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segunda-feira, janeiro 01, 2024

Batidas da Máquina Escarlate - Ação e romance em dose certa

 


Em um mundo distópico, duas pessoas se encontram. A ilha? Destra, um lugar que sustenta uma sociedade sexista onde mulheres são proibidas de lutar. Nessa ilha vive Scarlet Myr, uma mecânica e inventora excepcional, cujo sonho é se tornar a maior lutadora de todas. Ela então encontra Noah Yasha, um lutador talentoso mas um tanto ingênuo, que está com problemas com a máfia. Juntos, eles irão formar uma improvável parceria para que Scarlet por fim alcance o seu sonho.

Batidas da Máquina Escarlate é uma narrativa online presente na plataforma WattPad. Com um enredo envolvente e cativante, cheio de ação e com uma dose de romance, esta obra é uma boa pedida para quem gosta de ação mas também não dispensa um pouquinho de chamego.

Scarlet é uma personagem que nos seduz. Com seus sonhos e seu passado, ela irá fazer de tudo para alcançar seu objetivo, não poupando esforços ou energia. Ela trabalha como mecânica para uma ordem religiosa chamada Ordem Rubra e não deixa de ser um pouco rebelde. Sua beleza, inteligência e talento são claramente subutilizados nessa oficina para essa ordem religiosa.

Noah é bonito, forte mas um tanto ingênuo. O lutador tem problemas com a máfia e precisa ganhar a próxima luta contra o campeão Teech para pagar sua dívida e não dormir com os peixes. O líder da máfia tem um interessante epíteto: o Mâe.

O mundo em que a narrativa se passa é repleto de referências religiosas. Há o deus sumido, uma catástrofe chamada "a Catarse" e os anjos em conflito com a humanidade. Há muito a se entender e descobrir. Por exemplo, qual o papel dos anjos nesse mundo triste e decadente? E qual o papel da Ordem Rubra nesse mundo hipertecnológico?

Com muita ação e uma pitada de romance, Batidas da Máquina Escarlate foi uma grata leitura, divertida e interessante. Uma obra que me fez vibrar e torcer por Scarlet e Noah e que também me surpreendeu com suas reviravoltas.


Ficha Técnica

Batidas da Máquina Escarlate

Autor Tiago F. Ribeiro

Link para o Wattpad: https://www.wattpad.com/story/351476853-%F0%9D%99%B1%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9D%F0%9D%9A%92%F0%9D%9A%8D%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9C-%F0%9D%9A%8D%F0%9D%9A%8A-%F0%9D%99%BC%C3%A1%F0%9D%9A%9A%F0%9D%9A%9E%F0%9D%9A%92%F0%9D%9A%97%F0%9D%9A%8A-%F0%9D%99%B4%F0%9D%9A%9C%F0%9D%9A%8C%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9B%F0%9D%9A%95%F0%9D%9A%8A%F0%9D%9A%9D%F0%9D%9A%8E

segunda-feira, outubro 30, 2023

Fahrenheit 451 - A vontade que vence o fogo


Guy Montag é um bombeiro que ama o que faz. Se você acha que isso significa amor por apagar incêndios, eu já adianto que não. Montag ama causá-los. Sim, ele é um bombeiro e sua função é queimar. Em uma era em que as casas não mais se incendeiam, a missão dos bombeiros agora é queimar livros.

Seu amor pelo trabalho é então posto à prova quando ele conhece Clarisse McLellan, uma jovem diferente, que ama pensar e dar longas caminhadas por sua vizinhança. Os poucos mas significativos encontros com Clarisse aceleram uma mudança que Montag já sofria, fazendo com que ele questione sua vida, seu trabalho e toda a sociedade à sua volta.

Assim, vamos conhecendo a história do protagonista de Fahrenheit 451, obra-prima de Ray Bradbury, mestre da ficção especulativa. Nesse livro, situado em um futuro não tão distante, ter livros é crime e o papel dos bombeiros é incinerá-los. Nessa sociedade, as universidades e escolas foram fechadas e as mídias assumiram proporções assustadoras, com telões interativos que ocupam paredes inteiras, além de atrizes e atores sendo chamadas de "família".

Havia lido esse livro pela primeira vez há mais de dez anos e confesso que senti certa dificuldade nessa primeira leitura. A de agora foi muito mais fluida e prazerosa. Parecia até que eu lia outro livro, completamente novo. Foi maravilhoso e ao mesmo tempo assustador ver pelos olhos de Guy Montag esse mundo distópico e perturbador em que a busca pelo conhecimento é desencorajada e até mesmo punida.

Montag de início me pareceu um homem raso e ingênuo. Porém, com o desenvolvimento da narrativa, sua ingenuidade foi ficando menos evidente. Não que ele a tenha deixado de lado. Trata-se de um homem de sua "época", com suas características e peculiaridades. Porém, ele entra em contradição com essa dita época. Seu contraponto é o capitão Beatty, sempre cheio de argumentos e com uma carga de leitura assombrosa. O capitão é um homem amargo e cínico, disposto a demover Montag de sua jornada de autodescoberta. Fato é que, quando Guy começa a acreditar nos livros, Beatty usa os próprios para rebater e ridicularizar Montag. E as atitudes do capitão acabam trazendo consequências irreversíveis.

