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sábado, dezembro 04, 2021

Coluna Literária lança foco sobre literaturas africanas



Por ser um continente, África possui uma infinitude de culturas, idiomas, modos de ver e se relacionar com o mundo. Por isso, tudo o que carrega o adjetivo "africano" acaba por sofrer um reducionismo cruel. Falar de literatura africana, então, é um grande desafio, posto que em África as literaturas podem ser muitas, plurais e divergentes.

Tendo em vista esse desafio, a Coluna Literária trata o tema com muito respeito e reverência. Em primeiro lugar, há que se falar do perfil literário, que ovaciona a escritora Paulina Chiziane, mais recente vencedora do Prêmio Camões 2021.

No campo das resenhas, foram apresentadas duas obras bem destintas. Sem gentileza, da sul-africana Fuuthi Ntsingila, e Reclusos do tempo, do moçambicano Alex Dau.

Para acessar a Coluna Literária, basta clicar aqui.

Espero que leitoras e leitores possam se deleitar com os textos primorosamente escritos da Coluna Literária, a qual sempre busca ótimas dicas de literatura para aproximar "pessoas, livros e bibliotecas"!

domingo, maio 17, 2020

Vídeo: Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano - Ana Martins Marques



Hoje declamo o poema de Ana Martins Marques presente em "O livro das semelhanças":

Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano
quantas cidades para chegarmos a esta cidade
e quantas mães, todas mortas, até tua mãe
quantas línguas até que a língua fosse esta
e quantos verões até precisamente este verão
este em que nos encontramos neste sítio
exato
à beira de um mar rigorosamente igual
a única coisa que não muda porque muda sempre
quantas tardes e praias vazias foram necessárias para chegarmos ao vazio
desta praia nesta tarde
quantas palavras até esta palavra, esta


Mais histórias e poesias em: http://www.oguardiaodehistorias.com.br/

domingo, maio 03, 2020

Vídeo: Vandalismo - Augusto dos Anjos



Compartilho este vídeo, que foi gravado há bastante tempo, mas continua atual, assim como o poema que ele performa:




Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas,
Cintilações de lâmpadas suspensas,
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais,
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a Imagem dos meus próprios sonhos!


"Eu & outras poesias"
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1772




Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/eu-e-outras-poesias-1328ed206177.html

segunda-feira, setembro 30, 2019

Entre duas montanhas

Estive na mediação da última mesa do FLI-BH 2019. Foi uma honra e uma grande responsabilidade.

Ana Maria Gonçalves e Marcelino Feire são gigantes da literatura atual. Estar entre eles fez com que eu me sentisse ainda mais pequeno. Um vale entre duas montanhas.
Evocando o termo "Oralitura", muito pesquisado pela professora Leda Martins, homenageada pelo Festival, Ana Maria falou muito sobre as vozes de sua realidade como uma pessoa filha de mãe negra e pai branco. Contou como a figura da contadora de histórias formou nela a consciência de também ser uma contadora de histórias.

Da mesma forma, Marcelino Feire destacou como sua infância em Pernambuco é de fundamental importância para sua literatura. Marcelino deu um espetáculo ao recitar de memória trechos de seus textos, em especial o conto "Totonha". Relembrando a figura de sua mãe e de uma tia, o escritor assinalou como essas vivências são fundamentais em sua palavra escrita e falada.

Além das vozes, os corpos também foram destacados. Ana Maria Gonçalves apontou o corpo negro como fronteira e a importância da evidência desse corpo, muitas vezes apagado, tratado como invisível. Assim, a escritora defendeu o papel das políticas afirmativas para evidenciar esses corpos como próprios e pertencentes a todos os lugares. O acesso às universidades, antes quase que exclusivas a brancos, seria um exemplo.

Já Marcelino ressaltou como, em sua literatura, é fundamental que a palavra passe por todo o corpo. Ao terminar de escrever, ele passa o novo texto pelo crivo da Leitura em voz alta. Durante a leitura, esse novo texto precisa passar por todo o seu corpo. Ele precisa sentir todo o corpo envolvido. 

