quarta-feira, abril 08, 2020

Um pedido

Fonte: Barbara Bonanno
Eu esqueci o nome dela. Sei que veio de Vitória. Que decidiu tentar a vida em BH com a prostituição. Que depois de ser muito maltratada pela cafetina, decidiu fugir. Que agora está na rua, esperando vaga em algum abrigo.

Tudo isso ela me disse quando nos abordou - eu e a Pam - quando atravessávamos a Praça da Estação. Disse que era travesti e perguntou se a gente tinha algum preconceito. Somente após a negativa que ela contou sua história.

Antes de tudo, porém, ela disse o seu nome. E justamente o seu nome eu esqueci. Talvez a história não tenha sido esquecida por ser algo tão comum na vida de tantas meninas e mulheres, cis ou trans. E igualmente tão brutal.

Enquanto ela falava, eu vasculhava os bolsos em busca do que tinha em dinheiro. Mas o que eu não podia lhe dar era dignidade. E isso me doeu mais ainda. Ela agradeceu, mais a intenção que a quantia pobre, e foi se afastando.

Logo que viramos as costas, Pam me disse que a conhecia. Contou que há oito meses, aproximadamente, a mesma moça a havia abordado, contando a mesma história. E antes que qualquer sentimento diferente da empatia brotasse em mim, Pam logo sentenciou:

"Se trezentas vezes ela me pedisse, trezentas eu ajudaria."

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