segunda-feira, abril 17, 2017

Renegado - Parte II de IV


O capitão ainda não havia conseguido se convencer de que eram vencedores. Voltou seus olhos ao portão, lugar de maior angústia, e viu a cena deprimente de mortos e feridos que se arrastavam pela terra. O sol do meio-dia brilhou sobre a barba ruiva de Balgata, que tocou seu rosto com a mão direita e sentiu a pele pegajosa. Devia estar horrível. Percebeu que Seridath chegava pelo portão. O rapaz o fitava com uma expressão de triunfo, enquanto apontava para o ombro direito de Balgata.
– Capitão, tem uma seta em seu ombro – anunciou o cavaleiro.
– Ah, é mesmo – respondeu Balgata, enquanto virava o rosto, surpreso, como se tivesse acabado de notar a existência do projétil perfurando sua carne. – Deixa eu tirar isso.
O capitão segurou a haste escura com a mão esquerda e puxou com violência, soltando um grunhido rouco e curto. Voltou-se para Seridath com um olhar ainda aparvalhado e percebeu que o rapaz o fitava em expectativa. Balgata suspirou, balançando a cabeça.
– Está bem, rapaz – admitiu o capitão. – "Seus" mortos nos salvaram. Mas está na hora de tirá-los daqui.
– Certo, capitão – respondeu o jovem, com um meio-sorriso.

Seridath enviou um comando mental à espada: "Lorguth, chega. Faça os servos deixarem a cidade e voltarem ao seu repouso". Quase que instantaneamente, um sombrio pensamento invadiu sua mente. "Eles não terão repouso" pensou Seridath, como se estivesse falando consigo mesmo. Era a resposta rancorosa de Lorguth. O jovem sentiu uma corrente gelada percorrer seu coração.

– Balgata! Os prisioneiros! – gritou ele.

Sem pensar muito, correram todos à torre da guarda, onde ficavam as prisões. Atrás da construção, junto ao muro, um estreito alçapão se abria, como uma boca escancarada, dando acesso ao porão do prédio. De fora, só escuridão. Mas podiam ouvir as vozes abafadas dos prisioneiros. O choro angustiado e os gritos de desespero chegavam fracos à superfície. Entraram pelo alçapão e desceram às cegas a íngreme e estreita escada. Ao penetrarem no fundo do corredor, sentiram suas botas escorregarem em algo pegajoso, enquanto o forte cheiro de sangue os enojava.

Eram oito celas de cada lado de um largo e escuro pavilhão, lotadas de todo o tipo de pessoas. Habitantes da cidade, o Conde de Arnoll, guerreiros sobreviventes da Companhia e os pobres camponeses de Keraz. Uma das celas havia sido arrombada e todos os prisioneiros foram mortos de forma brutal. Eram quarenta pessoas, entre velhos, mulheres e crianças. Dentro da cela, em meio a um tapete de corpos ensanguentados, permaneciam quatro "servos" de Seridath. Lorguth dera a ele sua lição.

Continua...

Leitura #18

Um dos maiores mitos da humanidade. A história do rapaz que tinha a música na alma, capaz de comover até mesmo o Senhor dos Mortos.

Orfeu
Hans Baumann
Antony Boratunski
Tradução de Tatiana Belinky
Editora Ática

Descrição: Uma pilha de pedras forma uma entrada de caverna. Nela um rapaz toca sua harpa para um leão. O rapaz tem roupas simples de cores azul e amarela, com um gorro vermelho. O leão está com a para esquerda estendida para o rapaz.



