De vez em quando publico neste espaço algum relato sobre meus percalços na mediação da leitura. Trabalho na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, embora não seja bibliotecário. E adoro o que faço. Geralmente procuro falar pouco de mim, deixo este espaço para a ficção. Ainda assim, de vez em quando é impossível deixar de compartilhar algum acontecimento ocorrido na Biblioteca.
Foi o caso da noite de ontem, quando recebemos o professor e pesquisador João Luís Ceccantini. Sua palestra abordou a vida e a obra de Monteiro Lobato de um jeito tão apaixonado que acredito que dentre os 84 participantes, se havia alguém que não flertava com esse autor, com certeza pelo menos tentará ler algum de seus textos.
Ceccantini começou sua fala abordando a natureza contraditória de Lobato, como um homem que nasceu em um século mas viveu outro. Ou seja, nele estavam expressas as angústias e tensões presentes em toda uma geração, embora Lobato tenha transformado essas tensões em criatividade, enquanto muitos outros autores, contemporâneos seus, tenham simplesmente buscado encobri-las com uma camada de hipocrisia, tradicionalismo e "bom português".
O professor procurou guiar seu público ao mais íntimo da vida e da mente de Lobato, lendo trechos de suas cartas e mostrando toda a literariedade latente, que futuramente eclodiria em inúmeros livros, amplamente conhecidos por tantos de nós. As imagens poéticas tecidas na correspondência do autor com seu melhor amigo, Godofredo Rangel, revelam como Lobato era um homem preocupado com sua realidade, angustiado por amar um país repleto de desigualdades, ainda dominado econômica e culturalmente.
Em nenhum momento o professor procurou suavizar a imagem desse Lobato iracundo, polêmico e implacável, inclusive na questão do racismo. Ele apenas mostrou que Monteiro Lobato deixava transparecer um rico jogo de forças que por vezes eram opostas, por vezes se complementavam. Homem público desde a juventude, Lobato sempre procurou propagar suas ideias, muitas delas radicais, embora nunca tenha deixado de assumir que suas posições não eram absolutas e que ele podia muito bem revê-las. Visionário, buscou transformar a realidade literária do país, praticamente lançando as bases do mercado editorial brasileiro através de arrojadas estratégias de marketing.
Foi uma noite deliciosa para todos os que amam a literatura de Monteiro Lobato e fascinante para os que não a conhecem. Sim, o nome de Lobato é largamente conhecido, mas não podemos negar que muitos, inclusive aqueles que sustentam discursos contrários a esse autor, sequer leram suas obras.
Interessante. Às vezes, penso que o que me falta é um pouco de conhecimento extra sobre Monteiro Lobato porque, não aprecio seus livros de forma alguma.
ResponderExcluirComo todos são sempre tão pró-Lobato, acho que tem algum mecanismo solto na minha cabeça. De qqr maneira, excelente post. Como sempre.
Ah, Betti, não é bem assim... rs... vc pode não gostar do Lobato, tem muita gente que leu e não gosta. E obrigado pelo comentário e pelo "como sempre". Fiquei todo vaidoso! rsrsrs
ResponderExcluirDe Lobato eu sou clichê, só li Sítio do Picapau Amarelo!
ResponderExcluirEu vivo me cobrando sobre ler alguma coisa de Lobato... Adorava o Sítio (antigo) e não sei porque não tenho nada dele até hoje!
ResponderExcluirSeu blog é muito bom, Nerito, tem conteúdo, e isso o diferencia de muitos... Ganhou uma leitora!
http://maisumapaginalivros.blogspot.com.br/
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