segunda-feira, abril 15, 2019

Ouvindo Mia Couto à beira do rio das palavras

Fonte: divulgação
Na quarta-feira passada, dia 10 de abril, tive a oportunidade de ouvir o grande Mia Couto, escritor Moçambicano. Ele esteve no Sesc Palladium, aqui em BH, para falar um pouco da influência que a literatura de Guimarães Rosa teve em seus livros. 
Eu estava super nervoso. Enquanto esperava para entrar no Grande Teatro, sentia que teria um treco ali mesmo, perto da entrada da rua Rio de Janeiro. O hall estava lotado, havia fila para quem tinha a esperança de que houvesse desistentes e sobrassem lugares. Eu, felizmente, tinha conseguido meu convite com antecedência.
Era a primeira vez que eu veria Mia Couto pessoalmente, ainda que bem de longe. Não tinha problema. Eu já estava apaziguado com a ideia de que talvez nunca possa ter uma conversa próxima com escritores como o Mia. Mesmo trabalhando com literatura há tantos anos, minha ingenuidade já sofreu abalos o suficiente para saber que os encontros por vezes são apenas isso: encontros. E por vezes a pessoa de carne e osso menos tem a acrescentar que suas palavras impressas, pois estas são pesadas, medidas e polidas à exaustão. O universo de celebridades cria a percepção de que pessoas famosas são quase divinas, embora sejam... apenas.
Mia Couto apareceu diante de aplausos e ovações, depois de uma belíssima apresentação das meninas do projeto Miguilim. Ele pediu licença para ler um texto e o fez com tal habilidade que parecia tirar o discurso de cabeça. Ele construiu belas e tristes imagens poéticas ao falar da tragédia em Beira, sua cidade natal. Couto mencionou outras tragédias, estas mais próximas, como a de Brumadinho. Também classificou como tragédia a situação política de nosso país, que corre o risco de ter sua história, mais uma vez, deturpada.
Ao falar do cenário político do Brasil, Mia pediu licença para ler uma carta que ele escreveu juntamente com o José Eduardo Agualusa. A carta era um apelo ao diálogo, ao respeito e à democracia.
As palavras de Mia Couto ecoaram no Grande Teatro do Sesc Palladium e foram aplaudidas de pé. Ele deixou o palco com seu passo simples e tranquilo, enquanto nós, o público, continuávamos aplaudindo. Saí do Sesc Palladium um pouco melhor. Em um ano em que minhas palavras secaram, senti-me como o velho Siqueleto, pois senti novamente a magia das palavras fluindo em mim.

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