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quarta-feira, outubro 05, 2022

Alegorias

Samuel: Organizar quadrinhos é como descascar cebolas.

Rodrigo: É mesmo...

Samuel: Você descobre camadas atrás de camadas.

Rodrigo: Ah, tá. Pensei que você quis dizer que era um negócio que a gente faz chorando...

Samuel: É... também...

quinta-feira, outubro 28, 2021

Acerto de Contas

Sérgio recebeu uma inusitada visita em seu consultório. Um sujeito de meia-idade chegou anunciando ser deus. Se bem que ele disse ser aquele com "D" maiúsculo. Porém, por razões políticas, decidi grifá-lo com o "d" minúsculo.

Era um dia quente, daqueles que clamam por chuva. Sérgio praguejava por causa do ar-condicionado quebrado. Foi aí que entrou o homem que se anunciou "deus". Disse que estava lá para acertar uma pendência.

Irritado e incrédulo, Sérgio disse que estava trabalhando e que se não fosse um paciente, que se retirasse. Diante da recusa de seu interlocutor, o dentista correu até a sala externa ao consultório para brigar com a secretária. Como ela deixou um doido daqueles entrar?

Com a negativa da moça, que alegou não ter visto ninguém entrar, Sérgio pensou que estaria enlouquecendo.

Na verdade, "deus" realmente só era visível pra ele. O divino disse que estava lá para punir o dentista. Não por seu ateísmo corrente, sua atual incredulidade obstinada. Não pelo afastamento surgido no fim da juventude, nem pela postura niilista e zombeteira diante da vida. O homem, quando criança, havia caído na risada durante a aula de Ensino Religioso, após um colega fazer piada com o Espírito Santo.

Sérgio bem se lembrava. Tendo crescido em uma família terrivelmente evangélica, passara noites em claro, chorando, com a certeza de que havia sido condenado ao inferno, já que, ao rir de uma blasfêmia contra o "espírito de deus", teria sido cúmplice e não teria perdão.

O dentista abandonou o consultório, sendo seguido por "deus". Tentou evitar o confronto. Afinal, era "deus". O problema foi que o todo-poderoso não saiu de perto de Sérgio, não deixava o pobre homem em paz. E mais ninguém via o cujo. Como um amigo invisível inconveniente, ficava falando e falando, garantindo que só o deixaria em paz se ele o enfrentasse. 

Para dar um fim à tétrica situação, resolveu enfrentar "deus" no braço. A cidade subitamente se esvaziou  Em uma ponte, "deus" o aguardava. O tempo já não clamava, profetizava tempestade. Os dois se embateram no centro da ponte. Brigaram na chuva, durante um temporal que escureceu o mundo.

Sem acreditar, Sérgio conseguiu acertar um bom soco em "deus". Espancou o altíssimo. Arrancou-lhe os dentes na base do soco e viu um arco-íris surgir no céu, enquanto "deus" desaparecia em uma nuvem de contradição.

quarta-feira, agosto 11, 2021

Perfeita




Você me pergunta

o que eu acho

Se esse cheirinho rançoso

Vem mesmo de você

Eu digo

Você é perfeita

Não peida

Nem caga 

Impossível pra você

Ter que se agachar 

para mijar.

Você 

Como toda princesa Disney

vive à base

de Prana.


Dedicado à Pam e nossos divertidos cafezes da manhã.


sexta-feira, maio 07, 2021

Finalmente, o leite - A história da história num mirabolante jogo


Ninguém pode negar a inventividade do escritor britânico Neil Gaiman. Famoso pela obra em quadrinhos Sandman, que repaginou um herói esquecido, Gaiman há muito tempo já escrevia, sendo um autor premiado de diversos contos, bem como de romances aclamados, como Os Filhos de AnansiDeuses Americanos e Coraline, entre muitos outros.

Quando Finalmente, o leite caiu em minhas mãos, fiquei muito animado para ler. Afinal, sou admirador dos trabalhos de Gaiman, em especial sua obra literária. Sendo assim, quando a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH recebeu um exemplar doado pela Letícia Pimenta, criadora do Clube do Livro BH, fiquei muito animado para ler.

Confesso que é de longe o menos interessante que eu li, de todos o de Gaiman. O pai "inventa" uma  história mirabolante e nonsense para justificar a demora em retornar do mercado para os filhos (uma menina e um menino) colocarem no cereal durante o café da manhã.

