Tenho pensado muito nesse meio de transporte que é tão atual, tão cosmopolita. Não há nada mais urbano do que o metrô. Para comprovar esta afirmação basta lembrarmos das produções cinematográficas. Uma metrópole que se preze tem que ser provida desse meio de transporte.
Minhas divagações sobre o metrô ocorrem também porque é através dele que chego ao trabalho. Dessa forma, todas as manhãs aguardo sobre a plataforma a chegada da gigantesca máquina metálica, que desliza sobre os trilhos e lembra uma centopeia.
Outro elemento que me inspirou na escrita deste texto foi a crônica "Como comportar-se no bond", de autoria do grande Machado de Assis. Nela, o escritor cria uma espécie de código de conduta para os passageiros dos bondes que trafegavam no Rio de Janeiro no final do século XIX.
Sendo assim, não resolvi criar uma lista de regras de comportamento para o metrô e sim elencar quais são os ingredientes essenciais para que este transporte público alcance a excelência. Sem mais delongas, passo a descrever aqui quais são as características mais notáveis para um metrô legal.
Gente, muita gente. Sem gente, é impossível fazer um metrô legal. Mas tem que ser muita gente mesmo. Não estou falando de lotação ou superlotação. As leis da física devem ser desafiadas, para ter graça. Por isso, sempre que você estiver aguardando na plataforma e o transporte chegar, não hesite em entrar, por mais lotados estejam os vagões. Sempre existe uma forma de entrar: bandinha, rolo compressor, osmose.
O método "bandinha" é o menos traumático para entrar em um vagão superlotado. Você vira de lado e avança lentamente, em passinhos curtos, como num andar de siri. Assim, seu ombro vai confortavelmente alcançando espaço entre os corpos dos passageiros.
Já o "rolo compressor" é mais difícil, pois exige que você tenha o porte físico de um lutador do UFC. Use toda a sua força bruta e insensivelmente pressione a massa de passageiros à sua frente de forma que eles não vejam outra solução a não ser mudar o formato de suas anatomias para que você caiba perfeitamente entre eles.
Sendo o mais passivo de todos, o método "osmose" torna-se também o mais masoquista. Para realizá-lo, você deve "desligar" seu cérebro, de forma que ele não receba as mensagens de socorro do resto do seu corpo. Em seguida, posicione-se de maneira que seu corpo faça parte da massa de passageiros que tentam embarcar e deixe-se levar, como se todos fossem parte de um líquido e a porta do vagão a membrana celular por onde você, o nutriente, deverá passar.
Pronto. Estamos todos dentro, colados uns aos outros e precisamos transpirar. Essa é a segunda condição. O calor (humano ou não) deve ser uma constante no metrô legal. O suor e os odores também. Metrô sem fedor não é metrô. Por isso, se você deseja utilizar esse transporte, por favor, não tome banho. Se possível não escove os dentes também. Abra bem os braços para que todos possam usufruir do seu odor.
Agora que o ambiente está bem agradável, está na hora de usar o celular. Não; não queremos que você faça ligações, não agora. Basta ligar seu aparelho no volume máximo tocando uma música de gosto duvidável. Se ela for repetitiva e interminável, melhor ainda. Mas se você não estiver aguentando de curiosidade para saber aquele pedaço de novela que perdeu, então pode ligar para um parente ou amigo. Peço apenas que faça o favor de deixar todos os demais passageiros a par do assunto. Afinal, quem não assiste uma boa novela?
Com essas dicas acima, espero que sua viagem no metrô seja muito mais interessante e menos monótona. Viemos ao mundo para viver emoções e não há nada mais emocionante num metrô onde as leis da física (e do bom senso) inexistem.