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segunda-feira, novembro 06, 2023

A pelada peluda no largo da bola - Abordando o racismo com coragem


Dia desses li um ótimo livro do Cuti. A Pelada Peluda no Largo da Bola. Um livro incômodo mas divertido sobre questão social e a miscigenação de parte da classe média baixa no Brasil. As questões raciais, socieis e de gênero abordadas no livro são complexas, mas Cuti as aborda com coragem e inteligência.

O livro conta de um grupo de crianças que organiza uma pelada polêmica que chega a ser peluda: pretos contra brancos. E logo de cara já surge uma fala racista de uma personagem e a outra reage, dando-lhe um soco na cara. Uma reação à altura da violência sofrida.

Cada capítulo apresenta um novo personagem, com seus dilemas, sua individualidade e questionamentos. Seja João Pena, filho de uma viúva, seja Henrique, criado pela vó e já trabalhando tão cedo, ou até mesmo Baiano, o de cor mais escura e vítima da estigmatização.

A escrita de Cuti é sublime e não há um só protagonista. A vivência da questão racial é complexa para se representar num só herói. Os lugares e não-lugares são muitos e incomodam; são espinhosos e doloridos.

Os desenhos já datados de Edu Andrade mostram uma estética que ficou no tempo, numa época em que a ilustração não era vista com a riqueza e complexidade que se vê hoje. Isso acaba interferindo de forma negativa a leitura do livro.

Confesso que é difícil falar desse livro, apesar do diálogo apaziguador que vem através da sabedoria africana. Cuti não poupa ninguém, embora honre as representantes dos orixás. Até mesmo o preconceito cristão evangélico é denunciado através da hipocrisia de um certo finado.

Apesar dos desenhos não tão primorosos, o texto de Cuti nos embala e mostra que o racismo na literatura, por mais espinhoso que seja, é um tema que precisa ser abordado com coragem e responsabilidade.


Ficha Técnica

A pelada peluda no largo da bola

Cuti

Ano: 1988 

Páginas: 40

Idioma: português

Editora: Editora do Brasil S/A

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-pelada-peluda-no-largo-da-bola-75096ed82787.html

quarta-feira, agosto 18, 2021

Urgente! - Pela manutenção do programa Conversações


Há alguns anos, conheci o Cláudio Henrique. Trocamos algumas ideias sobre pessoas comuns que são grandes leitoras, principalmente quem frequenta bibliotecas públicas. Fiquei de passar alguns contatos, a partir da minha experiência de trabalho na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil.

Foi assim o meu primeiro contato com o Programa Conversações. Não imaginava que, tempos depois, eu estaria diante da câmera, para gravar um episódio sobre a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil e sua atuação dentro do Centro de Referência da Juventude. 

Cláudio Henrique é uma pessoa incrível. Amável, observador e excelente ouvinte, ele sabe conduzir com maestria uma entrevista de forma a deixar a gente totalmente à vontade. Sei que como artista pode parecer algo simples pra mim, mas não é. Sempre tive problema com a minha autoimagem. Minha passagem pelo Conversações ajudou a mitigar esse problema.

Mas não é de mim que devo falar hoje e sim desse programa tão importante para a divulgação da literatura independente em Belo Horizonte. Conversações é mais do que um programa de literatura. É sobre pessoas, suas vidas reais e suas buscas por uma vida mais humana e legítima através das palavras. Um programa sobre dar voz e escuta a pessoas geralmente silenciadas em nossa sociedade.

Depois de tantos anos de história de um programa pioneiro, interessante e de alta qualidade, vem o Governo de Minas e decide encerrá-lo. O único programa na Rede Minas com um jornalista negro. E um programa que dá voz vez às periferias. Ao saber dessa notícia, fiquei aturdido. Mortificado. Não é apenas a história dos espaços e das leituras. São as histórias das pessoas que estão fadadas a desaparecer. 

Por isso, manifesto-me à favor da manutenção do Programa Conversações. E que esse ataque à cultura e à literatura, em especial a periférica, não prossiga. Que todas as pessoas se unam para que essa decisão desastrosa seja repensada e revertida, com urgência.

