O capitão ainda não havia conseguido se convencer de que eram vencedores. Voltou seus olhos ao portão, lugar de maior angústia, e viu a cena deprimente de mortos e feridos que se arrastavam pela terra. O sol do meio-dia brilhou sobre a barba ruiva de Balgata, que tocou seu rosto com a mão direita e sentiu a pele pegajosa. Devia estar horrível. Percebeu que Seridath chegava pelo portão. O rapaz o fitava com uma expressão de triunfo, enquanto apontava para o ombro direito de Balgata.
– Capitão, tem uma seta em seu ombro – anunciou o cavaleiro.
– Ah, é mesmo – respondeu Balgata, enquanto virava o rosto, surpreso, como se tivesse acabado de notar a existência do projétil perfurando sua carne. – Deixa eu tirar isso.
O capitão segurou a haste escura com a mão esquerda e puxou com violência, soltando um grunhido rouco e curto. Voltou-se para Seridath com um olhar ainda aparvalhado e percebeu que o rapaz o fitava em expectativa. Balgata suspirou, balançando a cabeça.
– Está bem, rapaz – admitiu o capitão. – "Seus" mortos nos salvaram. Mas está na hora de tirá-los daqui.
– Certo, capitão – respondeu o jovem, com um meio-sorriso.
Seridath enviou um comando mental à espada: "Lorguth, chega. Faça os servos deixarem a cidade e voltarem ao seu repouso". Quase que instantaneamente, um sombrio pensamento invadiu sua mente. "Eles não terão repouso" pensou Seridath, como se estivesse falando consigo mesmo. Era a resposta rancorosa de Lorguth. O jovem sentiu uma corrente gelada percorrer seu coração.
– Balgata! Os prisioneiros! – gritou ele.
Sem pensar muito, correram todos à torre da guarda, onde ficavam as prisões. Atrás da construção, junto ao muro, um estreito alçapão se abria, como uma boca escancarada, dando acesso ao porão do prédio. De fora, só escuridão. Mas podiam ouvir as vozes abafadas dos prisioneiros. O choro angustiado e os gritos de desespero chegavam fracos à superfície. Entraram pelo alçapão e desceram às cegas a íngreme e estreita escada. Ao penetrarem no fundo do corredor, sentiram suas botas escorregarem em algo pegajoso, enquanto o forte cheiro de sangue os enojava.
Eram oito celas de cada lado de um largo e escuro pavilhão, lotadas de todo o tipo de pessoas. Habitantes da cidade, o Conde de Arnoll, guerreiros sobreviventes da Companhia e os pobres camponeses de Keraz. Uma das celas havia sido arrombada e todos os prisioneiros foram mortos de forma brutal. Eram quarenta pessoas, entre velhos, mulheres e crianças. Dentro da cela, em meio a um tapete de corpos ensanguentados, permaneciam quatro "servos" de Seridath. Lorguth dera a ele sua lição.
Continua...
Continua...