quinta-feira, setembro 28, 2023

Leve um escritor para falar na sua escola



Meu nome é Samuel Medina. Sou escritor e contador de histórias. Atualmente, tenho seis livros publicados, entre obras infantis e juvenis. Tenho um longo percurso como mediador de leitura, realizando oficinas literárias em bibliotecas, escolas e centros culturais.

Atuo como mediador de leitura na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Nela, estou presente atendendo o público leitor, oferecendo dicas de leitura, mediando oficinas diversas e, é claro, contando histórias.

Tenho o interesse em visitar escolas, contando histórias e falando de meu percurso como escritor. Meu primeiro livro foi publicado quando eu tinha apenas 11 anos. Desde então, não parei de contar histórias, seja profissionalmente, como servidor público da área de cultura, seja como voluntário, visitando hospitais, creches, asilos, entre outros espaços de convivência.

Minhas obras publicadas são: 

O Medalhão e a Adaga (Multifoco, 2013)


Bildan é um jovem que perdeu seus pais ainda na infância, tendo crescido sem saber muita coisa sobre suas origens. Porém, tudo muda quando ele encontra uma misteriosa garota e um livro mágico, com uma mensagem secreta. Assim, o rapaz deverá atravessar uma terra repleta de magia e perigos, numa jornada desafiadora, rumo a grandes revelações sobre seu passado e sobre o sentido de sua existência.

Patos Selvagens (Baobá, 2014)


Há muitos mistérios sobre um lago assombrado pela imagem de uma bela jovem. Quando Nerito, um corajoso aventureiro, passa a se envolver com este enigma, decide lançar-se em busca de respostas. Qual será o seu destino? Acompanhe Nerito nesta emocionante jornada.

A Cidade Suspensa (Senhor da Lenda, 2015)


Kain, um misterioso viajante, chega à Cidade Suspensa com um objetivo secreto. Conseguirá ele vencer as forças que atuam na Cidade Suspensa e alcançar o que almeja? Acompanhe a enigmática viagem deste solitário estrangeiro.

Uma visita inesperada (A Mascote, 2020)


Mafalda é uma bruxa que gosta de cantar. E canta tão bem, que recebe uma visita que passa dias ouvindo sua música. Uma visita que, mesmo inesperada, vem para todos nós...

Aurora (Letramento, 2022) 


Em Aurora, acompanhando o narrador, Arthur, em sua jornada de descobertas e mistérios, o leitor é convidado a testemunhar essas transformações, enquanto um enigma ainda maior se descortina. A cada nova experiência, uma grande verdade é revelada. Conseguirá Arthur contar sua história?


O Viajante Cinzento (Letramento, 2023)


O Viajante Cinzento é uma obra de fantasia medieval, situado em um mundo mágico, com suas próprias regras e magia. Enquanto uma terrível maldição assombra o reino, Seridath se verá diante de um dilema: quem comanda quem? Será ele o mestre da espada ou apenas a sua marionete?


E então, vamos conversar? Entre em contato pelo e-mail neritosamedi@gmail.com para pedido de livros e convites para apresentações.




segunda-feira, setembro 25, 2023

A grande arte - Uma jornada de ação, erotismo e suspense



Mandrake é um advogado incomum. Ao invés de se ocupar em defender a as causas que assume, ele passa o tempo envolvido em conspirações, metendo o nariz onde não é chamado e se envolvendo com diversas mulheres.

O caso mais pitoresco que o advogado assumiu é a busca de uma fita de vídeo cassete, que parece matar todos aqueles que se envolvem com ela. Tudo começa com a narração da morte de uma prostituta. Seu assassino, após matá-la apertando-lhe o pescoço, escreve em seu rosto com uma faca a letra "P". Em seguida, um misterioso homem chamado Roberto Mitry comparece ao escritório de Mandrake e de seu parceiro, Wexler, solicitando que eles intermediassem a recuperação da fatídica fita cassete.

Curioso com a pessoa de seu cliente e com as circunstâncias envolvendo as mortes das supostas detentoras da fita, Mandrake se lança numa espiral de violência, loucura e vingança. Além de muito sexo.

