Mostrando postagens com marcador Palavras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Palavras. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, maio 22, 2020

Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo - Para aqueles que ainda virão

Em um dos primeiros momentos do curso Infâncias e Leituras, tive a oportunidade de assistir mais uma vez ao filme Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo (The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore). Já de início afirmo que sempre encaro com entusiasmo as oportunidades de assistir a esta animação, tão singela e preciosa, que não raro arranca lágrimas de meus olhos.

Este filme é um dos mais incríveis que já assisti. Foi maravilhoso poder vê-lo novamente. Trata-se de uma narrativa fantástica, com alto grau de simbolismo e que apresenta uma narrativa muito clara e bem amarrada. Nela, Modesto Máximo (Morris Lessmore) é arrancado de sua vida comum e de suas palavras por um desastre que desarrumar todo o seu mundo. Suas cores são perdidas, sua voz é silenciada, o livro que representa a sua vida perde as palavras e se torna vazio.
O que parecia não ter conserto logo se mostra repleto de possibilidades. Modesto encontra um livro que o leva a uma casa de livros. 

Enquanto trabalhei na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, gostava de brincar com os livros como se estes fossem pássaros. Creio que eu tenha sido inspirado pelo filme. Ou talvez a analogia já estivesse em mim há mais tempo. O fato é que o filme usa dessa metáfora, ao mostrar os livros voando, com suas páginas abertas.

Apenas o livro da vida de Modesto Máximo não voa. 

A imagem dos diversos livros, de várias formas e tamanhos, adejando graciosamente é um espetáculo à parte. E justamente um desses livros passa a fazer o papel de companheiro de Modesto.

Não vou adiantar muita coisa do filme, pois acho que assisti-lo sem muitas informações preliminares, descobri-lo com um primeiro olhar é uma aventura ímpar a meu ver. Portanto, peço que só leiam os próximos parágrafos quem já tiver assistido ao filme.

Achei muito interessante que o livro que levou o protagonista para a casa dos livros não foi o mesmo que guiou a garotinha ao final da narrativa. Ou seja, cada um de nós tem o seu livro, aquele que podemos chamar de completamente nosso. O livro que nos apresenta aos demais, que nos encanta pela primeira vez. 

Também foi lindo observar que o senhor Modesto Máximo não foi embora sem antes deixar um pedaço de si, uma parte de sua história, ou toda a sua história. Seu livro agora havia ganhado vida, passando a ser mais uma das entidades encantadas que voavam pela casa dos livros. 

Da mesma maneira, somos convidados, pela leitura e pela escrita, a deixar nossas marcas, nossas pegadas através das palavras e traços, como nosso testemunho para aqueles que ainda virão.


domingo, maio 17, 2020

Vídeo: Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano - Ana Martins Marques



Hoje declamo o poema de Ana Martins Marques presente em "O livro das semelhanças":

Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano
quantas cidades para chegarmos a esta cidade
e quantas mães, todas mortas, até tua mãe
quantas línguas até que a língua fosse esta
e quantos verões até precisamente este verão
este em que nos encontramos neste sítio
exato
à beira de um mar rigorosamente igual
a única coisa que não muda porque muda sempre
quantas tardes e praias vazias foram necessárias para chegarmos ao vazio
desta praia nesta tarde
quantas palavras até esta palavra, esta


Mais histórias e poesias em: http://www.oguardiaodehistorias.com.br/

quarta-feira, maio 13, 2020

Muito ainda para refletir

Quem tem acompanhado o blog pode observar que minhas últimas reflexões tiveram o olhar sobre as infâncias, suas leituras e os espaços em que elas se atravessam. Ressalto que as reflexões foram motivadas pelas atividades do curso Infâncias e Leituras, realizado pelo Polo Itaú Cultural, em parceria com o Laboratório Emília de formação. 

Refletir e escrever sobre o tema abordado foi muito proveitoso para mim. Destaco o exercício de retorno às origens e memórias de leituras iniciais, o que reforçou ainda mais minha identidade como leitor, escritor e mediador de leitura. Ao final de cada atividade proposta, predominava o sentimento de gratidão pela oportunidade ímpar desse mergulho no passado, o qual proporcionou um melhor entendimento de mim mesmo, de meus propósitos e sentidos na vida.