E deixo aqui meus cumprimentos ao Cláudio Henrique, guerreiro da cultura, que com as armas das palavras, da gentileza e da simpatia, concedeu escuta a tantas pessoas que, por outros meios teriam sido silenciadas.

https://www.brasildefatomg.com.br/2021/08/17/rede-minas-retira-programa-educativo-da-programacao-e-pode-inserir-outro-evangelico

https://www.instagram.com/p/CSsiLCqLjMy/?utm_medium=share_sheet

(Descrição da imagem: Em fundo branco, texto "Desmonte: Rede Minas retira programa educativo da programação e pode inserir outro evangélico. Emissora anunciou o fim do Conversações programa que populariza literatura independente e cultura produzida na periferia. Amélia Gomes, Belo Horizonte (MG) | 17 de Agosto de 20201 às 20:28". Abaixo, foto de dois homens. O primeiro, à esquerda, é negro, tem cabelos curtos e está de perfil direito, veste uma camisa xadrez. À direita o outro homem, branco, de cabelos e barba compridos, com uma blusa mostarda. Os dois manuseiam um livro. Atrás deles, paredes com vários grafites.)

segunda-feira, junho 14, 2021

Lido: Nuang - Caminhos da Liberdade - Janine Rodrigues e Luciana Nabuco



Nuang é uma narrativa sobre prisão, escravização e liberdade. Uma narrativa aberta. Inspirada na cultura dos povos Banto, conta a trajetória de uma menina que tem em si o talento e a sabedoria para guiar seu povo rumo à libertação. 


Ficha Técnica 

Nuang - Caminhos da liberdade

Janine Rodrigues

Luciana Nabuco 

ISBN-13: 9788592577070

ISBN-10: 8592577071

Ano: 2017 / Páginas: 38

Idioma: português

Editora: Piraporiando


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/nuang-779998ed784723.html



sábado, junho 12, 2021

Lendo: Úrsula e outras obras - Maria Firmina dos Reis


Quando soube de Maria Firmina dos Reis, fiquei encantado, interessado e igualmente incomodado. Como ainda não havia sido apresentado à primeira romancista negra brasileira? E não é apenas isso. Ela foi, muito antes de Castro Alves, uma voz ferrenha contra a escravidão. 

Depois de meu encontro com as narrativas de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo, fui tomado por um senso de urgência em ler mais autoras negras. Assim, li Jarid Arraes, Eliana Alves Cruz e, agora, mergulho na literatura de uma mulher de discurso forte, duro, poético e quase desesperado.

Sim, é possível perceber o senso de urgência no clamor Maria Firmina por um mundo diferente daquele que ela vive, onde a sociedade machista e preconceituosa de homens brancos, ricos e violentos usam de seus desmandos quase como deuses.

Estou terminando o livro Úrsula e outras obras. Logo que tiver terminado, pretendo falar um pouco mais sobre essa seminal experiência de leitura.


Úrsula e Outras Obras

Maria Firmina dos Reis

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ISBN-13: 9788540203471

ISBN-10: 8540203472

Ano: 2018

Páginas: 307

Idioma: português

Editora: edições câmara


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/ursula-e-outras-obras-802621ed806431.html

sexta-feira, dezembro 18, 2020

Quarto de despejo - A genialidade em meio ao abandono


Quando prestei o vestibular para a UFMG em 2001, havia entre as obras escolhidas o livro Quarto de despejo. Pouco sabia dessa obra autobiográfica, de uma autora vista como semianalfabeta. Ouvia que a obra era quase impossível de ser lida, por conta da quantidade de erros de português. E naquela época, quando eu ainda não havia desconstruído tantos dos preconceitos que ainda carrego, deixei de lado qualquer senso de obrigação em ler esse livro. Logicamente, não passei no vestibular. 

