A noite já ia pelo meio e
Keraz estava mergulhada em um mar de fogo, sangue e escuridão.
No setor norte da cidade um punhado de bravos guerreiros vendiam bem
caro suas vidas. Eram cerca de quarenta homens, número que
diminuía a cada momento. Os mais valentes compunham a
vanguarda da cerrada fileira de escudos, empurrando com toda energia
os invasores. Aldreth havia devolvido o escudo do amo e estava
perfilado junto aos poucos arqueiros.
Enquanto
desferia golpes com o braço e com a mente, Seridath teve uma
estranha sensação de perigo. Olhou para a frente da
fileira de guerreiros e viu uma daquelas criaturas nojentas que
mudavam de forma. Não pareciam ser mortos-vivos e lutavam com
notável habilidade, embora não estivessem em número
suficiente para quebrar a fileira de escudos. Eram poucas e estavam
caindo, mas a sensação de mal-estar não
abandonava o jovem,
que virou-se para Balgata e descobriu que o capitão parecia
sentir o mesmo desconforto. Uma das criaturas abatidas fez um
movimento rápido ao levantar-se e lançar-se contra os
homens da linha de frente. A sensação de perigo
iminente atravessou o corpo de Seridath como uma corrente elétrica.
– Saiam
já daí! – gritou o guerreiro.
Mas era tarde demais. O monstro
emitiu um urro agudo e explodiu, despedaçando alguns dos
guerreiros, deixando os outros como tochas humanas. Aquele foi o
limite do desespero para alguns dos sobreviventes, que se lançaram
para a morte como loucos.
No meio daquela confusão,
Seridath reconheceu o arauto. O rapaz tinha o sabre desembainhado e
havia perdido o elmo, mas lutava até bem, com certa elegância,
e não parecia temer os monstros sem rosto. Ao perceber
Seridath, o arauto gritou:
– Senhor,
o capitão se recusa a sair, dizendo que precisa defender o
perímetro!
– Certo
– retrucou Seridath, irritado. – Volte para o casarão do
prefeito com seus homens. Agora!
Enquanto o arauto cumpria a ordem,
Seridath se aproximou de Balgata, que lutava ferozmente e distribuía
ordens aos poucos homens que lhe restavam.
– Balgata!
Capitão! – gritou Seridath. – Temos que recuar! Temos que
chegar à casa do prefeito e protegê-la a qualquer custo!
Todos estão reunidos lá!
– Não
tente me dar ordens, maldito! – respondeu o capitão, com
violência.
– Não
há jeito, capitão! O incêndio nos deixará
isolados entre o fogo e os mortos! Temos que recuar!
– Vamos,
homens! Para a casa do prefeito!
Balgata estava fulo da vida. Era
difícil, não queria acreditar, mas começava a
compreender que era o único capitão ainda em combate.
Aquele garoto impertinente parecia ignorar isso, tentando dar ordens
em suas costas, disputando com ele a autoridade e pondo em risco a
segurança dos soldados. Naquele momento tão conturbado,
pensava apenas na sobrevivência de todos. Mais tarde lidaria
com o moleque.
Evitaram o
cerco de zumbis e seguiram para o centro
da aldeia. Um pouco mais e teriam ficado de fora do cinturão
de fogo. Agora, Keraz era uma mistura de chamas e ruínas. O
plano de Seridath em transformar as casas destruídas em
barricadas havia dado certo, já que os mortos-vivos não
eram inteligentes o suficiente para ultrapassá-las, tendo que
passar por caminhos estreitos. Assim eles se tornavam alvos de
flechas e esferas explosivas.
No meio dos casebres em chamas, os
guerreiros corriam por suas vidas. Balgata, envergonhado, ouvia ao
longe os gritos de misericórdia de alguns de seus
companheiros. Ele nunca poderia lavar sua honra depois daquela
desgraça em Keraz.
Nesse momento, o capitão
precisou do máximo de sua agilidade para escapar da espada
recurvada de um daqueles monstros mutantes, que estava em seu
encalço. Havia poucos deles dentre os inimigos, mas por serem
criaturas vivas e inteligentes, simples barricadas não os
impediriam de avançar rumo ao centro da aldeia. Balgata
esvaziou a mente, priorizando o instinto, enquanto cruzava espadas
com o ser maligno. Seridath estava à direita do capitão
e adiantou-se para ajudá-lo a abater seu inimigo. Balgata
interpôs-se entre o rapaz e seu oponente, deixando claro que
não queria que Seridath interferisse.
O cavaleiro
jogou Aldreth contra a parede destruída de um dos casebres e
protegeu-o com o próprio corpo. O arqueiro era quase tão
alto quanto Seridath, mas não tinha a mesma compleição
robusta. O cavaleiro girou Lorguth contra uma outra criatura que
surgia à sua direita, de trás dos escombros do casebre.
Como esperado, o inimigo bloqueou a espada negra com uma de suas
cimitarras e executou o contra-ataque com a outra. Não dava
para saber ao certo qual mão era usada, se esquerda ou
direita, pois parecia que o inimigo estava de costas e que apenas sua
cabeça mantinha-se voltada para Seridath. As articulações
dos cotovelos também pareciam invertidas. O inimigo soltou uma
risada estridente, partindo contra o cavaleiro com as duas lâminas
descendo e cruzando-se em diagonal.
Trocaram uma sequência
rápida de golpes. Esse curto embate garantiu ao cavaleiro um
talho superficial na face esquerda, um corte um pouco mais profundo
no braço direito e uma dor aguda na coxa esquerda. Mas ele
ainda não havia atingido o inimigo.
Continua...
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