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quinta-feira, outubro 28, 2021

Acerto de Contas

Sérgio recebeu uma inusitada visita em seu consultório. Um sujeito de meia-idade chegou anunciando ser deus. Se bem que ele disse ser aquele com "D" maiúsculo. Porém, por razões políticas, decidi grifá-lo com o "d" minúsculo.

Era um dia quente, daqueles que clamam por chuva. Sérgio praguejava por causa do ar-condicionado quebrado. Foi aí que entrou o homem que se anunciou "deus". Disse que estava lá para acertar uma pendência.

Irritado e incrédulo, Sérgio disse que estava trabalhando e que se não fosse um paciente, que se retirasse. Diante da recusa de seu interlocutor, o dentista correu até a sala externa ao consultório para brigar com a secretária. Como ela deixou um doido daqueles entrar?

Com a negativa da moça, que alegou não ter visto ninguém entrar, Sérgio pensou que estaria enlouquecendo.

Na verdade, "deus" realmente só era visível pra ele. O divino disse que estava lá para punir o dentista. Não por seu ateísmo corrente, sua atual incredulidade obstinada. Não pelo afastamento surgido no fim da juventude, nem pela postura niilista e zombeteira diante da vida. O homem, quando criança, havia caído na risada durante a aula de Ensino Religioso, após um colega fazer piada com o Espírito Santo.

Sérgio bem se lembrava. Tendo crescido em uma família terrivelmente evangélica, passara noites em claro, chorando, com a certeza de que havia sido condenado ao inferno, já que, ao rir de uma blasfêmia contra o "espírito de deus", teria sido cúmplice e não teria perdão.

O dentista abandonou o consultório, sendo seguido por "deus". Tentou evitar o confronto. Afinal, era "deus". O problema foi que o todo-poderoso não saiu de perto de Sérgio, não deixava o pobre homem em paz. E mais ninguém via o cujo. Como um amigo invisível inconveniente, ficava falando e falando, garantindo que só o deixaria em paz se ele o enfrentasse. 

Para dar um fim à tétrica situação, resolveu enfrentar "deus" no braço. A cidade subitamente se esvaziou  Em uma ponte, "deus" o aguardava. O tempo já não clamava, profetizava tempestade. Os dois se embateram no centro da ponte. Brigaram na chuva, durante um temporal que escureceu o mundo.

Sem acreditar, Sérgio conseguiu acertar um bom soco em "deus". Espancou o altíssimo. Arrancou-lhe os dentes na base do soco e viu um arco-íris surgir no céu, enquanto "deus" desaparecia em uma nuvem de contradição.

sexta-feira, maio 07, 2021

Finalmente, o leite - A história da história num mirabolante jogo


Ninguém pode negar a inventividade do escritor britânico Neil Gaiman. Famoso pela obra em quadrinhos Sandman, que repaginou um herói esquecido, Gaiman há muito tempo já escrevia, sendo um autor premiado de diversos contos, bem como de romances aclamados, como Os Filhos de AnansiDeuses Americanos e Coraline, entre muitos outros.

Quando Finalmente, o leite caiu em minhas mãos, fiquei muito animado para ler. Afinal, sou admirador dos trabalhos de Gaiman, em especial sua obra literária. Sendo assim, quando a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH recebeu um exemplar doado pela Letícia Pimenta, criadora do Clube do Livro BH, fiquei muito animado para ler.

Confesso que é de longe o menos interessante que eu li, de todos o de Gaiman. O pai "inventa" uma  história mirabolante e nonsense para justificar a demora em retornar do mercado para os filhos (uma menina e um menino) colocarem no cereal durante o café da manhã.

Existem duas grandes piadas no livro. A primeira é sobre o tempo, havendo paradoxos temporais e viagens no tempo que os provocam. A segunda(que deveria ter sido a primeira) é a metanarrativa. O livro tem um primeiro narrador (o filho), que escuta do pai a aventura. Sendo assim, estamos lendo a narrativa da narrativa, com o acréscimo da interlocução da irmã, que faz brevíssimos comentários ao longo do desenrolar da história.

