quinta-feira, maio 25, 2023

A Carta Que Ninguem Vai Ler 3

Estou sozinho. Tateio na escuridão com a tristeza de um órfão. Sinto meus dedos doerem, tocando a superficie fria e áspera do chão onde repouso. A solidão é tão profunda que parece tragar a própria luz. Nada posso fazer contra ela. Essa solidão talvez seja meu mais forte atavismo. 

Se eu gritar por socorro, alguém escutará? Se eu bradar ao abismo, enquanto o olho de frente, o abismo responderá? A falta de resposta me consome. Sou carcomido por dentro, mastigado internamente por dúvidas impenetráveis. 

Quem abandonou quem? Fui abandonado ou abandonei todas as oportunidades postas para mim? Sinto-me como um náufrago, que lança essas cartas a um oceano de indiferença.

Certa vez, uma criança me disse que eu nasci feliz. Se isso é verdade, quando foi que deixei de ser? E como terá sido isso? Meus amigos, meus amores, sinto ter falhado com todos. Será isso a infelicidade e o inferno?

Desamparado, nu, ferido, humilhado. E tudo resultado de um sofrimento inflingido por mim mesmo. Haverá cura para tão grave erro? Ignoro e desisto. As horas passam e esfarelam mais um pouco de tudo que me resta.

O dia mais solitário da sua vida sempre terá outro mais solitário para sucedê-lo.

3 comentários:

  1. O detalhe que o Samuel escreve na sua história é impressionante! É quase impossível não reencarnar na sua história.

    Está de parabéns pela sua capacidade de escrita completamente distinta. Um abraço! 👏

    ResponderExcluir
  2. Oi, Samuel, meu querido amigo!
    Ah, eu já li a terceira carta e com muita atenção e carinho, porque vc merece.
    Todo o mundo tem dias tristes, medonhos, e outros bem felizes e vc não é exceção.
    O remédio do seu mal está no amor. Ame, ame muito e a felicidade voltará à sua vida.
    Obrigada pelas suas lindas palavras em meu blog. Você é sempre bem-vindo.
    Um beijo com estima.

    ResponderExcluir
  3. Quero destacar a frase sobre o nascimento feliz, que linda, poderosa e verdadeira!

    ResponderExcluir