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quarta-feira, março 24, 2021

O precioso tesouro do príncipe encantado

Imagem de Andreas Fiedler por Pixabay

Como todo dia, o jovem e belo Príncipe acordou cedo. Vestiu sua armadura, colocou a capa e cingiu a espada. Montou em seu cavalo branco e cavalgou através do portão do castelo.

Atravessou campos verdejantes.

Subiu e desceu escarpas assustadoras.

Singrou desertos escaldantes.

Refrescou-se em oásis deslumbrantes.

Matou três dragões medonhos.

Salvou uma ou duas princesas lindíssimas. A primeira, adormecida. A segunda, presa em uma torre que ele escalou. Deixou cada uma delas em seus reinos de origem. Elas se despediram com suspiros e promessas de beijos.

Retornou pelos desertos, escarpas e campos.

Chegou, coberto de poeira e fuligem do fogo dos dragões, ao seu castelo. Adentrou os portões. Subiu as escadas da torre mais alta de seu castelo. 

O dia findava. O príncipe sentia um profundo alívio. A melhor parte do dia estava para chegar.

Entrou no único cômodo da torre mais alta do seu castelo. Trancou a porta. Retirou a capa, pendurou a espada e deixou a armadura num canto. Foi até a o parapeito da única janela. Pousou o cotovelo no parapeito e descansou o queixo, enquanto contemplava o belíssimo pôr-do-sol.

Para enfim, tranquilamente, tirar ouro do nariz.

sexta-feira, setembro 13, 2019

Pinóquio e a mecânica do vazio

Jimmy Barata é um cara incompreendido. Ele não consegue se adequar ao modelo de trabalhador convencional, com uma rotina de trabalho repetitiva, embrutecedora. É um inseto com aspirações e muitas ideias. Seu sonho é ser escritor. Porém, a vida não correspondeu aos seus ideais. Alcóolatra e com problemas para se ajustar ao ambiente corporativo, de repente ele se vê desempregado e no fim de um relacionamento fracassado. Sua esposa o expulsa de casa justamente depois que ele é demitido.

Tudo parecia perdido quando, porém, Jimmy descobre um espaçoso apartamento todo em aço inox. Ao constatar que o imóvel está vazio e tem uma privilegiada vista para a pia, Jimmy resolve se estabelecer nesse novo imóvel e decide dar início à escrita do seu tão almejado romance.

Assim tem início a magnífica paródia de Pinóquio. Escrito e desenhado por Winshluss, esta graphic novel tem o enredo situado em um universo de conto de fadas decadente. Pinóquio narra o périplo de um menino de metal - não de madeira - indestrutível, movido por uma mente habitada por uma barata. Jiminy Cricket (Grilo Falante) soa como Jimmy Cockroach (Jimmy Barata), numa genial corruptela da famosa consciência do menino de madeira.

A narrativa é construída em um paralelo entre as andanças de Pinóquio, um robô criado pelo inventor Gepeto, e os dramas existenciais de Jimmy, seus problemas com a bebida e sua incapacidade criativa. A linha narrativa de Pinóquio, feita em cores e simulando a estética dos desenhos animados infantis, mostra um mundo perverso, de ladrões, estupradores, traficantes de órgãos, ditadores e fábricas de brinquedos movidas por crianças escravizadas. Já o universo de Jimmy é traçado em preto e branco, sendo mais "civilizado" e monótono, numa sátira clara à sociedade de consumo e ao homem comum pseudointelectual.

Outro ponto a ser destacado é que a narrativa protagonizada pelo robô Pinóquio, livremente inspirada no romance de Carlo Collodi, raramente conta com textos, sendo principalmente visual. Mesmo os diálogos são narrados com gestos e outros símbolos não verbais. Assim, é importante destacar a extrema plasticidade da obra de Winshluss.

Numa genial metáfora do homem-máquina contemporâneo, sem moral ou culpa, o livro nunca realizado de Jimmy Barata leva o título de Mecânica do Vazio, numa clara alusão à falta de sentido e à decadência dos ideais. Em uma iconoclastia icônica, o mundo de Pinóquio é como uma enorme máquina que move suas engrenagens em um perpétuo esgar de tédio e desespero. 