Destaco esses dois assuntos, entre tantos abordados. Esses, porém, foram os que mais me impactaram. Os mais frescos em minha memória. Foi um momento de muito aprendizado para mim. E espero continuar aprendendo.

sexta-feira, setembro 20, 2019

FLI-BH 2019 - Do livro à voz: narrativas vivas

A programação do FLI-BH 2019 está no ar. Com a curadoria de Nívea Sabino e Marilda Castanha, o Festival está mais que bonito, está um monumento! Autoras e autores de diversos registros e lugares encontrarão seu espaço no Parque Municipal Américo René Gianneti. Temos Adão Ventura como homenageado. Leda Martins e Ailton Krenak são as menções honrosas.
Sinto que será uma honra para toda e qualquer pessoa que transitar por essa ciranda de Oralitura, que adentrar esse quintalzão que será o Parque Municipal nos dias 25 a 29 de setembro.
Mais que um lugar de escrita, será de escuta. Uma grande roda como aquelas que nossos ancestrais faziam. E nessa grande roda, saudaremos suas vozes com as nossas. Na figura de tantas letras, cantos, performances, slams e saraus, seremos todas uma grande colcha de retalhos.
Não poderia deixar de puxar uma sardinha pro meu lado. Estarei na Biblioteca do FLI-BH com oficinas literárias. Faço também a apresentação "De lobo a bolo". Por fim, terei o privilégio de receber Ana Maria Gonçalves e Marcelino Feire em uma mesa maravilhosa.
A história da Literatura de BH e do mundo ganha mais um capítulo. Um daqueles cheios de reviravoltas, aventuras e muita emoção. E nesse grande épico, estamos todas e todos convidadas. Vem com a gente!

Confira a programação completa no site http://www.fli.pbh.gov.br/.

segunda-feira, abril 15, 2019

Ouvindo Mia Couto à beira do rio das palavras

Fonte: divulgação
Na quarta-feira passada, dia 10 de abril, tive a oportunidade de ouvir o grande Mia Couto, escritor Moçambicano. Ele esteve no Sesc Palladium, aqui em BH, para falar um pouco da influência que a literatura de Guimarães Rosa teve em seus livros. 
Eu estava super nervoso. Enquanto esperava para entrar no Grande Teatro, sentia que teria um treco ali mesmo, perto da entrada da rua Rio de Janeiro. O hall estava lotado, havia fila para quem tinha a esperança de que houvesse desistentes e sobrassem lugares. Eu, felizmente, tinha conseguido meu convite com antecedência.
Era a primeira vez que eu veria Mia Couto pessoalmente, ainda que bem de longe. Não tinha problema. Eu já estava apaziguado com a ideia de que talvez nunca possa ter uma conversa próxima com escritores como o Mia. Mesmo trabalhando com literatura há tantos anos, minha ingenuidade já sofreu abalos o suficiente para saber que os encontros por vezes são apenas isso: encontros. E por vezes a pessoa de carne e osso menos tem a acrescentar que suas palavras impressas, pois estas são pesadas, medidas e polidas à exaustão. O universo de celebridades cria a percepção de que pessoas famosas são quase divinas, embora sejam... apenas.
Mia Couto apareceu diante de aplausos e ovações, depois de uma belíssima apresentação das meninas do projeto Miguilim. Ele pediu licença para ler um texto e o fez com tal habilidade que parecia tirar o discurso de cabeça. Ele construiu belas e tristes imagens poéticas ao falar da tragédia em Beira, sua cidade natal. Couto mencionou outras tragédias, estas mais próximas, como a de Brumadinho. Também classificou como tragédia a situação política de nosso país, que corre o risco de ter sua história, mais uma vez, deturpada.
Ao falar do cenário político do Brasil, Mia pediu licença para ler uma carta que ele escreveu juntamente com o José Eduardo Agualusa. A carta era um apelo ao diálogo, ao respeito e à democracia.
As palavras de Mia Couto ecoaram no Grande Teatro do Sesc Palladium e foram aplaudidas de pé. Ele deixou o palco com seu passo simples e tranquilo, enquanto nós, o público, continuávamos aplaudindo. Saí do Sesc Palladium um pouco melhor. Em um ano em que minhas palavras secaram, senti-me como o velho Siqueleto, pois senti novamente a magia das palavras fluindo em mim.

