domingo, dezembro 26, 2021

O Imundo - Parte II de IV

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A lâmina escura pareceu mudar de forma, contorcendo-se cada vez mais rápido, até tornar-se uma labareda nas mãos de Seridath. Uma forte chama negra e maldita agora crepitava nas mãos do guerreiro. De repente, a labareda inclinou-se levemente para o lado e bifurcou-se, até que uma forma feita de chama desmembrou-se da espada e partiu para longe. Enquanto afastava-se, essa língua de fogo assumia uma forma quase humana. Seridath entendeu. Era uma das almas que a espada havia roubado quando Seridath fizera sua vítima. Uma alma que agora partia em busca de seu corpo. Várias outras labaredas de almas mutiladas surgiram da da espada e partiram para ocupar os corpos apodrecidos mais próximos. Conectado com Lorguth, Seridath descobriu que aqueles quatro servos destruídos em Arnoll não foram efetivamente mortos. Eles ocupariam os corpos mais próximos para continuarem a servir seu senhor.
Enquanto Seridath mantinha-se naquele êxtase de descobertas, Aldreth observava perplexo, com os demais companheiros. Ele e os outros não podiam ver as chamas negras brotando da espada de seu senhor e as labaredas amaldiçoadas buscando corpos sem vida. Seridath era o único que experimentava aquele segredo.
E Lorguth acabava de transmitir uma informação valiosa. Os corpos dos bandidos que haviam sido lançados pelos muros de Arnoll jaziam próximos dali. Um acréscimo de mais ou menos sessenta homens seria interessante. Não teriam a força e agilidade dos servos mortos diretamente pela lâmina negra, nem poderiam retornar depois de destruídos, mas teriam alguma utilidade. Seridath, com um sorriso cheio de malícia e ambição, invocou esse poder. "Sim, minha querida, reanime esses corpos também."
Subitamente, Aldreth e os outros foram surpreendidos com o tropel de um enorme grupo que se aproximava por trás atrás deles. "Emboscados!" pensou ele, em pânico. Desembainhou a espada, enquanto Thin sacava sua adaga. Lucan ainda vacilava, mas Uri o havia largado para empunhar seu machado. Mas ao olhar para trás os dois rapazes e o anão viram uma enorme turba de bandidos ultrapassando-os e correndo rumo ao exército inimigo. Todos tinham o olhar vazio daqueles que já foram abandonados pela vida. Alguns corriam com as vísceras pendendo de suas barrigas ou se arrastavam, como animais quadrúpedes, enquanto outros estavam em bom estado, podendo até enganar alguém à distância, passando-se por vivos. Mas estavam todos bem mortos. O líder Berak, com a cabeça pendendo grotescamente para o lado, cruzou com o grupo dos guerreiros de Seridath. Thin bateu no ombro de Aldreth, enquanto observava Berak afastar-se com uma rapidez desengonçada.
– E pensar que eu poderia ser um desses, né? – disse o ladrãozinho, com um sorriso matreiro.
Aldreth suspirou, sentindo um misto de medo e alívio. Seridath mais uma vez o surpreendia. 
Em frente ao exército inimigo, o cavaleiro ergueu a flamejante lâmina. Não precisou gritar uma ordem de ataque. As criaturas agora o entendiam. O rapaz sentia-se ligado à mente dos "seus" mortos, como se fossem a sua própria. Flexionou os joelhos e partiu com velocidade rumo à ponta da formação de vanguarda inimiga. Aldreth observava, cheio de assombro. "Ele é louco!" pensou, "Vai morrer!"
Mas Seridath estava a poucos passos da linha de frente. Os [ragrans] não puderam disparar seus dardos antes que o jovem estivesse cara a cara com os primeiros inimigos. As criaturas de Lorguth já o alcançavam e com saltos medonhos lançavam-se sobre seus oponentes. Ossos e pedaços de carne apodrecida eram espalhados pela campina. Seridath jogou o corpo para a direita, enquanto fazia seu braço direito acompanhar o movimento e traçar um percurso horizontal, decapitando o zumbi à sua frente. Estava alegre, eufórico. Havia descoberto para que nascera. Era um Destruidor.
Seridath viu-se então cercado por criaturas com espadas de lâminas recurvadas e rostos disformes, aqueles mesmos que quase o mataram em Keraz. Então ele já fora localizado, oponentes mais fortes já haviam sido enviados para liqüidá-lo. Arrancou com a espada a perna direita de uma das criaturas, que perdeu o equilíbrio e tentou apoiar-se com uma das mãos, enquanto um braço desconjuntado sacudia-se, nascendo da perna ferida. O jovem pôs o pé esquerdo sobre o ombro do monstro e, com um forte impulso, lançou-se sobre as cabeças dos inimigos, para dentro daquela turba enlouquecida.

Continua...

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