Ficha Técnica:
Pinóquio
Winshluss
Globo Livros

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/livro/261936ED293518

segunda-feira, agosto 19, 2019

terça-feira, agosto 13, 2019

Vídeo: Uma Chapeuzinho Vermelho - Marjolaine Leray


Que criança não vive a sensação de medo através da figura do famoso Lobo Mau? Ele é grande, forte, feroz e ruim até o último pelo. Aqui neste livro, ele continua sendo tudo isso, com a diferença de que a Chapeuzinho, além de muito esperta, não tem nenhuma compaixão pela fera. Uma coisa é certa, o final é surpreendente!

Ficha Técnica

Título original: UN PETIT CHAPERON ROUGE
Tradução: Júlia Moritz Schwarcz
Páginas: 48
Formato: 20.30 X 13.60 cm
Peso: 0.184 kg
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 20/04/2012
ISBN: 9788574065281
Selo: Companhia das Letrinhas

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40672

quinta-feira, março 21, 2013

Entrevista de emprego



Na sala de espera, os dois homens se encontram. Ambos são guerreiros, vestem negro, têm alguma relação com poderes ocultos como a necromancia. Além disso, ambos foram demitidos em situações embaraçosas e buscam um novo emprego. 
A secretária da agência de empregos os recebeu calorosamente e com um sorriso contido, embora os olhos não escondessem seu pavor. Por isso, ela não deixou de escapulir logo dali.
Sentados sobre sofás de couro negro, onde seus mantos de cor similar meio que se fundem à negrura dos assentos, os dois se olham meio que de soslaio. Seus elmos negros escondem suas expressões, mas é evidente que são rivais para a mesma vaga. 
Um deles é conhecido por seu silêncio, pois sequer seu nome verdadeiro é conhecido, enquanto o segundo sempre pareceu gostar de falar. Por isso, seria natural que ele deixasse escapar um murmúrio seco, uma mistura de pigarro com arroto.
- Crooofh!
Silêncio...
- Crooofh! - insiste.
Depois de alguns constrangedores segundos, o outro acaba por dizer alguma coisa:
- O que disse?
- Como?
- Você pareceu ter dito alguma coisa.
- Não, foi apenas meu sistema de manutenção de vida - ele pareceu tentar se desculpar. - Isso é involuntário.
- Ah... Sei como é. De vez em quando, solto alguns urros estridentes. Isso me trouxe problemas no trabalho.
- Nem me fale. O pior era quando alguém que eu interrogava simplesmente desmaiava só porque eu tentei tossir! A propósito, sou Darth Vader. Bem, esse não é meu verdadeiro nome. É mais como um nome artístico.
- Não tenho nome, gosto do tom de mistério. Mas pode me chamar de Angmar.
Os dois olharam para frente. Vader bate o pé de impaciência, embora sua postura seja quase inescrutável de tão rígida. Como não pode virar apenas o pescoço, ele gira todo o corpo ao se voltar para Angmar.
- Como você veio parar... bem, nesta sala?
- Hum... era coordenador de um projeto de reestruturação de uma multinacional, a Terra Média InC. Mas perdi o cargo para uma dupla de jovens inovadores de uma divisão rival. Um deles foi uma mulher... meu calcanhar de Aquiles.
- Calcanhar de Aquiles?
- É... ela não parava de pegar no meu pé. E você?
- Bem, eu estava tentando arranjar um bom emprego pro meu filho na empresa em que era diretor de projetos.
- E o que aconteceu?
- Bem, não suportei ver o presidente dando uma bronca no garoto. Acabei perdendo a compostura e aqui estamos nós.
- Fatalidades, meu amigo, fatalidades. E não sei, mas acho que nossa época acabou. 
- Não creio. Ouvi dizer que o presidente desta Companhia procura talentos experientes. Acho que ele quer revitalizar um antigo setor do mercado. Talvez haja vaga para nossas largas vivências.
Nesse momento, a secretária entra na sala. Ambos se endireitam em seus assentos, impecáveis. Atrás dela, um homem incrivelmente musculoso exibe um sorriso esgarçado. Ou melhor, seria um sorriso, mas na verdade ele tem o rosto completamente descarnado, exibindo uma caveira medonha. Sua cabeça é coberta por um capuz e ele veste uma espécie de tanga tribal. Sua imagem não passa tanta seriedade. Se não ficasse evidente demais, Angmar e Vader se entreolhariam, como se pensassem: "Em que furada nós nos metemos?"