domingo, dezembro 24, 2017

Frio: um conto de natal

Eu caminhava pelas movimentadas ruas do centro, tentando inutilmente me proteger do frio com a gola de minha jaqueta. Sim, este é um conto de natal, tem que ser ambientado em baixa temperatura, de preferência com neve e pessoas taciturnas, envoltas em seus casacos. Mas estamos em um natal dos trópicos e, por isso, não haverá neve e será verão.
Providencialmente, uma frente fria chegou, trazendo o frio que veio a calhar tão bem em nosso conto.
Estou andando, sim, tentando não esbarrar em nenhum dos frenéticos cidadãos que precisam fazer suas compras de véspera de natal. Inúmeras pessoas se acotovelam na calçada, em busca de tentadoras ofertas que façam valer seu presente até o último centavo. Eu, porém, não compartilho desse frenesi. Ando à revelia, estou buscando uma cena que sirva de inspiração para o meu conto. E apesar do frio, meu natal está pobremente provido de elementos inspiradores. Não existem papais noéis balançando sininhos e pedindo esmolas. Isso é coisa de filme norte-americano. E na verdade quase não vejo Papai Noel algum. Eles estão todos confinados aos Shopping Centers.
Uma ideia pipoca em minha mente. É isso! Talvez em um Shopping, devidamente sintonizado com o espírito desse mágico momento, eu possa encontrar a inspiração certa para um lindo conto.
Sigo quase que correndo para o Shopping mais próximo. Estou com pressa, assim como todos os compulsivos compradores, mas não quero comprar nenhum presente. Quero na verdade criar uma história mágica, comovente, talvez até mesmo ter de volta minha alma.

xxx

Entrei pelos altos portões de vidro e senti uma lufada do ar-condicionado, mais fria do que lá fora. O caloroso espírito do natal evidentemente já tomava conta dos corredores do Shopping, abarrotado de pessoas que só paravam poucos segundos diante das vitrines para examinar quase mecanicamente os produtos exibidos. Fiquei observando essa horda de zumbis, enquanto andava, calmamente, pelo largo corredor, já assimilando a magia que emanava dos enfeites de natal. Tudo é paz, tudo amor. Uma música natalina quase não conseguia superar o barulho de vozes e passos apressados. Segui pelo corredor até chegar ao pátio central, onde uma imensa árvore de natal havia sido armada.
Meus olhos pararam diante dos enfeites. O trenó, as renas, os duendes, todos inanimados. Somente o Papai Noel esbanjava vida, cobrando módicos valores aos afortunados pais que quisessem satisfazer a vontade de seus filhos de tirar uma foto sentados no colo do bom velhinho. Enquanto eu divagava diante da cena das crianças quase se esmurrando para ter a primazia junto ao Papai Noel, um tumulto começava a surgir alguns metros atrás de mim.
Antes que eu pudesse me virar para observar do que se tratava, o causador da bagunça já passava por mim e andava apressado na direção do trono do velhinho Noel. Assustei-me com a figura. Parecia uma criança, à primeira vista, por causa de sua baixa estatura. Investindo um pouco mais de atenção no exame, porém, qualquer um veria que aquela pessoa não seria uma criança de fato. Seus cabelos eram grisalhos e lisos, embora grossos e cobertos por um gorro verde. Tinha-os na frente aparados rente aos olhos e, atrás, na altura na nuca. Um par de orelhas pontudas despontava além do gorro, insinuando que aquela pessoa não era um ser humano. Seus olhos eram astutos e confiantes, embora estivessem um pouco tristonhos, adornados por sobrancelhas expressivas, também grisalhas. Um bigode espesso cobria o lábio superior, dando à criaturinha um certo ar de autoridade. Sua roupa era toda verde, guarnecida de guizos prateados.
A princípio, quis negar o que meus olhos denunciavam e imaginei que poderia ser um anão fantasiado, talvez um mendigo que conseguira driblar os seguranças, que seguiam atrás dele.
De fato, sua roupa não estava lá um primor. Estava suja, tinha vários remendos e alguns guizos faltavam, enquanto outros estavam manchados, escurecidos pela ferrugem. Aquelas orelhas não pareciam ser falsas, é verdade, mas existem hoje fantasias que simulam totalmente um personagem natalino. E esse sujeito era idêntico às estátuas de duendes que acompanhavam o trenó e as renas de mentira que enfeitavam a árvore de natal do Shopping.
O duende jogou-se aos pés do Papai Noel. As crianças, horrorizadas, foram esconder-se atrás dos seus pais. Estes, por sua vez, puseram a bradar contra a administração do Shopping. Os seguranças pararam a alguns metros de distância, como que para observar a conversa que aconteceria dali em diante. Apesar da confusão de todos, o bom velhinho continuava calmo e sereno.
– Papai Noel – disse o duende –, eu não posso acreditar que encontrei o senhor. Sou o único que restou de todos nós. Não sei mais dos outros. Agora estou feliz porque o senhor vai cuidar de seu duende-mestre, do supervisor da sua antiga fábrica de brinquedos.
– Afaste-se, Dimas. – disse o velhinho, calmamente – Nossa fábrica faliu, estou fazendo esses bicos para ver se pelo menos consigo tirar meu nome do SPC.
– Mas, Pa..Papai Noel... – o duende parecia horrorizado ante a frieza de seu antigo mestre. – Eu avisei ao senhor para que não mudássemos nossa moeda, que transferir-se para o Brasil não seria uma boa idéia,  que o clima faria mal para as renas, mas o senhor insistiu em não manter nossas transações em ouro e ainda por cima quis comprar um chalé na Serra da Mantiqueira...
– Eu sei, Dimas, eu sei – retorquiu o velhinho, com um sorriso entre a bondade e a tristeza. – Estou pagando caro por minhas inovações. Nossos investidores quebraram. A bolha imobiliária nos atingiu em cheio. O Banco do Pólo Norte pediu concordata e conflitos mundiais me encheram de temor. Pensei que seria um bom negócio vir para cá. O país ia bem, o povo ia bem a pobreza estava em queda. Não imaginava que tudo iria para o buraco tão rápido. Essa instabilidade na política brasileira, os escândalos nos jornais e uma crise de origem duvidosa acabou com nossas reservas.  E onde estão os outros?
– Acabaram-se – o duende baixou os olhos, com um olhar triste –, todos viraram gesso ou pedra. Eu acho que Kamil está entre aqueles enfeites ali.
E apontou para os falsos duendes do Shopping. Pelo visto um deles não fora falso um dia. Eu permaneci calado. É, parece que a crise atingiu até mesmo o Papai Noel! Pensei que o bom velhinho, um dos símbolos do Capitalismo, seria o único imune a suas adversidades e manobras. Os dois continuaram sua conversa. Noel mantinha uma expressão cada vez mais fria e severa. O duende, por sua vez, curvava-se cada vez mais.
– Papai, por favor, me aceite a seu serviço. Eu posso ser seu assistente, como antes!
– Impossível, caro Dimas. Eu só posso pagar duas assistentes e – Noel apontou as moças que o acompanhavam –, como vê, não há como eu deixar uma dessas duas lindas jovens sem amparo financeiro, em troca de um molenga como você!
– Mas, mas...
– Chega de “mas”, Dimas! – a voz do velhinho foi enérgica, fazendo o duende encolher-se. – Não quero mais ouvir suas lamúrias. Se quiser, torne-se gesso de uma vez e faça companhia para Kamil. Talvez o Shopping deixe você aí, junto com os outros enfeites e, no final da temporada, encontre um lugar quente e seco para te guardar até o próximo natal. Essa é minha única oferta!
Dimas, entristecido, baixou os olhos. Fora vencido, não havia para quem mais recorrer. Eu olhava com compaixão para o pequenino duende. Pensei até em convidá-lo para trabalhar para mim, como faxineiro talvez. Uma criaturinha daquela deveria comer tão pouco! Mas ter um duende em casa talvez não seria lá uma coisa muito comum de se ver. Eu seria alvo de curiosos, telejornais, mídia. Eu não queria publicidade, queria só um conto de natal. Enquanto eu ponderava sobre as vantagens e desvantagens de se ter um duende em casa, Dimas foi lentamente se transformando. Aos poucos tornava-se uma figura mais fictícia do que real, feita apenas de gesso e tinta. O duende agora não passava de uma estátua velha e mal pintada.
Esfreguei bem os olhos, como se estivesse saindo de um transe. Olhei para aquela figurinha triste, enquanto, para minha admiração, as pessoas voltavam às suas preocupações normais. Papai Noel já voltara a atender as crianças com o sorriso mais bonachão do mundo, enquanto os pais riam e conversavam uns com os outros, esperando na fila a vez de seus pequeninos. Somente eu estava maravilhado. Somente eu me preocupava com o duende. Deixei o Shopping com pressa, ouvindo uma música fúnebre, saindo de não sei que lugar, sobrepondo sorrateiramente a música natalina que enchia todo o ambiente.