Existem duas grandes piadas no livro. A primeira é sobre o tempo, havendo paradoxos temporais e viagens no tempo que os provocam. A segunda(que deveria ter sido a primeira) é a metanarrativa. O livro tem um primeiro narrador (o filho), que escuta do pai a aventura. Sendo assim, estamos lendo a narrativa da narrativa, com o acréscimo da interlocução da irmã, que faz brevíssimos comentários ao longo do desenrolar da história.

Dessa forma, o livro é um enorme faz-de-conta, ao mesmo tempo que é um conta-e-faz, em um emaranhado de ideias mirabolantemente ridículas de um pai meio picareta que só sai para comprar o leite dos filhos porque de fato ele quer um pouco dele para o seu chá. O livro conta com piratas, dinossauros, alienígenas, além de outros perigos. Todos esses perigos sendo um prato cheio para crianças.

Com muito humor e doses cavalares de falta de noção, Finalmente, o leite é mais uma das provas da enorme - e ao que parece - inesgotável criatividade de Neil Gaiman. Além de ser uma excelente dica para crianças interessadas em tudo que uma criança pode se interessar. E um pouquinho mais.


Ficha Técnica

Felizmente, o Leite

Neil Gaiman

Desenhos de Skottie Young

ISBN-13: 9788579802591

ISBN-10: 8579802598

Ano: 2016 

Páginas: 128

Idioma: português

Editora: Rocco Jovens Leitores

Perfil do livro no Skoob: 

sexta-feira, fevereiro 05, 2021

O guia do mochileiro das galáxias - humor e criatividade na dose de uma dinamite pangalática


NÃO ENTRE EM PÂNICO. Acredito que essa frase é muito útil em inúmeras situações. Seja em momentos em que a gente descobre que perdeu as chaves de casa em uma sexta-feira depois daquela saideira do bar. Ou então ao descobrir que não viu aquele e-mail do chefe, enviado uma semana antes, mandando fazer aquela tarefa "pra ontem". Ou até mesmo em casos de inevitável demolição de um planeta para a construção de uma via expressa hiperespacial.

Essa é a frase de ordem estampada na capa do mais famoso e prestigiado guia de viagens do universo, O guia do mochileiro das galáxias. Não é por nada que ele também empresta o nome a um dos livros mais inventivos de nossos tempos. Escrito por Douglas Adams, o livro dá início a uma saga de cinco volumes narrando as desventurosas aventuras do inglês Arthur Dent, seu "parça" Ford Prefect, o mais humano dos alienígenas, dentre outras excêntricas personagens. Uma delas é Marvin, o robô maníaco-depressivo. Outra é Tricia Mcmillan, ou Trillian, a ousada astrofísica e companheira Zaphod Beeblebrox, um bon vivant totalmente caótico que, após alcançar o cargo de presidente da galáxia, orquestra um dos maiores roubos da história do universo.

Com tudo o que já foi dito, é possível ter uma leve ideia do que encontrar em O guia do mochileiro das galáxias. Antes de tudo, trata-se de uma narrativa repleta daquele humor crítico em que o mundo da ficção científica funciona como uma alegoria da contemporaneidade. Douglas Adams utiliza-se de conceitos complexos da astrofísica, da filosofia e até mesmo da literatura para tecer suas refinadas e deliciosas críticas.

Outro ponto interessante na narrativa é que Arthur Dent, improvável protagonista, surge para negar a jornada do herói. Como uma espécie de "Ulisses de araque", ele passa a maior parte do tempo sem fazer a mínima ideia do que está acontecendo. Claro, sua reação poderia ser proveniente do choque de ter o seu planeta natal transformado em vapor. Porém, muitos anos-luz serão percorridos até que o impossível herói dessa saga espacial terá o mínimo de noção do que está acontecendo e qual o seu papel no universo.

Não é preciso falar muito para atestar a maestria de Douglas Adams ao conceber sua "Odisseia Galáctica". O trabalho magnífico desse grande escritor é mundialmente conhecido. Porém, é sempre bom reafirmar a importância de um clássico como esse. Afinal, nele está contido um dos maiores mandamentos do Universo: NÃO ENTRE EM PÂNICO.


