sexta-feira, maio 24, 2019

1822 - A segunda parte da história da história

Por vezes nossa própria História nos parece estranha. Talvez porque em muitos casos nos sentimos distantes dela. Principalmente nós, pessoas comuns. Além do mais, essa história nos é apresentada como uma matéria obrigatória, o que pode nos afastar ainda mais do tema.

Mas então surgem livros que nos apresentam essa mesma História, mas com um outro olhar. Livros que se pretendem interessantes e ao mesmo tempo críticos. Um desses livros certamente é o conhecido 1822.

Escrito meio que para ser a continuação do livro anterior, 1808, este livro apresenta e interrelaciona os fatos históricos que precederam o Grito do Ipiranga e segue seus desdobramentos, apresentando as principais personagens envolvidas. 

Apesar do título, 1822 abarca um período de aproximadamente dezessete anos, de 1817 a 1834, ano da morte de D. Pedro.

Ler 1822 foi fácil e tranquilo, inclusive agradável. O texto de Laurentino Gomes é leve e dinâmico, sabendo equilibrar informações relevantes com detalhes pitorescos e curiosos, mantendo sempre a atenção do leitor.

Além disso, o autor procura cobrir todo o seu relato com fontes históricas de pesquisa. Ao longo do texto há diversas notas que podem ser verificadas ao final de cada capítulo. A bibliografia é extensa e abrangente, mostrando a diligência e o profissionalismo do autor.

Outro ponto que considero importante destacar é um certo grau de olhar crítico sobre a nossa história oficial. Laurentino busca comparar versões oficiais com outras fontes e testemunhos. Procura também apresentar uma visão ponderada e reflexiva sobre o Brasil de outrora, comparando-o com o atual.

Por exemplo, ele ressalta os problemas estruturais em nosso país, originários de nosso passado de colônia escravagista e de exploração. Também aponta a corrupção endêmica já na sociedade pré-império, principalmente por conta da mentalidade da corte portuguesa.

Por fim, considero fundamental o profundo respeito que o autor tem pela fortuna documental, atestando sua importância para a realização do livro.

Porém, fiquei profundamente incomodado com a forma com que Laurentino suaviza a gravidade dos atos de pessoas como Dom Pedro I e o almirante Thomas Cochrane. Além do mais, considero que ele faz pouco caso, como a maioria de nós, dos feitos que as mulheres desempenharam. Apesar de apontar a importância do papel de Maria Leopoldina na independência, vê-se um certo favoritismo pela figura de José Bonifácio. Nossa primeira imperatriz deveria ser elevada a condição de estadista por nossa história, mesmo que ela não ocupasse oficialmente o cargo.

Outra mulher que considerei alvo de uma descrição tendenciosa foi a famosa Marquesa de Santos. Domitila de Castro é destacada pelo escritor inclusive por sua  capacidade reprodutiva. Além disso, ela aparece como a manipuladora amante de Dom Pedro I, quase sendo a hedionda responsável pela morte da rival e abdicação do amante ao trono. 

Outro que aparece quase como herói no livro é o tal Cochrane. Curiosamente, ele aparece no subtítulo como um "escocês louco por dinheiro". Sem dúvida um eufemismo sobre o homem que saqueou cidades que prometeu proteger.

Apesar dessas visões romantizadas, a leitura foi proveitosa pelo texto dinâmico, bem como pela pesquisa histórica. Ao terminar a leitura, percebi em mim uma certa melancolia. Imaginava um outro Brasil, por tudo que ele poderia ter sido, mas infelizmente jamais foi.

Ficha Técnica 
1822
Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D.Pedro a criar o Brasil - um pais que tinha tudo para dar errado
Laurentino Gomes 
Editora Nova Fronteira 
Páginas: 352
Ano: 2010

quarta-feira, maio 22, 2019

O escritor independente

Este é um relato sobre um evento antigo que me marcou profundamente.

Vou falar aqui sobre o encontro que ocorreu no sábado, dia 7 de fevereiro de 2015, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Estiveram presentes seis pessoas que debateram o tema: "O Escritor Independente". Era um grupo heterogêneo. Havia pessoas no início de suas carreiras, bem como escritores já bastante experientes.

Para nortear as discussões, perguntei: quais são os desafios do escritor independente?
Divulgação? Distribuição? Dinheiro? Percebemos que por maiores que sejam esses desafios, eles vão se mostrar diferentes para cada pessoa. O perfil de cada escritora ou escritor é único, assim como a leitura que cada pessoa faz, sua vivência e percurso literário.