sexta-feira, abril 20, 2018

Festa no Covil - sobre uma torre de palavras e sangue

Tóchtli é um garoto diferente. Confinado na fortaleza de seu pai, Yocault, o menino cresce em um ambiente adulto demais para ele. Seu pai é líder de um poderoso cartel mexicano e construiu sua fortaleza no meio do deserto. Tóchtli não conhece outras crianças, apenas pessoas ligadas às atividades ilícitas do pai, com excessão do tutor. Ele cresce sem referências infantis, apenas adultas. Inteligente e observador, o menino vai narrando as insólitas experiências ligadas ao brutal universo das drogas.
Assim tem início o enredo de Festa no Covil, de Juan Pablo Villa-Lobos. O romance é o primeiro da trilogia sobre o México e apresenta com um humor que oscila entre a inocência e a malícia infantis um dos aspectos mais violentos da realidade mexicana.
É interessante observar como Tóchtli se apresenta como um menino precoce e bem resolvido, a despeito das constantes dores de barriga, provavelmente de origem psicológica. Como uma espécie de "Rapunzel moderna, o menino vive isolado em sua fortaleza, tendo como principal passatempo colecionar chapéus e palavras difíceis. 
Outra observação que faço é a curiosa escolha do autor em dar apenas nomes astecas para suas personagens. Talvez seja um código estabelecido pelo próprio Yocault, para o caso de serem alvo de alguma investigação policial. Ou algo ainda mais complexo, como se esta fosse, de alguma maneira, uma faceta distorcida de resistência do povo mexicano. 
Considero genial a relação que o menino tem com as palavras. Cercado de "eufemismos", Tóchtli constrói sua rede de significados a partir do que observa e também através dos ensinos que recebe de um professor particular.
O romance de Villa-Lobos é envolvente, tanto pela escrita quanto pela empatia que o leitor vai estabelecendo com aquele menino solitário. Por vezes, a descrição de uma realidade cruel arranca risadas por sua fina ironia, pois Tóchtli ainda não tem condições de entender de fato o que se passa. Como exemplo, temos a cena em que o menino narra o momento em que um homem é levado à presença do chefão Yocault  espancado e depois retirado da sala, para ser executado. Tudo isso é narrado pela criança, que brinca com as palavras e fala como se de fato entendesse o que está se passando. 
Por vezes, esse olhar desprovido de experiências funciona como uma espécie de filtro, que desconstrói e expõe a crua realidade do meio em que o menino vive.
Elaborado e Inteligente, o texto de Villa-Lobos exerce um magnetismo sobre o leitor, provocando, instigando e incomodando a cada nova página. Assim, Festa no Covil é uma rica experiência de leitura sobre o exercício da força em seu estado bruto. E como essa mesma força, como um castelo de cartas, é frágil e precisa de um movimento para desabar.


Ficha Técnica 
Título: Festa no Covil
Autor: Juan Pablo Villa-Lobos 
Editora: Companhia das Letras 

