Mostrando postagens com marcador vida. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador vida. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, dezembro 18, 2023

Clara e o homem na janela - Quando a luz invade



Este é um livro lindo. Seu nome é Clara e o homem na janela. Clara é a protagonista, uma menina que vive num interior desses de algum país da América Latina.

Clara tem que levar um cesto de roupas lavadas. Deve entregá-las na Casa Grande. O homem que lá vive nunca sai, vive recluso. Apesar das recomendações, Clara se distrai com tudo, inclusive com os livros que recheiam as estantes do homem.

Vendo o interesse da menina, o homem pergunta se ela sabe ler. Clara diz que sim. Ele então passa a lhe emprestar livros. Das leituras e dos encontros, nasce uma amizade. Clara descobre que o homem nem sempre foi recluso, que teve um grande amor, o jardineiro. Mas esse amor se perdeu no tempo e na vida.

O texto de María Teresa Andruetto é enxuto, econômico, mas rico em discurso. Fala muito pois diz do que é eterno e, ao mesmo tempo efêmero: vida, amor, amizade. O desenho de Marina Trach é um convite a buscar as mais diversas referências, imagens polissêmicas que enchem o silêncio de dizeres.

As cores são leves, suaves, como que contrastando a força do sentimento que permeia as páginas. Há muito sentimento represado nesse livro, muita emoção contida.

Em certo momento, vemos a referência aos contos de fadas, com a menina andando pela floresta com o cesto. Por vezes, vemos o jogo de cores a criar um tom harmonioso, como que para apaziguar o conflito que se estabelece na figura daquele homem que praticamente desistiu de viver.

Com desenhos lindos e um texto conciso e potente, Clara e o homem na janela é uma narrativa sobre amizade, sobre amor e, também, sobre cumplicidade que a paixão pelos livros pode ajudar a construir. 


Ficha Técnica

Clara e o homem na janela

Coleção da Cigarra

María Teresa Andruetto

Marina Trach

ISBN-13: 9788585166083

ISBN-10: 8585166088

Ano: 2020 

Páginas: 48

Idioma: português

Editora: Amelì Editora


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/clara-e-o-homem-na-janela-11733459ed11744270.html

segunda-feira, setembro 05, 2022

Hoje a vida



Hoje a vida 

me cavalgou. 

Foi de supetão. 

O mundo 

me fez 

de bicicleta, 

montou-me 

e saiu por aí 

a pedalar. 

segunda-feira, agosto 16, 2021

Uma perspectiva do Universo

Fonte: https://pixabay.com/pt/users/free-photos-242387/


Se o universo é infinito, e tudo cabe no infinito, todas as variações possíveis de nosso planeta e da nossa história também cabem nesse mesmo infinito. Ou seja, os mundos paralelos estão aqui ao lado, a um infinito de distância.

(Descrição da imagem: A silhueta de uma pessoa de perfil volta a cabeça para cima e contempla o céu estrelado. A tonalidade desse céu passeia entre o preto nas bordas, o amarelo embaixo e o azul à direita. Ao centro, poeira de estrelas formam uma nuvem)

quarta-feira, outubro 21, 2020

Os motivos do silêncio

Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/philm1310-752382/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=2725302">philm1310</a> por <a href="https://pixabay.com/pt/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=2725302">Pixabay</a>
Por quase cinco meses, estive em silêncio neste espaço. Nesse período, andei me perguntando quando eu retomaria a escrita, as resenhas, este lugar tão meu, tão repleto de minha voz. Além disso, sentia que devia uma explicação para as pessoas que aqui chegavam, para encontrar as histórias guardadas no blog. Tantas perguntas, porém, que aparentavam ser nascidas apenas de minha alma. Ninguém mais parecia questionar o silêncio e seus motivos. 

Essa ausência de perguntas era também fonte de alívio. Afinal, se leitoras e leitores não demandavam por mais textos, por mais histórias guardadas, não precisava me preocupar tanto com a produção deste blog. Contudo, havia também a pulsão interna, a força motriz de meus próprios escritos. Eu meio que me sentia em dívida com essa força. Sentia que precisava dar uma justificativa a ela, na forma em que se materializa.

Apesar dessa necessidade, sentia como se estivesse amordaçado. O medo, o horror, a angústia e o luto me tomavam e enchiam minha boca de vazios e silêncios. Por um tempo, tentei escrever, sem mencionar a morte. Tentei não falar do horror, do ódio, da crueldade e do desprezo pela vida. Eu tentei, mas tanta maldade, tanto descaso pelo próximo acabou por me soterrar de tristeza. Silenciei.

Os dias foram passando e a contagem de mortos aumentava. A incerteza da morte se somava ao fato de não saber se os procedimentos de higienização serviriam mesmo para impedir o vírus. Estaria eu seguindo as instruções corretamente? Será que por um descuido, por uma distração, o inimigo invisível chamado CORONAVIRUS insidiosamente se infiltraria em meu lar e levaria alguém querido? Ou de repente me levaria do mundo? Além disso, enquanto lia sobre a contagem crescente de mortos, eu me perguntava quando essa doença chamada COVID-19 chegaria tão perto a ponto de levar alguém querido. Eu me questionava quando a estatística deixaria de ser um mero número e se tornaria uma parte infinita de meu mundo. 

E isso aconteceu mais cedo do que eu imaginava. A morte soprou em minha nuca, dando sinal de sua presença. Cheguei a imaginar que seria apenas um susto, uma mera lembrança, e não uma presença real. Ledo engano. A finitude da vida veio me conceder mais um nome à lista de familiares para sempre desaparecidos deste mundo. A COVID-19 levava de mim alguém próximo em primeiro grau, apagava em minha vida a possibilidade de um reencontro, de um conserto, de uma conciliação, ou pelo menos de uma despedida.

A essa realidade, somava-se o fato de que estávamos todos fisicamente isolados. A autoimposição de ficar encerrado em casa, saindo em momentos específicos, deu a muitas pessoas a sensação de encarceramento. Em meu caso, não foi diferente. Sentia o corpo enfraquecer, pela ausência de exercício. Saía para um ligeiro "banho de sol", sempre com máscara e tomando o cuidado com a higienização, logo que voltava para casa.

Nos momentos em que não me dedicava ao trabalho, continuei buscando refúgio nas histórias. Uma amiga passou a mandar áudios da sua leitura de As mil e uma noites. Acompanhei lives de diversas amigas e amigos nas plataformas de mídias sociais. Cultivei a escuta de um maravilhoso podcast - Histórias com Café - que sigo acompanhando. Comecei a cuidar de plantas. E também procurei manter minha disciplina na leitura. 

A jornada tem sido longa. Eu acabei por ver este período de pandemia como a travessia de um deserto. E nesse lugar ermo e seco, em que ainda me encontro, muitas foram as feras que me acossaram. A maior delas tinha a minha face. Distorcida, monstrificada, hedionda. Diante de minha própria feiura pude descobrir um pouco mais de mim. E reencontrar minha voz.

Que este humilde relato possa ser proveitoso para tantas pessoas que buscam sentido nestes períodos de escuridão, de dor e agonia. Que nele possamos nos reencontrar. E que as vozes possam, por fim, romper o silêncio, seja em gritos de revolta e dor; seja em risos e cantos de esperança.