Era uma vez um homem. Na verdade, ainda não era um homem, e sim um menino. Esse menino tinha um sonho. Infelizmente não era um sonho altruísta. Não era um sonho martinlutherkinguiano. Era um sonho egoísta e idiota. Um sonho piegas. Mas não deixava de ser um sonho.
O menino não sabia quando esse sonho surgiu, quando começou a ser engendrado na cabecinha oca de menino que ele tinha. Não fazia idéia se fora um filme, uma história, uma estória, um caso ou um causo. Teria sido um livro? Uma conversa com algum adulto? Não fazia idéia.
Bem, falemos do sonho. O menino queria ser um herói. Ele queria ser um príncipe encantado. E o grande problema desse menino é que ele nascera para ser príncipe. Tinha roupas de príncipe, lisos e compridos cabelos que, embora não fossem louros, eram de um castanho bonito. Seus olhos, mesmo não sendo azuis ou verdes, eram expressivos. Era um belo menino, talentoso, que sabia cantar, escrever poesia, fazer música, falar coisas bonitas. E também tinha um bom porte físico.
Ele tinha tudo para ser um príncipe. Só não tinha a coragem.
Esse ingrediente essencial faltava ao pequeno príncipe. Ele não acreditava que um dia seria um herói. Bem que ele o queria, mas não acreditava e tinha medo de acreditar e se decepcionar.
Por isso, escolheu o caminho mais fácil: se decepcionar de primeira, sem esforço ou coragem. Ele caminhou, cantou, enfrentou dragões, salvou princesas, conquistou reinos, mas sempre acreditando que era algo inferior, desprovido de qualquer heroísmo. E com isso se rebaixou. Deixou de fazer música, deixou de escrever poesia. Seu olhar triste e desesperado afugentou a beleza do seu rosto. A preguiça fê-lo gordo e letárgico. Deixou de ter vocação para ser príncipe.
E o menino triste continuou seu caminho, agora arrastando-se, acreditando na mentira que ele mesmo formulara para poder sentir pena de si mesmo. Talvez para se lamuriar diante de outros e ouvir comiserações, talvez para manter bem seguro o medo que lentamente o devorava por dentro. Talvez porque no fundo nunca tivera vocação para principados e heroísmos, e todos aqueles talentos eram reflexo de um outro que ficara perdido dentro de si, e que nunca foi capaz de realmente nascer.
seu post lembra muito a discussão que a Fefa trouxe a partir de um trecho d' O Diário de Anne Frank.
ResponderExcluirTadinho do menino...é muita coisa que colocam na nossa cabeça mesmo...
Peter Pan fez trinta anos : descobriu que Capitão Gancho foi só um sonho.
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ResponderExcluirNossa Nerito, isso parece tanto o lamento de uma pessoa que deixou de viver seus sonhos para viver o sonho dos outros... Chega a dar um nó na garganta.
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