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segunda-feira, outubro 02, 2023

Inhamuns - Uma pungente narrativa no sertão do Ceará



Por vezes nos deparamos com leituras que nos atravessam qual navalha e fazem sangrar nosso peito, nos compungindo e maravilhando. Foi o que aconteceu comigo ao terminar Inhamuns, romance da escritora cearense Kah Dantas.

No livro, a protagonista e narradora conta a história de seu retorno a Tauá, cidade localizada nos Inhamuns, Sertão do Ceará. Ela não volta por acaso, mas a trabalho, por conta de uma descoberta de um novo sítio arqueológico próximo a Tauá. Ao chegar, ela encontrará logo seu amigo de infância, e uma antiga paixão renascerá, trazendo consequências irreversíveis.

Pungente e melancólico, o livro de Kah Dantas é também altamente erótico, contando para nós, leitores, uma história de amor salpicada de tragédia.

A narradora, cujo nome não é informado, tem um passado conturbado, com a morte da mãe ainda jovem e o abuso físico de uma tia, em contraste com o amor da avó. Mas esta também está morta; morreu quando a narradora já não morava em Tauá, mas em Porto Alegre, onde fez carreira como jornalista. A cidade tem um enorme preconceito para com a mãe morta, chamando-a de prostituta. Fato é que a protagonista cresceu sem mãe ou pai, aos cuidados de uma avó zelosa, mas ameaçada por uma tia má. E agora ela retorna e revive antigos fantasmas, o amor clandestino do amigo de infância, enquanto enfrenta seus próprios demônios.

Inhamuns é cadenciado e poético. A protagonista não tem uma boa imagem sobre si mesma e ainda acontecem tragédias que pioram essa autoimagem. Há uma tênue tentativa de reconciliar-se consigo, mas não há muito jeito.

A prosa de Kah Dantas é linda e nos afoga em pleno sertão, compondo um romance cheio de águas, apesar da secura da própria narradora.

Com sua prosa pungente e profunda, Kah Dantas cria uma narradora que nos toma pela mão e nos guia por uma jornada a um sertão cearense mítico e erótico.

 

Ficha Técnica

Inhamuns

Kah Dantas

ISBN-13: 9786556810607

ISBN-10: 6556810606

Ano: 2021 

Páginas: 128

Editora: Moinhos


Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/inhamuns-11976973ed11968477.html

domingo, maio 03, 2020

Vídeo: Vandalismo - Augusto dos Anjos



Compartilho este vídeo, que foi gravado há bastante tempo, mas continua atual, assim como o poema que ele performa:




Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas,
Cintilações de lâmpadas suspensas,
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais,
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a Imagem dos meus próprios sonhos!


"Eu & outras poesias"
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1772




Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/eu-e-outras-poesias-1328ed206177.html

quarta-feira, abril 08, 2020

Quando as trevas fazem vez de luz

Imagem: Mikhail Timofeev
Sempre evito fazer referências bíblicas. Coisa do meu passado, de experiências ruins com o horror que sentia quando eu via uma pessoa falar de amor ao próximo e declarar, logo em seguida, que deus deveria "pesar a mão" contra alguém que não fosse cristão evangélico.

Evito referências bíblicas porque sei como elas podem ser usadas para oprimir, discriminar, massacrar, justificar o injustificável. Porém, algumas vezes sou surpreendido com absurdos tão grandes que acabo recorrendo à própria bíblia para tentar refletir um pouco.

O atual presidente se diz cristão. Declara que o Brasil é um país cristão. Costuma falar de deus a cada pronunciamento que faz. E assim continua a vender sua imagem de representante do povo cristão no Brasil.

Então, paro sou levado a refletir sobre as palavras e ações de Bolsonaro e concluo que as coisas estão no mínimo deslocadas. Para não dizer o pior.

No evangelho de Mateus, no capítulo 6, Jesus começa o famoso Sermão da Montanha. E em dado momento ele declara: "se a luz que há em ti forem trevas, quão grandes serão essas trevas!"

Não sou um estudioso da Bíblia. Fazem anos que não a consulto, mas fiquei inculcado com esse trecho, que me veio depois de ouvir um presidente falar que uma pandemia que já matou milhares de pessoas ser "uma gripezinha" e que o cuidado que as pessoas estão tendo não passa de "histeria".

E me recordo de outras coisas que o sujeito disse ao longo de sua carreira política. Uma de suas primeiras polêmicas foi colocar na mesma frase as palavras "estupro" e "merece". Uma frase claramente ofensiva, sobre a qual nem vale discutir aqui. Só vou argumentar que a frase dele faz tanto sentido quanto dizer: "só não como cocô porque não é doce."

