segunda-feira, dezembro 06, 2021

O Embate - Parte V de V

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As explosões ecoaram junto com os brados de júbilo dos moradores de Arnoll. Mais da metade do flanco esquerdo e parte da vanguarda foram destruídos nessa investida dos magos. Os gigantes e os meio-gênios, mais uma vez, não fizeram caso do ataque. Mas era uma cena perturbadora, ver argros e kowas em chamas, correndo e ganindo em desespero. No centro do exército sombrio, um ser maligno sorriu. O único que pôde perceber quantidade de pulsante energia liberada foi Seridath, pois Lorguth transmitiu-lhe um sentimento quase esmagador de poder emanado do exército dos mortos-vivos.
Subitamente, a alegria fez-se espanto, e logo medo aterrador. Começou com os gritos de um mago, que ergueu os braços, largando seu bastão, como se o mesmo o tivesse queimado. Os demais magos o olharam assustados, enquanto o homem que gritava aumentava seus berros, que se tornaram gorgolejos de sangue. Os olhos saíram das órbitas, uma fumaça fina emanou de sua boca, junto com sangue escuro. O homem parecia queimar por dentro e logo as chamas brotaram de sua pele, incendiando seu manto, enquanto ele desabava ao chão. Seus companheiros se afastaram, mas logo os berros recomeçaram e foram multiplicando-se.
Os fenômenos eram diversos. Um mago arranhou-se em loucura, enquanto outro parecia desmanchar-se como se derretesse. Na confusão que se tornara o esquadrão de magos, a única certeza era o sofrimento. Em segundos, praticamente todo o esquadrão se transformou em pedaços de corpos humanos espalhados pelo chão. Os poucos sobreviventes, cobertos de sangue, observavam atônitos a cena bizarra.
Todos pararam, inclusive os homens da própria Companhia. As cornetas voltaram a tocar. Os andarilhos de Serpente Flamejante dobraram seus corpos ao chão e emitiram uma série de cantos antigos, suplicando piedade aos deuses esquecidos de eras remotas. Uma névoa luminosa passou a envolver lentamente os guerreiros que compunham a Companhia. Por ordem das trombetas de Dhar, os lanceiros foram à frente, com rapidez, enquanto a divisão de clérigos, fortemente protegidos por pesadas armaduras, os seguiam carregando suas armas de quebrar cabeças.
As orações para dispersar mortos ecoadas pelos clérigos teriam poder para reverter a maldição, desorientando ou até mesmo destruindo os zumbis. Enquanto os homens de Dhar se aproximavam, alguns mortos-vivos começaram a sentir o efeito da aura dos clérigos, ficando desnorteados e saindo de suas formações. Lançadores de dardos disparavam setas a esmo, alvejando integrantes de seu próprio exército. A linha de frente dos mortos embaralhava-se. Alguns dos espinhentos ainda tentaram atingir os clérigos com seus dardos, mas os escudos da infantaria, somados à pesada armadura dos religiosos, ofereciam uma proteção quase perfeita.
Nisso, os meio-gênios, aqueles vestidos de branco, entraram em ação, tomando a frente dos poucos soldados zumbis que restaram no pavilhão que compunha a vanguarda. Estendendo para frente suas mãos finas e pontiagudas, dobrando os joelhos, eles abriram suas bocas e emitiram um longo "HAH", que veio acompanhado por um poderoso feixe de luz brotado de seus dedos. O raio luminoso pegou em cheio soldados e clérigos de Dhar, destroçando-os. A vitória tão lógica para o rei começava a tornar-se uma enorme derrocada.
Seridath desceu rapidamente, seguido de perto por Thin e Aldreth. Ao pé da árvore ele parou por alguns segundos. Uri e Lucan, que antes conversavam em voz baixa, cessaram sua conversa, aguardando ordens.
– Vamos, – disse o Viajante Cinzento a todos – temos uma batalha para enfrentar.

Continua...

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