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Noite para renascer

Sabemos da força das palavras. Muitas vezes, porém, nos esquecemos disso. Na noite do último sábado, dia 16 de dezembro, fui testemunha dessa potência. Um poder renovador, capaz de inaugurar novos ciclos, fundar mundos.
Estávamos no Santo Chá, para a apresentação "Contos para Renascer" e tive o privilégio de dividir a palavra com pessoas experientes e talentosas, preciosas em tudo. Estavam comigo na apresentação Carlos Barbosa, Fernando Chagas, Isaac Luiz e minha amada, Pâmela Bastos Machado. Na direção artística, junto com o Fernando, estava a Aline Cântia.
Narramos histórias que nos levaram a outro patamar de vida, um renascimento interior, que procuramos compartilhar com os demais.
Além das pessoas já citadas, também contávamos com as presenças de colegas nos prestigiando, como a Bárbara Amaral, a Alessandra Nogueira, Nadja Calábria e Rodrigo Teixeira. 
Contamos, declamamos poesia e também cantamos. Abrindo a apresentação, fizemos um cortejo ao som de "Ô lá vem vindo..." Pâmela distribuiu sementes entre as mesas.
Carlos recitou um belíssimo poema do Thiago de Mello. Fernando cantava "Quem sabe isso quer dizer amor". Isaac narrou a lenda do Peixe Boi. Pâmela, "A pequena vendedora de fósforos". Lemos, juntos, "Os Estatutos do Homem". Carlos então narrou um lindo trecho do livro "O Dom da História: uma fábula sobre o que é suficiente", de Clarissa Pinkola Estés. Por fim, contei a lenda da mandioca, história que aprendi com o mestre Joca Monteiro.
Aline tomou a palavra e, com voz embargada, falou da importância dessas histórias e da necessidade de lutarmos contra o cenário atual, em que nosso país retorna para o mapa da fome. A emoção não deixou que ela continuasse. Aline olhou para nós, entre lágrimas.
Então, num arroubo de ousadia, falei algumas palavras inflamadas e gritei um "#ForaTemer!"
Confesso que foi um momento muito especial para mim. Sinto-me renascido. Amparado para força desse maravilhoso grupo, vejo-me como planta e também semente. Planta, por estar entre tantos galhos nós e seiva de histórias. Semente, porque sinto-me imbuído da potência das palavras, que me lançam a um horizonte que, espero, seja sempre melhor.

segunda-feira, dezembro 11, 2017

quinta-feira, dezembro 07, 2017

Dúvida

Não sei por que escrevo.
Talvez para afugentar
meus medos.
Ou então,
para
Alimentá-los.
Não sei se escrevo
ou
escravo.

5/12/2017 (com licença de Nete Brasil, Felipe Diógenes e Rodrigo Teixeira)

sábado, dezembro 02, 2017

Renegado - Parte III de IV

Ir para Renegado - Parte II de IV

Naqueles últimos dias, Seridath já tinha visto coisas horríveis, mas nada tão hediondo quanto a visão daquela cela, o palco de um massacre covarde. Sentiu o ímpeto de voltar-se contra a espada, castigá-la de alguma maneira por sua rebeldia. Em sua mente, percebia que de Lorguth emanava leviandade e despeito, como uma criança fazendo pirraça. Queria fazer a insolente pagar. Mas logo o rapaz ponderou de forma diferente. Talvez precisasse daqueles mesmos poderes para escapar da cidade. Sem a cooperação Lorguth, mesmo sua força e habilidade não evitariam sua morte. Com aquela barbaridade cometida pelos servos, seria para sempre odiado por Arnoll e pela Companhia.
Seus pensamentos foram interrompidos por um choque violento. O punho de Balgata atingiu com força o rosto de Seridath. Atordoado, o jovem sentiu suas costas baterem com violência nas barras de ferro de uma das celas. Suas mãos alcançaram quase automaticamente o punho da espada negra, mas ele controlou-se. O capitão ainda o olhava com fúria, mas não demonstrava intenção continuar a agressão.
– Saia – disse ele. – Saia da cidade agora. Não quero nunca mais ver sua maldita cara.
– Espere, Balgata. A culpa não foi minha, eu... – tentou dizer Seridath.
– Pro abismo de Nibala com suas desculpas, verme – cortou Balgata, a voz carregada de rancor controlado. – A culpa é sua por ter escolhido carregar essa espada maldita. Quero ter certeza que nunca mais verei você e sua espada. Se o encontrar novamente, farei você sentir o que é ter o ventre invadido por metal.
Seridath optou por permanecer em silêncio. Sentia a possante vibração de Lorguth em seu lado. A lâmina estava até mesmo aquecida, tal era sua euforia. E o rapaz sabia o sentido disso. Expulso da cidade, sua única escolha seria enfrentar os inimigos que, provavelmente, no final do dia alcançariam a campina que se estendia ao norte da cidade. O longo cerco seria inevitável. Mas, antes, o Viajante Cinzento seria obrigado a enfrentar o tal “ente poderoso” que comandava aquela legião de mortos.
Sem dizer mais uma palavra, Seridath voltou as costas para Balgata. Os outros guerreiros que desceram com eles à prisão acabavam de despedaçar as quatro criaturas, servas de Lorguth, que não ofereceram resistência. Balgata seguia logo atrás de Seridath, como que esperando qualquer reação inesperada da parte do guerreiro. Alguém ao longe gritou o nome do capitão. Um dos soldados chegava, segurando pelo pescoço um garoto franzino, sem camisa, cujas costelas revelavam-se de cada lado do seu tronco. O capitão olhou com surpresa para o soldado e perguntou:
– O que foi, Desmond? O que quer com esse garoto?
– Eu conheço esse "garoto", senhor. Não se deixe enganar, capitão. Esse "garoto" é um homem adulto. Já foi condenado a trabalhos forçados no reino de Renandart. Eu conheci o "Rouba Queijo" quando servi na guarda da capital. Parece um ratinho pequeno mas pode fazer um baita estrago.
– Sei... – respondeu Balgata, estreitando os olhos. – Mas chega de mortes por hoje. Joga esse espertinho pra fora da cidade, junto com o maldito lá. Vão fazer companhia um para o outro.
Antes que o sol se inclinasse rumo à tarde, Seridath atravessava o portão de Arnoll. As marcas cruas da luta estavam espalhadas pelo chão, enquanto os habitantes da cidadela, recém-libertos, auxiliavam os soldados da Companhia a arrastarem os corpos dos bandidos para fora dos muros e levarem para dentro os aliados mortos ou gravemente feridos. As carroças, que não haviam sofrido dano, aguardavam que o trabalho terminasse para serem levadas ao interior dos muros. Seridath passou pelo grupo de aldeões e guerreiros sem voltar o olhar. Sentia-se humilhado, mais uma vez, pela espada que escolhera por serva. O cavaleiro então notou que era seguido de perto por um rapaz franzino, que mais parecia uma criança. O coitado estava apenas vestido com uma calça de couro e um camisão de algodão grosso, tendo o corpo magro exposto ao vento frio do inverno que se aproximava. Seridath parou e encarou o garoto. Havia ignorado a conversa entre Balgata e seu subordinado, Desmond.
– O que faz aqui, moleque? – perguntou, com rispidez. Thin parecia querer desaparecer, de tão encabulado. Sentia-se mais intimidado do que nunca, principalmente por ter percebido com rapidez as circunstâncias em que estava metido. Sua mente perspicaz o fez entender que o homem da espada negra era encrenca, mas seria ainda pior ficar sozinho naquelas terras amaldiçoadas.
– Eu... eu v-vou com... – vacilou o ladrão.
– Vai merda nenhuma, rapaz – respondeu o guerreiro, deitando a mão no cabo de Lorguth. – Vai é alimentar o fio da minha espada.
O ladrão permaneceu parado, com os olhos arregalados para a mão que Seridath mantinha sobre o cabo da espada. Alguns moradores haviam ocupado a ameia e observavam a saída dos renegados. Alguém gritou um insulto e, segundos depois, um tomate podre bateu forte nas costas de Thin. O ladrãozinho virou-se, magoado, enquanto arqueava, como se estivesse ferido. Agora, as pessoas vaiavam com energia e algumas delas jogavam verduras podres em Seridath e em seu contrariado companheiro. O cavaleiro tremeu de ódio, enquanto fazia a espada deslizar para fora da bainha.