A grande arte, livro de Rubem Fonseca, nos leva a uma narrativa estilo romance policial, em que os culpados são muitos, talvez até mesmo você, leitora ou leitor. A violência é crua, a linguagem direta e o estilo repleto de referências refinadas, embora bruto na linguagem.

Mandrake é um verdadeiro canastrão. Seja com seus charutos, seus vinhos ou suas paqueras, ele parece passar por todos os perigos incólume, ou quase. A morte parece amá-lo tanto quanto as mulheres, bem como o perigo.

Outra personagem importante é Camilo Fuentes, o boliviano indígena, grande e forte, dotado de um ódio frio contra o mundo, sobretudo contra brasileiros. Fuentes entra na narrativa como antagonista de Mandrake e alvo de sua vingança, até alçar-se ao grau de (anti)herói e improvável aliado.

Além de Camilo Fuentes, há um tritagonista nessa narrativa. Este é Thales de Lima Prado, um financista que também é chefe do crime organizado. É através dos supostos cadernos de Lima Prado que Mandrake completará a intrincada e enigmática narrativa, onde todos são suspeitos e ninguém é inocente.

Não posso me esquecer de mencionar também de José Zakkai, o Nariz de Ferro, que entra em guerra contra Lima Prado e vem a ser um improvável mas valioso aliado de Mandrake.

Há um problema de datação no texto, levando-se sem consideração que o mesmo foi publicado no início da década de 1980. Ainda assim, é muito incômodo ler Mandrake chamar pessoas pretas de crioulos ou menosprezar e caricaturizar a homossexualidade.

Apesar dessas questões delicadas, A grande arte foi uma jornada interessante. Uma leitura ágil e revigorante, uma narrativa repleta de ação, erotismo e suspense, onde no final suspeitamos de todos, até de nós mesmos.


Ficha Técnica

A Grande Arte

Rubem Fonseca

Ano: 1983 

Páginas: 296

Idioma: português

Editora: Francisco Alves


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-grande-arte-2401ed105755.html

quinta-feira, setembro 21, 2023

Raiva, Riso e Rima



No dia 25 de agosto de 2023, pela manhã, tivemos pela Biblioteca Pública Infantil e Juvenil a oficina Raiva, Riso e Rima: Construindo e Desconstruindo Pensamentos. Eu e o Wander Ferreira fomos os mediadores. O nome da atividade foi inspirado em um poema de Paulo Leminski. A oficina aconteceu no auditório do Centro de Referência das Juventudes e contou  com as presenças dos jovens da ASSPROM e da Rede Cidadã. 

Começamos perguntando o que é poesia. Uma jovem respondeu que é "toda forma de expressão". Gostamos da resposta e falamos que tudo que nos toca é ou tem poesia, seja um quadro, uma animação, um texto ou uma música.

E por falar em música, desde que os seres humanos se reuniam em pequenas comunidades e desenhavam nas pedras, a música já existia e, com ela, a poesia. Falamos da diferença entre poema e poesia, sendo aquela a forma textual e a outra a qualidade de arte que lhe confere o caráter de objeto artístico.

Abordamos a dicotomia entre literatura erudita e a popular, com as formas poéticas das Belas Letras, sendo alguns exemplos o soneto, a elegia, o epitáfio, o madrigal. Comentamos das exigências de rimas e métrica, com versos decassílabos, por exemplo.

Lemos alguns poemas para ilustrar a musicalidade que eles carregam. Em seguida, convidamos todas e todos a manusearem os livros que dispusemos na beira do palco. Eram alguns livros de poesia da Biblioteca e outros emprestados pelo Rodrigo Teixeira, que também contribuiu com o conteúdo da oficina e sua metodologia.

Depois que vários jovens leram em voz alta poemas dos livros, passamos à parte em que eles escreviam e em seguida compartilhavam seus textos com todo mundo. Todos participaram. Foram momentos de muita poesia! 