Ficha Técnica

O guia do mochileiro das galáxias

Douglas Adams

ISBN: 9788599296943

Editora: Sextante

Ano: 2010

Páginas: 156


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-guia-do-mochileiro-das-galaxias-225ed344547.html

quarta-feira, janeiro 13, 2021

Vídeo: O mal do Lobo Mau - Cláudio Fragata e Luiz Maia



Um lobo doente e uma ovelha enfermeira. Isso só pode dar confusão. Acompanhe as peripécias do lobo adoentado. Será que ele sara ou não? E o que será da ovelha se ele resolver fazer uma refeição?


Ficha Técnica:


"O mal do Lobo Mau"

Claudio Fragata

Luiz Maia

ISBN-13: 9788538520269

ISBN-10: 8538520261

Ano: 2009 

Páginas: 24

Idioma: português

Editora: Positivo




Mais histórias e poesias em: http://www.oguardiaodehistorias.com.br/

sexta-feira, abril 03, 2020

É m livro - Humor e reflexão no passar das páginas

Ontem, dia 2 de abril de 2020, foi comemordo o Dia Internacional do Livro Infantil. A data foi escolhida em ocasião do nascimento de Hans Christian Andersen, um dos maiores nomes da literatura infantil e dos contos de fadas do mundo. Para não deixar a data passar batido, resolvi então falar sobre o próprio livro em si, através do engraçado e criativo É um Livro, de Lane Smith.

Um macaco está sentado, tranquilamente lendo seu livro. Até que um burro se aproxima e pergunta o que ele tem em suas mãos. "É um livro" - responde o macaco. Começa assim um engraçado diálogo em que o burro, um entusiasta da tecnologia, tenta entender um objeto que não entra na internet, não acessa o Twitter, não manda mensagens, não precisa de senha, log in e nem de bateria.

Através do divertido diálogo, o objeto livro é apresentado ao leitor, num divertido jogo de significados. Este objeto vai sendo apresentado justamente pelo que não é, mediante o contraste com as características que smartphoes e gadjets ostentam ao serem operados por seus usuários.

E interessante observar o traço suave de Lane Smith com desenhos longos e arredondados, algo que a pesquisadora Yolanda Reyes aponta como elementos visuais atrativos para os bebês e demais pequenos leitores. As texturas remetem ao giz de cera, tão comum em atividades artísticas infantis.

Outro ponto a se observar é a homenagem que o autor faz à literatura universal ao mostrar qual livro o macaco está lendo. Ao mesmo tempo, ele faz uma brincadeira com a linguagem abreviada que os jovens utilizam para trocar mensagens.

Vale também apontar o aspecto interativo que o livro tem em si. E não estou falando apenas do alvo desta resenha. Ao observarmos como os bebês manuseiam os livros, podemo perceber que há nestes objetos características interativas que representam a própria ideia de tempo e sucessão. As páginas podem ser passadas, pode-se adiantar e retornar nas mesmas. Todo livro é antes de tudo um brinquedo.

Com um humor inocente e desenhos que primam pela estética, sem perder a jovialidade, É um Livro certamente é um boa pedida para ser o primeiro livro de alguém. Seja este alguém de qualquer idade.



Ficha Técnica
É um Livro
Lane Smith
ISBN-13: 9788574064512
ISBN-10: 8574064513
Ano: 2010
Páginas: 32
Idioma: português
Editora: Companhia das Letrinhas


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/e-um-livro-132166ed146594.html

quarta-feira, março 25, 2020

Picardias evangélicas

Sou de família evangélica. Por isso, passei boa parte de minha juventude em eventos e atividades da igreja, como acampamentos, gincanas e excursões. Quem imagina que esses encontros eram o exemplo da espiritualidade muito se engana. 

Em uma igreja que frequentei em minha adolescência, Batista, havia o costume de alguns jovens fazerem um mural de fotos com os flagras inusitados. Lembro que tiraram uma fotografia em que eu estava agachado, enquanto batia a mão na parte de trás da bermuda. Na legenda, havia algo assim: "Acho que aquela plantinha que usei pra me limpar era urtiga".

Os chamados acampamentos eram sítios alugados durante os feriados prolongados onde nós, adolescentes e jovens, nos divertíamos. Sim, havia culto, oração e estudo bíblico, mas também muita piscina, futebol, peteca e brincadeiras. Algumas eram mais inocentes, como as brincadeiras de roda. Outras, de iniciativa dos mais debochados do grupo, poderiam ser até um pouco nojentas.