Reforço que muito mais há para falar e explorar a partir das anotações feitas durante o curso. Continuarei a compartilhá-las aqui e conto com as leituras das pessoas que aqui comparecem, para podermos expandir ainda mais nossos horizontes. 

quarta-feira, abril 22, 2020

Sobre os lugares da palavra e do corpo na mediação da leitura com crianças pequenas

Já mencionei aqui que participei do curso Infâncias e Leituras. Foi um momento de rico aprendizado, de reflexão sobre o meu fazer e os ideais que o impulsionam. Assim, um dos desafios propostos pelo curso foi pensar sobre a relação entre palavra e corpo na mediação de leitura, seus atravessamentos e transversalidades. Sendo assim, fomos convidados a pensar nesse encontro a partir do conceito de lugar. Reuni aqui as reflexões que foram estimuladas a partir do questionamento do curso.

Lugar é uma palavra interessante. Diferente de espaço ou mesmo território, ela atrai para si um sentido de subjetividade. No caso desta reflexão, não estamos falando de lugar físico, mas simbólico. Sendo assim, quando falo de palavra e de corpo, quais sentidos eles evocam quando penso especificamente da mediação de leitura?

Na minha experiência como mediador, a palavra e os livros são elemento fundamental para serem inseridos no cotidiano das crianças. E quando falo palavra, refiro-me também à oralidade, com as brincadeiras com os sons, com o silêncio, com o ritmo entre eles. Sempre fui um brincante com as palavras, invertendo-as, mudando as sílabas de lugar, inventando novas, explorando suas possibilidades cômicas a partir de trocadilhos e piadas. Assim, busco sempre uma conexão com as crianças pequenas a partir das possibilidades lúdicas que a palavra traz.

O corpo, para mim, já é um desafio. Mais recentemente, tenho descoberto a importância da memória corporal e da exploração sensorial para a construção de sentidos. Assim, trata-se de um desafio trazer o corpo para minha prática como mediador de leitura.

Sabemos que as crianças aprendem com todo o corpo. O desenvolvimento da criança se dá de forma sinestésica, a partir da exploração sensorial do mundo. Ainda mais quando estamos falando de crianças pequenas. Ao ter contato com um objeto, o primeiro impulso da criança é levá-lo à boca. E não apenas isso. Ela irá sacudi-lo, para tentar extrair do objeto algum som. Irá manuseá-lo de várias formas. A criança pequena é acima de tudo uma exploradora.

Em 2019, tive dois momentos que me fizeram refletir profundamente sobre o papel do corpo na construção da memória e dos sentidos. Em minha trajetória, busquei sempre privilegiar a palavra, escrita e falada. Porém, pouca ou nenhuma importância dava para o corpo em meu trabalho como mediador. O primeiro encontro que me fez repensar minha posição foi com a pesquisadora Lydia Hortélio, no dia 23 de setembro, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Outro encontro foi no dia 2 de outubro, com a artista Lenna Bahule, na Terceira Candeia: Mostra Internacional de Narração Artística. Em uma noite poderosa e transformadora, aprendi o poder da memória corporal como expressão da ancestralidade.

Assim, de encontro em encontro, vou inaugurando novos lugares para o corpo e para a voz. Vou reaprendendo a ser criança, a observar e conhecer meu próprio corpo, minha própria memória. E desta forma vou me redescobrindo mediador. Muitos são os desafios, ainda. Porém, desafios que mais me estimulam que amedrontam. É maravilhosoUm mundo inteiro para aprender.

quarta-feira, agosto 28, 2019

Caleidoscópio: meus poemas dos anos 20

photo taken by H. Pellikka
Minha relação com a escrita poética é bem antiga. Lembro-me de ter arriscado versos e rimas lá pelo fim da infância. Eram versos que falavam do tempo e da ansiedade que ele traz. Infelizmente, esses versos não sobreviveram à minha adolescência.

Quando comecei a cursar Letras, tentei novamente. Experimentei sonetos, rimas e versos livres. Quase tudo foi abandonado lá pelos 25 anos. Diferente dos versos da minha infância, esses poemas foram, em sua maioria, preservados. 

O único problema é que eu não compartilhei a maior parte desses poemas. Ainda assim, não fui capaz de destruí-los. De uns anos pra cá, eu os reuni em um quase livro, que batizei de Caleidoscópio, o mesmo título do meu poema preferido dessa época. Alguns amigos leram, fizeram comentários e sugestões. 