Em meu percurso, sempre me esquivava em ler essa obra que hoje considero de leitura fundamental para qualquer pessoa, principalmente quem nasceu e mora no Brasil. Foi preciso que uma Pandemia se interpusesse em meu caminho para que eu começasse a pensar no quão fundamental era conhecer mais de perto Carolina Maria de Jesus.

Mergulhei então em um percurso errático, doído, calcado em crueza. Foi necessário percorrer o livro duas vezes. E digo que considerei necessário porque a cada página, percebia como eu havia sido negligente por ainda não ter lido Carolina.

Em seu diário, Carolina procura anotar tudo, como se tentando apreender em sua totalidade a realidade e o tempo em que vive. Como um escrevinhador compulsivo, senti imediatamente uma grande identificação. Também tenho meus diários e cadernos. O teor do texto, contudo, é outro. Enquanto meus diários costumam ser protocolares, Carolina devaneia, divaga, observa o mundo, poetiza a vida.

Há uma evidente genialidade no lirismo que se esconde nas páginas de Quarto de despejo. Essa não é a única marca de tal engenho. Carolina Maria de Jesus reflete, observa e questiona, sendo capaz de construir em seu diário máximas inesquecíveis. Eu me vi querendo anotar e memorizar cada uma das profundas observações de Carolina. 

Ao mesmo tempo, é contundente observar o abandono ao qual a autora é relegada. Em um ambiente de penúria e animosidade, ela busca lutar com as armas que tem - as palavras - para sobreviver e criar seus filhos com dignidade. E essa talvez seja uma das maiores buscas de Carolina: dignidade para viver e se expressar através da arte literária.

Ao encerrar a leitura de Quarto de despejo, eu tinha a certeza de ter encontrado uma voz genial. E fui tomado pela tristeza por saber que essa voz foi e por vezes continua sendo censurada, cortada, silenciada.


Ficha Técnica:

Quarto de Despejo

Carolina Maria de Jesus

ISBN-13: 9780451529107

ISBN-10: 0451529103

Ano: 1993 

Páginas: 173

Idioma: português

Editora: Francisco Alves


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/quarto-de-despejo-7123ed730714.html

sexta-feira, novembro 20, 2020

Ponciá Vicêncio - Quando a ausência também é forma de luta

Há livros que agem como divisores de águas em nossas vidas. Nesses casos, é impossível passar incólume por estes livros. A leitura deles sempre é um processo marcante e transformador.

Foi assim que me senti ao terminar Ponciá Vicêncio, romance de Conceição Evaristo. Era como se eu estivesse em um processo de troca de pele, sendo que a pele antiga era arrancada, ao invés de se desprender do corpo. Ao mesmo tempo, eu bebia a doçura de cada palavra da narrativa tecida por Conceição. Sorvia com sofreguidão essa narrativa cheia de pungência e afeto. Era também absorvido por ela, como se eu mesmo estivesse me liquefazendo.

Repleta de águas, a obra de Conceição Evaristo tem recebido cada vez mais atenção nos últimos anos. Tive o privilégio de adquirir meu exemplar de Ponciá Vicêncio em um evento que contava com a presença da autora. Assim, tenho o próprio traço anguloso e comprido de Conceição Evaristo na folha de rosto. 

Confesso, porém, uma falha minha. Tenho o romance há anos, mas não tinha separado tempo para empreender sua leitura. Pensava sempre que era preciso aplicar um tempo e um espaço próprios para começar a ler. Posso dizer, contudo, que foram o tempo e o espaço que me escolheram. Em meio à pandemia que tantas vidas ceifa, estive por meses encerrado em meu apartamento, dedicado ao teletrabalho e procurando pensar menos em tanta tristeza e perda que me cercavam.

Comecei então a viajar pelos olhos de Ponciá, sem saber, contudo, que muita tristeza e muita perda me aguardavam.

O romance narra a vida de uma mulher desde sua infância em um interior perdido, sua busca por melhores condições de vida em uma grande cidade e seu posterior envelhecimento. Sem se ater apenas à trajetória da protagonista, cujo nome recebe o título do livro, a narrativa apresenta também outras duas buscas: um irmão pela irmã e uma mãe pelos filhos. 