sexta-feira, abril 14, 2017

O Matador: Leveza e densidade num só tiro

A literatura certamente é um campo minado. Filha da linguagem, faz parte de uma guerra muito maior. E as vítimas, muitas vezes somos nós. Em outras, as palavras. 
E se é um perigo lidar com literatura, tal risco se torna ainda maior quando falamos de literatura infantil. Muitos não possuem a coragem de fugir de conceitos e paradigmas préestabelecidos. Felizmente, Wander Piroli mostra que não é desses. Autor de uma obra contundente, grande parte voltada para o público infanto-juvenil, Piroli tem no livro O Matador um dos maiores exemplos de sua coragem, competência de linguagem e sensibilidade poética. A narrativa é escrita em tom de relato de memória, num tom fortemente confessional. Nele, o narrador, conta de um episódio da infância, quando todos os meninos da vizinhança tinham sucesso na caça aos pardais. Apenas ele, o narrador, fracassava na tentativa de atingir um passarinho com seu bodoque. Até uma fatídica tarde em que tudo muda e ele se torna, finalmente, um matador.
O texto é escrito com um equilíbrio primoroso entre leveza e densidade. A agilidade no discurso, através de frases curtas, confere uma rapidez e um ritmo leve à narrativa. Contudo, essa leveza é quebrada por mergulhos profundos e densos, como que estrategicamente escolhidos, por meio de palavras que carregam um peso profundo de sentido e de tom.
E não podemos ignorar o primoroso trabalho que o artista Odilon Moraes faz na ilustração da edição mais recente. Em sintonia com o texto de Piroli, Moraes usa uma paleta suave, escolhendo em geral o verde, para compor os desenhos, para no final carregar no vermelho, criando um contraste forte e pungente.
Com um texto preciso e dinâmico, sem deixar de lado a sensibilidade, Piroli faz de O Matador uma obra contundente e ímpar. E com o magnífico traço de Odilon Moraes, certamente sua narrativa permanecerá, nos corações e mentes de seus leitores, ecoando.

Ficha Técnica


Título: O Matador
ISBN: 9788540507678
Encadernação: Brochura
Formato: 21 x 26
Páginas: 32
Ano de edição: 2014
Editora Cosac Naify

quarta-feira, abril 12, 2017

Leitura #17



Dois livros em um. A amizade vista a partir de um menino e de um cachorro.

O menino - O cachorro
Simone Bibian
Mariana Massarani

Descrição: Ao redor do quadrado do título, diversos quadrados menores, com desenhos de rostos de meninos, de cachorros, marca de uma pata, um osso, uma estrela, a lua minguante, a marca de um pé, alternando de forma aleatória.

#Livros2017

Leitura #16


Piteco de um jeito bem diferente. Desta vez, ele quem vai atrás da Thuga. E com um caminho cheio de perigos à frente!

Piteco - Ingá
Shiko
Graphic MSP / Panini Comics

Descrição: Piteco está de perfil direito ergue uma clava na mão direita. Ele veste sua túnica vermelha. Thuga está à esquerda dele, de frente, vestida de laranja, amarrada a uma pedra. Junto dela, um homem com peles de tigre. À do Piteco, dois homens também com peles de tigre. Um deles está de costas e o outro segura uma clava com os braços erguidos e flexionados atrás da cabeça.

Vídeo: El Desdichado, Gerard de Nerval

Boa noite! Hoje compartilho com todos El Desdichado, de Gerad de Nerval. Este é o primeiro poema que decorei e consegui levar comigo até hoje! Espero que gostem...