quarta-feira, abril 18, 2018

Monteiro Lobato e o Dia Nacional do Livro Infantil


Quando se fala de Literatura Infantil, muitos costumam reduzi-la a um segmento menor, como se fosse uma literatura mais "fácil". Por muito tempo, os livros para crianças e jovens eram imbuídos de uma forte carga utilitária. Era necessário que os textos fossem instrutivos e edificantes.
Há 136 anos nasceu o homem que transformaria para sempre a literatura infantil. José Bento Renato Monteiro Lobato, patrono do livro infantil em nosso país, não foi apenas o percursor da literatura infantil brasileira da atualidade, mas também fundou uma nova forma de pensar e fazer livros para jovens leitores. Em sua homenagem, o dia 18 de abril passou a ser conhecido como o Dia Nacional do Livro Infantil.
Com Reinações de Narizinho, Lobato nos apresenta uma menina que surge pra aprontar mesmo. Afinal, o sentido da palavra "reinação" era travessura, brincadeira, bagunça. E Lúcia, ou Narizinho, a protagonista desse primeiro livro de Lobato, é uma menina esperta, contestadora, inventiva. Emília, sua boneca, era apenas uma muda coadjuvante. Quando ganha voz, a boneca vai lentamente adquirindo força e peso, até se tornar o principal ícone de Lobato. 
As aventuras de Narizinho, Emília e muitas outras personagens acontecem no Sítio do Picapau Amarelo. Inicialmente, o sítio surge como um lugar comum, pacato, típico cenário do interior paulista. Porém, assim como a boneca Emília, o próprio Sítio vai ganhando contornos cada vez mais fantásticos, quase míticos, a ponto de comportar dentro de si as maravilhosas terras do mundo das Fábulas e até mesmo a Terra do Nunca.
O aspecto revolucionário de Lobato não está apenas em sua literatura infantil, mas também em sua visão empreendedora como formador de leitores. Ele decidiu levar seus livros para perto de seus leitores, aonde os livros antes nunca tinham chegado. Suas edições eram ambiciosas em números de exemplares. Assim, o que poderia ser visto como uma aposta mal feita mostrou-se uma jogada que mudou os rumos de nosso mercado editorial.
Não dá para negar as polêmicas em torno de Monteiro Lobato. Sim, há passagens ofensivas e racistas em alguns de seus livros. Não há desculpa ou justificativa. É preciso marcar, contudo, que Lobato era um homem ciente de muitas de suas contradições e não deixava de evidenciá-las. Como exemplo, temos o desabafo de Emília no final de suas memórias, quando ela admite seu preconceito em relação à Tia Nastácia, fazendo um "mea culpa". 
Sei que isso não é suficiente, nem redime Lobato. Apesar disso, é importante observar que ele, apesar de ser contundente em suas ideias, não sabia ser intransigente e sempre esteve disposto a mudá-las.
Que o Dia Nacional do Livro Infantil seja sempre um marco. Não como celebração, mas como memória. Para que as pessoas não se esqueçam dos erros e acertos de Lobato e que sigam seu exemplo na ousadia, na coragem e na inventividade.

