Ana Maria Gonçalves e Marcelino Feire são gigantes da literatura atual. Estar entre eles fez com que eu me sentisse ainda mais pequeno. Um vale entre duas montanhas.
Evocando o termo "Oralitura", muito pesquisado pela professora Leda Martins, homenageada pelo Festival, Ana Maria falou muito sobre as vozes de sua realidade como uma pessoa filha de mãe negra e pai branco. Contou como a figura da contadora de histórias formou nela a consciência de também ser uma contadora de histórias.
Da mesma forma, Marcelino Feire destacou como sua infância em Pernambuco é de fundamental importância para sua literatura. Marcelino deu um espetáculo ao recitar de memória trechos de seus textos, em especial o conto "Totonha". Relembrando a figura de sua mãe e de uma tia, o escritor assinalou como essas vivências são fundamentais em sua palavra escrita e falada.
Além das vozes, os corpos também foram destacados. Ana Maria Gonçalves apontou o corpo negro como fronteira e a importância da evidência desse corpo, muitas vezes apagado, tratado como invisível. Assim, a escritora defendeu o papel das políticas afirmativas para evidenciar esses corpos como próprios e pertencentes a todos os lugares. O acesso às universidades, antes quase que exclusivas a brancos, seria um exemplo.
Já Marcelino ressaltou como, em sua literatura, é fundamental que a palavra passe por todo o corpo. Ao terminar de escrever, ele passa o novo texto pelo crivo da Leitura em voz alta. Durante a leitura, esse novo texto precisa passar por todo o seu corpo. Ele precisa sentir todo o corpo envolvido.
Destaco esses dois assuntos, entre tantos abordados. Esses, porém, foram os que mais me impactaram. Os mais frescos em minha memória. Foi um momento de muito aprendizado para mim. E espero continuar aprendendo.