Tenho a lembrança, por exemplo, de um colega de igreja, um dos mais populares entre as meninas, que à noite ficava enrolado em um cobertor, andando de um lado para o outro. Quem não o conhecia ignorava que ele estava soltando puns. Ele então se aproximava se alguém mais distraído e abria o cobertor, liberando a fedentina. 

Havia também aqueles que estavam determinados a não deixar as outras pessoas dormirem. Eram piadas, sons estranhos, gargalhadas e deboches. E de repente a conselheira dos jovens, filha do pastor, aparecia, chamava à atenção, brigava. Ficavam todos em silêncio, como se nada tivesse acontecido. Bastava ela dar as costas para tudo recomeçar.

As noites podiam ser também perigosas para quem não estivesse preparado. Dormir a sono solto podia significar acordar no dia seguinte com o rosto todo rabiscado ou coberto de pasta de dente.

Os congressos imauguravam os relacionamentos. Realizado pelas igrejas batistas de Venda Nova, reunia um número enorme de jovens em alguma escola da região. Acontecia no Carnaval e era o evento mais badalado do ano. 

Uma brincadeira chamada "Viuvinha" muitas vezes estabelecia as dinâmicas das paqueras. E ai de quem não fosse popular e se arriscasse a participar da brincadeira. Tomava chá de cadeira. 

O acontecimento mais curiosamente engraçado de que tenho lembrança, porém, ocorreu em minha infância, em um evento em que eu não participei, mas testemunhei de camarote. Eu morava em Teófilo Otoni e frequentava a Primeira Igreja Presbiteriana naquela cidade. 

Havia um grupo de adolescentes que, se não me falha a memória, gostavam de se chamar "os ratões", ou algo parecido. Eram grandes e fortes. Sua brincadeira predileta era dar cintadas nos colegas, principalmente os mais fracos. Também gostavam de mudar as letras das músicas da igreja para versos de deboche. A música com o verso: "Solta o cabo da nau" virava: "Solta o arroto, animal".

Enfim, houve um final de semana em que os adolescentes dormiram na igreja, numa noite do pijama, de sábado para domingo. Eu, que ainda era da UCP - União de Crianças Presbiterianas - fiquei de fora. Meu irmão mais velho, porém, estava nesse retiro.

Era manhã de domingo. Em frente ao imponente templo, irmãs e irmãos da igreja, com roupas distintas e olhar sisudo, cumprimentavam-se e trocavam impressões sobre semana. Eram quase nove horas da manhã, quando teria início a Escola Dominical.

De repente, algumas pessoas começam a olhar para cima, sendo seguidas por outras. Mecanicamente, imito o gesto. Alguma coisa flutua no ar, descendo lentamente. Uma coisa leve, diáfana, ondeante, que só podia ter sido lançada da torre da igreja.

Era uma cueca. As pessoas seguiram com o olhar, em silêncio, aquela peça de roupa íntima, provavelmente usada, que algum adolescente havia lançado de uma das janelas da torre da igreja. 

As pessoas se aglomeravam ao redor do objeto. Ninguém se atreveu a pegá-lo. Nimguém se aproximou demais. Ninguém disse coisa alguma. As feições estavam mais fechadas, sérias. Eu, de tão surpreso, nem conseguia rir. Enquanto isso, todos permaneciam em roda, como que observando uma pessoa acidentada.

Uma melodia solene tocou, dando início ao culto. Todos nós entramos. Ninguém disse coisa alguma naquele momento. E nas semanas seguintes, o comportamento reprovável dos adolescentes foi repetido como exemplo a não ser seguido. A boca pequena, falavam que fora um dos ratões, um dos mais ousados, que tinha feito a façanha, mas sua identidade nunca foi revelada. E assim a vida voltou à sua normalidade.

O acontecimento mais marcante de minha infância na igreja evangélica foi uma cueca descendo do céu.

sexta-feira, março 20, 2020

Vídeo: Os três soldados e a princesa nariguda - Irmãos Grimm

Era uma vez três soldados já velhos, que foram dispensados pelo rei sem nenhuma aposentadoria. Assim, eles tiveram que...

Quer saber o resto? Assista! Este conto está no livro "Contos maravilhosos infantis e domésticos", dos Irmãos Grimm. Editora Martins Fontes.