sexta-feira, novembro 17, 2017

Histórias no Parque

No domingo, fomos ao Parque Ecológico da Pampulha. Eu e Pam, minha noiva saímos de casa cedo, era a estreia da parceria que eu e Rodrigo Teixeira fechamos com o Parque. Então, queríamos fazer bonito, pelo menos na pontualidade.
O evento se chamava 2 PRAS DUAS, idealizado pelo Rodrigo e por mim. Era uma sugestão meio jovial, meio canastrona, que de certa forma trazia um pouco da leveza e do bom humor que desejávamos para a apresentação.
Eu e Rodrigo fomos nos apresentar nessa tarde de sol, pouco provável depois de um sábado chuvoso, mais muito bem-vinda.
Chegamos ao coreto e encontramos o Dadá nos esperando. Alguns minutos depois, o gestor do Parque, Denilson, nos saudou animado.
Convidamos uma família que estava perto para assistir nossa apresentação. Eles toparam. 
Começamos nossa apresentação, 2 PRAS DUAS. Abri com o conto acumulativo “A história da Coca”, registrado por Bia Bedran. Rodrigo assumiu com a narrativa “Tatê Kalankê Katakan Kixilá Kalankê”, também registrado pela Bia. Peguei o fio da meada e segui com “O caso do bolinho”, da Tatiana Belinky. Rodrigo então narrou “A quase morte de Zé Malandro”, de Ricardo Azevedo. 
Estávamos encerrando quando uma pessoa da plateia puxou um “mais um!” e as demais a seguiram. Confesso: essa pessoa era minha mamãe coruja, Brenda Linda. Para então atender ao pedido da “plateia”, narrei “Uma questão de opinião”, narrativa da tradição judaica, que apreendi ao ouvi-la da contadora Maria Célia Nunes.
Depois das apresentações e naturais cumprimentos, vieram as fotos, para deixar na memória esse momento tão agradável. 
Foi uma tarde de afetos e palavras, em que todos pudemos beber dessa fonte inesgotável chamada Fantasia.

sábado, novembro 11, 2017

Sedento

Estou com sede. Meu rosto é um esgar de secura. Sou um sedento que rasteja por solo pedregoso. Arranho meu ventre nas pedras, machuco meu rosto nas raízes mortas das plantas. Sou um rio de secura travando uma constante batalha com o solo. Minha pele é como a terra, imersa num mimetismo vil e inútil. Já não sei onde acaba meu corpo e começa o chão. E não me importa saber. Afinal, apenas tua úmida presença faria minha pele vicejar novamente. Uma presença que se faz eternamente impossível.