Considero que a oficina em questão foi um sucesso, com ampla participação, tanto dos jovens quanto dos monitores da ASSPROM e da Rede Cidadã. Esse evento foi parte da Semana das Juventudes.


segunda-feira, setembro 18, 2023

Capitão Fall celebra a discórdia, a maldade e a estupidez



A sexy e letal Liza Barrel tem um problema. Coordenando uma operação criminosa à bordo de um cruzeiro, ela precisa encontrar um bode expiatório perfeito para ser responsabilizado por todas as atividades ilegais sob sua autoridade. Já tentou vários excelentes capitães de cruzeiro, mulheres e homens talentosos que foram por fim presos e misteriosamente se mataram na prisão. Agora, ela procura alguém com o mínimo de qualidades. Uma espécie de anti-capitão, o pior aluno da história de todas as escolas de comando de cruzeiros.

Capitão Fall, animação da Netflix tem uma premissa simples: Jonathan Fall serve de testa-de-ferro para as operações criminosas comandadas pelo sombrio Sr. Tyrant e sua equipe. Fall é um fracassado capitão de cruzeiro e aproveita ingenuamente a oportunidade de comandar um cruzeiro.

Fall é estúpido, mas não apenas isso. É claramente uma pessoa com deficiência cognitiva. Espertos, apenas os vilões. Até mesmo a polícia da unidade especial que investiga os atos criminosos que ocorrem no cruzeiro Rainha do Caribe é estúpida e obtusa. 

A narrativa não faz muito sentido em certos pontos se levarmos em consideração que todas as personagens são odiosas e estúpidas. A própria Liza Barrel, interesse romântico de Jonathan Fall, por vezes parece querer matar envenenado o protagonista, por vezes parece comovida com o tratamento que a família do capitão dava a ele. Porém, ela não parece, em momento algum, comovida ou arrependida pelos atos monstruosos que encabeça junto com Pedro, Nico e os demais capangas do Rainha do Caribe.

A animação é extremamente violenta. Talvez seu trunfo seja a ironia. Porém, eu sinceramente não quero viver em um mundo em que sejam possíveis as atrocidades operadas em Capitão Fall.

domingo, setembro 10, 2023

O Carvalho



Pense em um lugar mágico. Um lugar Encantado. Uma Floresta, cheia de animais, repleta de vida. Dentro dessa Floresta existe uma colina e no alto dela um Carvalho. Nas noites de luar, seres mágicos se reúnem ao pé do Carvalho e dançam, cantam. É possível dizer que o Carvalho parece balançar com o vento no ritmo das cantigas.

Mas o que poucos sabem é que há muitos e muitos séculos essa Floresta foi um deserto. Um lugar inóspito, que separava alguns reinos. Um desses reinos era ocupado por magos, sábios, que criaram uma poção mágica. Com apenas uma gota, essa poção era capaz de fazer brotar uma plantação, um pomar ou mesmo um lindo jardim.

Essa poção despertou a ganância de um impiedoso rei, que reuniu um enorme exército. Este rei atravessou o deserto, invadiu o reino dos magos, destruindo tudo o que tocava e roubando a poção. Afinal, quem a tivesse seria declarado o dono do mundo. 

O rei então retornou pelo mesmo caminho que viera. Quando seu exército estava cruzando o deserto, ele descobriu uma conspiração de seus generais, que queriam roubar a poção e matá-lo. Com apenas um cavalo e poucas provisões, o rei decidiu fugir, para salvar sua vida.

Dias depois, ele se viu sem saída. Seu cavalo estava morto e ele, faminto e andrajoso, estava sobre uma colina, ponderando sobre seus atos. Observou o deserto e ponderou de que havia adiantado tanta ganância se agora ele morreria sem alcançar suas ambições?

Ele então olhou para o frasco em suas mãos onde estava a poção e pensou que, ao bebê-la, conseguiria alguns dias de vida. Então destampou o frasco e bebeu toda a poção.