segunda-feira, abril 10, 2017

Renegado - Parte I de IV

Ir para O Assalto - Parte III de III

Thin observava as horrendas criaturas percorrerem as ruas da cidadela. Agora o ladrão tinha a certeza que as sombras se multiplicavam. Sentia que Dhor com certeza viera cobrar as suas dívidas. Eram seres de corpos escurecidos, roupas em frangalhos e pele arruinada, repleta de erupções, bolhas e furúnculos. Os olhos, vermelhos, moviam-se para além das órbitas, como se eles estivessem em constante transe. Se é que a expressão “eles” pudesse ser utilizada para aquelas criaturas. Emitiam sons guturais que passeavam entre gemidos e uivos.
Até que o ladrão caiu em si. Aqueles podiam ser os mensageiros de Dhor, mas o rapaz sempre considerou que o deus amava seus servos mais criativos e astutos. Não era momento para perder a calma. “Tenho que dar o fora” pensou ele. Jogou a besta para um lado, desafivelou o cinto da bainha, lançando-a longe, com espada e tudo. Enquanto corria pela ameia, ia jogando fora tudo que denunciasse sua posição como bandido inimigo. Descalçou até mesmo as botas. Apenas ficou com sua adaga, escondido de forma hábil na parte inferior de sua pequena coxa. 
Um dos monstros subia a escada que levava à ameia. Evitando o encontro, Thin jogou-se sobre o telhado de um prédio próximo. Era um edifício de dois andares, que parecia ter sido morada de algum comerciante abastado de Arnoll. Com a invasão, passara a ser moradia provisória de Berak, o líder do bando. O rapaz retirou a capa e o gibão, deixou as peças caírem do alto, ficando vestido com uma camisa surrada de lã e sua calça de couro, tingida de preto. Talvez tivesse uma chance de escapar, se conseguisse esgueirar-se como sempre, sem ser notado. Quem sabe se chegasse às prisões antes e se passasse por prisioneiro... Mas algo lhe dizia que era melhor não rumar para aquele lugar.
Agilmente, desceu do telhado e atirou-se com uma cambalhota para o interior de uma das janelas do prédio. Era um aposento claro, ornado com leve luxo. Havia uma cama de madeira, com colchão, uma estante contendo alguns livros e um baú de tamanho médio num canto. Thin, com sua capacidade profissional de avaliar rapidamente um ambiente, lamentou não haver tempo para procurar algo valioso. Desceu com rapidez as escadas a tempo de topar com um criado.
– Os mortos! – gritou o rapaz a Thin – Eles estão tomando Arnoll! Todos morreremos!
O ladrão atrapalhou-se e ambos rolaram da metade da escada até o primeiro andar. 

Enquanto o jovem se embaralhava com o criado, Balgata e seus homens avançavam pelos portões. Andavam com calma, ainda tentando recuperar-se dos ardores da batalha. Os inimigos haviam sido praticamente exterminados. Volta e meia um grito desesperado soava em algum lugar, um bandido pedindo misericórdia, enquanto era despedaçado por uma das criaturas.

domingo, abril 09, 2017

Leitura #15

Composto por um humor nonsense, este livro apresenta um inusitado pescador.

Baleia #1
Rebeca Prado

Descrição: Dentro de um círculo, céu azul-esverdeado com duas nuvens. Abaixo, duas ondas suaves. Abaixo do círculo, uma âncora.

sexta-feira, abril 07, 2017

Leitura #14


Um delicioso compêndio sobre nossa cultura oral.

Você diz que sabe muito, borboleta sabe mais!
Ricardo Azevedo
Mariana Massarani
Editora Moderna

Descrição: Em fundo azul, borboleta com asas cor de rosa, tem corpo humano. Com os dois braços agendarem

Alta fidelidade: Sobre som, tristeza e crescimento


Sabemos que toda pessoa passa por um período de avaliação interior, uma espécie de balanço emocional, muitas vezes na passagem da juventude para a meia-idade. Em muitos casos, a motivação dessa auto-análise está na insatisfação que surge quando a pessoa compara a realidade com as expectativas que tinha, sobre si mesma, no passado. 
De certa maneira, o excelente romance de Nick Hornby, Alta fidelidade, explora uma situação como essa. É uma obra impactante e ágil, repleta de referências da cultura pop sem soar clichê, além de conter um tom coloquial saboroso e equilibrado, prova tanto da competência do autor quanto do tradutor.
Alta fidelidade nos apresenta Rob, narrador de sua vida, com trinta e cinco anos e uma coleção de relacionamentos fracassados. A narrativa tem início numa espécie de discurso imaginário que ele faz para a última ex-namorada, Laura, contando sobre os piores foras que tomou na vida. Rob chega a culpar um desses foras pelo seu fracasso profissional e amoroso. 
Ao longo do livro, porém, o leitor tem a oportunidade de ver Rob se entregando inúmeras vezes, com atitudes machistas, imaturas e egoístas. Ele despreza o trabalho como dono de uma loja de discos quase quebrada, bem como seus excêntricos funcionários e "quase amigos", o tímido Dick e o espalhafatoso Barry. Tudo nele parece incompleto, como sua enorme coleção de discos e fitas cassete. 
Há inclusive um excelente paralelo entre gravar um cassete e escrever. Ambos exigem tempo, esforço emocional, consciência e disposição para começar de novo. Assim como nos relacionamentos. E essa é outra das provas do talento de Hornby, pois seu romance mostra uma gama de personagens autênticos e fascinantes, mostrando o quanto as pessoas podem ser contraditórias e como crescer pode se mostrar solitário e assustador.
Com um ritmo ligeiro e engraçado, rico em referências musicais, Alta fidelidade certamente é um daqueles livros capazes de marcar aquele que se aventure por suas páginas.