Temos então três jornadas que se desenrolam de forma íntima e muito similar. As três pessoas, três grandes personagens da obra, estão em busca de algo, além de si mesmas e umas das outras. E nos desencontros, encontros e reencontros essas pessoas vão testemunhando um mundo em que a escravidão e a exploração continuam dolorosamente presentes, até mesmo em seus sobrenomes, "Vicêncio", que foram "emprestados" do sobrenome do antigo dono de seus ancestrais, um tal coronel Vicêncio.

O tom de denúncia é fortemente marcado no romance de Conceição Evaristo. Apesar da crueza e da violência presentes no texto, é importante destacar o lirismo da obra, carregado de afetividade e momentos de singular beleza. Foi possível observar, também, um certo carinho por nossa oralidade, através de marcações presentes no texto, bem como curiosos neologismos, que carregam a marca do lirismo próprio das falas de nossa gente.

É importante destacar, também, que a revolta não se apresenta vazia. Cada personagem reage à violência de forma própria, sem se tornarem meros joguetes do destino. Inclusive Ponciá, com suas ausências, com a herança do avô, com os choros-risos. Há uma resistência até mesmo nessa aparente passividade da protagonista. Apesar da melancolia que vai sendo construída através do patente sofrimento dela, é possível encontrar um resquício de força, que se revela não pela violência, mas pelo afeto, pelo cuidado com os seus.

Com um lirismo arrebatador, uma pungência marcante e um enredo envolvente, o romance Ponciá Vicêncio é uma obra transformadora. Um romance completo em que muitas diversas vidas se convergem e encontram uma voz de esperança contra uma realidade muitas vezes silenciadora.


Ficha Técnica

Ponciá Vicêncio

Conceição Evaristo

ISBN-13: 9788571602618

ISBN-10: 8571602611

Ano: 2006 

Páginas: 128

Idioma: português

Editora: Mazza Edições


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/poncia-vicencio-1070ed1423.html

sexta-feira, março 13, 2020

Interiorana - Luta e afeto em pura poesia

Há poemas que nos tomam pela mão e nos guiam por seus lugares, suas veredas familiares. Outros, nos estapeiam, esmerilham, massacram, arrasam. E quando um poema faz as duas coisas ao mesmo tempo?

Interiorana, de Nívea Sabino, é um pouco assim. Livro de estreia de Nívea e recentemente reeditado, recolhe em si poemas de protesto, lirismo e uma certa dose de homenagem a sua terra natal, Nova Lima, sem esquecer BH, que a acolheu e acolhe.

Assim, a leitura de Interiorana passa por uma miríade de sentimentos e impressões. Guerreira das palavras, participante de Slams, Nívea mostra sua agilidade com uma linguagem afiada para o combate. Porém, ela não se esquece do amor e de suas belezas. Somos então brindados por versos cálidos, que suavizam o clima de luta, sem acobertá-lo. 

Há também aqueles poemas que cantam os lugares que Nívea elege como seus. Não se esquece da denúncia ao falar da exploração do ouro em Nova Lima, bem como de outras explorações, ainda muito patentes. Ela não se esquece também de cantar o bar e seu lugar em BH, em um belo jogo de palavras.

Não posso deixar de falar das belíssimas ilustrações de Raíssa Agrissano que compõem o livro, dialogando de forma simbiótica com os poemas, em uma composição que transpõe os limites das Artes e permitem uma rica experiência sinestésica.

Não há como passar incólume pelos poemas de Nívea Sabino. E atravessar Interiorana é vivenciar uma Minas por tantos silenciada, repleta de lutas e desafios. Sobretudo, belezas.

Ficha Técnica 
Interiorana
Nívea Sabino
ISBN-13: 9788554095703
ISBN-10: 8554095707
Ano: 2018 
Páginas: 140
Idioma: português
Editora: O Lutador

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/841621ED846780

sexta-feira, fevereiro 28, 2020

Um defeito de cor - a voz e a força de uma mulher negra

Há muitos anos vinha desejando ler Um defeito de cor, obra épica de Ana Maria Gonçalves. Adiei por tempo demais. Até que o destino nos colocou juntos: fui escalado para mediar uma mesa com a Ana Maria e com Marcelino Feire no terceiro FLI-BH. 

