sua busca incansável em ser igual aos deuses.

Por fim, há a terceira história das dificuldades de Danny, um menino americano que estranhamente tem um primo chinês, chamado Chin-kee. E Danny sempre acaba metido em confusão por causa do seu estranho primo. Essa história é contada no tom satírico de um seriado de comédia americano.

O Chinês Americano é acima de tudo uma narrativa fabulosa. São três histórias bem diferentes entre si, embora tenham elementos que a vão aproximando gradativamente. A própria lenda do Rei Macaco recebe elementos ocidentais, tornando-se também uma criação híbrida, fruto de contribuições diversas, como acontece em toda narrativa de tradição. Como grande mote que amarra as três histórias está a pergunta: até onde uma pessoa iria para se tornar outra? Estaria ela disposta a abrir mão da própria alma?

Gene Luen Yang renova a mitologia chinesa ao incluir à mesma elementos judaico-cristãos. A jornada do oeste se torna símbolo do próprio périplo chinês em busca da prosperidade americana. Mas essa jornada tem como risco a perda da própria alma, da identidade.

Apesar do tom alegórico, o texto é límpido e sincero. As situações nunca parecem forçadas. Além disso, os momentos de comédia são de arrancar gargalhadas. Definitivamente este é um quadrinho que não pode faltar na estante dos amantes do gênero.

Ficha técnica:


Editora: Companhia das Letras
Autor: GENE LUEN YANG
ISBN: 9788535914498
Ano: 2009
Edição: 1
Número de páginas: 240
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

terça-feira, março 08, 2011

A guerra dos tronos

Fonte: divulgação.
É difícil resenhar sobre um livro cujo enredo não se fecha em si, mas prevê continuações. Afinal, a narrativa do autor ainda está em construção e o primeiro romance nada mais é que a ponta do iceberg.

Fica ainda mais complicado quando o livro tem quase seiscentas páginas e uma profusão enorme de personagens, inclusive quando o foco passeia entre alguns deles, como uma estratégia a tornar o leitor mais íntimo de algumas das mais importantes testemunhas da história que se desenrola.

Por isso considero um grande trabalho falar de A guerra dos tronos, livro recente de George R R Martin. Mais difícil ainda porque se trata de um estilo literário do qual aprecio muito, a narrativa épica de fantasia.

Em um mundo totalmente diferente, onde o inverno e o verão não funcionam como um ciclo anual e regular como em nossa realidade, sete antigos reinos são dominados por um único rei, Robert Baratheon. Para fazer sua vontade, o rei conta com um braço direito cujo título do cargo é "Mão do Rei". Em Winterfell, o antigo reino do norte, Lorde Eddard "Ned" Stark recebe o convite de seu amigo, rei Robert, de assumir o alto cargo no lugar da antiga Mão, que havia morrido subitamente. Ned aceita o cargo pela amizade, mas logo descobre que o preço pela obrigação será mais caro do que imagina, ao começar a investigar as misteriosas causas da morte do seu predecessor.

Enquanto as intrigas e perigos se desenrolam no sul, somos convidados a acompanhar os perigos que envolvem outros membros da família Stark, bem como outros personagens que têm profunda ligação com a história do reino e da suposta conspiração. No fundo dessas tramas, uma possível e sinistra ameaça começa a se desenhar além da Muralha, no extremo norte. Uma ameaça antiga e terrível, evocada dos piores pesadelos.

George Martin desenha um mundo medieval extremamente detalhado, com sua história, sua geografia, seus deuses e folclore. É uma história antiga, que remonta dez mil anos, deixando o leitor fascinado com as possibilidades de outras histórias de eras passadas. A construção dos reinos e das regiões aos seus arredores é meticulosa e sólida. Porém, o autor acaba pecando pelo excesso de detalhes. Como estratégia para não deixar o leitor entediado, o foco narrativo a cada capítulo muda para um outro personagem. Desta forma, o leitor também é convidado a observar personagens que têm grande valor estratégico ao longo de toda a narrativa, para além do primeiro volume. Um dos pontos altos do romance é sem dúvida quando a narrativa se alterna entre dois personagens que estão em lados antagônicos em uma sequência de batalhas. 

O foco em mais de um personagem também permite ao narrador desenhar mais profundamente os perfis que irão interferir com mais força na narrativa. Esta estratégia, apesar de engenhosa, também traz certos perigos, uma vez que em alguns momentos a narrativa se arrasta quando determinados personagens entram em cena. Isso pode fazer com que o leitor fique entediado. E o tédio, em um livro, pode ser perigoso, apesar de ser um risco que ronda qualquer narrativa.

Embora vasto, meticuloso e de certa forma desnecessariamente extenso, o romance de George Martin é uma excelente narrativa, um épico grandioso que apresenta uma engenhosa trama em um ambiente de fantasia medieval. Ótima leitura tanto para fãs do gênero quanto para aqueles que desejam uma boa leitura.

Ficha técnica
Título: A guerra dos tronos
Editora: Leya
Autor: GEORGE MARTIN
Número de páginas: 592
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/16048-a-guerra-dos-tronos