sexta-feira, novembro 10, 2017

Sobre Anjos Sem Asas

Por vezes o Universo nos apronta umas que nos sentimos ditosos, abençoados. É como se pequenas dádivas estivessem escondidas no dia a dia, podendo ser descobertas quando fazemos pequenas escolhas. Chamo dessas dádivas de "cosmicidências".
Na madruga de ontem, ao chegarmos em casa, acolhemos um cachorrinho que foi abandonado dentro do condomínio. Ele é um filhotinho e se comportou muito bem durante a noite. Os gatos o estranharam um pouco, principalmente a Coco, mas não avançaram nele. Colocamos comida e água ao seu lado, num cantinho da sala e ele nos surpreendeu com sua tranquilidade.
Nós havíamos chegado muito tarde porque fomos sair com os amigos depois de nossa performance na Semana da Diversidade LGBT. Fizemos uma ponta entre uma mesa sobre bissexualidade eu palestra sobre o centro de referência LGBT.
No bar Xokxok, no Edifício Arcângelo Maletta, a conversa corria gostosa e leve. Enquanto isso, Pam se afligia por causa do cachorrinho, que tinha sido abandonado dentro do nosso condomínio. Os vizinhos discutiam a questão, sobre o que fazer, se expulsar o filhote ou não, enquanto a única coisa que o cachorrinho tinha para passar a noite fria eram algumas folhas de jornal onde se deitar.
Quando chegamos ao condomínio em que moramos, já era madrugada. Procuramos o cachorrinho pelos estacionamentos e o encontramos acompanhando André, o síndico, que tentava alimentá-lo com biscoito recheado. Levamos o bichinho para casa (o cachorro) e ele passou a noite em nosso apartamento.
Pensei que seria difícil e me preparei para isso. Fiquei surpreso com o silêncio e o comportamento tranquilo e amoroso do nosso hóspede. Meu coração doeu ao pensar que teríamos que conseguir outro lar para ele, pois moramos em apartamento. Felizmente, não precisamos nos preocupar com uma possível guerra entre ele e os nossos gatinhos, ou com indesejáveis e fedorentos "presentes" espalhados pelo apartamento.
Pela manhã, saímos na moto, debaixo de chuva e com o filhote seguro nos braços da Pâmela, em busca de um lugar que pudesse acolher o cachorrinho. Passamos primeiro na casa de ração mais próxima, mas o dono disse que só recebia gatos e que não havia espaço para cachorros. De lá, fomos para o Bairro Guarani, onde havia uma associação de amparo a animais. Notem o uso correto do verbo: havia. As entradas estavam emparedadas e havia um recado pintado informando que a ONG não estava mais lá. Não havia informação nenhuma de onde seria a nova sede, ou sequer se ela ainda está ativa. 
Seguimos então de volta para casa, deixamos o filhote lá, mesmo apreensivos, e fomos para nossos respectivos trabalhos.
Logo que cheguei ao Centro de Referência da Juventude, onde está a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH, onde trabalho, comentei a situação com as pessoas e logo uma amiga e colega de trabalho, a Tânia, mostrou interesse em adotar o cachorrinho. Mostrei algumas fotos que a Pam tinha tirado com o meu celular e logo a Tânia decidiu que acolheria nosso pequeno náufrago.
Era quase hora do almoço, quando o Rodrigo, companheiro de trabalho na Biblioteca, atendeu o telefone e eu escutei a voz aflita da Pam. A ligação caiu. O celular tocou de novo e o Rodrigo passou para mim. O meu aparelho estava carregando em outra sala. 
A Pam estava muito preocupada, uma vizinha dizia que o cachorrinho estava ganindo alto; talvez o Aurélio, um de nossos gatos, tivesse cometido uma de suas maldades. Pam estava a ponto de chamar um carro para socorrer o filhote. Tratei de acalmá-la com a garantia de que iria de pronto ver o que acontecera. E argumentei que seria até mais lógico que eu fosse, uma vez que a moto estava comigo. 
Pam concordou e eu fui. Estava tudo bem, felizmente. O "doguinho" estava pachorrentamente deitado em um cantinho de nosso quarto. Ao me ver, levantou-se todo pimpão, o corpo acompanhando o movimento frenético do rabinho.
Voltei para o trabalho tranquilo e garanti à Pam que mesmo se o filhote ganisse outra vez, que não nos preocupássemos tanto. Afinal, eu havia partido para casa esperando o pior, talvez um olho arrancado, uma orelha rasgada, um rabo dependurado, sangue espalhado pelo apartamento. O alarme falso por fim me deixou bastante seguro.
No final do dia, voltamos para casa, pegamos o carro e seguimos para o endereço da Tânia. Pâmela fazia várias perguntas. Se tinham espaço, se sabiam que ele não era vacinado, se aceitariam o filhote de coração. Respondi como podia. Ou seja, não sabia, mas meu coração dizia que a Tânia era a pessoa certa para receber nosso jovem hóspede.
Ao chegarmos, fomos recebidos com as portas escancaradas e muita alegria. A família acolheu o cachorrinho com um amor tocante, os olhos brilhavam. Conhecemos a Belinha, uma cadela já bem velhinha. E a gente sabe que o segredo para um cachorro viver muito é simples: amor. 
Tânia foi a perfeita anfitriã: nos serviu um delicioso café e um lanche. Conversamos e rimos, enquanto meu coração gemia de alegria e tristeza, pois já estava apegado ao nosso pequeno aventureiro de quatro patas. Mas a nossa despedida não seria definitiva. Afinal, toda a família nos convidou a voltarmos em momentos futuros.
Saímos de lá com as barrigas e corações cheios. Estávamos mais leves. A sensação de dever cumprido e o alívio em saber que o cachorrinho estava em boas mãos nos faziam quase saltitar. Fomos cativados por tanta alegria, tanto cuidado. O amor e carinho que presenciamos nos deu a plena certeza de que nosso pequeno amigo estava entre anjos, ainda que sem asas.

quinta-feira, novembro 09, 2017

Repouso

Sou um ser da sombra
a penumbra de minha
alma
decanta tons
além do fogo
do fumo
e do breu

Um ser vazio
andarilho
de sentidos
fugitivo
de palavras
apenas mais um
exilado.

Sou uma imagem
signo vazio
trilha inútil
de carne
flácido
percurso
anunciado

Meu corpo
deixado sobre a areia
meio comido pelos peixes
descansa
em seu último
dossel.

10/12/2014

Minha Poética

Olhos claudicantes
avaros de névoas
fecham-se numa angústia
muda.
Aprender a apagar.
Este não deixa de ser
nosso maior desafio.
Uma outra forma de arte
Lembrar-se do que não foi.
Sonham mariposas empoeiradas
com a conquista de um outro
oriente.
Mas não é possível sonhar.
Não mais.
Todas as imagens
já foram rascunhadas para ti.

09/12/2014

Novo vídeo: O ESCURO

Bom dia!

Trago hoje o vídeo mais novo no canal: O ESCURO, uma parceria entre Lemony Snicket e Jon Klassen!


quarta-feira, novembro 08, 2017

Autoestado

Tenho uma faca
no bucho
Sou bicho
Chucro.
Amargor da bile
levo como bíblia
E driblo a
Sina
com teima
siso e
rima.

Narração de histórias: 2 PRAS DUAS!



Atenção! Domingo, no Parque Ecológico. Duas da tarde. Dois amigos narradores. Eu e o Rodrigo Teixeira estaremos lá para compartilhar um pouco de nosso afeto transformado em palavras e um pouco de caretas. Contamos com vocês!
2 PRAS DUAS
NO PARQUE ECOLÓGICO DA PAMPULHA
Avenida Otacílio Negrão de Lima 
Portaria I - 6062
Portaria II - 7111
Domingo, dia 12 de novembro, às duas da tarde!

terça-feira, novembro 07, 2017

Primeira visita ao Sesi Escola Emília Massanti



No dia 25 de outubro fiz uma visita ao Sesi Escola Emília Massanti, a convite da Kellen Guimarães. Estava um pouco nervoso, já que fazia tempo que eu não falava de meus livros. Logo ao chegar, fui recebido pela Kellen, que me tranquilizou com sua cordialidade e solicitude. Ela me mostrou a escola e depois me levou ao auditório, onde os estudantes, todos adolescentes, davam um show. Uma banda formada pelos próprios alunos se apresentava para os colegas.
Fiquei tenso. Afinal, seria minha vez logo depois dos jovens. Eu e um microfone, nenhuma música ou instrumento para me ajudar. Mas a galera me deixou tranquilo com sua receptividade. Conversei sobre a escrita de “Patos Selvagens” e respondi a diversas perguntas. Em dado momento, veio o desafio: que fizesse uma história na hora. Pedi uma palavra. O rapaz falou: arco-íris. 
Contei de improviso a história de um garoto que descobre o mundo mágico além do arco-íris. Porém, para isso, ele precisava encontrar um modo de alcançar o arco, pois este desaparecia rapidamente, ou se afastava cada vez que o rapaz tentava se aproximar. Usando um espelho e andando para trás, o rapaz consegue alcançar a ponte mágica e o mundo maravilhoso além dela.
Depois desse bate-papo, um dos adolescentes, chamado Patric, pediu para comprar o livro. Fiquei super alegre!
Desci para almoçar, por cortesia do Sesi, e conheci a linda biblioteca, com um acervo de mangás que me deixou impressionado. Conversei com algumas estudantes e com a Kellen sobre os projetos culturais que lá acontecem.
À tarde, voltei ao auditório para falar com estudantes mais jovens e tive uma alegria ao ver o amigo Pierre André. Falei do livro, fazendo uma introdução narrativa. Contei duas histórias, uma do bolinho fujão e a outra das almas penadas. Respondi algumas perguntas e passei a bola pro Pierre, que matou no peito e goleou, com suas histórias divertidas e criativas.
Foi no final, depois das fotos, que um garotinho se aproximou e disse: “Promete que da próxima vez você volta?” Gente, como não voltar? Sempre que me convidarem, farei de tudo para estar lá novamente, junto a pessoas tão receptivas. 
Para toda a equipe do Sesi Emília Massanti e especialmente à Kellen Guimarães meu muito obrigado!

quinta-feira, julho 13, 2017

Um patrão chamado mercado

De repente, você descobre que terá que trabalhar mais anos até se aposentar. E que terá que trabalhar mais horas por semana. E que se o seu patrão quiser parcelar suas férias, quem é você para dizer "não"? E se ele quiser demitir você e contratar como "intermitente", melhor do que ficar sem trabalho. E se quiser te demitir e contratar como terceirizado, idem.
E descobre que os caras que decidiram isso supostamente trabalham para você. E que eles recebem todo o tipo de adicional e auxílio. E tiram férias duas vezes ao ano. E uma penca de recessos (folgas) o ano todo.
E de repente você descobre que sabia que isso tudo ia acontecer. Só que você não esteve parado. Você foi pra rua, protestou, fez greve, gritou "não passarão" e "fora temer"! Você não foi omisso. Você mandou e-mails para os políticos, votou na enquete do senado, reclamou com todo mundo. Em vão. Eles decidiram contra você. Na prática, seu voto é de fachada. Quem decide tudo mesmo é o tal mercado.