Atualmente, esse livro está em processo de publicação. São poemas antigos, ingênuos, que mostram um pouco da carne que há além da minha pele. E continuo querendo divulgá-los. 

Vou compartilhando aos poucos esses poemas por aqui, com a hashtag #Caleidoscópio. Será como postar fotos antigas, daquelas que mostram como bonitinhos - e desengonçados - a gente costuma ser, quando jovem.

Convido aos interessados que acompanhem em meu blog possíveis desdobramentos, como um lançamento futuro. Podem conhecer todos os poemas do futuro livro na Página do Projeto Caleidoscópio. E conto com vocês para torcerem por mim - e pelos poemas também.

sábado, julho 20, 2019

Oração a Nossa Senhora das Travestis

Em apoio a todas as pessoas que participam da Academia Transliterária, compartilho com vocês a Oração a Nossa Senhora das Travestis, que foi censurada na Virada Cultural de Belo Horizonte.


quarta-feira, julho 03, 2019

Caldos, Causos e Violas - A força e o sabor da Palavra


Ninguém que me conhece duvida que eu valorize a Palavra. Dela eu tiro meu pão. Dela eu me acerco quando preciso de sentido para minha vida. Ela me alimenta em todos os aspectos. E não apenas a palavra escrita, mas também aquela que vive solta, nos ouvidos e bocas de pessoas que muitas vezes são ignoradas em suas escutas. Ainda assim, elas resistem e continuam a inventar sentidos e temperos para nossa fala e, muitas vezes, também para nossa escrita.

Nos dias 14 e 15 de junho Belo Horizonte foi o centro de uma roda de palavras e sabores. Idealizado pelo Instituto Abrapalavra, foi um evento intimista e singelo. Ocorrido em uma biblioteca e em um espaço cultural, tinha o aconchego e a acolhida como principais ingredientes.

Na manhã da sexta-feira, dia 14, a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH recebeu o grande Sebastião Farinhada. Com sua viola, ele cantou melodias de congado e compartilhou um pouco de sua vivência. Também falou sobre a importância da memória popular, da cultura do campo. Relatou os desafios na luta pela agroecologia. A roda de conversa aconteceu em conjunto do Encontro Semanal de Contadoras de Histórias.

Nós ouvimos, conversamos e comemos broa de fubá com café. Havia também água aromatizada com alecrim. Cada pessoa foi convidada a compartilhar uma memória afetiva de sabores de sua infância. Falamos de canjica, tropeiro, cuscuz, pé-de-moleque, doce de leite, fubá suado, canjiquinha e muitas outras delícias. Eu aproveitei para fazer menção a uma gostosura que conheci na época que morava em Teófilo Otoni.
As pessoas não costumam conhecer o chá de amendoim. Apesar do nome, ele não é feito com água, mas com amendoim cozido no leite. Ouvimos sobre gratidão, reverência à terra e à natureza. Cantamos e fizemos roda. Foi delicioso.

No sábado, à noite, a festa continuou no Espaço Suricato. Uma roda de causos aquecia nossos ouvidos e corações. Os caldos aqueciam o paladar da gente. Com o sal dos caldos, o adocicado das narrativas bem-humoradas contrabalançava esse momento tão saboroso. O mestre de cerimônias era ninguém mais que o próprio Sebastião Farinhada, que encerrou a festa com sua viola e a melodia Calix Bento. Caí na dança.

Mais uma vez saúdo a equipe do Instituto Abrapalavra, nas pessoas de Aline Cântia, Chicó do Céu, Fernando Chagas, Paula Libéria e Sheila Oliva. E também a interpretação em LIBRAS de Dinalva Andrade.

As palavras, canções e causos ainda embalam minha mente e meus ouvidos. Esses dias de junho estarão gravados em minha memória com esse espetáculo de cores, sabores e vozes. Que essas vozes continuem ecoando e nós sejamos sempre atentos a elas. Que as palavras continuem a alimentar nossas almas nesses tempos em que a fome parece querer tragar até mesmo a esperança.

quarta-feira, junho 26, 2019

Poesia em Turbilhão: Segundo ConVerso de LiteraRua


A Poesia é algo livre. Por vezes, tentamos encerrá-la em formas, mas ela acaba escapando. E o maravilhoso disso é que ela nos puxa para fora de nossa própria gaiola. Nos desconstrói e transforma, fazendo de nós parte dela, num turbilhão de sentidos.