Assim, veio a mim a pergunta: O escritor precisa de um agente? José Carlos Aragão, um dos escritores mais experientes que conheço, disse que fez a escolha de ter uma agente literária. Dessa maneira, ele podia se dedicar integralmente à escrita, enquanto sua agente se preocupava com questões como divulgação, contato com editoras e participação em eventos.

Ao abordarmos o papel das editoras na carreira dos escritores, sejam eles independentes ou não, Ana Faria, autora de  vários livros, entre eles o romance Um ano bom, comentou que há vantagens e desvantagens, mas elas serão diferentes para cada pessoa.

Aragão então voltou a mencionar a função do agente. Ele recomendou que um escritor iniciante deve pesquisar os vários que têm sites e ler com atenção os serviços que eles prestam.

Aragão ressaltou que é importante também saber até onde deixar o agente opinar. Alguns interferem demais no texto de seus clientes. Isso pode incomodar algumas pessoas. Porém, os agentes literários possuem um leque de editoras de contato. Assim, um agente pode receber a encomenda de um livro, de acordo com um assunto "quente". Porém, ele advertiu que é sempre importante conferir a referência dos agentes entre os escritores que eles representam.

Ledinilson Moreira, autor de Portais, apontou que um escritor deve ter com clareza sobre aonde quer chegar. Afirmou que há escritores felizes por serem independentes.

Mencionei então a nossa vontade de divulgar nossos textos, alcançar nossos leitores diretamente. A angústia de ter logo um retorno pelo que escreve. Um dos caminhos seria publicar em blog, mas o resultado pode ser o contrário do esperado. Um blog precisa de constante atenção. Ele deve ser atualizado e divulgado. No fim, ele pode exigir muito trabalho, como um eterno bebê.

Aragão disse que o plágio é sempre uma possibilidade e, para não facilitar, não publica online.

Outro ponto importante que discutimos no encontro é a realidade de que o eixo Rio-SP ainda faz grande diferença. O que significa que em Minas, embora estejamos tão perto desse eixo, continuamos meio que isolados.

Por fim concluímos que o status de escritor independente é uma condição que fará parte do histórico da grande maioria daqueles que desejarem seguir carreira literária. Alguns de nós seremos sempre independentes. Isso, porém, não deve ser algo que desanime aqueles que ainda não se lançaram no ofício, ou estejam em seus primeiros passos.

Afinal, como a história do nosso país gosta de alardear, em alguns casos é "independência ou morte".

terça-feira, maio 21, 2019

Vídeo: De verdade - Samuel Medina

Os teus olhos
São mais lindos que uma doce canção
Pois tocaram fundo o meu coração
Oh meu Amor
Oh meu Amor

Teu sorriso
É mais puro que o abrir de uma flor
Pois revela todo o nosso amor
Me faz sonhar
Me faz sorrir
Me faz cantar

Como eu te amo
Te quero mais que o nascer do sol
Te quero mais que o frescor da brisa
E mais que a primavera toda em flor

Como eu te amo
Pois deu um novo rumo a meu viver
Tocou profundamente o meu ser
Me fez sentir mais forte o amor
De verdade.

Abaixo, o vídeo gravado dia 17/05/2019 com a melodia, dedicada a Pâmela Bastos Machado.




segunda-feira, maio 20, 2019

Projeto Livro-minuto - Lançamento oficial

Livro-minuto foi um termo que passei a utilizar em 2014, após aprender com o Rodrigo Teixeira uma dobradura que torna uma única folha em caderno.

Ao me deparar com esse belo truque, fiquei fascinado e decidi levar essa técnica para minhas oficinas de mediação de leitura. Nascia então o livro-minuto: a proposta de produção de um livreto que poderia ser lido em menos de um minuto.

A oficina Livro-minuto foi ofertada tanto na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, quanto em bibliotecas de centros culturais da cidade. O princípio era ganhar simpatizantes pela proposta, de forma que mais pessoas se envolvessem no processo de produção de livros como objetos únicos, artesanais, fora da lógica de produção em série.

Minha paixão por livros sempre foi para além do texto. As obras medievais me fascinavam, com suas brochuras com iluminuras e escritos à mão. Não foi à toa que fui atraído por Jorge Luís Borges e suas ideias de livros em que imprecisões ou "erros" tipográficos os transformariam em objetos diferenciados.

Assim, quando conheci os livros artesanais, fui imediatamente cativado. Tenho em meu acervo pessoal muitos livros feitos de material reciclado, costurados à mão. E sempre que tenho oportunidade de ir a uma feira de livros independentes, saio de lá com a mochila cheia de novos tesouros.