Dessa forma, o livro é um enorme faz-de-conta, ao mesmo tempo que é um conta-e-faz, em um emaranhado de ideias mirabolantemente ridículas de um pai meio picareta que só sai para comprar o leite dos filhos porque de fato ele quer um pouco dele para o seu chá. O livro conta com piratas, dinossauros, alienígenas, além de outros perigos. Todos esses perigos sendo um prato cheio para crianças.

Com muito humor e doses cavalares de falta de noção, Finalmente, o leite é mais uma das provas da enorme - e ao que parece - inesgotável criatividade de Neil Gaiman. Além de ser uma excelente dica para crianças interessadas em tudo que uma criança pode se interessar. E um pouquinho mais.


Ficha Técnica

Felizmente, o Leite

Neil Gaiman

Desenhos de Skottie Young

ISBN-13: 9788579802591

ISBN-10: 8579802598

Ano: 2016 

Páginas: 128

Idioma: português

Editora: Rocco Jovens Leitores

Perfil do livro no Skoob: 

sexta-feira, fevereiro 05, 2021

O guia do mochileiro das galáxias - humor e criatividade na dose de uma dinamite pangalática


NÃO ENTRE EM PÂNICO. Acredito que essa frase é muito útil em inúmeras situações. Seja em momentos em que a gente descobre que perdeu as chaves de casa em uma sexta-feira depois daquela saideira do bar. Ou então ao descobrir que não viu aquele e-mail do chefe, enviado uma semana antes, mandando fazer aquela tarefa "pra ontem". Ou até mesmo em casos de inevitável demolição de um planeta para a construção de uma via expressa hiperespacial.

Essa é a frase de ordem estampada na capa do mais famoso e prestigiado guia de viagens do universo, O guia do mochileiro das galáxias. Não é por nada que ele também empresta o nome a um dos livros mais inventivos de nossos tempos. Escrito por Douglas Adams, o livro dá início a uma saga de cinco volumes narrando as desventurosas aventuras do inglês Arthur Dent, seu "parça" Ford Prefect, o mais humano dos alienígenas, dentre outras excêntricas personagens. Uma delas é Marvin, o robô maníaco-depressivo. Outra é Tricia Mcmillan, ou Trillian, a ousada astrofísica e companheira Zaphod Beeblebrox, um bon vivant totalmente caótico que, após alcançar o cargo de presidente da galáxia, orquestra um dos maiores roubos da história do universo.

Com tudo o que já foi dito, é possível ter uma leve ideia do que encontrar em O guia do mochileiro das galáxias. Antes de tudo, trata-se de uma narrativa repleta daquele humor crítico em que o mundo da ficção científica funciona como uma alegoria da contemporaneidade. Douglas Adams utiliza-se de conceitos complexos da astrofísica, da filosofia e até mesmo da literatura para tecer suas refinadas e deliciosas críticas.

Outro ponto interessante na narrativa é que Arthur Dent, improvável protagonista, surge para negar a jornada do herói. Como uma espécie de "Ulisses de araque", ele passa a maior parte do tempo sem fazer a mínima ideia do que está acontecendo. Claro, sua reação poderia ser proveniente do choque de ter o seu planeta natal transformado em vapor. Porém, muitos anos-luz serão percorridos até que o impossível herói dessa saga espacial terá o mínimo de noção do que está acontecendo e qual o seu papel no universo.

Não é preciso falar muito para atestar a maestria de Douglas Adams ao conceber sua "Odisseia Galáctica". O trabalho magnífico desse grande escritor é mundialmente conhecido. Porém, é sempre bom reafirmar a importância de um clássico como esse. Afinal, nele está contido um dos maiores mandamentos do Universo: NÃO ENTRE EM PÂNICO.


Ficha Técnica

O guia do mochileiro das galáxias

Douglas Adams

ISBN: 9788599296943

Editora: Sextante

Ano: 2010

Páginas: 156


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-guia-do-mochileiro-das-galaxias-225ed344547.html

quarta-feira, janeiro 13, 2021

Vídeo: O mal do Lobo Mau - Cláudio Fragata e Luiz Maia



Um lobo doente e uma ovelha enfermeira. Isso só pode dar confusão. Acompanhe as peripécias do lobo adoentado. Será que ele sara ou não? E o que será da ovelha se ele resolver fazer uma refeição?