Outra coisa que gostaria de dizer sobre o livro é sua literariedade. O trabalho com a linguagem é fenomenal e nos proporciona uma leitura deliciosa.

A edição que li trazia uma série de textos suplementares, entre eles, a introdução escrita por Neil Gaiman para a edição de 2013. Sempre é bom ler palavras tecidas por Gaiman, um feiticeiro literário. Ao final do livro, há também uma coleção de capas, desde aquela feita para a revista "Galaxy Science Fiction", a qual traz o conto "O bombeiro", narrativa que originou Fahrenheit 451, até capas de traduções do romance para outros países. São as capas mais célebres. Há outros textos como o excerto do diário de bordo de Truffaut para a adaptação cinematográfica. Há, também, um delicioso relato feito por Margaret Atwood.

Trata-se, portanto, de uma edição maravilhosa, que vale muito a pena colecionar.

É interessante como Montag começa a questionar tudo à sua volta, a ponto de sentir nascer em si um desejo de descobrir o que os livros possuem que fazem mulheres e homens morrerem por eles. Mas como Faber, outra personagem emblemática, disse, não são os livros, mas aquilo que eles guardam.

Com um apuro literário e profundas reflexões, Fahrenheit 451 é um livro incrível, um clássico imortal e uma declaração de amor aos livros mas, principalmente, às ideias, que fogo nenhum pode queimar.

Você pode conferir a primeira resenha que fiz sobre este livro aqui.


Ficha Técnica

Fahrenheit 451

Ray Bradbury

Tradução de Cid Knipel

ISBN-13: 9786558300151

ISBN-10: 655830015X

Ano: 2020 

Páginas: 272

Idioma: português

Editora: Biblioteca Azul


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/fahrenheit-451-136ed11679666.html

quarta-feira, abril 07, 2021

Distopia sanitária II


Jair Carluxo estava exausto. Ao começar aquela semana, o inspetor de polícia nunca imaginaria que teria um caso daqueles em suas mãos. Talvez ninguém imaginaria. Afinal, vinte anos depois do Grande Expurgo dos Assintomáticos, era a primeira vez que um homicídio culposo por covid acontecia.

O inspetor Jair Carluxo Bolsominion Rodrigues foi chamado à sala do Superintendente no início da semana. Com tantos anos de trabalho, imaginou que não deveria ser algo importante. Talvez mais um convite para se filiar ao Partido da Fé em Cristo, ou para a Associação de Bolsonaristas Históricos. Foi com grande surpresa quando descobriu que tinha em seu colo um Inquérito de Óbito Sanitário. E pior ainda foi saber que a causa da morte era Covid-23.

Agora a semana ia pelo meio e o policial estava exasperado por se ver em um beco sem saída. E não era para menos. Ninguém falava de assintomáticos desde o Grande Expurgo. E com a tecnologia de rastreamento genético, qualquer óbito causado por agente aéreo transmissível poderia identificar o transmissor. 

O grande problema, porém, era que o DNA coletado não estava presente no banco de registro de assintomáticos. Com tantos postos de controle, era impossível que alguém com sintomas andasse livremente pela cidade. Ou então o assintomático teve seu registro apagado deliberadamente. 

Jair Carluxo suspirou. Precisava de respostas e com urgência. Dois ou três influencers já pressionavam a Secretaria de Segurança Semipública para noticiar aquela morte. E o superintendente continuava a insistir que precisava tuitar o nome do suspeito até sexta-feira, mesmo que tivesse que apagar depois.

O inspetor de polícia ignorava, mas já havia cruzado com o assintomático no meio daquela mesma semana. E assim como a vítima daquele caso, Jair Carluxo logo estaria morto.

sexta-feira, outubro 11, 2019

Bacurau - Uma distopia pernambucana

Acabei de assistir Bacurau. Saí do cinema ainda impactado. Na tela, assisti a saga de um povoado em estado de sítio ser atacado por um grupo de estrangeiros, vestidos como uma unidade de elite norte-americana, num doentio jogo de morte, e se defender com bravura. Uma original distopia pernambucana. 

Logo no início, vemos uma placa avisando que aquele que vier, que venha em paz. O lugarejo de Bacurau é simples e orgânico. Todos se conhecem. E nós espectadores somos apresentados ao lugar justamente em um momento de luto, em que a matriarca, Dona Carmelita, é velada. 

Foi interessante perceber que o norte-americano mais sanguinário se chama Joshua, o que acredito ser uma referência ao bíblico Josué, que dizimou povos inteiros, matando inclusive crianças.

Outra coisa que me chamou à atenção foi o tom de atrevido orgulho que os habitantes de Bacurau ostentavam. Uma forasteira, ao perguntar sobre o que significava Bacurau, uma moradora responde, num ar zombeteiro, que se tratava de um pássaro noturno, muito bravo.

É essa ousadia que mais me encantou no povo de Bacurau.