quinta-feira, setembro 25, 2014

Um sábado literário



Neste último sábado realizamos aqui na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil o evento Mochila Literária. Trata-se de um projeto criado pela autora Adriana Vargas e que busca reunir jovens autores com o propósito de mútua divulgação.
A organizadora desta edição, Carla Montebeler, deu a ideia de realizá-lo na Biblioteca e como consegui a autorização, fomos nos organizando, fazendo a divulgação junto às redes sociais e trocando ideias.
Foi um sábado muito conturbado. Eu realizei uma oficina chamada Publique seu livro pela manhã. Ao todo tivemos 16 participantes, todos muito interessados no tema. Acredito que eles tenham ficado satisfeitos com o resultado da oficina.
Logo após fechar a Biblioteca, fui recolhido pelo motorista do Sítio Escola 4 Elementos para uma feira literária que lá ocorria. Um pouco tenso, tive meu nervosismo dissipado ao desfrutar da companhia da escritora Rosana Mont'Alverne durante o trajeto. Tivemos então uma agradável conversar bastante sobre literatura.
No evento literário pude falar de minhas obras e de minha paixão pela escrita. Depois do bate-papo, fui conduzido pela escola para conhecer suas dependências. Em seguida, fiquei em uma sala para a sessão de autógrafos. Foi ótimo ver quantas crianças estavam interessadas pelo meu livro! O único problema foi que O Medalhão e a Adaga não estava disponível para venda e por isso só autografei o Patos Selvagens.
Não pude ficar até o final do evento, pois tinha que estar na Biblioteca às 18h30. Fui novamente transportado pelo motorista do Sítio Escola, chegando no horário marcado. De 18h30 às 19h30 fiquei prestando auxílio à equipe do projeto para que o espaço ficasse pronto na hora certa.
O evento começou mesmo às 20h e contou com um bom público. Foi uma noite gostosa e agradável. Pudemos conversar com bastante descontração, brincando uns com os outros e respondendo a perguntas do público. Ao final pude autografar O Medalhão e a Adaga para algumas pessoas. Dessa vez, o Patos Selvagens estava em falta. Ainda assim, senti que minha obra foi contemplada ao longo do dia.
Creio que eventos como estes contribuem para o desenvolvimento da literatura em nossa cidade e seu entorno. Se desejamos uma cidade literária, uma cidade de leitores, devemos promover mais encontros entre autores e leitores. Acredito que essa é uma forma rica de oxigenar a literatura, propor diálogos sólidos e enriquecer os escritores de material humano para suas obras. Sim, pois acredito que um dos grandes fenômenos da boa literatura é causar no leitor a impressão de ver-se no texto lido. E um escritor só pode alcançar esse nível de sinergia pelo amadurecimento e pelo encontro.
Bem, acredito que esse sábado foi mais rico do que posso medir e que seus resultados irão reverberar ao longo de nossas carreiras literárias.

Um agradecimento especial a aos autores Carla Montebeler, Ledinilson Moreira, Poliana Nogueira, Thais Lopes e Sterlayni Duarte e às blogueiras Renata Ávila, Alessandra Santos Reis, Letícia Pimenta, Paulina Pimenta e Brenda Ellen.

Segue agora um vídeo feio pela Paulina Pimenta com parte do bate papo entre autores.



quinta-feira, agosto 22, 2013

Lançamento do livro O Medalhão e a Adaga



Finalmente, depois de quinze anos de reescrita, momentos de solitário devaneio, transpirações e conspirações, vou lançar meu primeiro romance juvenil, O Medalhão e a Adaga, pela Editora Multifoco (www.editoramultifoco.com.br).

Data: 21 de setembro, sábado, às 11h30.
Local: Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte.
Rua Carangola, 288, Santo Antônio. Belo Horizonte - MG.

Mais informações: (31) 3277-8658
educativo.bpijbh@pbh.gov.br

Sinopse:

Bildan é um jovem que perdeu seus pais ainda na infância, tendo crescido sem saber muita coisa sobre suas origens. Porém, tudo muda quando ele encontra uma misteriosa garota e um livro mágico, com uma mensagem secreta. Assim, o rapaz deverá atravessar uma terra repleta de magia e perigos, numa jornada desafiadora, rumo a grandes revelações sobre seu passado e sobre o sentido de sua existência.


Texto da orelha, por Simone Teodoro:

Esta história de Samuel Medina que o leitor tem em mãos poderia ser apenas mais uma narrativa sobre o tortuoso percurso de um herói em formação: Bildan, órfão desde os sete anos de idade, que parte para uma difícil jornada em busca da resolução do mistério relacionado à sua origem. Mas não, caro leitor. A história de Samuel Medina nos oferece muito mais.
De fato, já na primeira cena, que antecede a estranha e trágica morte de seus pais, o protagonista é fulminado por um forte sentimento de angústia, cujo correspondente externo é um inquietante e paradoxal sol que emite raios sombrios. Tal sentimento, sempre acompanhado do signo da escuridão, é uma constante no livro. E é partindo de elementos como o escuro e o Vazio que o autor, com admirável originalidade, tece toda uma mitologia moderna, com sua cosmologia e simbologias, na linha de Tolkien. 
Em suma: esta história que o leitor terá o prazer em ler, embora nos fale de um mundo que não é o nosso, está bem afinada com ele, pois é uma história sobre solidão e a orfandade, sobre luzes e sombras, sobre o medo, sobre o amor e a amizade.
Para mim foi uma ótima leitura.
Que seja também para todos vocês!