Feliz Dia do Contador de Histórias!

Histórias de todos os cantos!

terça-feira, março 10, 2020

Vídeo: Uma historinha sem 1 sensentido - Ziraldo


Mais uma leitura feita. Desta vez, do Ziraldo. Quem me indicou este livro foi o Rodrigo Teixeira. Muito obrigado, meu caro!

Uma História sem 1 Sentido
Ziraldo
ISBN-13: 9788506056585
ISBN-10: 8506056586
Ano: 1994
Páginas: 24
Idioma: português
Editora: Melhoramentos

Perfil do livro no Skoob:

https://www.skoob.com.br/uma-historia-sem-1-sentido-266714ed299188.html

sexta-feira, setembro 27, 2019

Contando Histórias no FLI-BH 2019

Chuva. Em frente ao palco literário, uma tenda enorme abrigava algumas pessoas. Eu estava atrasado para o início da apresentação De lobo a bolo. A galera do Biqueira Cultural já estava a postos, para um sarau que aconteceria logo em seguida.

Apesar do nervosismo, fruto da insegurança, tudo foi maravilhoso. Contei Chapeuzinho Amarelo, O caso do bolinho e Um herói diferente. São as histórias mais contadas na apresentação que organizei. 

Depois que me apresentei, permaneci na tenda para participar do sarau. Fiquei encantado com a apresentação da poeta marginal e narradora de histórias IZA REYS, que narrou contos africanos.

Ter escuta é sempre um privilégio, principalmente em um mundo de silenciamentos, como o nosso. A oportunidade de ouvir também é fundamental. E fui agraciado com esses momentos. Que eles se repitam, seja no FLI-BH, seja em outros eventos e lugares.

Fotos de Ana Paula Cantagalli.





sexta-feira, setembro 13, 2019

Pinóquio e a mecânica do vazio

Jimmy Barata é um cara incompreendido. Ele não consegue se adequar ao modelo de trabalhador convencional, com uma rotina de trabalho repetitiva, embrutecedora. É um inseto com aspirações e muitas ideias. Seu sonho é ser escritor. Porém, a vida não correspondeu aos seus ideais. Alcóolatra e com problemas para se ajustar ao ambiente corporativo, de repente ele se vê desempregado e no fim de um relacionamento fracassado. Sua esposa o expulsa de casa justamente depois que ele é demitido.

Tudo parecia perdido quando, porém, Jimmy descobre um espaçoso apartamento todo em aço inox. Ao constatar que o imóvel está vazio e tem uma privilegiada vista para a pia, Jimmy resolve se estabelecer nesse novo imóvel e decide dar início à escrita do seu tão almejado romance.

Assim tem início a magnífica paródia de Pinóquio. Escrito e desenhado por Winshluss, esta graphic novel tem o enredo situado em um universo de conto de fadas decadente. Pinóquio narra o périplo de um menino de metal - não de madeira - indestrutível, movido por uma mente habitada por uma barata. Jiminy Cricket (Grilo Falante) soa como Jimmy Cockroach (Jimmy Barata), numa genial corruptela da famosa consciência do menino de madeira.

A narrativa é construída em um paralelo entre as andanças de Pinóquio, um robô criado pelo inventor Gepeto, e os dramas existenciais de Jimmy, seus problemas com a bebida e sua incapacidade criativa. A linha narrativa de Pinóquio, feita em cores e simulando a estética dos desenhos animados infantis, mostra um mundo perverso, de ladrões, estupradores, traficantes de órgãos, ditadores e fábricas de brinquedos movidas por crianças escravizadas. Já o universo de Jimmy é traçado em preto e branco, sendo mais "civilizado" e monótono, numa sátira clara à sociedade de consumo e ao homem comum pseudointelectual.

Outro ponto a ser destacado é que a narrativa protagonizada pelo robô Pinóquio, livremente inspirada no romance de Carlo Collodi, raramente conta com textos, sendo principalmente visual. Mesmo os diálogos são narrados com gestos e outros símbolos não verbais. Assim, é importante destacar a extrema plasticidade da obra de Winshluss.