Essa não foi a única frase cruel e criminosa de tantas. Nem vale elencar todas aqui. Destaco apenas aquelas que me causaram profundo nojo. Ele disse, por exemplo, que o crime de extermínio era bem-vindo no Rio de Janeiro. Sua fala está nos anais da assembleia legislativa do Rio. Todo mundo lembra de sua abjeta homenagem a um torturador durante a votação do impeachment.

Uma de suas mais recentes declarações foi reclamar sobre um comprovante. "Querem comprovante de tudo." Afinal, ele se declara acima de qualquer suspeita, não tem que dar satisfação a ninguém. Ao que parece, nem aos seus eleitores.

E assim continua sua trajetória em perverter as coisas. Com Bolsonaro, crime é defendido, não é preciso ter comprovante, estupro está ligado a merecimento, pandemia é gripezinha.

Eu simceramente gostaria que, nessa última, ele não estivesse errado.

segunda-feira, agosto 19, 2019

segunda-feira, junho 24, 2019

Escarnecedores em roda



Um homem fazendo o sinal de armas com a mão usa uma camisa escrito "marcha para jesus". Enquanto isso, outros ao redor sorriem e aplaudem. 

Penso se não deveriam ter expressões de descontentamento ou vergonha. Jesus não era o tal príncipe da paz? 

Bolsonaro é um turbilhão de ódio e preconceito. Fico imaginando os fariseus e sacerdotes da época de Jesus com a mesma cara do Bolsonaro, as mesmas posturas e palavras. E o mesmo ódio.

Certa vez, assisti um vídeo em que Bolsonaro afirmava que seria voluntário em execuções de condenados, caso o Brasil tivesse pena de morte. Bolsonaro, se vivesse no tempo de Jesus, seria voluntário para bater os cravos. 

Que defesa os cristãos têm? Quem quiser procurar a foto verá os "servos de deus" rindo e aplaudindo, como se o presidente fosse um performer, um artista, um bobo da corte. É assustador.  Marcha para Jesus é marcha pelo direito de estar armado? E ainda assim, arma não é motivo para piada e festa. Arma serve apenas para ser usada para ferir.

Mesmo que uma pessoa seja a favor do porte de arma, acho que ela deveria pensar nisso como um mal necessário, e não como um item para ostentação. E para deixar claro: Eu sou contra!

quinta-feira, abril 18, 2019

Se eu fosse

Eu queria
ser
outra
Pessoa.
Pose
Habilidade.

Se eu fosse o
Hulk
seria
Incrível.

Ou mais um IDiota
tentando na força
vencer a razão.

Talvez outro
Hyde
Menos senhor de mim.
Monstro não mais
escondido.

A força estúpida e ingênua
do ódio mais puro
o estalar da loucura
ante o absurdo
da vida.

Ou talvez a
Ternura
Travestida em fúria
Ante a negação do
Amor.

quinta-feira, março 12, 2015

A juventude massacrada pelo preconceito

Ele era um garoto. Não era como eu. Nos separava a idade, a cor da pele, configuração familiar. Mesmo assim, era para ser como eu. Em minha mente, nenhuma diferença conta quando somos humanos. Ou toda a diferença conta, para mais.

Era um menino. Seu rosto machucado, coberto de ataduras, escondido pelo tubo de respiração artificial, olhos cerrados. Ignorava que morria. Enquanto isso, as mãos violentas de um discurso insano, assassino, tentavam limpar-se do sangue tão jovem. Tão meu.

Um menino. Mais uma vítima de um monstro chamado intolerância. Uma besta alimentada pelo hipócrita discurso a favor de uma família de plástico, uma família que cobre com cera as pústulas de sua luxúria. Que pinta com esmalte de "amor" suas caras sedentas por sangue. Mentes que clamam pelo escândalo, pela arena, pelo auto de fé.

Um simples garoto. Agora, ícone de minha revolta. Sua imagem ferida, inconsciente, atravessa minha garganta. Filho de um casal homoafetivo. Filho de um casal gay, filho de uma família.

Não o conheci, mas seu sofrimento reverbera em meus ouvidos, por cada vez que alguém sofre por ser ele mesmo. Por cada vez que o desrespeito se torna navalha, punho, marreta.

Estou nauseado, mortificado. Ele era apenas um menino, gente! E morreu por não ter sua família lavrada em estatuto.