E por isso essa minha paixão extrapolou para além do colecionismo. Passei a produzir artesanalmente minhas próprias obras através da Oficina Livro-minuto.

A proposta da atividade é refletir no papel do livro e em seu percurso como ferramenta fundamental do pensamento e da memória da humanidade. Discutimos sobre os usos do livro e sua evolução de riscos no chão, pelos desenhos rupestres, passando pela pedra talhada, pelas tábuas de argila, pelo pergaminho, até o formato convencional, conhecido como brochura, caderno ou códex. Por fim, lanço às pessoas participantes o convite de fazermos nossos livros.

Como material, além da folha de papel, uso textos em domínio público. Podem ser poemas, ditados, adivinhas, quadrinhas, trovas, sonetos. Quando o texto tem autoria identificada, não deixo de fazer menção do nome da autora ou do autor. Apresento também alguns desenhos do escritor Ricardo Azevedo para serem recortados e colados.

Todo esse material, contudo, é propositivo. Cada pessoa tem a liberdade de criar seu livro-minuto de acordo com seu impulso criativo. Assim como eu, pois aproveito para, a cada oficina, criar mais um livreto.

Tive a felicidade de participar de um sarau em que o amigo Felipe Diógenes levou suas alunas e seus alunos. Fizemos um varal e vários livretos produzidos pela garotada foram pendurados. Quem quisesse poderia pegar qualquer um e ler para o público. Foi um momento mágico.

Com o objetivo de expandir a ideia, decidi lançar oficialmente o Projeto Livro-minuto. O objetivo é fazer circular o conceito, bem como o livreto em si. Abaixo, compartilhei o vídeo do livro-minuto "JOGO". 



Posteriormente, farei propostas e postarei outros vídeos, com o objetivo de envolver ainda mais as pessoas no processo. Aguardem!

sexta-feira, maio 17, 2019

O presente da vovó loba - um conto deliciosamente perverso

É uma agradável manhã de segunda-feira. Para o lobo, parece que será ainda mais agradável, pois o carteiro acaba de fazer a entrega de um pacote e uma carta. É um presente da vovó loba.

Assim começa o curioso percurso de um presente e de uma narrativa cada vez mais enigmática. Escrito por Didier Dufresne e traduzido por Gilda de Aquino, O presente da vovó loba traz como protagonista esse misterioso pacote, que vaga de mão em mão, provocando diversas reações. Ao que parece, nenhuma delas é agradável.

Embora a narrativa seja construída a partir do ponto de vista do pacote, o narrador toma cuidado por não o revelar, aumentando cada vez mais a curiosidade do leitor. O percurso do pitoresco protagonista dura cerca de uma semana e conta com coincidências bastante cômicas.

É importante destacar que os desenhos de Armelle Modéré enriquecem ainda mais o texto. A cada página, vemos imagens de possíveis presentes. Ao mesmo tempo, são exploradas as reações que cada novo bicho tem - ou ao menos deseja ter - ao abrir o pacote e olhar em seu interior.

Assim, a obra de Didier Dufresne e Armelle Modéré explora elementos como as convenções sociais e seus desdobramentos diante de expectativas e frustrações. Todo mundo gosta de ganhar presentes, mas ninguém quer receber algo indesejável. Com isso, a criança pode observar no enredo o jogo "querer x poder" enfrentado por bichos como o urso, o castor, dentre outros.

Com desenhos vibrantes e um enredo nada convencional, O presente da vovó loba certamente será uma surpresa para quem o ler pela primeira vez. E um perverso deleite para aqueles que desejarem ler novamente.

Ficha Técnica 
"O presente da vovó loba"
Didier Dufresne 
Gilda de Aquino (tradução)
Desenhos de Armelle Modéré 
Editora Brinque-Book

quarta-feira, maio 15, 2019

Reflexões sobre um tempo póstumo

Para Felipe Diógenes e Rodrigo Teixeira

Pego o celular. Enquanto tento desbloquear a tela, vejo uma notificação para que eu relembre por fotos o mesmo dia um ano atrás. Cancelo a notificação e logo pulo para o editor de texto. Quero escrever, não lembrar. Ou melhor, quero lembrar, não me enganar com um conjunto de imagens digitais.

E logo me vem à mente um conjunto de imagens, nenhuma delas relacionada ao dia 23/01/2017. Não quero datas, são tão enganosas quanto nossa falsa noção de verdade, apoiada em conjuntos de cores e traços, geometria subliminar. Distrações compostas por fótons originados de telas eletrônicas, ou refletidos nas marcas queimadas em um papel quimicamente preparado.