Ficha Técnica:


"O mal do Lobo Mau"

Claudio Fragata

Luiz Maia

ISBN-13: 9788538520269

ISBN-10: 8538520261

Ano: 2009 

Páginas: 24

Idioma: português

Editora: Positivo




Mais histórias e poesias em: http://www.oguardiaodehistorias.com.br/

sexta-feira, maio 22, 2020

Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo - Para aqueles que ainda virão

Em um dos primeiros momentos do curso Infâncias e Leituras, tive a oportunidade de assistir mais uma vez ao filme Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo (The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore). Já de início afirmo que sempre encaro com entusiasmo as oportunidades de assistir a esta animação, tão singela e preciosa, que não raro arranca lágrimas de meus olhos.

Este filme é um dos mais incríveis que já assisti. Foi maravilhoso poder vê-lo novamente. Trata-se de uma narrativa fantástica, com alto grau de simbolismo e que apresenta uma narrativa muito clara e bem amarrada. Nela, Modesto Máximo (Morris Lessmore) é arrancado de sua vida comum e de suas palavras por um desastre que desarrumar todo o seu mundo. Suas cores são perdidas, sua voz é silenciada, o livro que representa a sua vida perde as palavras e se torna vazio.
O que parecia não ter conserto logo se mostra repleto de possibilidades. Modesto encontra um livro que o leva a uma casa de livros. 

Enquanto trabalhei na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, gostava de brincar com os livros como se estes fossem pássaros. Creio que eu tenha sido inspirado pelo filme. Ou talvez a analogia já estivesse em mim há mais tempo. O fato é que o filme usa dessa metáfora, ao mostrar os livros voando, com suas páginas abertas.

Apenas o livro da vida de Modesto Máximo não voa. 

A imagem dos diversos livros, de várias formas e tamanhos, adejando graciosamente é um espetáculo à parte. E justamente um desses livros passa a fazer o papel de companheiro de Modesto.

Não vou adiantar muita coisa do filme, pois acho que assisti-lo sem muitas informações preliminares, descobri-lo com um primeiro olhar é uma aventura ímpar a meu ver. Portanto, peço que só leiam os próximos parágrafos quem já tiver assistido ao filme.

Achei muito interessante que o livro que levou o protagonista para a casa dos livros não foi o mesmo que guiou a garotinha ao final da narrativa. Ou seja, cada um de nós tem o seu livro, aquele que podemos chamar de completamente nosso. O livro que nos apresenta aos demais, que nos encanta pela primeira vez. 

Também foi lindo observar que o senhor Modesto Máximo não foi embora sem antes deixar um pedaço de si, uma parte de sua história, ou toda a sua história. Seu livro agora havia ganhado vida, passando a ser mais uma das entidades encantadas que voavam pela casa dos livros. 

Da mesma maneira, somos convidados, pela leitura e pela escrita, a deixar nossas marcas, nossas pegadas através das palavras e traços, como nosso testemunho para aqueles que ainda virão.


domingo, maio 10, 2020

Vídeo: Minha Mãe Não é Legal - Loreto Corvalán

Olá! Para comemorar o Dia das Mães, compartilho com vocês a leitura do livro Minha Mãe Não é Legal, de Loreto Corvalán, traduzido por Andréia Nascimento. Vamos assistir?





Feliz Dia Das Mães para todas as mamães do mundo!

Ficha Técnica 
Selo: Rota Imaginária
Dimensões: 21 x 21
Autora: Loreto Corvalán
Ilustradora: Loreto Corvalán
Tradutora: Andréia Nascimento

sexta-feira, abril 03, 2020

É m livro - Humor e reflexão no passar das páginas

Ontem, dia 2 de abril de 2020, foi comemordo o Dia Internacional do Livro Infantil. A data foi escolhida em ocasião do nascimento de Hans Christian Andersen, um dos maiores nomes da literatura infantil e dos contos de fadas do mundo. Para não deixar a data passar batido, resolvi então falar sobre o próprio livro em si, através do engraçado e criativo É um Livro, de Lane Smith.