Mais uma ciranda de encanto e histórias

Na manhã do dia 20 de junho, terça, estive na Escola Municipal Rui da Costa Val. Fazia tempos que eu conversava com a coordenação da escola para uma apresentação. Chegamos a marcar uma data, mas esta teve que ser adiada. 
Então, finalmente, lá estava eu para falar a um grupo enorme, num gigantesco círculo formado na quadra da escola. Ao ver tanta gente, fiquei um pouco apreensivo, como é normal acontecer, mas logo passei a olhar nos olhos das pessoas que lá estavam, e isso me acalmou, além de ter me dado uma dose maior de confiança.
Falei um pouco do meu trabalho na Biblioteca, como sempre faço. Convidei todo mundo a depois conhecer esse lugar tão importante para mim. Depois, tratei de dar voz às histórias.
O formato em ciranda foi feliz, já que o círculo sempre tem algo de mágico e poderoso. Era como se a energia das histórias passasse de pessoa em pessoa, nesse circuito humano. A roda leva em si esse espírito cíclico e infindável das narrativas orais. Nela, retomamos um costume dos mais antigos, quando nossos ancestrais se reuniam ao redor de uma fogueira, para espantar o frio, a fome, o medo.
Contei histórias que amo, deixando um pouco desse amor com as pessoas que lá estavam. Contei de heróis diferentes, com suas missões e buscas tão peculiares.
Ao final, cada vez que uma criança me cumprimentava, sentia essa energia que transmiti voltar para mim, renovada. Senti que era, mais uma vez, especial. Além disso, o caminho para a escola pintou em minha mente, com cores novas, lembranças quase apagadas. Ir ao Jardim Felicidade, bairro onde fica a escola, foi como um singelo retorno a um tempo já distante. Tempo de amizade, afeto e cumplicidade.

sexta-feira, julho 07, 2017

Vídeo: O filho mudo do fazendeiro

Olá a todas! Segue o vídeo de uma nova leitura, finalmente! Tive muito prazer em ler essa história, a última do livro No meio da noite escura tem um pé de maravilha. Espero que curtam tanto quanto eu curti!



terça-feira, julho 04, 2017

Voltando ao lugar do encanto


Faz tempo que desejava compartilhar este relato. No dia 12 de junho retornei à Escola Municipal Alessandra Salum Cadar, agora na parte da manhã, para contar histórias. Estava apreensivo, como normalmente acontece, mas novamente fui agraciado pela receptividade das crianças, carinhosas e cheias de simplicidade. Mais uma vez os heróis bem diferentes fizeram das suas estripulias, o bolinho sempre querendo fugir, os animais querendo desvendar o grande mistério da "coisa" e o mais especial dos heróis, um cocozinho humilde que tem como maior desejo ter amigos. E o Quibungo mais uma vez apareceu para dar uns sustos!
Um momento incrível que tivemos foi quando eu me tornei espectador e as crianças deram um show, apresentando histórias da Coca e da Rosa Juvenil. Fiquei simplesmente encantado!
Mais uma vez agradeço a toda equipe da Escola Municipal Alessandra Salum Cadar, especialmente à bibliotecária Laura e à coordenadora Cláudia.

sexta-feira, junho 02, 2017

Vídeo: Uma história de pinguim

Olás! Segue mais uma contribuição. Um vídeo da leitura do livro Uma história de pinguim, escrito e ilustrado por Antoinette Portis. A tradução ficou por conta de Júlia Moritz Schwartz. A editora é a Companhia das Letrinhas. Aproveitem!



quarta-feira, maio 31, 2017

E a chama ainda brilha

Faz mais de uma semana que a CANDEIA - Primeira Mostra Internacional de Narração Artística foi oficialmente encerrada. Digo oficialmente porque dentro de mim ela continua a acontecer. Em minha mente e Coração continuo a me maravilhar com a energia sapeca do Joca, com o encanto sereno da Linete, com a voz e a presença do Gazel, com a força e a energia expressiva da Sandrita, com a experiência e simpatia do Cristiano, com a postura sempre pronta da Rocío e da Bárbara, com a constante luz da Aline Cântia e do Chicó do Céu.
Ainda pouco falei. Não mencionei todos que me tocaram, que me moveram, que deixaram marcas em sons e palavras, como o Giba, o Silas e os Arautos da Poesia. Ou de tanto que aprendi com as cristalinas palavras das mesas, com Rosana, Gislayne, Beatriz e Sandra, mestras de sempre. 
Foi impressionante perceber como a personalidade da Aline Cântia incorpora o espírito da CANDEIA. Com sua expressão sempre tranquila e firme, como uma chama que nunca se apaga. E ver a magia presente na voz e nos gestos do Chicó, que de fato é um menino do Céu, com seu jeito de homem sempre menino.
E meninices não faltaram. Para mim, participar da CANDEIA foi ser uma outra criança. Ficava maravilhado ao mergulhar nas memórias da Sandrita, do Gazel, do Joca, da Linete, do Silas. E encontrar-me criança ali. Mergulhei nas vozes de cada um. Vozes como o sopro do deserto; como o ondear da costa da Barranquilla, como o correr do leito do São Francisco ou como as escondidas águas de tantos rios da floresta.
Durante os dias que a CANDEIA brilhou forte em BH, foi como se eu estivesse envolvido em outro útero. Um útero de palavras. Fui como a carne que recebe a folha de Maniva e a saliva de todos da tribo. Estou agora sentindo os efeitos de encontro tão incrível. A CANDEIA queimou forte em mim. Seu fogo é singelo e duradouro. Sim, ela continua brilhando e brilhará cada vez mais intensa em minha memória e palavras.


domingo, maio 14, 2017

quarta-feira, maio 10, 2017

Um dia mágico



Biblioteca é um lugar de histórias. Por isso, de partilhas também. Afinal, a história só acontece quando contada, assim como o livro, quando lido.
Essa condição primordial de ponte, elo, torna a leitura tão poderosa, aproximando as pessoas, permitindo a nós o exercício da empatia, da oportunidade de sentir a dor de outra pessoa. A leitura literária é repleta de potência e nós vivemos para tornar essa potência evidente.
A inauguração do novo espaço da Biblioteca do Centro Cultural São Bernardo trouxe tudo isso à mente, enquanto compartilhava com crianças e adolescentes histórias que tenho guardadas na memória ou nos livros. 
De manhã, para meninas e meninos de 7 a 10 anos, contei "Um herói bem diferente", da Rosane Pamplona, e li "O rabo do rato", da Balbina Oliveira, ambas as histórias são registros de narrativas orais. Encerrei então com o magnífico "Mamãe zangada", de Jutta Bauer.
Ficamos então explorando o espaço, compartilhando leituras e ideias. Um dos livros que as crianças me pediram para ler era de adivinhas, o que envolveu grande parte da turma.
À tarde, recebi uma turma maior, pois eram duas escolas. Adolescentes, com seu ar desafiador e despojado, me olhavam, esperando histórias. Resolvi então contar uma narrativa da tradição oral chamada "Uma questão de interpretação". Apreendi essa história com a contadora Maria Célia Nunes. Em seguida, li "A parte que falta", de Shel Silverstein. O ar introspectivo que dominou os jovens foi então alimentado pelo "Mamãe zangada", única narrativa que resolvi repetir.
Seguimos para a exploração do acervo. Nesse momento, percebi que eles preferiam exercer sua autonomia no espaço, escolhendo suas leituras de forma mais reservada. Continuei à disposição para o caso de alguém pedir uma leitura.
Em ambos os turnos, senti-me muito bem recebido, tanto pelos alunos e professores, quanto pela equipe do Centro Cultural São Bernardo. A todas e todos meu mais profundo agradecimento. Que possamos repetir momentos assim, para descobertas e afetos.