Até mesmo as pegadas são um engano. Carcaças de um tempo que, de tão cruel, matou-se e nos deixou órfãos. Somos como um Zeus sem um Chronos para vencer, pois ele heroicamente já cumpriu a sua tarefa de se destruir.

Verdade apenas no esquecimento. Sejam símbolos, traços, entalhes, borrões, gravuras, tipos, todas essas marcas, pálidas tentativas de escapar ao Tempo e à Morte, todos apenas nos lembram como somos reféns desse mesmo tempo suicida.

Estamos todos mortos, apenas o momento ainda não se realizou em nós. E por isso eu não quero mergulhar em imagens. Quero testemunhar o meu passado evocando-o dentro de mim pela memória.

Por engano, pressiono a tecla errada e grande parte do que escrevi se perde. Incrível como o próprio ato de escrever que realizo agora reproduz o que estava tentando ilustrar. Apenas tentando. O pior de tudo é que tenho certeza que o melhor trecho deste texto estava na parte que se perdeu.

Assim, encerro apenas fazendo um pequeno epitáfio: 

Foi como um sopro 
que as palavras, 
destinadas para serem 
eternas, 
quebraram as pernas, 
tornando-se 
éter.


Oficina de Prosa Poética - 23/01/2018

segunda-feira, maio 13, 2019

Anseio

Para Pâmela Bastos

Na vontade
De seu beijo
Mora
Meu desejo
Na espera
De seu cheiro
Na carícia
De sua pele
Na doçura
De sua voz
No encanto
De seus olhos
Meu anseio
Se compraz

sexta-feira, maio 10, 2019

Pílulas azuis - quando o real não é deserto

Por vezes, nos percebemos por acaso buscando um sentido maior em nossas vidas. Consideramos que a rotina diária, muitas vezes alienante, é insatisfatória. Assim, acabamos reféns de um ideal de transcendência por vezes enganoso, como se o real não nos bastasse.

E então, narrativas como a graphic novel Pílulas azuis nos mostram como a simplicidade da vida, com seus dilemas e desafios, pode em si representar essa transcendência. Não precisamos de uma pílula vermelha, de um choque para além da realidade. Não são necessárias conspirações governamentais, tramas internacionais ou invasões extraterrestres. A realidade, mesmo simples e ao rés-do-chão, pode nos transformar em seres maiores que nós mesmos.

Desenhado e roteirizado por Frederik Peeters, quadrinista suíço, Pílulas azuis é um relato autobiográfico sobre a jornada que o autor atravessou ao se relacionar com Cati, uma colega que por um fortuito acaso se torna amiga e depois amante. Já de início, Frederik deixa claro que havia, por parte dele, uma atração profunda, além de uma admiração, pela moça jovial e aventureira que Cati parecia ser. Tinham amigos em comum e essa proximidade permitia a Frederik a condição de silencioso observador. 

E de repente, ele descobre que a admiração é recíproca. Cati também observa - e acompanha - Frederik de uma distância segura. Ambos haviam se afastado, seguido com suas vidas, sem porém perderem de vista a trajetória um do outro. Numa festa, por fim, eles acabam se aproximando e dando início a um cauteloso romance.

É nesse momento que Cati, entre a honestidade e o receio, conta a Frederik que é soropositiva. E além disso, ela tem um filho, fruto de um casamento já encerrado. O menino, ainda bem novo, também tem o HIV. Cabe agora a Frederik a decisão: continua com Cati e aceita todos os riscos dessa relação, ou encerra esse namoro ainda incipiente?

De forma franca e simples, Frederik vai contando ao leitor suas dúvidas e medos. Aos poucos, ele vai conhecendo um pouco mais do universo em que Cati e seu filho estão inseridos. Com coragem e respeito, ele vai também aprendendo e reagindo, à medida que cresce o seu conhecimento.

A narrativa de Frederik é sincera e intimista. Suas dúvidas e questionamentos vão se colocando. Ao mesmo tempo, ele procura despojar sua narrativa de qualquer exagero dramático. Assim, ele demonstra sua intenção - muito acertada - de mostrar aos leitores que o que eles têm em mãos é a história de pessoas reais, nada mais que isso.

Há uma clara referência a Matrix. No longa-metragem, ao protagonista é apresentada uma escolha: tomar uma pílula azul, o que significaria esquecer seu desconforto e retornar à rotina; ou aceitar a pílula vermelha, lançando-se assim em uma jornada rumo a um épico desconhecido. No trabalho de Frederik, porém, não há essa necessidade. Não há um dilema que obrigue o protagonista a uma ruptura com a rotina e com a normalidade. O real, com seus dilemas, basta. E pode ser mágico.