Um macaco está sentado, tranquilamente lendo seu livro. Até que um burro se aproxima e pergunta o que ele tem em suas mãos. "É um livro" - responde o macaco. Começa assim um engraçado diálogo em que o burro, um entusiasta da tecnologia, tenta entender um objeto que não entra na internet, não acessa o Twitter, não manda mensagens, não precisa de senha, log in e nem de bateria.

Através do divertido diálogo, o objeto livro é apresentado ao leitor, num divertido jogo de significados. Este objeto vai sendo apresentado justamente pelo que não é, mediante o contraste com as características que smartphoes e gadjets ostentam ao serem operados por seus usuários.

E interessante observar o traço suave de Lane Smith com desenhos longos e arredondados, algo que a pesquisadora Yolanda Reyes aponta como elementos visuais atrativos para os bebês e demais pequenos leitores. As texturas remetem ao giz de cera, tão comum em atividades artísticas infantis.

Outro ponto a se observar é a homenagem que o autor faz à literatura universal ao mostrar qual livro o macaco está lendo. Ao mesmo tempo, ele faz uma brincadeira com a linguagem abreviada que os jovens utilizam para trocar mensagens.

Vale também apontar o aspecto interativo que o livro tem em si. E não estou falando apenas do alvo desta resenha. Ao observarmos como os bebês manuseiam os livros, podemo perceber que há nestes objetos características interativas que representam a própria ideia de tempo e sucessão. As páginas podem ser passadas, pode-se adiantar e retornar nas mesmas. Todo livro é antes de tudo um brinquedo.

Com um humor inocente e desenhos que primam pela estética, sem perder a jovialidade, É um Livro certamente é um boa pedida para ser o primeiro livro de alguém. Seja este alguém de qualquer idade.



Ficha Técnica
É um Livro
Lane Smith
ISBN-13: 9788574064512
ISBN-10: 8574064513
Ano: 2010
Páginas: 32
Idioma: português
Editora: Companhia das Letrinhas


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/e-um-livro-132166ed146594.html

sexta-feira, março 20, 2020

Vídeo: Os três soldados e a princesa nariguda - Irmãos Grimm

Era uma vez três soldados já velhos, que foram dispensados pelo rei sem nenhuma aposentadoria. Assim, eles tiveram que...

Quer saber o resto? Assista! Este conto está no livro "Contos maravilhosos infantis e domésticos", dos Irmãos Grimm. Editora Martins Fontes.

Feliz Dia do Contador de Histórias!

Histórias de todos os cantos!

sexta-feira, setembro 27, 2019

Contando Histórias no FLI-BH 2019

Chuva. Em frente ao palco literário, uma tenda enorme abrigava algumas pessoas. Eu estava atrasado para o início da apresentação De lobo a bolo. A galera do Biqueira Cultural já estava a postos, para um sarau que aconteceria logo em seguida.

Apesar do nervosismo, fruto da insegurança, tudo foi maravilhoso. Contei Chapeuzinho Amarelo, O caso do bolinho e Um herói diferente. São as histórias mais contadas na apresentação que organizei. 

Depois que me apresentei, permaneci na tenda para participar do sarau. Fiquei encantado com a apresentação da poeta marginal e narradora de histórias IZA REYS, que narrou contos africanos.

Ter escuta é sempre um privilégio, principalmente em um mundo de silenciamentos, como o nosso. A oportunidade de ouvir também é fundamental. E fui agraciado com esses momentos. Que eles se repitam, seja no FLI-BH, seja em outros eventos e lugares.

Fotos de Ana Paula Cantagalli.





segunda-feira, setembro 23, 2019

Mais um dia repleto de histórias


Não bastou para mim compartilhar histórias no Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira, na manhã de sábado, dia 21 de setembro. Eu queria mais. Não apenas contar, mas ouvir também.

Por isso, segui para a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte e assisti mais uma vez ao espetáculo Ouvi Contar. Poesia, narração e interpretação em um projeto belíssimo de acessibilidade.

Voltei então ao Parque Municipal para me apresentar novamente. Contei "Chapeuzinho Amarelo", de Chico Buarque, e "O caso do bolinho", conto tradicional registrado por Tatiana Belinky.

A interpretação em LIBRAS foi de Mavione e Jivago.