Ficha Técnica:
O Medalhão e a Adaga
Samuel Medina
Editora Multifoco
196 páginas

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/341451

sexta-feira, abril 05, 2013

Cálida Poesia

Todas as flores que já conversaram
comigo não me disseram nada além de mentiras...
(Anne-Marie de Backer)

Sobre Simone Teodoro, no blog Cálida Poesia:
Nasci em Belo Horizonte. Cresci também. Ainda não me casei. Ainda não tive filhos. Nunca fui famosa, nem escrevi vários livros. Ainda não morri. Sou leitora voraz. Dentro de mim há um jardim de delícias....


Conheci a Simone Teodoro ainda no primeiro período do curso de Letras, nos idos 2002. O pessoal tinha recolhido os endereços de e-mail e criado um grupo para nos comunicarmos. Foi quando conheci a Talita, confusa e visceral narradora de muitos dos textos da Simone. De primeira percebi seu vigor com as palavras, sua vontade de demonstrar com imagens poéticas sua perspicácia, sua ironia e seu aturdimento diante da estupidez social. Mas não era Talita a única a personificar o talento da Simone para a escrita. Seus textos por vezes assumiam caráter de.crônica que tornava inconfundível a voz da autora neles.

Em minhas leituras tão abertas e inocentes, tudo no texto da Simone me maravilhava, como se houvesse em cada palavra múltiplos sentidos secretos, que só aqueles no mínimo tão sensíveis quanto ela poderiam apreender.

Fascinado, eu explorava a prosa de Simone e aproveitava os momentos de caminhada após as aulas para fazer um pouco de tietagem. Perguntando sutilmente sobre todos aqueles sentidos secretos. Enquanto ela, sempre modesta, talvez nunca tenha percebido esse fã convicto.
O semestre passou e meio que perdemos contato. Anos depois nos reencontramos e ela me apresentou seu blog, Cálida Poesia. Nele pude ter um outro contato com uma Simone mais madura, irônica e muito mais lírica. Seu domínio da letra permite que num mesmo espaço se encontrem o lirismo sutil e refinado com a ironia pungente.

Em seu blog, Simone se realiza em diversos gêneros textuais, embora seja na poesia, como o próprio nome do blog indica, que ela dá vazão a sua pulsão criativa, ao seu talento para a arte literária. Não seria de se estranhar, portanto que ela seria selecionada pelo IV Prêmio Canon de Poesia, com este maravilhoso poema:

Deserto

A tarde se fratura.
E o outono tem sempre 
esse gosto de fim, que te aniquila.

O vento escuro suga tua alma
(aberta confusamente)
para a solidão das pedras frias: a matéria triste das montanhas.

Melancolias alcoólicas te povoam.

Bolhas de sonhos explodem no ventre
infecundo das estrelas.

Em vão, estendes os braços trágicos
a procura da alavanca que possa
frear o irreversivel.

Estás só, estática esfinge
sem enigma.

                                                      Postado por Simone Teodoro às terça-feira, julho 20, 2010 


A autora também publica contos, relatos  cotidianos, reflexões afiadas sobre questões diversas e até faz um pouco de crítica literária, apresentando-nos alguma excelente autora que seja ignorada pelo mercado editorial brasileiro.

Assim, conhecer o Cálida Poesia é mais do que ler um blog literário. É permitir-se um bom diálogo com uma mente genial e de um refinamento modesto, livre se arrogância academicista. 

Simone é hoje uma grande amiga, irmã no trabalho e nas buscas literárias. É família. E seu espaço virtual de realização poética, o Cálida Poesia, mostra a cada novo texto, seja ele um poema, um conto ou um relato, que ela nunca se encerra em si mesma, que seu universo é amplo, criativo, mutável e poderoso. Uma cálida potência poética.

sábado, maio 07, 2011

Diana Wynne Jones e o mundo mais escuro

No dia 18 de junho de 2010, recebi uma mensagem de celular de uma amiga dizendo que o mundo havia se tornado um lugar pior, pois José Saramago havia partido. E foi com certeza o mesmo sentimento que tive quando soube do falecimento de Diana Wynne Jones.