Sentiu uma nova energia a atravessar seu corpo. Achou que seria capaz de atravessar vários desertos. Mas ao dar o primeiro passo, não conseguiu se mexer. Estava preso ao chão. Seus pés e pernas eram raízes. Seus braços eram galhos. Seus cabelos, folhas. Não era mais um homem, era um Carvalho. 

E o Rei-Carvalho observou por todos os anos a poção fazer efeito também nos vales do deserto, onde inúmeras plantas cresceram e a vida retornou com energia. Nos primeiros anos, ele considerava tudo aquilo como uma punição pela sua loucura e ganância. Mas após séculos de vida naquela floresta encantada, após ser várias vezes surpreendido pela vida, ele passou a acreditar que na verdade havia recebido uma dádiva divina e imerecida, dada a um homem que nunca havia aprendido o que é ter os pés no chão. 

A composição do Romance




Como fazemos todas as terças-feiras, tivemos mais um encontro da Prosa Poética: Oficina de Escrita Criativa. Alguns encontros atrás, ficou a meu encargo falar sobre a composição do Romance. Comecei falando do Romance como gênero literário, sua consolidação no século XIX e do porquê de narrativas longas serem chamadas desse termo, Romance. Falei também de minha leitura do livro do Haruki Murakami, Romancista como vocação. Contei que Murakami tinha um bar de jazz e pouquíssimo tempo para escrever. Ele então escrevia na cozinha, de madrugada. Assim ele redigiu seu primeiro livro, mas não gostou nada do resultado. Resolveu escrever um segundo, mas este em inglês, que ele dominava instrumentalmente. Depois de terminar o livro, ele o traduziu para o japonês e gostou do resultado. Inscreveu a obra em um concurso de uma revista literária e ganhou o prêmio de autor revelação.

Murakami também aborda a importância do escritor romancista ter uma rotina de trabalho. Além disso, ele aponta ser fundamental o romancista fazer exercícios, para aguentar horas e horas de trabalho, escrevendo.

Apontei novamente a questão dos equívocos que fazemos ao usar o termo romance. Trata-se de uma narrativa longa, consolidada no século XIX, no auge do Romantismo. Daí histórias românticas serem chamadas de romance, mas nem todo romance é uma narrativa de amor. Dei como exemplo o romance policial e o romance de fantasia.

Como escritor de romances juvenis de fantasia, contei sobre meu processo de escrita. Expliquei que antes de começar a escrever O Medalhão e a Adaga elaborei um questionário sobre um arqueiro que praticava magia. Eu precisava então responder tal questionário: Quem é o Arqueiro? Onde ele nasceu? Quem são seus pais? O que aconteceu com ele? Assim, respondendo a essas perguntas, fui compondo o texto inicial do romance.

Contei sobre o fato desse estilo literário, ser denominado, em inglês, por Novel e que, de certa forma, a novela televisiva é filha dos romances literários, da mesma forma que as atuais séries. 

Comentei sobre o folhetim, que era a forma dos romances apresentados ao público serem inicialmente publicados nos jornais, uma parte do texto a cada dia ou a cada semana. Não se sabe ao certo se o autor tinha o livro pronto e ia  publicando partes nos jornais, ou se o escritor começava um romance de folhetim e publicava num jornal esse início, sem fazer ideia do desfecho. Existia a necessidade de se criar um fato novo a cada publicação no jornal, bem como terminar deixando um assunto em aberto como forma de manter o leitor interessado na continuidade. Quando se fazia sucesso o folhetim era reunido e publicado em livro.

Por fim, convidei todos os presentes a pensarem num trecho de romance e a escreverem cada um o trecho imaginado. A ideia era trabalhar com o fragmento, tendo a noção de romance como objeto provocador. Em seguida, compartilhamos nossos escritos, lendo uns para os outros e comentando as leituras. Foram produzidos textos muito interessantes.

Fica também o convite a leitoras e leitores que pensem nos seus romances e os escrevam. E para quem mora em Belo Horizonte, deixo o convite de frequentar os encontros da Prosa Poética: Oficina de Escrita Criativa.

Atualizado em 14/09/2023, com contribuições do Augusto Borges.