Ficha técnica
Autor: Nick Hornby
ISBN: 9788535923025
Ano: 2013
Páginas: 312
Idioma: português
Editora: Companhia das Letras

quarta-feira, abril 05, 2017

Nossas histórias, para sempre


Quando decidimos fazer um evento ligado ao Dia do Contador de Histórias, imaginávamos um seminário que nos levasse à reflexão dessa arte tão preciosa para nós. Não contávamos, porém, com as “cosmicidências” que por vezes nos surpreendem. E assim foi, pois a Sandra Lane, uma das pessoas que desejávamos convidar para o seminário, entrou em contato conosco e nos surpreendeu com a oferta de oficina “Recursos Auxiliares na Arte de Contar Histórias” e da magnífica apresentação “Baú de Histórias”. Enquanto a gente fechava os detalhes, Sandra veio com a ideia de uma semana voltada a celebrar as histórias e seus guardiões, os narradores.
Ficamos empolgados e logo nos pusemos em ação para montar a programação da semana. Foi um período árduo e cheio de percalços, o que impactou na divulgação. Tivemos problemas externos, como a greve atual, que nos encheram de incertezas.
Tudo, porém, deu certo. 
O seminário contou com a magnífica atuação de Reni Tiago, para fazer a abertura. A mesa foi composta por Sandra Lane e Cris Barbosa, com mediação da Rosana Mont'Alverne. Por motivo de saúde, não estive presente, mas os depoimentos sobre esse especial encontro chegaram até mim como preciosas palavras se sabedoria.
Com o apoio e a disposição do Grupo de Contadoras de Histórias da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil, realizamos apresentações durante a semana inteira, com destaque para a mais nova integrante, Lupri do Carmo, que ainda trouxe uma excelente convidada, Magna de Oliveira. Tivemos oficinas, como a ministrada pela Sandra, que teve intensa procura e foi realizada com lotação máxima.
Para encerrar de forma inesquecível, tivemos o Sábado de Sabores e Histórias, iniciado pela oficina “Livro-burguer”, mediada pelo amigo bibliotecário Wander Ferreira. Em sequência, mediei a oficina “Meu Livro de Receitas Enfeitiçadas”. Para encerrar, Sandra Lane, Vilmar de Oliveira e Carlinhos Ferreira foram maravilhosos, abrindo o Baú de Histórias e encantando o público com uma miríade de sons, palavras e sonhos.
A Semana do Contador de Histórias não teria sido o sucesso que foi, contudo, se não tivesse a presença do público, que tornou cada atividade dinâmica e prazerosa, com sua postura sempre pronta para uma boa conversa.
Deixo aqui, portanto, meu relato de como essa semana que se encerrou no dia 25 de março de 2017 será inesquecível para mim… para todos nós. Uma semana para ser lembrada e contada com carinho e admiração.

Relato originalmente publicado no Instagram.

terça-feira, abril 04, 2017

segunda-feira, abril 03, 2017

Leitura #13

Uma porquinha muito engraçadinha nos conta sua história.

História enroscada
Sylvia Orthof
Eva Furnari
Editora Braga

Descrição: Em fundo branco, porca de perfil esquerdo usa chapéu azul, veste camisa rosa e saia lilás. Está inclinada para frente e segura uma flor junto ao chão.

domingo, abril 02, 2017

Leitura #12

A história do amor não correspondido de um cachorro por seu dono. Até um acontecimento mudar tudo entre os dois.

Às vezes o Amor está onde menos se espera
Colin Thompson
BRINQUE-BOOK

Descrição: Em fundo azul, cachorro de perfil direito olha para o pé de alguém que se afasta.