Podemos ver esse fenômeno acontecer quando a Poesia deixa o papel e a tela para habitar as vozes e espaços. Eventos como o Segundo ConVerso de LiteraRua, que procurou celebrar a Poesia, especialmente Marginal.

O ConVerso de LiteraRua foi organizado e produzido pelo Circuito Metropolitano de Saraus.

Compareci ao Usina da Cultura no sábado, dia 15 de junho, às 9h. No centro do salão, cadeiras em roda em frente ao palco, onde algumas pessoas terminavam de fazer os últimos ajustes de som. Cumprimentei o bibliotecário, Diego Dávila, além de outras pessoas da equipe. Andei um pouco pelo espaço, timidamente observando o movimento que crescia.

A primeira roda de conversa, com o tema "Experiência do fazer em espaço público, direito à cidade e ocupação política" contou com a presença de Renato Negrão e Thais Kas. O mediador foi Rogério Coelho, que deu início com uma reflexão ao falar de LiteraTerra.

Negrão e Kas apresentaram suas vivências no fazer cultural e na difusão da poesia marginal. Foi muito interessante ver duas pessoas de perfis tão diferentes, uma da velha guarda e outra da geração mais recente de agitadores poéticos. Em dado momento, Renato passou um livro objeto de sua autoria e assinalou a importância de termos memória, de buscarmos os arquivos ainda vivos da poesia marginal da década de 1990.

Enquanto isso, Thais Kas falou sobre suas referências e os desafios atuais de sua poesia. Além disso, falou de seu amor pela produção, em especial nas ações da Coletiva Manas, da qual faz parte.

Ao final da mesa, o Coletivo Terra Firme se apresentou. Em seguida, fiz um passeio pela feira e já adquiri alguns materiais independentes, zines e marcadores de escritoras que estavam expondo.

Houve então a pausa para o almoço. Aproveitei para escapulir e almoçar em casa. Não participei das atividades da tarde, embora desejasse muito, mas precisava de um descanso. Enquanto eu estava fora, ocorreram as oficinas "Criação de performance poética" pelo Nosso Sarau, de Sarzedo, e "Escrita Criativa-poética" do Sarau Biqueira Cultural, de Ribeirão das Neves.

Cheguei a tempo de pegar o início da segunda roda: "Formação de leitores e público por meio da LiteraRua marginal de Saraus & Slams em diálogo em escolas & Bibliotecas públicas", com Oliver Lucas, Norma De Souza Lopes, Rodrigo Teixeira e Marta Passos. Mediando essa galera estavam Joi Gonçalves e Bim Oyoko.

A fala foi rica e profunda, a partir de diversas visões. A abordagem acadêmica e conceitual de Marta Passos dialogou com a vivência de Norma de Souza Lopes, Oliver Lucas e Rodrigo Teixeira. Este último apresentou uma fala descontraída e repleta de humor, quase como um comediante de stand up. Norma enriqueceu a conversa ao apresentar seu extenso e exaustivo trabalho de mediação de leitura, assim como Oliver também o fez.

Ficou presente com força em minha mente a fala de Marta Passos sobre a política como a contestação da ordem estabelecida. Segundo ela, é o que a poesia marginal faz, sendo ela um dinâmico e transformador fazer político.

Infelizmente, perdi o show da banda Mascucetas, pois precisava ir ao evento "Caldos, Causos e Violas", no Espaço Suricato. Uma festa com sua própria história e que também fala de Arte e Resistência.

No domingo, cheguei cedo para a oficina "Confecção de Zines & Livros" pelo Coletivo Lanternas, de Venda Nova. O mediador, Digô, foi extremamente atencioso e paciente. Fiquei encantado ao ter em mãos dois novos cadernos para serem transformados em histórias e relatos.

No andar de cima da Usina, acontecia a oficina "Edição de vídeo-foto-poesia", pelo Coletivo Avoante, daqui mesmo de BH.

Saímos para o almoço e retornamos para a terceira roda: "Mercado Literário das editoras & feiras independentes, políticas de incentivo à cultura e a profissionalização da literarua marginal". Para discutir a questão, ouvimos Nívea Sabino, Flávia Denise, Jomaka e Walisson Gontijo. Foi uma conversa de desafios e identidades. 