Numa genial metáfora do homem-máquina contemporâneo, sem moral ou culpa, o livro nunca realizado de Jimmy Barata leva o título de Mecânica do Vazio, numa clara alusão à falta de sentido e à decadência dos ideais. Em uma iconoclastia icônica, o mundo de Pinóquio é como uma enorme máquina que move suas engrenagens em um perpétuo esgar de tédio e desespero. 

Ficha Técnica:
Pinóquio
Winshluss
Globo Livros

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/261936ED293518

quarta-feira, setembro 11, 2019

Semana da Educação - Espaço Contação de Histórias no Parque Municipal

De lobo a bolo: uns heróis bem diferentes

Narração de histórias para crianças de todas as idades. O repertório parte de textos literários consagrados junto ao público infantil, bem como narrativas da tradição oral.

Duração: 30 minutos

Público: infantil

19, 21 e 22 de setembro de 2019, às 13h30
Local: Parque Municipal Américo René Giannetti. Belo Horizonte. MG.



domingo, setembro 01, 2019

Bolsoriques #2

Bolsonaro é um parvalhão
Acha que pode tudo, mas não!
Estudantes unidos
Jamais serão vencidos
Aliados pela educação!

A ciência virou balbúrdia
Que coisa mais estapafúrdia
Ministro engraçado
Não é educado
Contra ele eu faço balbúrdia!

Um déficit de bolsa, imagina,
o problema é um "Bolso" lá em cima
Que não dá o valor
para o educador
Que o governo de hoje incrimina!

Bolsonaro sem nenhum pudor
Quer seu filho pra embaixador
Mas o tal de Eduardo
E um tirano mimado
Que só quer espalhar o terror!

sexta-feira, agosto 23, 2019

Uma Chapeuzinho Vermelho - As pequenas forças contra os grandes monstros

Uma menina sozinha em seu caminho. Dante dela, surge um lobo. Ele é enorme e está faminto. Essa menina, que veste um chapeuzinho vermelho, tem diante de si um perigo terrível.

Assim começa uma das histórias mais antigas do universo infantil. Readaptado e recontado diversas vezes, o conto Chapeuzinho Vermelho aparece em inúmeros formatos e releituras. Por causa de tantas versões, há que se pensar que o tema já esteja alcançando um certo esgotamento. 

Até sermos apresentados ao livro Uma Chapeuzinho Vermelho, de Marjolaine Leray. Trata-se de uma obra completa, com um texto que ganha em simplicidade e humor. Os traços são expressivos e dialogam abertamente com o universo infantil, uma vez que simulam os rabiscos que as crianças fazem com giz de cera.

O equilíbrio entre texto e imagem concedem à narrativa um caráter fortemente cênico. Enquanto lemos, estamos vendo uma tela em ação. Há muitos silêncios que são completados pela expressividade dos desenhos de Marjolaine Leray. 

As principais referências ao conto original estão lá, mas transformados em ganchos de humor e ironia. O lobo se torna totalmente caricato. Com seus dentões, seus olhos enormes e ferocidade, ele vai sendo desconstruído, diante de uma menina que não tem medo. Ou melhor, uma menina que sabe vencer o medo através da curiosidade e da malícia propriamente infantil.

Uma Chapeuzinho Vermelho também dialoga com o universo dos cartoons, ao apresentar uma heroína pequena e forte, diante de um vilão virtualmente superior. Ela não teme sujar as mãos e não se importa em usar da violência sutil diante de seu inimigo. E de mau, o lobo se torna bobo, ou melhor, bobinho. 

Em um tempo em que a força é alardeada e que as minorias são ridicularizadas por homens brancos e preconceituosos, Uma Chapeuzinho Vermelho é uma alegre lembrança de que ainda podemos rir dos monstros, estejam eles em florestas, palanques ou tribunas.

Ficha Técnica
Uma Chapeuzinho Vermelho
Marjolaine Leray
Ano: 2012
Páginas: 44
Idioma: português
Editora: Companhia das Letrinhas

terça-feira, agosto 13, 2019

Vídeo: Uma Chapeuzinho Vermelho - Marjolaine Leray


Que criança não vive a sensação de medo através da figura do famoso Lobo Mau? Ele é grande, forte, feroz e ruim até o último pelo. Aqui neste livro, ele continua sendo tudo isso, com a diferença de que a Chapeuzinho, além de muito esperta, não tem nenhuma compaixão pela fera. Uma coisa é certa, o final é surpreendente!