Meu primeiro contato com a obra de Diana deu-se na verdade por caminho indireto. Apesar de ser um amante da literatura desde a tenra idade, conheci O Castelo Animado através de Hayao Miyazaki. Já naquele tempo era um leitor assíduo dos mangás, com minha cota de animes. Não há duvida que, nas animações, Miyazaki sempre esteve (e talvez sempre estará) no topo da minha lista.

E foi grande minha surpresa quando descobri que a animação era na verdade adaptação de uma obra literária. Costumo ser reticente quanto às adaptações, pois as considero muito irregulares. Mas o Mestre Miyazaki, não só criou uma obra-prima como também a fez inspirada em outra obra-prima.

O Castelo Animado, no caso o livro, é uma das leituras mais deliciosas que já tive em minha vida. Vai além de fruição, de prazer estético ou prazer da narrativa. É um texto sutilmente alegre, mas com suas doses de tragédia, claramente tecido por alguém que encontrou o prazer na vida.

Não restringi minha leitura apenas a um livro desta autora. Quando soube de outras obras dela traduzidas para o Português, não pude deixar de conferi-las. Adquiri Vida Encantada e As Vidas de Cristopher Chant, ambos da série Os Mundos de Crestomanci. Foi como se eu confirmasse uma certeza oculta. O mesmo traço alegre, a mesma pitada de tragéia, a mesma forma de construir enredos inusitados.

Não há dúvidas que Diana escreve para o público infantil. E essa criança está escondida tanto em um homem de 29 anos quanto em uma senhora de 80. Esse é a magia que movia seus livros, que podiam ser lidos por todos, pois tocavam naquilo que nos torna todos iguais: nossas almas. 

Uma das marcas mais fortes na obra infantil desta escritora, presente principalmente na série de Crestomanci, é a solidão infantil, ou seja, a incompreensão dos adultos em relação às crianças. A falta de diálogo entre gerações. A infância, mesmo repleta de seus encantos, pode ser uma fase bem solitária e incompleta. Principalmente quando os adultos ao redor não conseguem assumir seus papéis de orientadores, conselheiros. Mas os personagens de Diana, embora em muitos aspectos solitários e perdidos, também representavam a busca pela superação, da inocência e da liberdade. 

Diana nunca negou de onde tirava inspiração para seus livros. Professora, sempre rodeada de crianças, sempre buscando compreendê-las, ela aceitava de peito e mente abertos suas ideias, transformando-as nas mais belas histórias. Ela contava, por exemplo, que havia escrito O Castelo Animado a pedido de um garotinho, que havia pedido por uma história onde uma casa tivesse uma porta que pudesse ser aberta para vários lugares diferentes.

Em 2009, Diana foi diagnosticada com câncer e desde então lutava contra o tumor. No final de 2010, porém, ela decidiu interromper o tratamento, pois as dores estavam se tornando insuportáveis. Em 29 de março Diana partiu. No Brasil, onde seus livros ainda estão começando a se espalhar, sua morte passou quase despercebida, infelizmente.

Sinto muita tristeza ao saber que não mais haverá histórias do mago Howl, de Sophie, Cálcifer e dos outros incríveis personagens criados por tão criativa escritora. Também fiquei emocionado com o depoimento que Neil Gaiman fez em seu blog sobre a grande amizade com quem ele considera sua grande mestra. Gaiman não está errado. Certamente o mundo ficou mais triste e escuro sem a presença dela, que contribuiu para tornar as vidas de cada um de seus leitores uma Vida Encantada. Diana Wynne Jones foi uma grande Mestra e seu nome será jamais esquecido. 

Diana Wynne Jones
Nascimento: 16 de Agosto de 1934
Morte: 29 Março de 2011