segunda-feira, maio 08, 2017

Apresentação na Frente Pela Gastronomia Mineira


Gastronomia pode ser um tema delicioso para os ouvidos e para a imaginação também. Foi assim que compareci à Frente Pela Gastronomia Mineira, no Museu Histórico Abílio Barreto, para narrar histórias.
A princípio, acreditei que o desafio seria maior que minha habilidade. Pensei um bocado em quais histórias escolheria. Para mim, comer também é um ato de afeto, uma relação de amor. Sei que nossa sociedade, com seus fastfoods e foodtrucks, muitas vezes nos faz esquecer disso. Porém, nossas refeições ainda são fenômenos sociais. Além disso, a comida é um bom pretexto para tornar uma reunião mais agradável, proporcionando momentos de trocas, de aproximações.
Além disso, toda boa cozinheira é também uma contadora de histórias, preparando cada prato com sua receita e ingredientes, mas também com seu toque especial, sua vivência própria que tanto contribui para a comida ser saborosa na medida certa.
E quantos de nós já tivemos uma boa prosa ao pé do fogão, regada com muito café e carinho... Cozinha, em Minas, é sinônimo de boa conversa.
Comecei a narração com "A sopa de pedra", versão de Bia Bedran. Em seguida, contei "A Bruxa Salomé", de Audrey Wood e Don Wood. Fechei com "O caso do bolinho", no reconto de Tatiana Belinky. Contei com a colaboração de todos, com as palmas e sorrisos.
Agradeço o convite da Flávia Werneck da Belotur. Foi uma excelente oportunidade. E não posso deixar de mencionar a Pâmela Machado, que registrou o momento e me mandou tão boas energias.

Foto realizada pela Pâmela Machado (http://cadernodapam.blogspot.com.br).

domingo, maio 07, 2017

Sarau Leve


Ontem o Coletivo Simples fundou a sua história. E o mais importante é que fizemos parte da história de um dos projetos literários mais consistentes, democráticos e abrangentes.
Estou falando do Sarau Leve, evento que celebrou a terceira temporada do Leve Um Livro, projeto idealizado e realizado pela Ana Elisa Ribeiro e pelo Bruno Brum.
Assim, o Coletivo Simples se fez conhecer ao mundo em grande estilo. Sinto-me honrado em caminhar com Pâmela Machado, Norma de Souza Lopes e Rodrigo Teixeira nessa vereda repleta de poesia.


segunda-feira, abril 17, 2017

Renegado - Parte II de IV


O capitão ainda não havia conseguido se convencer de que eram vencedores. Voltou seus olhos ao portão, lugar de maior angústia, e viu a cena deprimente de mortos e feridos que se arrastavam pela terra. O sol do meio-dia brilhou sobre a barba ruiva de Balgata, que tocou seu rosto com a mão direita e sentiu a pele pegajosa. Devia estar horrível. Percebeu que Seridath chegava pelo portão. O rapaz o fitava com uma expressão de triunfo, enquanto apontava para o ombro direito de Balgata.
– Capitão, tem uma seta em seu ombro – anunciou o cavaleiro.
– Ah, é mesmo – respondeu Balgata, enquanto virava o rosto, surpreso, como se tivesse acabado de notar a existência do projétil perfurando sua carne. – Deixa eu tirar isso.
O capitão segurou a haste escura com a mão esquerda e puxou com violência, soltando um grunhido rouco e curto. Voltou-se para Seridath com um olhar ainda aparvalhado e percebeu que o rapaz o fitava em expectativa. Balgata suspirou, balançando a cabeça.
– Está bem, rapaz – admitiu o capitão. – "Seus" mortos nos salvaram. Mas está na hora de tirá-los daqui.
– Certo, capitão – respondeu o jovem, com um meio-sorriso.

Seridath enviou um comando mental à espada: "Lorguth, chega. Faça os servos deixarem a cidade e voltarem ao seu repouso". Quase que instantaneamente, um sombrio pensamento invadiu sua mente. "Eles não terão repouso" pensou Seridath, como se estivesse falando consigo mesmo. Era a resposta rancorosa de Lorguth. O jovem sentiu uma corrente gelada percorrer seu coração.

– Balgata! Os prisioneiros! – gritou ele.

Sem pensar muito, correram todos à torre da guarda, onde ficavam as prisões. Atrás da construção, junto ao muro, um estreito alçapão se abria, como uma boca escancarada, dando acesso ao porão do prédio. De fora, só escuridão. Mas podiam ouvir as vozes abafadas dos prisioneiros. O choro angustiado e os gritos de desespero chegavam fracos à superfície. Entraram pelo alçapão e desceram às cegas a íngreme e estreita escada. Ao penetrarem no fundo do corredor, sentiram suas botas escorregarem em algo pegajoso, enquanto o forte cheiro de sangue os enojava.

Eram oito celas de cada lado de um largo e escuro pavilhão, lotadas de todo o tipo de pessoas. Habitantes da cidade, o Conde de Arnoll, guerreiros sobreviventes da Companhia e os pobres camponeses de Keraz. Uma das celas havia sido arrombada e todos os prisioneiros foram mortos de forma brutal. Eram quarenta pessoas, entre velhos, mulheres e crianças. Dentro da cela, em meio a um tapete de corpos ensanguentados, permaneciam quatro "servos" de Seridath. Lorguth dera a ele sua lição.

Continua...

Leitura #18

Um dos maiores mitos da humanidade. A história do rapaz que tinha a música na alma, capaz de comover até mesmo o Senhor dos Mortos.

