Por muito tempo eu me privei do encerramento de How I met your mother. Levei a coisa mais para o lado pessoal do que o necessário. Havia assistido até a penúltima temporada com uma ex-namorada e de repente estava eu mais sozinho que o próprio Ted. Uma série que tem "encontro" em seu título e mais fala de desencontros do que qualquer outra coisa não seria a melhor opção para se assistir, a meu ver naquela época, durante um período de fossa.
E segui o caminho até o amor me mostrar que vida e televisão não são a mesma coisa, que essa "caixa de areia" tecnológica não precisa ser vista como o galho mais alto da árvore do quintal. Estava lá eu com a última temporada diante de mim, naquele que parecia ser o fim de semana legendário de um casamento igualmente legendário.
E percebi então que legendários somos nós, que fazemos a memória e a palavra persistirem no tempo. Nós somos o Ted, narradores e expectadores de nossas vidas. E foi impressionante perceber isso, como essa voz encorpada e esse rosto com um ar de sinceridade e leve melancolia me fizeram crer que era eu mesmo que vivia os dissabores de nosso querido Mosby.
E ao final, novamente fui pego de surpresa. Sim, foi com uma grande sensação de "desencontro" que a série terminou para mim. Mas o engraçado é que mesmo depois de sair do Netflix e ficar sozinho no escuro quente da madrugada de natal, constatei que a busca de Ted não havia se encerrado e que a série continuaria rodando em minha mente, com uma promessa de reencontro.
Depois de muito matutar, ponderei que talvez essa "mãe" tão perfeita e ideal, tão em sintonia com nosso amado arquiteto seja tal qual o edifício por ele construído: uma elaboração. Afinal, a memória pode ser benigna com aqueles que amamos, estejam eles ainda conosco ou não. E ao perceber que toda a narração não passava de um relato, senti a série tomar proporções lendárias, fabulosas, quase épicas.
Então nos últimos momentos do derradeiro episódio, quando não estava mais preso ao relato de Ted, um cálido toque de realidade. Afinal, por mais incrível que seja a memória, sabemos também que o instante importa. E muito.