As fotos são de Rivanda.





quarta-feira, setembro 11, 2019

Semana da Educação - Espaço Contação de Histórias no Parque Municipal

De lobo a bolo: uns heróis bem diferentes

Narração de histórias para crianças de todas as idades. O repertório parte de textos literários consagrados junto ao público infantil, bem como narrativas da tradição oral.

Duração: 30 minutos

Público: infantil

19, 21 e 22 de setembro de 2019, às 13h30
Local: Parque Municipal Américo René Giannetti. Belo Horizonte. MG.



domingo, setembro 01, 2019

Bolsoriques #2

Bolsonaro é um parvalhão
Acha que pode tudo, mas não!
Estudantes unidos
Jamais serão vencidos
Aliados pela educação!

A ciência virou balbúrdia
Que coisa mais estapafúrdia
Ministro engraçado
Não é educado
Contra ele eu faço balbúrdia!

Um déficit de bolsa, imagina,
o problema é um "Bolso" lá em cima
Que não dá o valor
para o educador
Que o governo de hoje incrimina!

Bolsonaro sem nenhum pudor
Quer seu filho pra embaixador
Mas o tal de Eduardo
E um tirano mimado
Que só quer espalhar o terror!

sexta-feira, agosto 23, 2019

Uma Chapeuzinho Vermelho - As pequenas forças contra os grandes monstros

Uma menina sozinha em seu caminho. Dante dela, surge um lobo. Ele é enorme e está faminto. Essa menina, que veste um chapeuzinho vermelho, tem diante de si um perigo terrível.

Assim começa uma das histórias mais antigas do universo infantil. Readaptado e recontado diversas vezes, o conto Chapeuzinho Vermelho aparece em inúmeros formatos e releituras. Por causa de tantas versões, há que se pensar que o tema já esteja alcançando um certo esgotamento. 

Até sermos apresentados ao livro Uma Chapeuzinho Vermelho, de Marjolaine Leray. Trata-se de uma obra completa, com um texto que ganha em simplicidade e humor. Os traços são expressivos e dialogam abertamente com o universo infantil, uma vez que simulam os rabiscos que as crianças fazem com giz de cera.

O equilíbrio entre texto e imagem concedem à narrativa um caráter fortemente cênico. Enquanto lemos, estamos vendo uma tela em ação. Há muitos silêncios que são completados pela expressividade dos desenhos de Marjolaine Leray. 

As principais referências ao conto original estão lá, mas transformados em ganchos de humor e ironia. O lobo se torna totalmente caricato. Com seus dentões, seus olhos enormes e ferocidade, ele vai sendo desconstruído, diante de uma menina que não tem medo. Ou melhor, uma menina que sabe vencer o medo através da curiosidade e da malícia propriamente infantil.

Uma Chapeuzinho Vermelho também dialoga com o universo dos cartoons, ao apresentar uma heroína pequena e forte, diante de um vilão virtualmente superior. Ela não teme sujar as mãos e não se importa em usar da violência sutil diante de seu inimigo. E de mau, o lobo se torna bobo, ou melhor, bobinho. 

Em um tempo em que a força é alardeada e que as minorias são ridicularizadas por homens brancos e preconceituosos, Uma Chapeuzinho Vermelho é uma alegre lembrança de que ainda podemos rir dos monstros, estejam eles em florestas, palanques ou tribunas.

Ficha Técnica
Uma Chapeuzinho Vermelho
Marjolaine Leray
Ano: 2012
Páginas: 44
Idioma: português
Editora: Companhia das Letrinhas

terça-feira, agosto 13, 2019

Vídeo: Uma Chapeuzinho Vermelho - Marjolaine Leray


Que criança não vive a sensação de medo através da figura do famoso Lobo Mau? Ele é grande, forte, feroz e ruim até o último pelo. Aqui neste livro, ele continua sendo tudo isso, com a diferença de que a Chapeuzinho, além de muito esperta, não tem nenhuma compaixão pela fera. Uma coisa é certa, o final é surpreendente!