Nívea contestou muito a lógica de uma profissionalização do artista marginal. Inclusive ela defendeu seu profissionalismo, e com muita propriedade. Flávia falou de sua pesquisa e do conceito incerto de "escritor independente". Sua fala me fez refletir, principalmente depois de ter escrito um texto abordando esse assunto. 

Jomaka então fez um poderoso relato de experiência como escritor trans e ativista na luta antimanicomial. Sua experiência é sofrida e angustiante, mas também encorajadora e potente.

A experiência de Walisson Gontijo, na criação da editora Impressões de Minas junto com Elza, foi muito rica e ajudou a vislumbrar um pouco esse cenário de feiras de editoras independentes a partir do olhar de um editor.

Ao final do dia, pudemos assistir a intervenção da Coletiva Manas, com performances de Lelê Cirino, Jéssica Rodrigues, Débora Rosa e Bruxa. Outras poetas se apresentaram quando o microfone foi aberto.

Aconteceram então plenárias para discutir as ações do Circuito. Não fiquei, pois estava exausto. Porém, deixei claro meu interesse em acompanhar os desdobramentos, como amante da poesia falada e dos saraus da Grande BH.

O evento foi potente, para mim. Reencontrei pessoas, conheci novas faces e fiquei encantado com os trabalhos e livros de muita gente que lá estava. Se pudesse, compraria tudo. E também fui impactado com as falas profundas e responsáveis de todas as pessoas envolvidas. Gostaria de saudar o envolvimento de toda a galera do Circuito Metropolitano de Saraus, em espacial de Camila Félix, DuduLuiz Souza e Vito Julião. E para todas as pessoas envolvidas. Foi maravilhoso estar nesse turbilhão poético!








sexta-feira, junho 21, 2019

Borda - sobre uma melancolia de luz

Por vezes, a Poesia nos pega pela mão e nos leva até a beira do precipício. Ela então nos convida a debruçar e olhar o vazio que existe lá embaixo. E se nos negamos a isso, ela nos pega pelas bochechas e nos faz olhar em seus olhos - onde veremos o mesmo vazio. Podemos até fechar os olhos, mas nós já entramos em sua dança, e ela nos conhece muito bem. É impossível sairmos imunes.

Foi assim que me senti ao terminar Borda, de Norma de Souza Lopes. A voz da poeta belo-horizontina me levou ao silêncio e ao vazio. Mas esse mesmo vazio escondia uma semente de múltiplas possibilidades.

Não há como ler a poesia de Norma e não se sentir um pouco ela. Afinal, ela vai deixando marcas de sua alma nos versos, como "metassinaturas". Sua história marca a palavra de seus Poemas como as cavernas com pinturas rupestres.

Há uma tristeza resignada em seus poemas. Não devemos confundir, porém, com conformismo. Sua resignação está mais para uma voz que admite seus silêncios, seus tropeços, sua condição. Mas nessa mesma resignação é firmada a trincheira da resistência e da luta.

Ainda que haja essa tristeza na maior parte dos poemas, algo como a certeza de que o Amor é miragem, há como que traços de luminosidade, apontando para uma esperança despretensiosa. A voz poética não quer ter razão. Apenas se permite sonhar, a despeito da dor, da angústia, do sofrimento e da rejeição.

Uma tristeza luminosa que nos aponta para o vazio e o escuro que em nós existe, enquanto nos convida a abraçar esse breu, fazer dele um ponto de calor e aconchego, onde possamos fazer brilhar nossa própria luz.

Ficha Técnica 
Borda
Norma de Souza Lopes 
Número de Páginas: 100
Formato: 14x21 
Editora Patuá

Aproveito para compartilhar aqui o vídeo em que eu declamo o poema "Tombo", que faz parte do livro:


segunda-feira, junho 17, 2019

Outra poética

Na falta de palavras novas,
reinvento as antigas.
Nada mudou, sequer uma vírgula.
Apenas meu olhar quer ser outro.
O tempo é minha única moeda
e nem assim posso usá-lo.
Cunhado estou por ele
como um ser de barro,
caviloso
imperfeito.
E ainda assim
tento completar os sentidos
que sequer compreendo muito bem.
Quem sabe, um dia,
alguém descubra algo que eu disse
e não sabia.

terça-feira, junho 11, 2019

quarta-feira, maio 15, 2019

Reflexões sobre um tempo póstumo

Para Felipe Diógenes e Rodrigo Teixeira

Pego o celular. Enquanto tento desbloquear a tela, vejo uma notificação para que eu relembre por fotos o mesmo dia um ano atrás. Cancelo a notificação e logo pulo para o editor de texto. Quero escrever, não lembrar. Ou melhor, quero lembrar, não me enganar com um conjunto de imagens digitais.