Orfeu
Hans Baumann
Antony Boratunski
Tradução de Tatiana Belinky
Editora Ática

Descrição: Uma pilha de pedras forma uma entrada de caverna. Nela um rapaz toca sua harpa para um leão. O rapaz tem roupas simples de cores azul e amarela, com um gorro vermelho. O leão está com a para esquerda estendida para o rapaz.



sexta-feira, abril 14, 2017

O Matador: Leveza e densidade num só tiro

A literatura certamente é um campo minado. Filha da linguagem, faz parte de uma guerra muito maior. E as vítimas, muitas vezes somos nós. Em outras, as palavras. 
E se é um perigo lidar com literatura, tal risco se torna ainda maior quando falamos de literatura infantil. Muitos não possuem a coragem de fugir de conceitos e paradigmas préestabelecidos. Felizmente, Wander Piroli mostra que não é desses. Autor de uma obra contundente, grande parte voltada para o público infanto-juvenil, Piroli tem no livro O Matador um dos maiores exemplos de sua coragem, competência de linguagem e sensibilidade poética. A narrativa é escrita em tom de relato de memória, num tom fortemente confessional. Nele, o narrador, conta de um episódio da infância, quando todos os meninos da vizinhança tinham sucesso na caça aos pardais. Apenas ele, o narrador, fracassava na tentativa de atingir um passarinho com seu bodoque. Até uma fatídica tarde em que tudo muda e ele se torna, finalmente, um matador.
O texto é escrito com um equilíbrio primoroso entre leveza e densidade. A agilidade no discurso, através de frases curtas, confere uma rapidez e um ritmo leve à narrativa. Contudo, essa leveza é quebrada por mergulhos profundos e densos, como que estrategicamente escolhidos, por meio de palavras que carregam um peso profundo de sentido e de tom.
E não podemos ignorar o primoroso trabalho que o artista Odilon Moraes faz na ilustração da edição mais recente. Em sintonia com o texto de Piroli, Moraes usa uma paleta suave, escolhendo em geral o verde, para compor os desenhos, para no final carregar no vermelho, criando um contraste forte e pungente.
Com um texto preciso e dinâmico, sem deixar de lado a sensibilidade, Piroli faz de O Matador uma obra contundente e ímpar. E com o magnífico traço de Odilon Moraes, certamente sua narrativa permanecerá, nos corações e mentes de seus leitores, ecoando.

Ficha Técnica


Título: O Matador
ISBN: 9788540507678
Encadernação: Brochura
Formato: 21 x 26
Páginas: 32
Ano de edição: 2014
Editora Cosac Naify

quarta-feira, abril 12, 2017

Leitura #17



Dois livros em um. A amizade vista a partir de um menino e de um cachorro.

O menino - O cachorro
Simone Bibian
Mariana Massarani

Descrição: Ao redor do quadrado do título, diversos quadrados menores, com desenhos de rostos de meninos, de cachorros, marca de uma pata, um osso, uma estrela, a lua minguante, a marca de um pé, alternando de forma aleatória.

#Livros2017

Leitura #16


Piteco de um jeito bem diferente. Desta vez, ele quem vai atrás da Thuga. E com um caminho cheio de perigos à frente!

Piteco - Ingá
Shiko
Graphic MSP / Panini Comics

Descrição: Piteco está de perfil direito ergue uma clava na mão direita. Ele veste sua túnica vermelha. Thuga está à esquerda dele, de frente, vestida de laranja, amarrada a uma pedra. Junto dela, um homem com peles de tigre. À do Piteco, dois homens também com peles de tigre. Um deles está de costas e o outro segura uma clava com os braços erguidos e flexionados atrás da cabeça.

Vídeo: El Desdichado, Gerard de Nerval

Boa noite! Hoje compartilho com todos El Desdichado, de Gerad de Nerval. Este é o primeiro poema que decorei e consegui levar comigo até hoje! Espero que gostem...


segunda-feira, abril 10, 2017

Renegado - Parte I de IV

Ir para O Assalto - Parte III de III

Thin observava as horrendas criaturas percorrerem as ruas da cidadela. Agora o ladrão tinha a certeza que as sombras se multiplicavam. Sentia que Dhor com certeza viera cobrar as suas dívidas. Eram seres de corpos escurecidos, roupas em frangalhos e pele arruinada, repleta de erupções, bolhas e furúnculos. Os olhos, vermelhos, moviam-se para além das órbitas, como se eles estivessem em constante transe. Se é que a expressão “eles” pudesse ser utilizada para aquelas criaturas. Emitiam sons guturais que passeavam entre gemidos e uivos.
Até que o ladrão caiu em si. Aqueles podiam ser os mensageiros de Dhor, mas o rapaz sempre considerou que o deus amava seus servos mais criativos e astutos. Não era momento para perder a calma. “Tenho que dar o fora” pensou ele. Jogou a besta para um lado, desafivelou o cinto da bainha, lançando-a longe, com espada e tudo. Enquanto corria pela ameia, ia jogando fora tudo que denunciasse sua posição como bandido inimigo. Descalçou até mesmo as botas. Apenas ficou com sua adaga, escondido de forma hábil na parte inferior de sua pequena coxa. 
Um dos monstros subia a escada que levava à ameia. Evitando o encontro, Thin jogou-se sobre o telhado de um prédio próximo. Era um edifício de dois andares, que parecia ter sido morada de algum comerciante abastado de Arnoll. Com a invasão, passara a ser moradia provisória de Berak, o líder do bando. O rapaz retirou a capa e o gibão, deixou as peças caírem do alto, ficando vestido com uma camisa surrada de lã e sua calça de couro, tingida de preto. Talvez tivesse uma chance de escapar, se conseguisse esgueirar-se como sempre, sem ser notado. Quem sabe se chegasse às prisões antes e se passasse por prisioneiro... Mas algo lhe dizia que era melhor não rumar para aquele lugar.
Agilmente, desceu do telhado e atirou-se com uma cambalhota para o interior de uma das janelas do prédio. Era um aposento claro, ornado com leve luxo. Havia uma cama de madeira, com colchão, uma estante contendo alguns livros e um baú de tamanho médio num canto. Thin, com sua capacidade profissional de avaliar rapidamente um ambiente, lamentou não haver tempo para procurar algo valioso. Desceu com rapidez as escadas a tempo de topar com um criado.
– Os mortos! – gritou o rapaz a Thin – Eles estão tomando Arnoll! Todos morreremos!
O ladrão atrapalhou-se e ambos rolaram da metade da escada até o primeiro andar. 

Enquanto o jovem se embaralhava com o criado, Balgata e seus homens avançavam pelos portões. Andavam com calma, ainda tentando recuperar-se dos ardores da batalha. Os inimigos haviam sido praticamente exterminados. Volta e meia um grito desesperado soava em algum lugar, um bandido pedindo misericórdia, enquanto era despedaçado por uma das criaturas.

domingo, abril 09, 2017

Leitura #15

Composto por um humor nonsense, este livro apresenta um inusitado pescador.

Baleia #1
Rebeca Prado

Descrição: Dentro de um círculo, céu azul-esverdeado com duas nuvens. Abaixo, duas ondas suaves. Abaixo do círculo, uma âncora.

sexta-feira, abril 07, 2017

Leitura #14


Um delicioso compêndio sobre nossa cultura oral.

Você diz que sabe muito, borboleta sabe mais!
Ricardo Azevedo
Mariana Massarani
Editora Moderna

Descrição: Em fundo azul, borboleta com asas cor de rosa, tem corpo humano. Com os dois braços agendarem

Alta fidelidade: Sobre som, tristeza e crescimento


Sabemos que toda pessoa passa por um período de avaliação interior, uma espécie de balanço emocional, muitas vezes na passagem da juventude para a meia-idade. Em muitos casos, a motivação dessa auto-análise está na insatisfação que surge quando a pessoa compara a realidade com as expectativas que tinha, sobre si mesma, no passado. 
De certa maneira, o excelente romance de Nick Hornby, Alta fidelidade, explora uma situação como essa. É uma obra impactante e ágil, repleta de referências da cultura pop sem soar clichê, além de conter um tom coloquial saboroso e equilibrado, prova tanto da competência do autor quanto do tradutor.
Alta fidelidade nos apresenta Rob, narrador de sua vida, com trinta e cinco anos e uma coleção de relacionamentos fracassados. A narrativa tem início numa espécie de discurso imaginário que ele faz para a última ex-namorada, Laura, contando sobre os piores foras que tomou na vida. Rob chega a culpar um desses foras pelo seu fracasso profissional e amoroso. 
Ao longo do livro, porém, o leitor tem a oportunidade de ver Rob se entregando inúmeras vezes, com atitudes machistas, imaturas e egoístas. Ele despreza o trabalho como dono de uma loja de discos quase quebrada, bem como seus excêntricos funcionários e "quase amigos", o tímido Dick e o espalhafatoso Barry. Tudo nele parece incompleto, como sua enorme coleção de discos e fitas cassete. 
Há inclusive um excelente paralelo entre gravar um cassete e escrever. Ambos exigem tempo, esforço emocional, consciência e disposição para começar de novo. Assim como nos relacionamentos. E essa é outra das provas do talento de Hornby, pois seu romance mostra uma gama de personagens autênticos e fascinantes, mostrando o quanto as pessoas podem ser contraditórias e como crescer pode se mostrar solitário e assustador.
Com um ritmo ligeiro e engraçado, rico em referências musicais, Alta fidelidade certamente é um daqueles livros capazes de marcar aquele que se aventure por suas páginas.