Ficha Técnica

Título original: UN PETIT CHAPERON ROUGE
Tradução: Júlia Moritz Schwarcz
Páginas: 48
Formato: 20.30 X 13.60 cm
Peso: 0.184 kg
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 20/04/2012
ISBN: 9788574065281
Selo: Companhia das Letrinhas

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40672

terça-feira, agosto 06, 2019

Vídeo: 20 disfarces para um homenzinho narigudo - Marcelo Martinez



A ideia de 20 disfarces para um homenzinho narigudo é proporcionar à criança uma brincadeira com o significado das linhas e das formas. A partir de uma base fixa – o homenzinho narigudo –, de muita imaginação e poucos traços, o pequeno leitor poderá “ver” figuras diferentes: "um carinha la da França", "um pintinho de mudança", "uma cobra equilibrista", "um elefante na piscina", e por aí vai. Ao fim do livro, uma nova aventura é proposta: quais figuras os pequeno leitor será capaz de imaginar sobre a imagem do homenzinho narigudo?

Ficha Técnica
Título: 20 Disfarces Para Um Homenzinho Narigudo
Autor: Marcelo Martinez
ISBN: 9788520932056
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Formato: 20 x 20
Páginas: 48
Ano de edição: 2013

quarta-feira, abril 18, 2018

Monteiro Lobato e o Dia Nacional do Livro Infantil


Quando se fala de Literatura Infantil, muitos costumam reduzi-la a um segmento menor, como se fosse uma literatura mais "fácil". Por muito tempo, os livros para crianças e jovens eram imbuídos de uma forte carga utilitária. Era necessário que os textos fossem instrutivos e edificantes.
Há 136 anos nasceu o homem que transformaria para sempre a literatura infantil. José Bento Renato Monteiro Lobato, patrono do livro infantil em nosso país, não foi apenas o percursor da literatura infantil brasileira da atualidade, mas também fundou uma nova forma de pensar e fazer livros para jovens leitores. Em sua homenagem, o dia 18 de abril passou a ser conhecido como o Dia Nacional do Livro Infantil.
Com Reinações de Narizinho, Lobato nos apresenta uma menina que surge pra aprontar mesmo. Afinal, o sentido da palavra "reinação" era travessura, brincadeira, bagunça. E Lúcia, ou Narizinho, a protagonista desse primeiro livro de Lobato, é uma menina esperta, contestadora, inventiva. Emília, sua boneca, era apenas uma muda coadjuvante. Quando ganha voz, a boneca vai lentamente adquirindo força e peso, até se tornar o principal ícone de Lobato. 
As aventuras de Narizinho, Emília e muitas outras personagens acontecem no Sítio do Picapau Amarelo. Inicialmente, o sítio surge como um lugar comum, pacato, típico cenário do interior paulista. Porém, assim como a boneca Emília, o próprio Sítio vai ganhando contornos cada vez mais fantásticos, quase míticos, a ponto de comportar dentro de si as maravilhosas terras do mundo das Fábulas e até mesmo a Terra do Nunca.
O aspecto revolucionário de Lobato não está apenas em sua literatura infantil, mas também em sua visão empreendedora como formador de leitores. Ele decidiu levar seus livros para perto de seus leitores, aonde os livros antes nunca tinham chegado. Suas edições eram ambiciosas em números de exemplares. Assim, o que poderia ser visto como uma aposta mal feita mostrou-se uma jogada que mudou os rumos de nosso mercado editorial.
Não dá para negar as polêmicas em torno de Monteiro Lobato. Sim, há passagens ofensivas e racistas em alguns de seus livros. Não há desculpa ou justificativa. É preciso marcar, contudo, que Lobato era um homem ciente de muitas de suas contradições e não deixava de evidenciá-las. Como exemplo, temos o desabafo de Emília no final de suas memórias, quando ela admite seu preconceito em relação à Tia Nastácia, fazendo um "mea culpa". 
Sei que isso não é suficiente, nem redime Lobato. Apesar disso, é importante observar que ele, apesar de ser contundente em suas ideias, não sabia ser intransigente e sempre esteve disposto a mudá-las.
Que o Dia Nacional do Livro Infantil seja sempre um marco. Não como celebração, mas como memória. Para que as pessoas não se esqueçam dos erros e acertos de Lobato e que sigam seu exemplo na ousadia, na coragem e na inventividade.