E logo me vem à mente um conjunto de imagens, nenhuma delas relacionada ao dia 23/01/2017. Não quero datas, são tão enganosas quanto nossa falsa noção de verdade, apoiada em conjuntos de cores e traços, geometria subliminar. Distrações compostas por fótons originados de telas eletrônicas, ou refletidos nas marcas queimadas em um papel quimicamente preparado.

Até mesmo as pegadas são um engano. Carcaças de um tempo que, de tão cruel, matou-se e nos deixou órfãos. Somos como um Zeus sem um Chronos para vencer, pois ele heroicamente já cumpriu a sua tarefa de se destruir.

Verdade apenas no esquecimento. Sejam símbolos, traços, entalhes, borrões, gravuras, tipos, todas essas marcas, pálidas tentativas de escapar ao Tempo e à Morte, todos apenas nos lembram como somos reféns desse mesmo tempo suicida.

Estamos todos mortos, apenas o momento ainda não se realizou em nós. E por isso eu não quero mergulhar em imagens. Quero testemunhar o meu passado evocando-o dentro de mim pela memória.

Por engano, pressiono a tecla errada e grande parte do que escrevi se perde. Incrível como o próprio ato de escrever que realizo agora reproduz o que estava tentando ilustrar. Apenas tentando. O pior de tudo é que tenho certeza que o melhor trecho deste texto estava na parte que se perdeu.

Assim, encerro apenas fazendo um pequeno epitáfio: 

Foi como um sopro 
que as palavras, 
destinadas para serem 
eternas, 
quebraram as pernas, 
tornando-se 
éter.


Oficina de Prosa Poética - 23/01/2018

segunda-feira, maio 13, 2019

Anseio

Para Pâmela Bastos

Na vontade
De seu beijo
Mora
Meu desejo
Na espera
De seu cheiro
Na carícia
De sua pele
Na doçura
De sua voz
No encanto
De seus olhos
Meu anseio
Se compraz

segunda-feira, maio 06, 2019

Renovando os caminhos e as ideias para a Mediação da Leitura

No dia 27 de abril de 2019, sábado, estive no Museu de Artes e Ofícios para participar do curso "E agora, o que fazer com a mediação de leitura e a formação de leitores?".

Ministrado por Aparecida Soares Carneiro, o curso foi um momento muito especial. A mediadora buscou integrar os participantes e, ao mesmo tempo, tirar cada um de nós de seu lugar de conforto. Fomos estimulados a refletir na ideia que temos de leitura literária e de sua mediação, construindo uma teia de significados a partir de nossas vivências e valores.

Alternando sua palestra com atividades dinâmicas, Aparecida nos levou a ficar em movimento, estimulou nossos sentidos, em especial nosso olhar, de forma que pudéssemos refletir sobre nossas visões e paradigmas. Desta forma, fomos convidados a repensar nossa ação como mediadores e, sobretudo, como leitores.

Tivemos um importante momento para que cada um de nós apresentasse seu trabalho e sua experiência. Assim, foi possível conhecer os projetos da Ong Casa da Árvore (BiblioArteLab, Instagram do projeto, ebook Caderno BiblioArteLab), realizados por Aluísio Cavalcante, com ações de mediação de leitura junto a jovens. Conhecemos a iniciativa de biblioteca literária realizada dentro da empresa Tambasa, por Juliana Marques. Conhecemos a experiência em ensino de Jovens e Adultos de Andréia Silva.  Por fim, fomos apresentados à consultoria em Projetos Educacionais, proporcionada por Patrícia Rocha, através da empresa Letra Pê.

Eu tive a oportunidade de falar acerca da minha experiência na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Mencionei as oficinas de Mediação de Leitura que realizei no âmbito da Fundação Municipal de Cultura, em especial a Oficina Livro-Minuto. Ao fazer referência sobre minha atuação como contador de histórias, tive o privilégio de narrar a história Uma questão de interpretação, da tradição oral italiana.