Ficha técnica
Autor: Nick Hornby
ISBN: 9788535923025
Ano: 2013
Páginas: 312
Idioma: português
Editora: Companhia das Letras

quarta-feira, abril 05, 2017

Nossas histórias, para sempre


Quando decidimos fazer um evento ligado ao Dia do Contador de Histórias, imaginávamos um seminário que nos levasse à reflexão dessa arte tão preciosa para nós. Não contávamos, porém, com as “cosmicidências” que por vezes nos surpreendem. E assim foi, pois a Sandra Lane, uma das pessoas que desejávamos convidar para o seminário, entrou em contato conosco e nos surpreendeu com a oferta de oficina “Recursos Auxiliares na Arte de Contar Histórias” e da magnífica apresentação “Baú de Histórias”. Enquanto a gente fechava os detalhes, Sandra veio com a ideia de uma semana voltada a celebrar as histórias e seus guardiões, os narradores.
Ficamos empolgados e logo nos pusemos em ação para montar a programação da semana. Foi um período árduo e cheio de percalços, o que impactou na divulgação. Tivemos problemas externos, como a greve atual, que nos encheram de incertezas.
Tudo, porém, deu certo. 
O seminário contou com a magnífica atuação de Reni Tiago, para fazer a abertura. A mesa foi composta por Sandra Lane e Cris Barbosa, com mediação da Rosana Mont'Alverne. Por motivo de saúde, não estive presente, mas os depoimentos sobre esse especial encontro chegaram até mim como preciosas palavras se sabedoria.
Com o apoio e a disposição do Grupo de Contadoras de Histórias da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil, realizamos apresentações durante a semana inteira, com destaque para a mais nova integrante, Lupri do Carmo, que ainda trouxe uma excelente convidada, Magna de Oliveira. Tivemos oficinas, como a ministrada pela Sandra, que teve intensa procura e foi realizada com lotação máxima.
Para encerrar de forma inesquecível, tivemos o Sábado de Sabores e Histórias, iniciado pela oficina “Livro-burguer”, mediada pelo amigo bibliotecário Wander Ferreira. Em sequência, mediei a oficina “Meu Livro de Receitas Enfeitiçadas”. Para encerrar, Sandra Lane, Vilmar de Oliveira e Carlinhos Ferreira foram maravilhosos, abrindo o Baú de Histórias e encantando o público com uma miríade de sons, palavras e sonhos.
A Semana do Contador de Histórias não teria sido o sucesso que foi, contudo, se não tivesse a presença do público, que tornou cada atividade dinâmica e prazerosa, com sua postura sempre pronta para uma boa conversa.
Deixo aqui, portanto, meu relato de como essa semana que se encerrou no dia 25 de março de 2017 será inesquecível para mim… para todos nós. Uma semana para ser lembrada e contada com carinho e admiração.

Relato originalmente publicado no Instagram.

terça-feira, abril 04, 2017

segunda-feira, abril 03, 2017

Leitura #13

Uma porquinha muito engraçadinha nos conta sua história.

História enroscada
Sylvia Orthof
Eva Furnari
Editora Braga

Descrição: Em fundo branco, porca de perfil esquerdo usa chapéu azul, veste camisa rosa e saia lilás. Está inclinada para frente e segura uma flor junto ao chão.

domingo, abril 02, 2017

Leitura #12

A história do amor não correspondido de um cachorro por seu dono. Até um acontecimento mudar tudo entre os dois.

Às vezes o Amor está onde menos se espera
Colin Thompson
BRINQUE-BOOK

Descrição: Em fundo azul, cachorro de perfil direito olha para o pé de alguém que se afasta.


sexta-feira, março 31, 2017

Leitura #11


Achando que está preparando uma cilada para três ratos cegos, uma coruja descobre que as coisas podem ser bem diferentes.

Os Três Ratos de Chantilly
Alexandre Camanho (texto e ilustrações)
Pulo do Gato

Descrição: Três ratos. O primeiro segura um graveto na pata dianteira direita. O segundo tem um chapéu verde e o terceiro leva uma xícara emborcada na cabeça.

Perdão, Leonard Peacock - Sobre quem escreve cartas do futuro



Sabemos que a adolescência pode ser uma fase grave na vida de qualquer pessoa. Ainda mais se esse período for passado na solidão e sem o diálogo com os pais. Apesar disso ser um lugar-comum, quase um clichê, ainda se percebe como é urgente a necessidade de um diálogo com os jovens.
Matthew Quick aborda essa questão em seu excelente Perdão, Leonard Peacock. Nele conhecemos Leo, o narrador e protagonista, de cara apresentando o seu dilema: no final do dia matará Asher Biel, um colega de escola. A princípio, podemos pensar que se trata de mais um garoto desajustado e psicótico que passou despercebido até fazer o seu estrago, mas estão vamos conhecendo a vida de Leonard, os terríveis dilemas que o assolam, como a ausência dos pais e a problemática educacional, mesmo quando os professores lutam pelas melhores intenções. Enquanto isso, somos apresentados a um suposto futuro apocalíptico, onde Leonard tem uma família e vive além dos limites.
Há outras nuances no livro, como a admiração por Humphrey Bogart, construída através de horas assistindo filmes ao lado de um vizinho idoso e rabugento, ou a sensibilidade profunda, demonstrada e exercitada ao escutar diariamente os ensaios de um colega violinista, evadido do Irã.
Nenhuma delas é tão marcante, porém, que a relação construída com o professor de Holocausto, Herr Silverman. Ele tem um segredo que intriga Leonard, e a curiosidade é aguçada pela profunda admiração que o rapaz tem por ele. 
Enfim, um livro pungente e interessante, tanto pelo questionamento de Leonard em relação ao presente, quanto pelo interessante olhar sobre um futuro que se esconde em luz e sombras, Perdão, Leonard Peacock é mais que um livro sobre adolescentes desajustados. É sobre crescer, conhecer-se e se transformar.

Ficha técnica:
Título: Perdão, Leonard Peacock
Autor: Matthew Quick
ISBN: 9788580573954
Ano: 2013
Páginas: 224
Idioma: português
Editora: Intrínseca

quinta-feira, março 30, 2017

Leitura #10


Um pequeno compêndio sobre os monstros que habitam a imaginação de nosso país

Monstrengos de Nossa Terra
Ricardo Azevedo (texto e ilustrações)
Editora FTD

Descrição: Cavalo branco, em perfil esquerdo tem três pernas, um par de asas. Não tem cabeça. Ele está em um campo verde. Ao longe, três árvores. A terceira é um coqueiro. Céu noturno tomado quase totalmente por nuvens amarelas. No canto superior direito, a lua minguante.