Ficha Técnica

Título original: UN PETIT CHAPERON ROUGE
Tradução: Júlia Moritz Schwarcz
Páginas: 48
Formato: 20.30 X 13.60 cm
Peso: 0.184 kg
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 20/04/2012
ISBN: 9788574065281
Selo: Companhia das Letrinhas

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40672

terça-feira, agosto 06, 2019

Vídeo: 20 disfarces para um homenzinho narigudo - Marcelo Martinez



A ideia de 20 disfarces para um homenzinho narigudo é proporcionar à criança uma brincadeira com o significado das linhas e das formas. A partir de uma base fixa – o homenzinho narigudo –, de muita imaginação e poucos traços, o pequeno leitor poderá “ver” figuras diferentes: "um carinha la da França", "um pintinho de mudança", "uma cobra equilibrista", "um elefante na piscina", e por aí vai. Ao fim do livro, uma nova aventura é proposta: quais figuras os pequeno leitor será capaz de imaginar sobre a imagem do homenzinho narigudo?

Ficha Técnica
Título: 20 Disfarces Para Um Homenzinho Narigudo
Autor: Marcelo Martinez
ISBN: 9788520932056
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Formato: 20 x 20
Páginas: 48
Ano de edição: 2013

quarta-feira, julho 03, 2019

Caldos, Causos e Violas - A força e o sabor da Palavra


Ninguém que me conhece duvida que eu valorize a Palavra. Dela eu tiro meu pão. Dela eu me acerco quando preciso de sentido para minha vida. Ela me alimenta em todos os aspectos. E não apenas a palavra escrita, mas também aquela que vive solta, nos ouvidos e bocas de pessoas que muitas vezes são ignoradas em suas escutas. Ainda assim, elas resistem e continuam a inventar sentidos e temperos para nossa fala e, muitas vezes, também para nossa escrita.

Nos dias 14 e 15 de junho Belo Horizonte foi o centro de uma roda de palavras e sabores. Idealizado pelo Instituto Abrapalavra, foi um evento intimista e singelo. Ocorrido em uma biblioteca e em um espaço cultural, tinha o aconchego e a acolhida como principais ingredientes.

Na manhã da sexta-feira, dia 14, a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH recebeu o grande Sebastião Farinhada. Com sua viola, ele cantou melodias de congado e compartilhou um pouco de sua vivência. Também falou sobre a importância da memória popular, da cultura do campo. Relatou os desafios na luta pela agroecologia. A roda de conversa aconteceu em conjunto do Encontro Semanal de Contadoras de Histórias.

Nós ouvimos, conversamos e comemos broa de fubá com café. Havia também água aromatizada com alecrim. Cada pessoa foi convidada a compartilhar uma memória afetiva de sabores de sua infância. Falamos de canjica, tropeiro, cuscuz, pé-de-moleque, doce de leite, fubá suado, canjiquinha e muitas outras delícias. Eu aproveitei para fazer menção a uma gostosura que conheci na época que morava em Teófilo Otoni.
As pessoas não costumam conhecer o chá de amendoim. Apesar do nome, ele não é feito com água, mas com amendoim cozido no leite. Ouvimos sobre gratidão, reverência à terra e à natureza. Cantamos e fizemos roda. Foi delicioso.

No sábado, à noite, a festa continuou no Espaço Suricato. Uma roda de causos aquecia nossos ouvidos e corações. Os caldos aqueciam o paladar da gente. Com o sal dos caldos, o adocicado das narrativas bem-humoradas contrabalançava esse momento tão saboroso. O mestre de cerimônias era ninguém mais que o próprio Sebastião Farinhada, que encerrou a festa com sua viola e a melodia Calix Bento. Caí na dança.

Mais uma vez saúdo a equipe do Instituto Abrapalavra, nas pessoas de Aline Cântia, Chicó do Céu, Fernando Chagas, Paula Libéria e Sheila Oliva. E também a interpretação em LIBRAS de Dinalva Andrade.

As palavras, canções e causos ainda embalam minha mente e meus ouvidos. Esses dias de junho estarão gravados em minha memória com esse espetáculo de cores, sabores e vozes. Que essas vozes continuem ecoando e nós sejamos sempre atentos a elas. Que as palavras continuem a alimentar nossas almas nesses tempos em que a fome parece querer tragar até mesmo a esperança.