O curso chegou ao fim, mas todos estávamos animados e sedentos por mais. Eu senti minhas forças renovadas. Foi um momento marcante de construção de uma rede pautada na mútua admiração e no ideal comum de construir um futuro mais inclusivo e justo.

sexta-feira, maio 03, 2019

O livro das semelhanças - um envolvente labirinto de significados

Neste final de semana, terminei a leitura de O livro das semelhanças. Escrito por Ana Martins Marques, uma das maiores vozes da poesia contemporânea, este livro foi como um mapa que se desdobrava e cujas legendas iam mudando à medida que eu olhava novamente. Um mapa que ao mesmo tempo era um labirinto.

Ana Martins Marques é uma poeta premiada, vencedora de prêmios como o da Biblioteca Nacional. Porém, arrisco dizer que ainda assim nenhum prêmio faz jus ao seu trabalho artístico. Sei que não tenho qualquer credencial para auferir juízo de valor à poesia de alguém, a não ser a de leitor. Portanto, posso dizer que, para mim, Ana Martins Marques tem uma obra que ultrapassa a literatura e lança profundas raízes no campo da filosofia.

Sendo assim, os poemas que compõem O livro das semelhanças são profundos e equilibrados, ricos em vozes e sentidos. Como um prisma que decanta os espectros da luz, a poesia de Ana Martins Marques decanta a palavra em seus múltiplos sentidos.

Ficha Técnica
O livro das semelhanças
Ana Martins Marques
Companhia das Letras
Ano: 2015
Páginas: 112
Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-livro-das-semelhancas-516449ed523318.html

quinta-feira, março 01, 2018

A parte que falta - Uma ode ao que não está lá

Falta uma parte. Ele percebe essa falta. Mais que percebe: ele a vive. Uma ausência que tolhe seus movimentos, que define sua existência, que impulsiona seus atos, que influencia seus planos. Por causa dessa falta, ele empreende uma longa e incerta busca, sem ao menos ter certeza se alcançará êxito e encontrará aquilo que preencherá esse grande vazio, essa falta que molda sua identidade. Mas ele não está triste. Sente uma esperança inabalável, uma fé profunda de que a parte que lhe falta está lá, em algum lugar, a sua espera.

Assim começa o maravilhoso livro A parte que falta, do escritor norteamericano Shel Silverstein. Um personagem sem nome, redondo, que rola quase sem parar, pois precisa alcançar o seu objetivo. O protagonista dessa narrativa, quase como um Pac-Man, prossegue em uma incansável e ávida busca. Precisa estar completo, precisa preencher justamente aquela parte que falta, para que ele se torne um círculo e possa rodar livremente. 

Sua esperança move dentro dele uma canção, que ele entoa enquanto atravessa os mais diversos obstáculos e enfrenta inúmeros desafios.

Um dos elementos mais fortes no traço de Silverstein é a simplicidade e, ao mesmo tempo, a incrível fluidez de seus desenhos. Não é preciso um cenário complexo ou um personagem rebuscado. A roda incompleta que é o herói dessa história pode ser qualquer um, eu ou você, o que torna a identificação do leitor com o protagonista algo quase certo. Além disso, o texto é carregado de um humor leve e descompromissado, apesar da profundidade com que Shel Silverstein aborda esse tema. Dessa forma, o autor cria uma obra singela, única, em que imagem e texto produzem um ambiente que nos arranca risos e, ao mesmo tempo, pode nos fazer chorar a qualquer momento.

É impressionante como Silverstein consegue, com o mínimo de palavras e imagens, criar uma narrativa tão densa e, em contrapartida, leve como o voo de uma borboleta. Tal fato vem apenas comprovar a genialidade do mesmo autor de A árvore generosa.

Com uma poética simples e poderosa, traços mínimos e ao mesmo tempo incrivelmente expressivos, A parte que falta é um livro que se abre para dentro, convidando o leitor a experimentar a ambígua beleza que pode haver na incompletude.

Ficha Técnica:
A parte que falta
Shel Silverstein
Tradução de Alípio Correia de Franca Neto
Editora Companhia das Letrinhas

domingo, março 08, 2015

Caleidoscópio



Recolha em teu seio meus rostos
espalhados
espelhados
pelo prisma de teus olhos
Breves faces espectrais
ícones
soltos
em segundos que se apagam
qual velas trôpegas
e gotas arquejantes passageiras
não
quero mais que tudo
mais que quero
você
não
deixo
de querer-te
toda
inteira
e não diluída em momentos
quero você na pura essência
excelência
de mulher