Desde criança alimentava um certo fascínio por Dom Quixote. Acho que a semente de tal fascínio veio por uma certa identificação comum. Afinal, desde criança eu era apaixonado por histórias de cavalaria. Ficava inebriado pela imagem das armaduras de placas, os estandartes, as justas. O código dos cavaleiros davam um tom heroico a esses guerreiros e isso fazia com que os admirasse ainda mais. Isso foi muito antes de ter lido Bernard Cornwell, com seus cavaleiros beberrões, assassinos e estupradores. Foi numa época em que assistia clássicos sobre o Rei Arthur e seus cavaleiros para, depois disso, ir brincar no quintal fingindo ser Lancelot (todo mundo sempre quis ser Lancelot!).
Pensar que um homem já na meia-idade teria a audácia de assumir um comportamento assim sem dúvida foi um fator sedutor para sempre ter Dom Quixote como uma espécie de companheiro de brincadeiras. Além disso, como todos os grandes clássicos, somos alcançados por seus símbolos mesmo não os tendo lido. E por isso a imagem do Quixote e de seu fiel escudeiro, Sancho Pança, visitaram meu imaginário desde cedo.
Havia, porém, algo que me contrariava. Eu não havia lido a obra de Cervantes. Ainda não. Cheguei a adquirir o Novelas Exemplares, o qual não li. Sentia que seria um absurdo ler qualquer coisa de Cervantes antes de ter me aventurado pelos caminhos do Cavaleiro da Triste Figura.
Em meu último aniversário fui presenteado com os dois volumes do Quixote. Trata-se de uma nova tradução, feita por Ernani Ssó, um projeto tão engenhoso quanto o próprio fidalgo da Mancha, publicado pelo selo Penguin Companhia. Embora tendo finalmente os livros em meu poder, decidi esperar um pouco mais.
Neste ano, então, lancei-me de cabeça nessa aventura. E como foi deliciosa! Conheci o herói que, de tanto ler livros de cavalaria, procurou se fazer cavaleiro e partiu pelo mundo a reparar injustiças. O problema era que a mente distorcida do herói via problemas onde não havia, criando situações que tanto têm de comédia quanto de tragédia. O Quixote é teimoso, voluntarioso e também um pouco perigoso. Em muitos momentos esteve a ponto de cometer terríveis enganos, por conta de sua loucura. Para seu bem, tanto a sorte quanto a vontade no narrador trataram de salvar nosso herói de tantas enrascadas auto-impostas.
Chegando ao final do primeiro volume, estava um pouco cansado. Situações tristes haviam me deixado muito desmotivado e isso interferiu minha leitura. Mesmo assim, decidi iniciar o segundo volume e como fui recompensado! A continuação das aventuras de Dom Quixote e Sancho Pança é ainda mais divertida que a primeira narrativa. Nele, Sancho chega a receber maior atenção por parte do narrador, sendo ele protagonista de algumas das melhores passagens da narrativa.
Assim, garanto que ler O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha é mais do que a obrigação de ler um clássico. É a garantia de humor inteligente, refinado, da genialidade de um escritor morto há quase quatro séculos e que permanece eterno.
Ficha Técnica
ISBN-13: 9788563560551
ISBN-10: 8563560557
Ano: 2012
Páginas: 1328
Idioma: português
Editora: Penguin Companhia
Perfil do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/dom-quixote-1634ed318647.html