Meu medo me pega pelo pé. Sinto seu toque como a fisgada de um anzol. Sou puxado para baixo, para o fundo, levado ao lugar ao qual ninguém irá. Solidão, descaso, abandono. Meus companheiros de fuga, quando rejeito e afasto todos que me são queridos.
Uso uma navalha para cortar o rosto. Arranco a pele que o cobre qual máscara. Sou agora um monstro de rosto vermelho e sanguinolento. Ignoro a dor, que é forte a ponto de me matar. Mas hoje não morrerei. Estou desmascarado e sairei à rua para mostrar a todos o monstro que sou.
A agonia surge no centro do peito. Ela me engasga e então sobre pela garganta, saindo aos borbotões pela boca. É amarga e acinzentada, de um cinza bem pesado, carregado, é qual chumbo. Medo e angústia se mesclam, numa dança lasciva e profana. O que será de mim, agora que minha máscara se foi? Agora que meu verdadeiro rosto está à mostra, o que pensarão de mim?
Saio à rua com esse novo visual e percebo que ninguém me olha. Estou nu, de alma à mostra, mas ainda assim ninguém me percebe.