Assim, o desafio de ler essa obra de centenas de páginas era algo do qual não poderia mais fugir. Afinal, essa é a obra de referência da autora e o motivo de sua escolha para a mesa com o tema que unia a vivência e a escrita.

Foi com essas questões em mente que dei início à leitura de Um defeito de cor. E o que a princípio seria uma leitura técnica se tornou um percurso selvagem e apaixonado, através da voz de uma africana, chamada Kehinde, que confidencia em uma longa carta sua vida, suas escolhas e lutas.

De fato, Kehinde é, antes de tudo, uma lutadora. Vítima e testemunha de uma abjeta violência ainda em sua terra natal, a ainda menina vai desenhando aos olhos dos leitores suas experiências com uma grande carga de inocência. Mesmo quando, mais tarde, ela e a irmã são sequestradas e levadas como escravas, a menina mantém essa pureza que a faz forte, capaz de superar as violências.

A partir do percurso feito para atravessar o Atlântico, tem início o que eu considerei a parte mais difícil do livro. Ter consciência quase gráfica das violações suportadas pelos africanos escravizados é algo diante do qual é impossível ficar indiferente. O sofrimento é visceral, implacável, repleto de crueza, não poupando idosos ou crianças. Na travessia, todas as dignidades foram estupradas das pessoas e, para mim, é impossível não pensar em reparação. 

O enredo prossegue, assim como as violências, já em solo colonial. A narrativa, porém, assume um pouco mais de leveza, a partir da inteligência e tenacidade de Kehinde, que busca assumir o leme da própria vida, mesmo em condições tão adversas. A resistência e inventividade de Kehinde por vezes lhe garantem consequências desastrosas.

Outro ponto a se destacar na narrativa é a profunda curiosidade espiritual de Kehinde. Ela tem memórias de ritos e cultos realizados em África e na medida que pode, vai expandindo seu conhecimento na tradição de seus antepassados.

É preciso destacar que o livro de Ana Maria Gonçalves busca em fatos históricos ancorar sua narrativa. Sendo assim, somos apresentados a personagens e acontecimentos que marcaram a história da Bahia do século XIX, bem como de outros lugares, como a Costa de Mina, na África. 

É importante destacar também que a vida de Kehinde, nomeada no Brasil como Luísa Gama, se entrelaça à vida de uma pessoa fundamental para o movimento abolicionista. Fazer tal descoberta, enquanto lia o prefácio, trouxe-me lágrimas aos olhos.

Com uma narrativa densa, mas nem um pouco enfadonha, repleta pelo esmero em detalhes históricos e na profundidade de suas personagens, Um defeito de cor é um épico imperdível para quem quer conhecer mais sobre sua história e seu povo.

Ficha Técnica 
ISBN-13: 9788501071750
ISBN-10: 8501071757
Ano: 2006
Páginas: 952
Idioma: português
Editora: Record

segunda-feira, julho 01, 2019

Choque de realidade

Um racista nem
sempre assume
que é racista.

Pra ser presidente,
ele nunca ia assumir
que é racista.

Ele fala como racista,
age como racista,
mas diz:
isso não é racismo.

Negro, sem camisa, 16 anos.
Ele diz: Bandido.
Branco, fardado, 18 anos.
Ele diz: É um garoto.

Quando
defender crime
se torna certo?

Ele ri enquanto
faz gesto de atirar.

Ele não hesitaria
em matar você,
caso você fosse condenado
à pena de morte.
Não haveria
chance de dúvidas.
Ou misericórdia.

Ele aceitaria que
exterminassem você
sem processo penal.

Ele disse que isso é bem-vindo!

Enquanto isso,
meus olhos dão
boas-vindas
a lágrimas
eternas.

BH, 26/06/2019.