Com um traço por vezes carregado mas geralmente leve, Pílulas azuis é um belíssimo relato de uma história de amor, com todos os seus percalços e pequenas vitórias. Uma obra singular, que em sua simplicidade atesta, com maestria, a grandiosidade da vida.

Ficha Técnica
Editora Nemo
Ano: 2015
Páginas: 208
Página do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/512405ED518848

segunda-feira, maio 06, 2019

Renovando os caminhos e as ideias para a Mediação da Leitura

No dia 27 de abril de 2019, sábado, estive no Museu de Artes e Ofícios para participar do curso "E agora, o que fazer com a mediação de leitura e a formação de leitores?".

Ministrado por Aparecida Soares Carneiro, o curso foi um momento muito especial. A mediadora buscou integrar os participantes e, ao mesmo tempo, tirar cada um de nós de seu lugar de conforto. Fomos estimulados a refletir na ideia que temos de leitura literária e de sua mediação, construindo uma teia de significados a partir de nossas vivências e valores.

Alternando sua palestra com atividades dinâmicas, Aparecida nos levou a ficar em movimento, estimulou nossos sentidos, em especial nosso olhar, de forma que pudéssemos refletir sobre nossas visões e paradigmas. Desta forma, fomos convidados a repensar nossa ação como mediadores e, sobretudo, como leitores.

Tivemos um importante momento para que cada um de nós apresentasse seu trabalho e sua experiência. Assim, foi possível conhecer os projetos da Ong Casa da Árvore (BiblioArteLab, Instagram do projeto, ebook Caderno BiblioArteLab), realizados por Aluísio Cavalcante, com ações de mediação de leitura junto a jovens. Conhecemos a iniciativa de biblioteca literária realizada dentro da empresa Tambasa, por Juliana Marques. Conhecemos a experiência em ensino de Jovens e Adultos de Andréia Silva.  Por fim, fomos apresentados à consultoria em Projetos Educacionais, proporcionada por Patrícia Rocha, através da empresa Letra Pê.

Eu tive a oportunidade de falar acerca da minha experiência na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil. Mencionei as oficinas de Mediação de Leitura que realizei no âmbito da Fundação Municipal de Cultura, em especial a Oficina Livro-Minuto. Ao fazer referência sobre minha atuação como contador de histórias, tive o privilégio de narrar a história Uma questão de interpretação, da tradição oral italiana.

O curso chegou ao fim, mas todos estávamos animados e sedentos por mais. Eu senti minhas forças renovadas. Foi um momento marcante de construção de uma rede pautada na mútua admiração e no ideal comum de construir um futuro mais inclusivo e justo.

sexta-feira, maio 03, 2019

O livro das semelhanças - um envolvente labirinto de significados

Neste final de semana, terminei a leitura de O livro das semelhanças. Escrito por Ana Martins Marques, uma das maiores vozes da poesia contemporânea, este livro foi como um mapa que se desdobrava e cujas legendas iam mudando à medida que eu olhava novamente. Um mapa que ao mesmo tempo era um labirinto.

Ana Martins Marques é uma poeta premiada, vencedora de prêmios como o da Biblioteca Nacional. Porém, arrisco dizer que ainda assim nenhum prêmio faz jus ao seu trabalho artístico. Sei que não tenho qualquer credencial para auferir juízo de valor à poesia de alguém, a não ser a de leitor. Portanto, posso dizer que, para mim, Ana Martins Marques tem uma obra que ultrapassa a literatura e lança profundas raízes no campo da filosofia.

Sendo assim, os poemas que compõem O livro das semelhanças são profundos e equilibrados, ricos em vozes e sentidos. Como um prisma que decanta os espectros da luz, a poesia de Ana Martins Marques decanta a palavra em seus múltiplos sentidos.

Ficha Técnica
O livro das semelhanças
Ana Martins Marques
Companhia das Letras
Ano: 2015
Páginas: 112
Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/o-livro-das-semelhancas-516449ed523318.html

quarta-feira, maio 01, 2019

Trabalho

Enquanto se diz
Que dignifica
O que fazemos
A cada dia
É empurrar
Aquela mesma
Pedra.
A nossa dignidade
Em leilão
Por uma reforma.
Despojados estamos
De um tempo que
Nem sabemos se
Teremos.
Não adianta
Contar com a
Previdência
O homem comum
Lançado às bestas
Acaba tendo
Inutilmente que
Recorrer à
Providência